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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

02
Jul23

Uma casa portuguesa com certeza

Talis Andrade
 
(Foto: Miguel Paiva )

 

A Europa acolheu o novo país que surgia das trevas e Portugal pode respirar sem a ajuda de aparelhos

 

por Miguel Paiva

- - -

Conheço Portugal desde o início dos anos 1970 quando só se ouvia o português nas ruas, mas em compensação o país era triste e conservador. Vivia os estertores de uma ditadura que durou décadas e deixou o país estacionado na ignorância e no isolamento. Conhecemos bem isto á

Nos anos seguintes Portugal passou por significativas transformações. Pressionado por uma luta anticolonialista na África, a ditadura portuguesa acabou perdendo força, perdendo as colônias e perdendo o controle do país. Os jovens militares da Revolução dos Cravos trouxeram de volta à política e o país pode se inserir novamente na Europa até com um certo orgulho da sua história recente.

A simpatia pela Revolução dos Cravos foi imediata e planetária. A Europa acolheu o novo país que surgia das trevas e Portugal pode novamente voltar a respirar sem a ajuda de aparelhos.

Hoje é um país ainda em crise como todos os países europeus, incluindo a própria Alemanha que financia em boa parte os projetos portugueses.

Com a entrada no país na zona do euro e a realização da Expo Mundial de 1998 Portugal recebeu altíssimos investimentos que transformaram o país numa nação cosmopolita com infraestrutura europeia e condições de enfrentar seus problemas.

Pois foi aí que começaram os problemas. O país estava viciado no esquema tradicional do Salazarismo. Tinha uma população pobre enorme e desinformada. Um país que não crescia e que precisava urgentemente caminhar. O turismo sempre foi a forma mais rápida de Portugal fazer dinheiro. Ainda é, mas mesmo um país que vive de turismo precisa de mão de obra sobretudo para fazer o setor andar. Precisava de hotéis, restaurantes, museus, estradas, moradia e transporte. Não havia gente para ocupar esses espaços e não havia preparo na pouca gente disposta. Portugal então se abriu para o mundo e, sedento por investimentos, acabou criando condições excessivas para facilitar a emigração. Veio gente de todos os lados, sobretudo do Brasil. Desde a crise dos dentistas que colocou diante dos profissionais portugueses, dentistas brasileiros preparados e dispostos, o confronto sempre aconteceu.

Episódios de hostilidade ainda podem ser vistos apesar dos mais de 500 mil brasileiros vivendo por lá. Muitos levaram dinheiro de modo legal ou não, mas muitos foram atrás de melhores condições de vida. Ocupam o setor de serviço, de construção civil e de aplicativos, postos que os próprios portugueses não querem mais. Conversando com alguns destes brasileiros não percebi um estado de satisfação. Ao contrário, os vejo sempre querendo que uma luz transformadora os traga de volta ao Brasil. São muitos. A língua que mais se escuta nas ruas é o brasileiro.

Existem turistas de todo o mundo e emigrantes também, mas parece que Portugal se transformou num projeto ilusório de Brasil onde só parte dos problemas existem e as condições de vida são aparentemente melhores. Brasileiros por lá são realmente muitos e basta um contrato de trabalho para que se obtenha residência. Mas a vida deveria ser mais do que isso.

Portugal precisa resolver seus problemas internos e nós, brasileiros os nossos, para que esse fuga para lá diminua e para que os brasileiros e portugueses sejam mais felizes naturalmente, podendo até escolher onde querem viver, mas que se sintam incorporados e adaptados para que o país seja o melhor lugar do mundo onde for e agora.

18
Mai23

Brasileiros realizam protesto contra xenofobia na Universidade de Lisboa

Talis Andrade

Estudantes brasileiros organizaram nesta terça-feira (16) uma manifestação contra a xenofobia na Universidade de Lisboa. O protesto acontece depois de mais um caso de discriminação investigado pela Faculdade de Direito.

 
 

por Caroline Ribeiro /RFI

O caso que motivou o protesto está sendo investigado pela Universidade de Lisboa. De acordo com a denúncia, um aluno português, que também é conselheiro na Faculdade de Direito, insinuou que os estudantes brasileiros não teriam capacidade intelectual e deveriam ser apedrejados. 

As declarações ocorreram durante uma reunião da assembleia-geral de alunos. O caso foi exposto em uma carta que estudantes brasileiros entregaram à comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que visitou Portugal em abril. 

Além dos comentários xenofóbicos, os estudantes brasileiros também denunciam que a mesa diretora da assembleia se recusou a registrar o episódio na ata da reunião. A carta também aponta dificuldades enfrentadas pelos imigrantes em Portugal. 

Repercussão nas mídias portuguesas

O caso ganhou repercussão na imprensa de Portugal. O portal de notícias SIC revela o nome do universitário que teria chamado os brasileiros de "burros" e defendido violências contra os estudantes originários do Brasil. A matéria afirma que esse conselheiro da Faculdade de Direito de Lisboa teria minimizado o preconceito sofrido pelos jovens. Já o site Observador afirma que o estudante em questão também teria zombado da intenção de enviar uma carta com as denúncias a Lula. 

Esse não é o primeiro episódio de xenofobia contra alunos do Brasil a ser investigado na Universidade de Lisboa. Em 2019, um grupo colocou uma caixa com pedras no saguão da Faculdade de Direito, junto a um cartaz com a mensagem "grátis para atirar em um zuca", referindo-se ao termo brazuca, como são chamados os brasileiros.

O fenômeno preocupa as autoridades portuguesas. Em 2022, a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial apontou um aumento de 505% dos casos de xenofobia contra brasileiros no país.

Paralelamente, a quantidade de imigrantes originários do Brasil também cresce em Portugal: em relatório divulgado no início deste ano, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras do país indicou que, pelo sétimo ano consecutivo, o número de estrangeiros subiu no país. A comunidade que mais cresce é a brasileira, com um aumento de 21% em 2022 em relação ao ano precedente.

A Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foto de arquivo.
A Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foto de arquivo. © Caroline Ribeiro
 
 
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