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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

05
Ago23

Infância negada

Talis Andrade

prostituta infantil hit-girl-chloe-moretz crianç

 

por Sheyla Maria Borowski

Resumo

O objetivo deste ensaio é analisar questoes referentes às transformaçoes atuais da infância, para buscar compreender o perfil da infância, sua relaçao com a cultura, as mudanças históricas e as tendências para os próximos tempos. A concepçao hipermoderna de infância forma uma sociedade com incertezas, insegurança e ansiedade. Ao se borrar a fronteira entre a condiçao do infantil e do adulto, transforma-se também a condiçao da criança na cultura. Corre-se um risco de se criarem crianças como novos adultos em miniatura. Por isso, neste momento de grandes inovaçoes científicas e tecnológicas, torna-se fundamental uma atitude de reflexao crítica e profunda, por parte da sociedade, sob forma de participaçao ativa nessa nova construçao da infância, a fim de nao perdermos alguns dos valores essenciais já conquistados, mas sim de agregá-los.

The purpose of this essay is to analyze issues relating to current childhood transformations, seeking to understand the profile of childhood, its relation to culture, the historical changes and trends for the near future. The hypermodern design of childhood forms a society with uncertainty, insecurity and anxiety. By blurring the boundary between the condition of the child and the adult, also turns up the child's condition in culture. It runs the risk of creating new children as miniature adults. Therefore, in this time of great scientific and technological innovations, it is essential a critical and profound reflection attitude on the part of society in the form of active participation in this new construction of childhood in order to not lose some of the core values already conquered but to aggregate them.

INTRODUÇAO

Ao Benjamin e à Sophia

Meu propósito com este ensaio é problematizar algumas questoes referentes às transformaçoes atuais da infância, em uma tentativa de compreender como se delineou o perfil do que é infantil, sua relaçao com a cultura e as tendências para os próximos tempos.

Os conceitos de infância e adolescência sao determinados socialmente, como categorias sociais, historicamente construídas. Assim, a ideia de infância nao existiu sempre da mesma forma, pois cada época tem a sua própria maneira de considerar o que é ser criança.

Na Antiguidade, por exemplo, Platao se preocupou com uma educaçao física e moral da criança, mas, até a Idade Média, nao existiu na sociedade ocidental uma consciência da particularidade infantil. A criança era considerada um adulto incompleto, inoperante e incapaz.

Aristóteles entendia a infância como um período do homem equivalente a uma doença, sendo, portanto, a criança um ser necessitado de cuidados. Ele alertava que as crianças precisavam ser educadas para alcançarem a virtude, status de indivíduos, já que seriam incapazes de usar seu próprio raciocínio para chegarem a isso. Assim, na antiga Grécia, durante os primeiros sete anos de vida, essa educaçao ficava inteiramente a cargo da família, considerada o primeiro lugar de socializaçao do indivíduo, portanto, o regulador de sua identidade física, psicológica e cultural. A autoridade paterna fornecia os códigos da moral e da ética.

Os romanos foram os que começaram a estabelecer uma conexao entre a noçao de vergonha e a criança em crescimento. Na medida em que foi sendo desenvolvida a noçao de vergonha moralista, ocorreu a necessidade de a criança ser protegida dos segredos dos adultos, sobretudo os referentes à sexualidade. Assim, foi-se desenvolvendo a ideia de que as crianças, em sua individualidade, além de proteçao e cuidados, necessitavam de escolarizaçao.

Já na Idade Média, a religiao judaico-crista influenciou durante séculos a cultura ocidental, passando a conceber a criança, por um lado, como um ser malvado e inferior, que necessitava ser salva pelo batismo, porém também ingênua e inocente, por outro. Isso revelava uma falta de clareza quanto ao entendimento da infância e da natureza infantil.

No Renascimento, o pensamento humanista construiu uma nova e dinâmica concepçao de homem, passando a entender a criança como um ser que deverá ser regulado, adestrado e normalizado, inicialmente na família, para alcançar a maturidade de um convívio social.

A "invençao" da infância, como tal, é atribuída a Rousseau1 (1712-1772), que a considerou como uma idade autônoma e dotada de características específicas, diferentes das que sao próprias da idade adulta.

Afirma Rousseau1:

Nao se conhece a infância: com as falsas ideias que dela temos, quanto mais longe vamos, mais nos extraviamos. Os mais sábios apegam-se ao que importa que saibam os homens, sem considerar que as crianças se acham em estado de aprender. Eles procuram sempre o homem na criança, sem pensar no que esta é, antes de ser homem (p. 6).

Em seu livro Emilio, Rousseau1 modifica a visao da infância, com a premissa de que a criança teria um mundo próprio, com características diferentes em cada fase de seu desenvolvimento, e seria dotada de desejos e sentimentos. Ele destaca a liberdade como a base sobre a qual essa criança deve ser educada, cabendo ao adulto entendê-la. Elabora uma pedagogia que estimula a autenticidade e naturalidade da criança e sua inocência em oposiçao ao mundo adulto, pervertido pelas convençoes sociais.

Esse modelo básico de educaçao deveria substituir o tradicional, no qual, em nome do progresso, o intelecto é desenvolvido prematuramente, em detrimento dos instintos. Os pais deveriam lidar com os filhos através de uma educaçao que levasse em conta a liberdade (antinomia), mas também os limites (heteronomia). Logo, a criança precisa ser acompanhada e orientada por um preceptor, desde que esse nao lhe tolha o desenvolvimento natural, respeitando o seu crescimento em um ritmo lento e aprendendo sem pressa, no tempo certo. O papel do preceptor é o de retardar o mais possível esses aprendizados (ao longo da vida), de modo a evitar qualquer antecipaçao perigosa. Ele irá permitir que a criança viva o quanto puder a própria infância, que Rousseau1 define como a idade da alegria e da liberdade.

Assim, até Rousseau, nao havia infância. A criança era considerada um adulto em miniatura, a ser tratado por padroes adultos; vestia-se com roupas de adultos e aprendia coisas de adultos, apesar de ser considerada incompleta e incompetente. Através das artes e da literatura, percebemos que os trajes das crianças medievais eram os mesmos dos adultos. Também chama muita a atençao a ausência de brinquedos.

Por volta do final do século XVIII - entao, a partir de Rousseau1 - intensificou-se a tendência a ver a educaçao a partir da natureza da criança, de seus instintos, de suas capacidades e tendências, em oposiçao aos padroes e às normas impostos pela sociedade. A criança passou a ter maior importância dentro da família, no ambiente íntimo. Fica mais clara a necessidade de atençao e de cuidados, devido a sua natureza frágil, física e emocional, e nao mais por "incompetência".

Chegando ao início do século XX, as teorias freudianas sobre a natureza do homem e as etapas universais do desenvolvimento da criança reconfiguram toda a ideia existente sobre a infância; havia uma infância antes de Freud e há outra após Freud2. Nosso olhar sofreu uma abertura de sentidos sobre quem somos, o que nos move e como nos tornamos adultos, bem como foi reconhecida a importância dos primeiros anos de vida para a nossa estruturaçao subjetiva. A partir de entao, a psicanálise abriu um leque de conhecimentos sobre a mente humana, colocando, de maneira enfática, a primeira infância como as fundaçoes da constituiçao psíquica. Contribuiu, assim, dramaticamente, para definir a importância de uma infância bem desenvolvida, em todas as etapas necessárias, para se formarem sociedades equilibradas.

Teóricos da psicanálise, da sociologia e da educaçao se ocuparam, desde entao, largamente, em compreender e descrever a infância, destacando suas características, diferenciadas do período da adolescência e da maturidade, apontando suas problemáticas e seus desafios. Eles propiciaram, assim, um alargamento na compreensao da natureza infantil. Ouso dizer que talvez nunca tenha havido, na história da humanidade, até o século XX, um período em que a criança merecesse tamanho interesse e destaque, como sendo fundamental na construçao da civilizaçao.

O século XXI, no entanto, começa desconstruindo esses paradigmas e, indubitavelmente, está sendo marcado por profundas e aceleradas transformaçoes de toda ordem. A concepçao do que é infância igualmente se modifica, de forma acelerada, desde as suas bases, dissolvendo as características anteriormente descritas e compreendidas.

Em minha concepçao, a era atual - chamada de hipermoderna3 - caracteriza-se por uma sociedade adultocêntrica, marcada por paradoxos, em uma espécie de volta às origens pré-históricas de uma infância negada, pré-rousseaunianas, quando as crianças eram consideradas adultos em miniatura. As etapas do desenvolvimento infantil, descobertas e descritas por Rousseau - e, depois, aprofundadas pela psicanálise -, agora tendem a se borrar; aqui, a área intelectual volta a ser a área novamente privilegiada pelo mundo adulto, em detrimento da instintividade da criança.

Digo sociedade adultocêntrica porque hoje cresce o número de crianças que se parecem com os adultos, às vezes de forma bizarra. Elas sao, portanto, roubadas em etapas importantes de seu desenvolvimento. A sociedade atual tem pressa de que as crianças cresçam. Basta ver que elas mal nascem e já estao sendo separadas de suas maes, para serem cuidadas diariamente em instituiçoes, ficando por muitas horas distantes dos pais e da família. Sao-lhes impostas demasiadas renúncias de necessidades essenciais, tais como a larga dependência emocional das funçoes maternas, bem como de tempo livre para brincar de imaginar, de faz de conta, protegidas em seus "ninhos". O incremento da ilusao e da fantasia, por exemplo, através do brincar espontâneo - condiçao necessária para os processos criadores - está dando lugar ao desenvolvimento de habilidades e conhecimentos automáticos, massificantes e de caráter confuso quanto ao que é real e ao que é faz de conta; ao que é essencial e ao que é descartável.

A mídia, por exemplo, se utiliza do apelo ao consumo e do arrebatamento pelo olhar para, através de imagens e sons, ditar as "regras" a uma populaçao passiva e incauta, fazendo surgir uma geraçao altamente consumista e perversa. Segundo Adorno4, na indústria cultural, tudo se torna negócio. Os meios de comunicaçao utilizados - tais como a TV, o rádio, a internet, o cinema, jornais e revistas - transmitem às crianças noçoes equivocadas de diversao e arte. Ao se imporem ao universo das crianças, acabam gradativamente com seu significado infantil, levando-as a uma inserçao prematura no mundo dos adultos, gerando "necessidades" e "verdades" que nao pertencem à natureza delas.

Crianças sao naturalmente atraídas pela diversao e, nesse mundo da indústria cultural, diversao e consumo interagem de forma concatenada, pois suas finalidades sao consumo, alienaçao, massificaçao, rotulaçao, condicionando para a falta de opinioes próprias, em favor da opiniao midiática. O espaço, antes destinado à criaçao, é preenchido demasiadamente por desenhos animados, videogames e outros brinquedos técnicos e eletrônicos. A diversao, pois, gera consumo e cria outra identidade à infância.

Postman5 nos leva a refletir sobre a erotizaçao precoce das crianças e a crescente participaçao infantojuvenil nos índices de criminalidade, que ele entende como sendo sinais alarmantes de que a infância pode estar desaparecendo. De fato, nao se observam mais, com tanta clareza, marcas que lembrem um mundo infantil separado do mundo dos adultos. Basta ver o modelo das roupas infantis, os hábitos alimentares, seu padrao linguístico, a profissionalizaçao prematura de esportistas e modelos, o fim das velhas brincadeiras infantis, atitudes mentais e emocionais das crianças, bem como a sexualizaçao precoce permeando desde as brincadeiras até as próprias histórias infantis. Enfim, o comportamento, a linguagem, as atitudes, os desejos e até mesmo a aparência física de adultos e de crianças estao se tornando cada vez mais indistinguíveis.

No Brasil, a influência da mídia foi se tornando muito poderosa em virtude de um sistema educacional precário (aqui se incluem pais, professores, programas escolares, etc.), que possibilita que a TV e a internet tenham a autoridade soberana de informar, educar e distrair, sem um público capaz de criticá-la.

Um simples exemplo de papel de autoridade da TV é o personagem criado pela TV Tupi, na década de 60, com o slogan "já é hora de dormir, nao espere mamae mandar...", em resposta a cartas de pais que reclamavam da dificuldade de colocar os filhos na cama. Esse tipo de preocupaçao contrasta com as atuais programaçoes infantis, que vao ao ar 24 horas por dia, ininterruptamente, e que chegam a lares fragilizados pela falta de autoridade e de convicçao por parte de pais cansados e pouco presentes.

Em poucas décadas, o anterior "já é hora de dormir..." deu lugar ao slogan "FIQUE LIGADO, VOLTAMOS JA!". Além disso, vemos imagens e músicas de conteúdo sexual, pervertendo a infância com linguagens e gestos obscenos, ou de caráter antissocial, aplaudindo criancinhas "engraçadinhas" que os repetem orgulhosamente, sem a menor consciência de seus significados.

Quando conseguimos refletir sobre como caminha a humanidade, ficamos estarrecidos com o grande paradoxo que caracteriza a sociedade hipermoderna: de um lado, um altíssimo e rápido avanço tecnológico, que facilita a vida e permite grandes desenvolvimentos e conhecimentos científicos; de outro, um enorme retrocesso nos costumes e valores que fundam uma sociedade equilibrada ética e moralmente (continua)

Vítimas de exploração sexual,

crianças com a infância negada

Vídeo: Seus brinquedos são substituídos por drogas e armas. A fantasia dá lugar a um mundo de crimes e violência, onde a infância é negada. Vítimas de exploração sexual, crianças revelam uma realidade obscura no Brasil. De grandes metrópoles, ao litoral do Nordeste e estradas do país. Crianças e adolescentes atraem estrangeiros com promessas de sexo fácil em troca de impunidade.

31
Mar23

Manifestação por golpe militar é crime, mesmo desarmada

Talis Andrade

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Por Fernando Augusto Fernandes

 

A democracia fez o novo presidente da República eleito, Lula, por mais de 60 milhões de votos, derrotando Bolsonaro, que obteve pouco mais de 58 milhões de votos. Mas, terminada a eleição, se viu grupos nas ruas pedindo golpe militar.

Tratei, no artigo "Homicídio terrorista: assassinato por ódio de um integrante do PT", da necessidade de aperfeiçoamento da legislação de defesa do Estado democrático de Direito, para inclusão das motivações políticas. Continuo a defender a necessidade de modificação da lei.

Bolsonaro, no seu discurso irônico e perdedor, mantém esse movimento golpista ao assim se manifestar: "Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir…."

A Lei nº 14.197/21, inclusive aprovada por Bolsonaro, traz definição de crimes contra "o Estado democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais, com emprego de violência ou grave ameaça" — é o que cita o Artigo 359-L, com pena de reclusão de quatro a oito anos, além da pena correspondente à violência. E o Artigo 359-M — tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído — prevê pena de reclusão, de quatro a 12 anos, além da pena correspondente à violência [1].

Atos que não usam a violência, mas ameaçam a democracia com pedidos de uso de violência pelas Forças Armadas, também são crime.

Há previsão legal do crime de "incitação ao crime" do D.L. nº 2.848, e o parágrafo único dos Artigos 286 e 287, que prevê a criação de "animosidade entre as Forças Armadas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade", é bem claro e objetivo (2).

Essas "manifestações" se iniciaram bloqueando estradas em todo o país. As manifestações ofenderam o direito de ir de vir constitucionalmente, conforme o inciso XV do Artigo 5 — é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens [3].

Elas se desdobraram, após omissão e participação de agentes do Estado, em frente a quartéis do Exército. Apesar da garantia constitucional de livre reunião do Artigo 5 no termo XVI [4]. Também podemos incluir as práticas do Decreto Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, os Artigos 319 e 320. [5].

De toda forma, o Judiciário precisa ser instado a proibir tais manifestações, que desvirtuam a ordem constitucional. Evidente que elas não estão isentas de proibição, conforme cita o Artigo 5 nos termos constitucionais, XVIII, XIX e XXXV [6].

Para advogados que eventualmente postam, participam ou incentivam, tais atos devem ser punidos. É dever, pelo artigo 2º do Código de Ética: "V – contribuir para o aprimoramento das instituições, do Direito e das leis". O artigo 34 veda advogar contra literal disposição de lei (VI - advogar contra literal disposição de lei, presumindo-se a boa-fé quando fundamentado na inconstitucionalidade, na injustiça da lei ou em pronunciamento judicial anterior) [7].

Aqueles advogados que se referem à decisão do STF no caso Lula — que anulou seus processos — com deselegância e desrespeito, postando, falando em público descumprem o dever de zelar pela justiça (XIII - fazer publicar na imprensa, desnecessária e habitualmente, alegações forenses ou relativas a causas pendentes). Acima de tudo, advogado que incentiva, participa ou divulga atos antidemocráticos mantém atividade incompatível com a advocacia (XXV - manter conduta incompatível com a advocacia).

O incentivo de golpe militar é crime, mesmo sendo desarmado! A tentativa é crime contra o estado democrático. A omissão de atitudes ou a participação prevaricação. Aos advogados, infração ética.

Todos que desrespeitam a constituição devem ser punidos. Se agentes públicos, demitidos ou exonerados. Os demais, impedidos de participar de concurso público. Os advogados, suspensos por processo ético na OAB. Não é possível deixar de aplicar as punições com as leis vigentes

_____________________________________

[1] https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/lei-n-14.197-de-1-de-setembro-de-2021-342334198

[2] https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm

Incitação ao crime

Art. 286 - Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem incita, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade. Incluído pela Lei nº 14.197, de 2021) (Vigência);

Apologia de crime ou criminoso

Art. 287 - Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime: Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.

[3] https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

[4] https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

[5] http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: (Vide ADPF 881) Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.). Além indulgência criminosa em relação àquele superior hierárquico que não tomar providências quanto aos que praticarem crimes (Condescendência criminosa).

Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.)

[6] https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;

XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

[7] https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/codigodeetica.pdf

19
Nov22

Ciência brasileira está sob o domínio da mamadeira de piroca

Talis Andrade

Ciência brasileira está sob o domínio da mamadeira de piroca - 26/05/2021 -  UOL Notícias

 

por Chico Alves

Desde que surgiu, em 2018, a mamadeira de piroca causou transformações radicais na vida brasileira. O artefato imaginário, criado pelas tropas bolsonaristas, tornou-se símbolo da mentira e da perversão que inspiram fanáticos a atacar as instituições brasileiras. Na ciência, os estragos causados por esses delírios mamadeirísticos são dramáticos, especialmente em tempos de pandemia. Os depoimentos na CPI da Covid dão a exata noção do prejuízo.

Ontem, a médica Mayra Pinheiro, responsável pela Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde, do Ministério da Saúde, prestou depoimento aos senadores. Em um momento constrangedor, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) reproduziu o áudio em que Mayra diz ter visto um gigantesco pênis inflável quando esteve em visita à fundação.

Como qualquer criança pode constatar, tratava-se da reprodução do logotipo comemorativo dos 120 anos da instituição, a estilização da torre do castelo de inspiração mourisca onde funciona a sede.

Mais impressionante nessa alucinação fálica é que Randolfe ainda deu à depoente a chance de se retratar. Perguntou se realmente em algum momento a Fiocruz teve "órgão reprodutor masculino" à porta. Mayra confirmou: "Sim", disse. "Isso é uma constatação, senador".

Ciência brasileira está sob o domínio da mamadeira de piroca - 26/05/2021 -  UOL Notícias

É desesperador constatar que essa pessoa que enxerga formas eróticas em símbolos históricos é a responsável pela gestão do trabalho e da educação dos profissionais de saúde pública brasileiros. Descolada do mundo real, como demonstrou ser, imagina-se as orientações estapafúrdias que deve passar aos subordinados.

Não faltaram outros momentos constrangedores na participação de Mayra. Como quando abordou os motivos que a levam a acreditar que a cloroquina, em determinados casos, pode ter efeito positivo no tratamento da covid-19.

Sobre isso, enrolou o quanto pôde, citando estudos obscuros. Até que se deparou com o senador Alessandro Vieira (Cidadania -SE). Munido de levantamento feito por um especialista, o parlamentar citou análise em 2.871 pesquisas em bases disponíveis em todo o mundo que apontam 14 estudos de excelência sobre o assunto. Destes, nenhum indica benefícios de medicamentos como cloroquina para o tratamento da covid-19.

Mayra, a Capitã Cloroquina, reconheceu tanto a qualidade das pesquisas citadas por Vieira quanto a inexistência de estudos de alto nível para provar suas sugestões de tratamento heterodoxo para o coronavírus. Apesar de confrontada com a verdade mais uma vez, continuou a demonstrar fé nessas terapias.

"A senhora acredita no que fala, mas acreditar no que se fala não torna o que se fala uma verdade", criticou o senador sergipano.

Também acompanham Mayra nessa cruzada irracional pela cloroquina parlamentares governistas da CPI como Eduardo Girão (Podemos-CE), Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e outros. Apesar de influenciarem diariamente os brasileiros a usar substâncias não reconhecidas contra a covid-19, Girão e Heinze não querem ser criticados por isso.

Os dois acionaram a Polícia do Senado para intimidar o sociólogo Celso Rocha de Barros, autor do artigo "Consultório do Crime", publicado na Folha de S. Paulo. Mais uma vez, a crendice afronta a realidade.

Seja no Ministério da Saúde ou no Congresso, onde em tempos passados era defendida, a ciência brasileira está hoje a mercê desses personagens fanáticos da turma da mamadeira de piroca.

É gente que despreza as pesquisas rigorosas e detalhadas de cientistas que estão entre os melhores do mundo para sugerir políticas públicas em cima de achismos ou de histórias do tipo "conheço alguém que se curou".

As 450 mil mortes não foram suficientes para fazê-los abandonar os ilusionismos em favor da busca por vacinas e da divulgação do isolamento social.

Nesse momento dramático, enquanto pesquisadores sérios trabalham duro para oferecer alternativas reais à sociedade brasileira contra a pandemia, autoridades do governo e integrantes do Senado continuam a se apegar a poções mágicas, como se vivessem no tempo do guaraná de rolha.

A simpatia com cloroquina, no entanto, além de não curar pode custar caro, por causa dos efeitos colaterais. Os amuletos do passado, como pé de coelho ou galho de arruda na orelha, ao menos eram inofensivos [Publicado no UOL in 26/05/2021]

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03
Nov22

A rede de notícias falsas que faz manifestantes bolsonaristas desconfiarem do próprio presidente

Talis Andrade

Protesto contra a eleição de Lula em Anápolis, Goiás, no feriado de 2 de novembro

 

 

por Shin Suzuki /BBC News

Grupos bolsonaristas presentes em aplicativos de mensagem e nas redes sociais já se preparavam para estimular manifestações após a eleição porque sustentavam a falsa narrativa de que uma fraude impediria a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, diz o pesquisador Leonardo Nascimento, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

"Isso explodiu há mais de um mês. Já vinham sendo preparadas manifestações no caso de a eleição, no dizer desses grupos bolsonaristas, ser 'fraudada'. Já falavam coisas como 'o Brasil vai parar'. Há 15 dias começaram a surgir panfletos de convocação para protestos, às vezes para ocorrerem no próprio dia da eleição do segundo turno, às vezes no dia seguinte", diz.

Nascimento explica que redes atuantes no Telegram e WhatsApp fazem um trabalho "constante, diário" de envio de informações que alimentam um sentimento de prontidão e uma lógica de paranoia para se defender de uma ameaça representada pelos grupos contrários aos bolsonaristas.

"Eles vivem num emaranhado de posts, vídeos e áudios de confirmação de suas crenças. Estão fortemente imbuídos de teorias da conspiração ou de lógicas operatórias. E há o aspecto de que, de 2016 para cá, o relacionamento com pessoas de visões diferentes foi diminuindo", em um reforço do conceito de "bolhas", que impedem desafios aos pensamentos e linhas de raciocínio do grupo.

O pesquisador afirma que essa lógica funciona não só para apresentar narrativas de potenciais ameaças contra eles, mas também de que há "um grande plano" preparado para o domínio bolsonarista.

"Por isso, não adianta o vice-presidente [Hamilton Mourão] anunciar que já está sendo feita uma transição, que o governo vai mudar. Porque nos grupos bolsonaristas prevalece a narrativa de que existe um plano sendo preparado para o retorno dos militares, onde todos os supostos algozes serão presos, como o ministro [do STF] Alexandre de Moraes."

Ele cita um vídeo que circula bastante desde a terça-feira (01/10), feito por um repórter da Rádio Gaúcha, em que manifestantes bolsonaristas nas imediações do Comando Militar do Sul em Porto Alegre comemoram efusivamente a falsa notícia de que Moraes havia sido preso.

"As pessoas nos grupos bolsonaristas ficam falando o tempo todo daquilo. As pessoas acreditam que aquilo se torna realidade. Para compreender o que está acontecendo nos grupos, a gente precisa tentar se deslocar do ponto de vista lógico, do que efetivamente está acontecendo, para o ponto de vista de como eles interpretam o que está acontecendo", diz.

Até mesmo mensagens vindas diretamente de Bolsonaro que contrariam expectativas dos partidários podem causar dúvida sobre a autenticidade.

No vídeo em que o presidente pede a desobstrução das rodovias postado em seu perfil oficial e verificado no Facebook uma usuária chega a duvidar que o conteúdo é genuinamente relacionado aos atuais protestos.

"É mentira isso. Vídeo antigo. Prestem atenção, [isso] foi na outra manifestação dos caminhoneiros", afirma a seguidora do presidente em uma das respostas.

Essas reações podem ser fruto de uma ambiguidade proposital que está embutida no discurso de Bolsonaro — caso do curto pronunciamento feito na tarde de terça no Planalto, no qual o presidente não reconhece a derrota no segundo turno para Lula, mas permite que o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, anuncie o início do processo de transição.

"O tempo todo Bolsonaro está administrando um espaço em que ele está dentro da ordem, em que respeita a ordem democrática e, ao mesmo tempo, dá margem para subverter essa ordem. Essa ambiguidade do discurso, de idas e vindas, de afirmações e negações é constitutiva da estrutura política do exercício do bolsonarismo", analisa Nascimento.

Ele desenvolveu ao lado de Letícia Cesarino, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Paulo de Freitas Castro Fonseca, também da UFBA, uma análise sobre mais de 2,1 milhões de mensagens na plataforma no período próximo à realização do primeiro turno da eleição de 2022, com foco no processo de desinformação no Telegram.

Uma das conclusões foi a identificação de pautas conspiracionistas cada vez mais expressivas em torno da ideia de fraude na votação.

Narrativas que tentaram descreditar o sistema eleitoral brasileiro, com as Forças Armadas evocadas como fiscais do processo, também apareceram com destaque entre as mensagens analisadas, além de convocatórias para os atos de 7 de setembro que serviram para promover a candidatura de Bolsonaro.

Para Nascimento, não há interesse em arrefecer essa retórica presenciada nas redes de confrontos e ameaças em relação aos opostos.

"Não interessa porque se arrefecer, vira regime democrático, se arrefecer vira diálogo. E eles não querem diálogo."

Cerca de 45 horas após ser derrotado no segundo turno das eleições, o presidente Jair Bolsonaro falou ao público pela primeira vez nesta terça-feira (1/11). Em pronunciamento curto no Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse respeitar a Constituição, desautorizou os protestos nas estradas, mas não fez qualquer menção ao resultado das eleições. Após a sua fala, no entanto, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), disse que o presidente o autorizou a iniciar o processo de transição junto à equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Neste vídeo, Vítor Tavares conta o que ocorreu entre o anúncio dos resultado das eleições pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), às 19h57 do domingo, e o fim do silêncio do presidente – de repercussão internacional e aliados reconhecendo resultado até bloqueio de estradas por bolsonaristas. 

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O presidente Jair Bolsonaro é conhecido uma série de falas polêmicas e controversas, admiradas por parte de seu eleitorado, que vê nelas um sinal de autenticidade. Algumas dessas declarações do presidente, no entanto, marcaram bastante a trajetória de Bolsonaro durante a campanha eleitoral à reeleição: desde o uso da expressão "pintou um clima", em que o presidente referia-se à interação com adolescentes venezuelanas, até a frase "não sou coveiro" ou a imitação de pacientes com falta de ar por causa da covid-19, em lives realizadas pelo presidente no auge da pandemia. Mas como essas falas impactaram o eleitorado em geral? Nossa repórter Paula Adamo Idoeta consultou pesquisadores que se dedicaram a destrinchar a visão política de eleitores de Bolsonaro em 2018 e, neste vídeo, conta qual é a avaliação acadêmica sobre o tema.

27
Out22

Por que Bolsonaro não foi a beatificação da caririense Benigna Cardoso da Silva?

Talis Andrade
Papa menciona Beata Benigna durante audiência no Vaticano. E rezou pelos brasileiros
por ROBSON ROQUE
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Ainda durante a audiência, o Papa Francisco mencionou as eleições no Brasil, e disse: “Rezo a Nossa Senhora Aparecida para que proteja e cuide do povo brasileiro, que o liberte do ódio, da intolerância e da violência”.

25
Out22

Até os estertores da morte (pastores e ovelhas galeria de charges)

Talis Andrade

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Quero deixar minha vida em ordem, em perfeito acordo com os costumes da santa inquisição neopentecostal

 

por Jean Pierre Chauvin /A Terra É Redonda

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Estimada leitora, ou estimado leitor, data vênia, eu estava completamente errado. Perdoe-me por levar 49 anos e oito meses para percebê-lo. Felizmente, não há mal que tanto perdure, haja vista o cultivo da ciência e da cultura favorecido pela evidente harmonia social que nos une – como se percebe no modo como cultivamos a democracia, a laicidade e o combate aos preconceitos, ainda que persistentes.

Desculpe-me por citar um livro meio antigo, mas Aristóteles ensinava, na Poética, que o ethos do herói se forja nos momentos de escolha. Eis, portanto, o relato da minha decisão, para registro e reconhecimento de firma: “A esta altura desta vida mirrada, frente a acontecimentos tão egrégios, rasgarei todas as camisetas e camisas-polo avermelhadas; farei a mochila vermelha em pedaços; depositarei o novo estojo de lápis vermelho na lixeira mais próxima (nunca se sabe a consequência de doá-lo para outra vítima)”.

Ficou bom assim? Digo mais. Felizmente, sempre achei cueca vermelha cafona e, por sorte, ou graça de deus, nunca recorri a meias vermelhas, pois não teria o que combinar com elas. Melhor ainda, tive três automóveis: um deles era cor de chumbo; o segundo, bordô; o terceiro, vermelho vivo (não por minha culpa, mas por recomendação da concessionária). Ainda bem que me desfiz de todos eles. Não haverá melhor ginástica que correr atrás do ônibus e trabalhar o peitoral, esmagado entre gentes, quando no metrô. Mas conversávamos sobre arrependimento contrito. Voltemos ao tema.

Ao me livrar do vermelho e dependurar a bandeira com as cores de Bragança no lustre, tento imitar um sujeito relativamente ilustre do século V. Quando se converteu ao cristianismo, Santo Agostinho gastou centenas de páginas para contar a sua infância e sua curiosa relação com os maniqueus. Se me permite o reparo, note como sou inovador. Levo sobre ele a vantagem de fazê-lo em cinco ou seis parágrafos, o que me aproxima de um Brás Cubas, mas também do Quincas Borba, quando escreve uma carta violenta (e que faz rir) ao futuro herdeiro Rubião.

Convenhamos: tão elevado poder de síntese só se explica de duas formas: (1) como não sei um milésimo do que o Bispo de Hipona sabia, nada mais justo que me limitar a um brevíssimo artigo de autocensura; (2) a tomada de consciência ufano-patriótica e moral teísta permitirá que eu transite pelas ruas da Pauliceia em segurança, evitando que os brutamontes, em bandos, convertam-me a votar em outro candidato a tapas.

Você não imagina como está sendo libertador subordinar-me compulsoriamente a um regime totalitário, destruidor, mitômano, sádico, piegas e negacionista. Mas, para isso, é preciso disciplina e coragem. Acima de tudo, será preciso abandonar qualquer espírito crítico; simultaneamente, evitar discutir a concepção unidimensional dos apologetas do neonazismo em São Paulo e no Brasil.

Nada será mais tranquilizante que trabalhar (se ainda houver emprego) até os estertores da morte: sensação quase eterna de produtividade. Puxa, somente agora ocorreu que preciso recusar o convite honroso a prefaciar livros; evitar a redação de artigos não lucrativos ou sem serventia; deixar de orientar alunos de iniciação científica, do mestrado e do doutorado (especialmente aqueles que levam a pesquisa tão a sério que não podem continuar a fazê-lo sem bolsa). A acusação de que sou desocupado por contar com duas “férias” por ano talvez faça sentido para um sujeito antiuspiano.

Mas, de volta à paleta de cores. Acabo de perceber que terei que destruir o mouse vermelho sangue, para que o próximo prestador de serviços que porventura vier não irradie misérias a esse respeito e despeje meu nome no cadastro dos inimigos do Führer – sujeito tão patriótico que deseja compartilhar o pouco que resta do território com os ricos irmãos do Norte. Puxa, agora lembrei que a sanduicheira tem coloração rubra. Deixe-me pegar o martelo novamente. Pronto. Nenhuma ameaça imediata. À vontade. Pode entrar. O apartamento é modesto. Vossa mercê não repare na bagunça. Aquela loucinha é de hoje cedo. Madruguei para vender aula… Ah, não lhe contei que sou profissional e não amador? Sabe o que é? Como não tenho patrocínio, por não ser tão bom esportista, preciso vender minha força de trabalho. Sim, leio e escrevo, basicamente.

Você viu como não sobrou qualquer eletrodoméstico, utensílio ou cartaz subversivo por aqui? Deve ter sido a intuição que mandou encomendar estantes e prateleiras brancas… Como é? Aquele livro lá em cima? Perdoe-me: como estou sem óculos não consigo discernir bem. Imagine se eu teria um nicho com obras de Friedrich Engels e Karl Marx na sala de visitas! Jamais… Coisas ultrapassadas e de mau-gosto. Ah, bem, não foram esses que você viu… Puxa, tem razão: ainda tenho uns treze livros de lombada vermelha, incluindo A Nova Razão do Mundo, de Dardot e Laval. De que ele trata? Como lhe respondo sem me comprometer?  O senhor releve: mal me recordo do teor. Deve ser o cansaço diário, despendido em variadas formas de resistência.

Não, não. Não frequento terreiro. Mas, sua senhoria me perdoe: também passo longe dos templos. Igreja? Raro, raro: quando entrava em uma era mais por interesse histórico. Isso, isso: coisa de professor. Ultimamente, evito entrar, mesmo. É que, vez ou outra, aparecem sujeitos que gostam de ofender os padres. Não é crítica, não. Foi o que li em alguns jornais e escutei dos depoimentos. Nesse aspecto, estou mais tranquilo. Tento ser virtuoso, a despeito do ateísmo. Acho, inclusive, que meu CPF está limpinho. O scorenão é tão alto porque estou pagando pelo novo financiamento habitacional. Sabe como é, né? Somos tão bem remunerados, tão bem reconhecidos pelo nosso ofício que mantenho conta em dois bancos para me distrair.

Ah, agora você está curioso por minha vida pessoal? Sem problema algum. O que quer saber? Mande lá… Sim, fui casado. Hoje só namoro, entende? Ah, estou em pecado? E rachadinha, também é errado? E sigilo secreto? Ah, não vem ao caso… compreendo: são os velhos-novos critérios do desgoverno. Puxa, então preciso correr. Longe de mim buscar encrenca com os cidadãos de bem.

Quero deixar minha vida em ordem, em perfeito acordo com os costumes da santa inquisição neopentecostal, também importada dos EUA, feito Coca-Cola, quadrinhos e pipoca de micro-ondas. Vai que vossa senhoria manda um emissário da ordem e dos bons costumes revistar o apartamento. Darei um basta exemplar nessa relação perniciosa com a guria, levando a ela não provas, mas convicções. Senão hoje, amanhã faço isso na primeira hora. Como? Convoco a sujeita para uma entrevista e digo que está tudo terminado. Você tem razão: preciso evitar que volte a pintar um clima.

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23
Out22

Intimidação. Michelle e Damares se encontram com venezuelanas após vídeo de Bolsonaro

Talis Andrade

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José Fonseca
@fonsecabraslia
Replying to
Michelle e a senadora Dona Bela que só pensa naquiiiiiiiiilo foram pressionar as meninas venezuelanas, não adiantou. O fato é que as meninas que não estavam no trottoir como pensava o bozo, eram bonitinhas e pintou o clima.Image

 

 

 

por CÉZAR FEITOZA - Folhapress

A primeira-dama Michelle Bolsonaro e a senadora eleita Damares Alves se encontraram nesta segunda-feira (17) com duas venezuelanas ligadas à família citada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em vídeo que circulou nas redes sociais no fim de semana.

O encontro ocorreu no Lago Sul, área nobre de Brasília, e foi viabilizado por integrantes da Presidência da República e da Embaixada da Venezuela no Brasil.

A equipe da primeira-dama foi quem ofereceu o encontro, segundo relatos de pessoas envolvidas. O plano inicial era que a conversa tivesse ocorrido na noite de domingo (16), em São Sebastião (DF).

Num primeiro momento, houve resistência da família venezuelana, que estava assustada com a repercussão do caso.

 

Leia: Randolfe pede ao STF proteção de meninas venezuelanas citadas por Bolsonaro 

 

O encontro, no entanto, aconteceu nesta segunda após a família decidir que gostaria de ser ouvida pela Michelle e dar a oportunidade da primeira-dama pedir desculpas pela exposição indevida das menores de idade.

O principal problema, segundo os relatos, foi com a insinuação que o presidente fez de que as meninas fossem prostitutas —o que é negado pelos venezuelanos e pela Cáritas Arquidiocesana de Brasília, que acompanha os refugiados em São Sebastião.

Com a exposição da família, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e a Defensoria Pública da União passaram a acompanhar as venezuelanas.

Michelle Bolsonaro e a ex-ministra Damares Alves foram convocadas no domingo pela campanha de Bolsonaro para conversar com a família venezuelana e arrefecer a crise causada pela fala do presidente.

Em entrevista ao podcast Paparazzo Rubro-Negro na sexta (14), Bolsonaro disse, enquanto dirigia por São Sebastião, a cerca de 30 km do centro de Brasília, ele encontrou adolescentes venezuelanas quando "pintou um clima".

"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas; de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado numa comunidade", disse o presidente durante a entrevista.Image

 

Leia: Moraes ordena que PT retire vídeos com fala de Bolsonaro sobre venezuelanas 

 

"Pintou um clima, voltei, 'posso entrar na tua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, [num] sábado de manhã, se arrumando —todas venezuelanas. Meninas bonitinhas, 14, 15 anos, se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Quer isso para a tua filha? E como chegou a este ponto? Escolhas erradas."

No domingo, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) enviou equipes à comunidade Morro da Cruz, em São Sebastião, para encontrar os venezuelanos e propor um encontro com Michelle e Damares.

O objetivo inicial era gravar um vídeo com a família e contar, em detalhes, o que ocorreu no dia em que o presidente a visitou.

A família venezuelana não quis gravar o vídeo, para evitar a exposição do caso.

Em 10 de abril de 2021, um sábado, Bolsonaro fez um passeio por São Sebastião e entrou numa casa em que viviam mulheres venezuelanas que fugiram da crise político-econômica no país vizinho. Na ocasião, ele fez uma live na qual criticou as medidas sanitárias então adotadas por governadores contra a Covid.

 

Leia: Lula sobre 'pintou um clima' de Bolsonaro com venezuelanas: 'Agiu de má-fé' 

 

As garotas venezuelanas recebiam, naquele dia, uma ação social com foco em questões estéticas e de bem-estar, como maquiagem e massagem.

Durante a entrevista ao podcast, Bolsonaro insinuou que as adolescentes estavam bem vestidas e "arrumadas" na tarde de sábado para "ganhar a vida", em referência a exploração sexual.

Na entrevista que originou as críticas a Bolsonaro, o objetivo do presidente era reforçar o mote de um suposto risco de o Brasil "virar uma Venezuela" caso Lula vença o segundo turno do pleito presidencial.

A fala do mandatário também foi criticada por sugerir que ele não tomou providências diante de uma situação de exploração sexual de menores. Ainda que a campanha admita a repercussão negativa do caso, o episódio não é visto como definidor na disputa pelo Planalto, segundo o entorno do mandatário.

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Folha de S.Paulo
@folha
As meninas venezuelanas associadas por Bolsonaro à prostituição passaram a última semana sem sair de casa, evitando até ir à escola, para serem preservadas do assédio ao qual foram submetidas após as declarações dadas pelo presidente a um podcast. Leia: bit.ly/3siR2kS
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22
Out22

Bolsonaro falsificou informações sobre casa de meninas venezuelanas 

Talis Andrade

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Professora da comunidade de São Sebastião relatou ao GGN a verdadeira situação da casa de acolhimento citada por Bolsonaro e a verdade sobre as meninas tão puras quanto a filha dele que frequenta escola militar

22
Out22

Ao lado de Lula, Tebet comenta fala sobre meninas venezuelanas e chama Bolsonaro de pedófilo

Talis Andrade

Lula ao lado de Simone Tebet e Marina Silva durante campanha em Teófilo Otoni (MG). — Foto: Ana Carolina Magalhães/Inter TV Dos Vales

Lula ao lado de Simone Tebet e Marina Silva durante campanha em Teófilo Otoni (MG). — Foto: Ana Carolina Magalhães/Inter TV Dos Vales

Por g1 

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), terceiro lugar no primeiro turno das eleições presidenciais, chamou o presidente Jair Bolsonaro (PL) de pedófilo ao comentar nesta sexta-feira (21) a fala do candidato à reeleição PL sobre as meninas venezuelanas.

"Quando Bolsonaro disse que pintou um clima, é crime. É mais do que isso, é pedofilia. E lugar de pedófilo é na cadeia. Eu não tenho medo. Já chamei o presidente de covarde e não tenho medo de dizer que ele cometeu um crime", afirmou a senadora.

Tebet participou de uma passeata em Teófilo Otoni, na região Nordeste do estado de Minas Gerais, ao lado do ex-presidente e candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e de Marina Silva (Rede), deputada federal eleita por São Paulo.

O estado mineiro tornou-se cobiçado na fase final da campanha presidencial por ser o segundo maior colégio eleitoral do país. No 1º turno, Lula venceu no estado com 48,29% dos votos contra 43,6% de Bolsonaro.

No dia 14 de outubro, Bolsonaro contou durante uma entrevista a um podcast que estava de moto andando em uma região administrativa do Distrito Federal quando encontrou as jovens venezuelanas.

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"Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, se eu não me engano, em um sábado de moto [...] parei a moto em uma esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas... Três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na sua casa?' Entrei", disse Bolsonaro na ocasião.

A senadora também lembrou das suspeitas de corrupção envolvendo ele e familiares, entre elas a revelação do portal UOL de que Bolsonaro e parentes compraram 51 imóveis com dinheiro vivo.

"Quando tirarem a faixa dele, e o povo brasileiro vai tirar, nós veremos as rachadinhas, veremos a compra de mansão com dinheiro vivo, veremos os escândalos de corrupção desse governo", disse Tebet.

 
21
Out22

Pintou um clima, por Hildegard Angel

Talis Andrade

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por Hildegard Angel

"Pintou um clima" num velhote tarado e ele abusou dessas duas meninas da foto, de 6 e 7 anos, deixadas sós enquanto a mãe saiu para procurar emprego...

Muitas mulheres já me relataram abusos sofridos na infância. Uma amiga de minha mãe, no leito de morte, confidenciou-me, fazendo-me prometer não contar pra ninguém, nem à sua filha, que quando menina foi abusada pelo marido rico de sua mãe. Abriu-me seu coração e partiu aliviada do peso de seu segredo, como se fosse dela a culpa por ter "pintado um clima" no padrasto abusador.

Ouvi de uma mulher mais jovem o relato de um pai que lhe fazia carícias sexuais, e ela até hoje enfrenta o trauma de ter causado o "clima" que "pintou" em seu pai.

Começamos a fazer teatro ainda adolescentes. Mamãe assistia a quase todos os espetáculos, e nos levava depois pra casa. Hoje vejo seu esforço extraordinário para nos manter tão protegidas.

Mas o inimigo costuma estar mais próximo do que as mães supõem. Havia solícitos pais de amigas, "com olhar esquisito", que insistiam em dar carona às meninas. Fugíamos deles. Escapamos de "pintar um clima".

Uma viúva rica da rua, com três filhas, arrumou um namorado. A vizinhança faladeira o chamava de "gigolô" porque sua primeira providência foi aparecer de pijama na sacada de frente pra rua, "demarcando o território".

Éramos amicíssimas das meninas, e zanzávamos de uma casa à outra, mantendo sempre cautelosa distância do "gigolô". Um dia, calhou de eu estar lendo na sala da casa das amigas, e o indivíduo entrou e deu uma ordem: "Levanta a blusa!". Eu devia ter 7 ou 8 anos. Fiquei vermelha "como um pimentão". Eu era daquelas que ruborizavam, envergonhadas. Ele insistiu. Eu, paralisada. Calmamente, ele levantou a minha blusa, olhou. Não sei se me tocou. É difícil lembrar. Fui educada a respeitar os mais velhos, e sempre fui obediente. Não sabia como agir se "pintasse um clima" perto de mim.

A minha experiência de assédio na infância, ainda bem, parou por aí. Nunca tive coragem de contar a ninguém, nem mesmo a minha irmã. Era a minha "verdade secreta". Não é mais.

Fujam, crianças. E contem, falem tudo, ser assediada não é sua vergonha. É vergonha dos homens depravados, em quem "pintam climas". É vergonha dos "broxáveis", que precisam da devassidão para estimular sua impotente virilidade.

Poder não é ser Presidente da República. É encarar sua canalhice, seu tamanho de anão moral em quem "pintam climas", e reconhecer que não tem poder nem sobre a própria indignidade. 

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