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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

04
Fev23

O cabo Silveira, o soldado do Val e a fuga do ex-capitão

Talis Andrade

 

por Fernando Brito

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Quando Eduardo Bolsonaro disse que bastaria um cabo e um soldado para fechar o Supremo Tribunal Federal, certamente não estava imaginando que seriam o cabo da PM Daniel (Lúcio) Silveira e o soldado Marcos do Val, do 38° Batalhão de Infantaria, hoje (ainda) senador, os personagens da comédia tosca que estão encenando para livrar Jair Bolsonaro do destino de punição que espera os golpistas fracassados.

Talvez se pudesse até acreditar, de tão toscos que são os Bolsonaro, que tudo que do Val relatou (e “desrelatou”, ao longo do dia) sobre a conversa que Daniel Silveira o teria levado a ter com Jair Bolsonaro, envolvendo uma armação para que o senador gravasse conversas em que o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, eventualmente escorregasse, na intimidade, em declarações que o marcassem como suspeito na condução dos inquéritos que implica o ex-presidente em manobras golpistas.

Mas, para crê-lo, seria necessário um festival de ingenuidades.

Do Val apresenta-se como “próximo” de Moraes, – “com quem faço uns trabalhos“- e se poderia dizer até íntimo do ministro, tal a facilidade com que marca encontros por Zap a qualquer hora que queira, ou que se possa achar que Moraes, recebendo um senador sabida e abertamente integrante da “tropa de choque” bolsonarista para falar inconveniências e fazer rompantes.

Logo ele que, há quatro dias, gravou um vídeo (aqui, aos 10 min) dizendo que Moraes é uma “unanimidade” negativa entre os brasileiros e que “nem os ministros do Supremo estão aguentando mais ele”. Amigão, não é?

É evidente que se trata de uma manobra primária para desqualificar o presidente do TSE e tentar retirá-lo da relatoria dos inquéritos relativos à defesa da democracia contra o golpismo.

Esta é a “missão” que recebeu, agora que a vitória de Rodrigo Pacheco na eleição do Senado tornou impossível a “saída” de promover o impeachment de Moraes.

O senador nem precisa desistir da alegada renúncia que disse – e “desdisse” – iria apresentar. Vai perder o mandato e terá a honra de abrir a fila da Comissão de Ética nesta legislatura.

O cabo Silveira, em cana, vai ter de dar cambalhotas para justificar os R$ 270 mil achados em sua casa. O soldado do Val, já está levando tombos estrepitosos no primeiro dia de suas “denúncias”.

Mas estas suas manobras diversionistas para livrar Bolsonaro, tal como as declarações de Valdemar da Costa Neto de que “todo mundo tinha” minutas do decreto golpista para estabelecer “Estado de Defesa” e anular as eleições, só vão ajudando a transformar em comédia-pastelão as versões dos golpistas para escaparem às suas responsabilidades.

Até o final desta quinta-feira, depois do seu depoimento à PF, do Val estará completamente desmoralizado e de tudo só restará um Bolsonaro mais golpista e tosco, sem ter nem mesmo o um cabo e um soldado ao seu lado.

03
Fev23

STF manda investigar Bolsonaro por genocídio

Talis Andrade

 

 
Ilustração: AbyaYalese

 

por Altamiro Borges

O cerco contra o “fujão” Jair Bolsonaro, que já coleciona mais de 20 processos na Justiça, vai se fechando. Nesta segunda-feira (30), o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, determinou que a Procuradoria-Geral da República investigue a prática de genocídio e de outros crimes do seu governo contra o povo Yanomami. 

A decisão também foi enviada ao Ministério Público Militar, ao Ministério da Justiça e à Superintendência Regional da Polícia Federal de Roraima. Além de genocídio, ele ordenou que os órgãos apurem os crimes de desobediência, quebra de segredo de Justiça e delitos ambientais relacionados à vida e à saúde das comunidades indígenas. 

A menção explícita ao crime de genocídio complica ainda mais a vida do “fujão”. Ela já havia sido feita pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, na semana passada: “Há indícios fortíssimos de materialidade do crime de genocídio, é disso que se cuida, e as penas podem chegar até a 30 anos”. O presidente Lula também tem batido nessa tecla. 

A convenção da ONU sobre genocídio

Conforme registra a Folha, “o crime de genocídio foi definido em convenção da ONU em 1948 como a ‘intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso’. Algumas condutas configuram esse crime, como matar membros do grupo, causar lesão grave à integridade física ou mental a eles, submeter o grupo intencionalmente à ‘condição de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total ou parcial’”. 

A convenção da ONU passou a valer no Brasil em 1952 e foi sancionada em lei, quatro anos depois, pelo presidente Juscelino Kubitschek. “Sua primeira e única aplicação no país ocorreu sobre um crime de 1993, também contra yanomamis. O episódio, conhecido como massacre do Haximu, deixou 12 indígenas mortos na serra da Parima (RR)”. 

Ação ou omissão, parcial ou total

A decisão do ministro Luís Roberto Barroso evidencia a gravidade da situação atual. Em sua sentença, o ministro do STF cita documentos que “sugerem um quadro de absoluta insegurança dos povos indígenas envolvidos, bem como a ocorrência de ação ou omissão, parcial ou total, por parte de autoridades federais, agravando tal situação”. 

“Barroso diz que tornou a decisão pública ‘tendo em vista a necessidade de que a sociedade tenha conhecimento das providências adotadas pelo STF sobre a questão’ e também ‘da possível participação de autoridades do governo Jair Bolsonaro’. Os documentos e informações contidos na ação, porém, continuam sob sigilo”, relata o jornal. 

Além desta decisão, também nesta segunda-feira (30), o Ministério Público Federal anunciou que vai instaurar um inquérito para apurar se houve omissão do Estado na crise humanitária e sanitária que assola os yanomami. Em nota, o MPF de Roraima afirma que há evidências da falta de assistência à saúde e de enfrentamento a invasões. 

O "fujão" pede novo visto nos EUA

Já o governo Lula publicou nesta segunda-feira uma lista com 23 casos em que acusa o desgoverno de Jair Bolsonaro de omissão na assistência aos povos indígenas. Já o “fujão”, totalmente desesperado, postou nas suas redes sociais uma mensagem patética, afirmando que “nunca um governo dispensou tanta atenção e meios aos indígenas”. 

O genocida sabe que sua prisão está cada dia mais próxima. Por isso, requisitou um visto de turista para permanecer mais tempo nos EUA. Como ele virou uma “figura tóxica” para o governo de Joe Biden – e também para os seus vizinhos no condomínio de luxo em Orlando –, ainda há dúvidas se o visto será concedido pelo Departamento de Estado. 

O que parece certo é que ele está se borrando de medo de voltar para o Brasil e ser preso. Como afirmou Flávio Bolsonaro, o filhote 01 do “capetão”, nada está definido sobre o seu regresso. “Pode ser amanhã, pode ser daqui a seis meses, pode não voltar nunca, não sei. Ele está desopilando”.

22
Jan23

Bolsonaro está prestes a se tornar réu em processo criminal

Talis Andrade

 

Procuradores estão pressionado o chefe da PGR a abrir uma ação criminal contra o ex-presidente por incitar atos golpistas

 

21
Jan23

O rombo das Americanas e o golpe militar

Talis Andrade

 

 
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Marcio Vaccari e Reinaldo Azevedo no Twitter
 
Reinaldo Azevedo
@reinaldoazevedo
Vejam só. Agora é pra valer. Recuperação judicial das Americanas, c/ espeto de R$ 43 bilhões, correspondentes a 29,6% da PEC de transição. O q tem a ver uma coisa c/ outra? Explico sem dificuldade. Notaram como políticas de bem-estar são tratadas, em certas áreas, por princípio, 
 
como crimes, e crimes evidentes do setor privado são naturalizados como uma espécie de fatalismo? Decorre tbem daí a baixa credibilidade do liberalismo brasileiro. Cadê a avalanche de artigos? Vamos lá repetir a rotina de empresas quebradas, com sócios bilionários.
 
 
 
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Quem diria!? O maior escândalo e o maior tombo do capitalismo brasileiro — e do capitalismo mundial — não têm o dedo de Lula! Assim fica difícil!!!
 
 
Ah, sim: um terço da dívida das Americanas é com bancos públicos. Os severinos vão pagar a conta também desse modo.
 
 
 
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Não entendi a pauta, a tese ou o que seja dos que afirmam que Lula também tem de ceder no caso dos militares: ceder em quê? Extremistas tentaram dar o golpe impossível, debaixo de olhares e omissões cúmplices. Perderam. Cumpram-se a Constituição e as leis. Tivessem vencido, tbem
 
não haveria o que negociar. Os democratas estariam mortos ou presos, certo? Ademaia, vale o currículo. Os militares não têm o q reclamar dos governos petistas. Jamais as Forças foram tão atendidas em seus anseios em tempos democráticos. E isso é só um fato. A dificuldade
 
está numa concepção torta, alheia à democracia, segundo a qual os militares exercem a tutela do país. A democratização até agora não enfrentou essa questão. E os próprios golpistas tornaram o tema inadiável. O poder civil de matriz democrática não tem concessões a fazer. Ponto.
 
 
 
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17
Jan23

Intentona era punida com pena de morte

Talis Andrade
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Para sorte dos bolsonaristas, as penas para o mesmo crime são muito mais brandas - de quatro a 12 anos de prisão - no regime democrático

 

por Alex Solnik

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O inciso 13o. do artigo 122 da constituição de 1937, que ficou conhecida como a “Polaca”, pois foi inspirada na autoritária constituição polonesa, sujeitava à pena de morte quem “tentar subverter por meios violentos a ordem política e social, com o fim de apoderar-se do Estado para o estabelecimento de ditadura de uma classe social”.

Na madrugada de 11 de maio de 1938, um grupo de integralistas invadiu o Palácio Guanabara, residência de Getúlio Vargas e de sua família, com a intenção de matá-lo e provocou tiroteios nas ruas do Rio de Janeiro, na tentativa de tomar o poder. 

Foi um ato de desespero e de vingança. Getúlio prometeu manter aberto o Partido Integralista e nomear o seu líder, Plínio Salgado, ministro da Educação depois do golpe do Estado Novo, para obter seu apoio para o golpe, mas não cumpriu.

Por óbvio, os integralistas não foram enquadrados no artigo 122 porque a ditadura que queriam implantar não era  “de classe social”, clara referência à ditadura do proletariado de Karl Marx, mas um regime nazi-fascista, à direita do Estado Novo.

De mais a mais, a polícia de Filinto Muller aplicou a pena por conta própria. Abateu-os a tiro, nas ruas e nos jardins do Palácio Guanabara. Sem julgamento. Quem tinha fuzil na mão era alvejado. 

O líder, Severo Fournier, morreu de tuberculose na prisão.

Para sorte dos bolsonaristas, as penas para o mesmo crime são muito mais brandas - de quatro a 12 anos de prisão - no regime democrático.

Que eles tanto odeiam.

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17
Jan23

O lugar de Bolsonaro é na cadeia

Talis Andrade

A viagem do Torres

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Por Cristina Serra

A minuta de decreto encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres é prova mais do que contundente de uma conspiração golpista. Alguém pensou, buscou fundamentação jurídica (inexistente), escreveu e entregou o decreto de golpe nas mãos de Torres. Quem é o autor da proposta de estupro da Constituição, sempre desejado por Bolsonaro? Quem a encomendou? Se Torres era ministro e não denunciou a conspiração, dela fazia parte.

O presidente Lula conseguiu erguer uma muralha institucional contra o golpismo, imediatamente após o domingo infame na Esplanada, juntando até mesmo governadores bolsonaristas (pelo menos para o registro da História). Também recebeu maciço apoio e solidariedade internacional.

O Brasil não terá outra oportunidade como essa para enfrentar a contaminação golpista de setores das Forças Armadas e do aparato de segurança estatal, incluindo as polícias militares.

O sucesso da primeira tarefa dependerá muito da habilidade política de Lula e do que fará seu fraco e vacilante ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. A democracia não sobreviverá no Brasil sem que as instituições confrontem a permanente ameaça de tutela militar sobre o poder civil e sem que os quartéis entendam, de uma vez por todas, que não existe previsão de “poder moderador” na Constituição.

Para a segunda missão, dependeremos da coragem de governadores comprometidos com o país. No caso dos governadores bolsonaristas, fica a dúvida: serão leais à democracia que os elegeu ou ao criminoso que se refugia na Flórida?

Bolsonaro tem que voltar ao Brasil para ser devidamente processado. É perigoso tê-lo de volta? Seu retorno vai inflamar a turba demente? Risco maior é a percepção de impunidade, que corrói a crença nas instituições. Enquanto o chefe da quadrilha estiver livre, leve e solto continuará incentivando ódio, terror e golpe. Bolsonaro é o maior inimigo da democracia no Brasil. Como tal, seu lugar é no xadrez.

PGR inclui Bolsonaro em inquérito do golpe

 
 
17
Jan23

Terrorismo popular: uma reflexão sobre o fascismo doméstico

Talis Andrade

Falta pegar os financiadores

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Todos os sujeitos esvaziados de sua subjetividade serão seduzidos para o terrorismo popular

 

por Marcia Tiburi

Como conviver dentro ou fora de casa com fascistas que se tornaram terroristas e que depois de dias na prisão, são capazes de voltar sem nenhuma reflexão ou questionamento, senso de responsabilidade ou arrependimento? 

O que dizer a pessoas que continuam em delírio autoritário?

Como tratar quem, tendo sido traído por líderes diversos, fossem capitalistas financiadores, militares supostamente protetores, fosse o líder autoritário que, na verdade, não passava de um covarde, perdeu o chão e a razão e continua sem perceber ou sem querer assumir o próprio erro? 

A personalidade autoritária continua intacta e produzindo efeitos. O fascismo está a plenos pulmões com seu grito de morte e precisa ser parado antes que todos os seres sejam atingidos por seu vírus alienante e devorador de almas. 

Ao mesmo tempo, diante da catástrofe há quem insista em falar em populismo evitando, assim, o termo fascismo. Alegam que é preciso evitar exagero. Diga-se, a propósito, que o “apelo ao exagero no discurso do outro” é uma das falácias das mais comuns quando se quer amenizar um assunto ou, para usar um clichê, tapar o sol com a peneira. 

Com a invasão bárbara e a destruição dos prédios dos poderes republicanos em Brasília em 8/01 tornou-se evidente que o fascismo avançou para uma nova fase em que o terrorismo de Estado, composto de violência simbólica e física contra o povo, deu lugar ao que podemos chamar de terrorismo popular. 

Antes, Bolsonaro tocava o terror, contra os outros e contra os seus. Contra os outros através da política de choque, da ameaça, da chantagem econômica, do lançamento das pessoas na fome e na morte. 

Contra os seus, como um vaqueiro puxando o berrante para conduzir o gado, ou, se preferirmos uma metáfora mais literária e fantástica, sempre podemos lembrar o flautista de Hamelin que também conduz os ratos, mas direto para o abismo. 

Os próprios enfeitiçados decidiram tocar o terror confiando que estavam amparados por poderosos que se tornam cada vez mais imaginários, sejam financiadores que se escondem, sejam militares que não vem salvar ninguém, seja o líder autoritário e falastrão, que sempre foi, principalmente, um vagabundo e um covarde, que pretendia apenas se dar bem e promover os próprios filhos, tão monstruosos quanto ele. Prova disso é que fugiu e, no exterior, fingiu estar doente para tentar não ser extraditado. 

Há anos, um livro escrito por uma professora de filosofia - obrigada a exilar-se por ter irritado a extrema-direita brasileira e ter sido por ela perseguida e ameaçada - alertava sobre a implantação do fascismo no Brasil. A professora foi chamada de exagerada ao propor uma reflexão sobre o fenômeno do fascismo.  

Naquele época o assunto girava em torno da qualidade da relação que se desenvolveria com os fascistas que eram ao mesmo tempo, familiares. Ao enunciar “Como conversar com um fascista” a professora tocava no problema que muitos precisam enfrentar ainda hoje quando os velhos fascistas que tomaram o Brasil começando a se reproduzir desde 2014 (ano da criação do MBL, cujos membros são conhecidos por sua defesa de um partido fascista) voltam para casa depois de terem sido indiciados como terroristas. 

O problema continua atual. As subjetividades autoritárias continuam em ação e autorizadas pelos agentes do caos, os agitadores fascistas que lucram com a lavagem cerebral dos outros. Os poderosos continuarão a investir no populismo fascista e, para isso, precisam investir também na lavagem cerebral da população. Cada um é transformado em robô através da oferta de um gozo do mal e do sofrimento, seja do outro, seja de si mesmo. Todos os sujeitos esvaziados de sua subjetividade serão seduzidos para o terrorismo popular. E serão lançados por seus condutores no abismo.

O único jeito de evitar isso é produzindo consciência, resgatando do delírio e esse é trabalho para muitas gerações. Os vários governos que existirão no Brasil, terão que trabalhar para isso. A nós, meros cidadãos e cidadãs, cabe criar espaços e tempos democráticos e uma poético-política que possa nos garantir o sentido da convivência e da existência em sociedade, apesar de toda a adversidade que há no mundo humano.

#DesmonetizaJP

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16
Jan23

Numa afronta à história das esquerdas, a ultradireita chamou de Selma o encontro terrorista

Talis Andrade

Mamatacard

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Da forma mais afrontosa possível, avançaram sobre a simbologia das marchas ocorridas em Selma para nomear a balbúrdia

 

Por Denise Assis /247

Há uma semana estávamos ainda sob a sensação de alegria e leveza das imagens da histórica posse do presidente Luiz Inácio da Silva que, imagino, mesmo à distância, (acima da linha do Equador), tenham sido insuportáveis para aquele que um dia antes havia subido num avião da Força Aérea Brasileira (FAB) – e, ainda desfrutando até a última gota do nosso rico dinheirinho –, rumou para fora do país. Uma maneira de sufocar os seus uivos de inveja e, ao mesmo tempo, fazer o benfazejo desaforo de não passar para o substituto a faixa presidencial. 

Azar o dele. Sua ausência, bem-vinda e comemorada, propiciou ao país um festival de cores, diversidade e impacto, de ver Lula receber simbolicamente o cargo das mãos de seu povo: uma catadora de materiais recicláveis. Deixa estar que, tal qual nos filmes de ficção, o monstro abanou a cauda, cuspiu fogo pelas ventas e ordenou que os seus adeptos quebrassem Brasília e, por consequência, o êxtase do líder recém-empossado. O “do mal”, convidou os seus súditos para a festa “de Selma”.

Aqui é preciso dar uma chacoalhada nos conceitos e parar para entender: por que a festa era de “Selma”, termo difundido pelas redes sociais entre os bolsonaristas que ensaiavam abertamente o ataque, uma semana antes? Para os que se intrigaram com o nome dado ao encontro de terror e depredação dos palácios dos três poderes: o Congresso, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto, é preciso lançar um alerta. Ao tomar posse em 2019, Bolsonaro disse em um jantar em Washington que tinha vindo para “destruir”. E assim o fez, até mesmo os princípios políticos históricos que sempre nortearam a esquerda foram desvirtuados pela sua turma.

Como mais um acinte, um verdadeiro desaforo, os filhotes de Olavo de Carvalho foram orientado a ler Antonio Gramsci, “o pai do marxismo cultural”. Para praticar as suas orientações? Não. Para revirar do avesso o que pregou, se utilizando dos seus princípios e arredando-os e adaptando-os para a ultradireita.

Basta lembrar que na visão clássica de Marx, Engels e Lênin, a sociedade civil é o paraíso das relações produtivas, onde se dá o embate das classes antagônicas. Daí surge o Estado para tentar mediar esse conflito irreconciliável, mas que age também para assegurar a dominação dos donos dos meios de produção, a chamada classe dominante. Logo o Estado é subordinado pela própria sociedade civil, dominada no capitalismo pela burguesia. Desta forma, nessa visão clássica, o Estado está no campo da superestrutura e a sociedade civil na base, na infraestrutura.

Gramsci diz que a sociedade civil não está na estrutura, mas na superestrutura e que a Superestrutura é a sociedade civil (organismos privados e suas concepções) mais a sociedade política ou Estado (reino da força), e que a sociedade civil não se reduz às relações de produção, pois deve-se também considerar as relações culturais, o campo das ideias.

Numa notória distorção, feita pelo Guru, Olavo de Carvalho, esses conceitos vão parar nas mãos dos terroristas “teóricos” da barbárie que massacrou o domingo pós posse, que praticam a adulteração do que Gramsci disse: “A Hegemonia é o predomínio ideológico (concepção de mundo) das classes dominantes sobre as classes dominadas/subalternas na sociedade civil. O que sustenta a sociedade burguesa, primariamente, não é a força militar e muito menos o monopólio das forças produtivas; mas o consenso, o construto ideológico (intelectual) da classe dominante”, virado à direita torna-se arma perigosa.

Vejam, por exemplo, o uso inadequado feito quando ele afirma: “A aceitação da dominação, o consentimento por parte da classe subalterna, ocorre, centralmente, no nível da cultura, ideias, valores. Há disputas políticas hegemônicas no seio da classe dirigente e contra as outras classes. A luta pela hegemonia se dá também nos vários aparelhos institucionais, escola, museus, clubes, cinema, jornais, sindicatos, Igreja etc. Manter a hegemonia é lutar, é disputar o controle das consciências para universalizar uma visão de mundo, qualquer que seja.” Faltou aqui Olavo dar uma arrematada na fala de Gramsci: “Inclusive que a terra é plana”.

Difundido assim, de forma truncada, torcida para “o mal”, Gramsci passou a ser objeto da ultradireita e dos que, para disseminar uma casquinha de verniz, o usaram para arrebanhar a turba, jogando Antonio Gramsci onde nunca esteve: à direita.

Outro que foi arrastado para esse gueto de “seguidores” dos conceitos de esquerda, para os manuais sebosos de Olavo, foi Che Guevara – que se vivo fosse certamente teria perdido a ternura. Ele e o seu parceiro de luta e teorias, o sociólogo francês Regis Debray. Ambos cunharam o termo: “Foquismo”, dado à teoria revolucionária desenvolvida por eles, quando se tornaram amigos na segunda metade da década de 1960. O termo “foquismo” deriva da palavra “foco”, já que tal teoria advogava a instalação de vários focos de guerrilha nas zonas rurais dos países latino-americanos.

Em 1960 (um ano após a Revolução Cubana), “Che” Guevara publicou o livreto “Guerra de Guerrilhas”. Nesse escrito, o guerrilheiro argentino pregava a exportação do modelo da guerrilha revolucionária para toda a América Latina, bem como para a África e Ásia. A metáfora que Guevara usava era a da criação de “vários Vietnãs”, em alusão a focos de guerrilhas, bem-sucedido na guerra civil do seu país, contribuiu para consolidar o conceito do “foquismo”. Basta ver as tentativas de espalhar o caos derrubando torres de fornecimento de energia, ou de paralisar as refinarias de combustíveis, para entender o que a direita fez com os ensinamentos de Guevara e Debray. 

E, por fim, a distorção mais sórdida e aviltante. Para estuprar a República e os três poderes da capital, chocando a todos com o golpe de Estado que exibiu cenas que foram desde as escatológicas às de apagamento da memória e da Cultura, a corja pegou de Martin Luther King e o seu combate pela mudança da dura realidade dos negros nos Estados Unidos e a luta pelo fim dos processos eleitorais discriminatórios, o nome do inexpugnável encontro em Brasília, intitulando-o: a festa de Selma. 

Da forma mais afrontosa possível, avançaram sobre a simbologia das marchas ocorridas em Selma, cidade norte americana, localizada no estado americano de Alabama, no Condado de Dallas, às margens do rio que lhe dá nome, e onde ocorreram os mais acirrados confrontos raciais, no ano de 1965, para nomear a balbúrdia, os atos de terror que promoveram em Brasília. 

No discurso proferido por King em 28 de agosto de 1963, em sua inesquecível marcha sobre Washington ele disse: “Eu tenho um sonho de que um dia até mesmo o estado do Mississippi, um estado sufocado pelo calor da injustiça, sufocado pelo calor da opressão, será um oásis de liberdade e justiça”. 

Eu também tenho um sonho, mister Martin Luther King: que isso seja transposto em realidade para o Brasil. Estamos iniciando a nossa marcha. Chegaremos lá.

 

 

Os atos terroristas em Brasília neste domingo (08/01) deixaram perplexo o especialista em Forças Armadas Manuel Domingos Neto, professor da Universidade Federal Fluminense e doutor em história pela Universidade de Paris. “É duro, eu conheço as Forças Armadas há 50 anos, na condição de oficial da reserva, de preso na ditadura quando fui torturado nos quartéis, mas isso eu não esperava, agasalhar vandalismo, isso exorbita qualquer projeção, foi além da conta”, lamentou. Para ele “as Forças Armas estão ensandecidas e Lula deve substituir imediatamente o comandante do Exército”. O especialista garante que as Forças Armadas acompanharam tudo de perto: “Eles sabiam o que aconteceria”. E disse também que a esposa do general Villas Bôas tem contas a prestar à Polícia. Ela foi filmada nos acampamentos, pontos de articulação dos movimentos terroristas e de vandalismo. “Ela deve ser chamada a prestar contas. Ela é simbólica, é tomada como a mãe dessas coisas. Tá na hora de verificar a responsabilidade dela nesses atos criminosos, assim as instituições mostrarão de fato poder”, concluiu. Entrevista à jornalista Marilu Cabañas. Veja o vídeo.

13
Jan23

Deputados dos EUA pressionam Biden a expulsar Bolsonaro

Talis Andrade
 
 
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Em carta, 46 congressistas pedem ao líder americano que revogue permissão de permanência do ex-presidente brasileiro. Texto também exige investigação de possíveis ações tomadas nos EUA em apoio aos ataques em Brasília.

Cresce a pressão nos Estados Unidos para que o presidente do país, Joe Biden, force Jair Bolsonaro a deixar o território americano, na esteira dos ataques perpetrados por apoiadores extremistas do ex-presidente na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro.

Um grupo de 46 congressistas do Partido Democrata enviou uma carta a Biden pedindo que ele revogue o visto diplomático ou qualquer permissão que Bolsonaro tenha para permanecer nos EUA.

No documento, os parlamentares também exigem que o governo "investigue qualquer ação tomada em solo americano para ajudar a insurreição" ocorrida em Brasília, seja apoiando, coordenando ou financiando os atos golpistas e violentos.

"Não devemos permitir que Bolsonaro ou qualquer outro ex-funcionário do governo brasileiro se refugie nos Estados Unidos para escapar da justiça por crimes que possam ter cometido durante seu mandato, e devemos cooperar plenamente com qualquer investigação do governo brasileiro sobre suas ações, se solicitado", escreveram os congressistas na carta.

 

Visto de autoridade

 

O ex-presidente de extrema direita está na Flórida desde o fim de dezembro, quando abandonou a Presidência da República dois dias antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva.

Na carta, os democratas observam que Bolsonaro entrou nos EUA ainda como chefe de Estado brasileiro, portando então um visto A-1, concedido a diplomatas ou funcionários de governos.

"Como ele não é mais o presidente do Brasil, nem está servindo atualmente como funcionário do governo brasileiro, solicitamos que se reavalie o status dele no país para determinar se existe uma base legal para sua estada e se revogue qualquer visto diplomático que possa ter", afirmam.

O governo americano ainda não se manifestou sobre o status legal que Bolsonaro mantém nos Estados Unidos.

Contudo, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, afirmou na segunda-feira que estrangeiros que entram nos EUA com um visto A-1 têm 30 dias para deixar o país se não fizerem mais parte de um governo.

 

"Ameaça às instituições democráticas"

 

Na carta, os congressistas também dizem que Bolsonaro, durante seu governo, ameaçou as instituições democráticas e que suas ações incitaram apoiadores radicais a cometerem atos de violência.

"Sua disseminação de desinformação, sua recusa em pedir a seus apoiadores que aceitassem os resultados das eleições e seus apelos ativos para se mobilizar contra as instituições democráticas incitaram milhares de manifestantes a invadirem prédios do governo e se envolverem em atos violentos", afirma o texto.

Após os ataques golpistas de 8 de janeiro, Biden conversou por telefone com o presidente Lula e expressou "o apoio inabalável dos Estados Unidos à democracia no Brasil".

A condenação entre congressistas americanos também foi rápida, bem como o apoio à expulsão de Bolsonaro do país. Ainda no dia 8, o deputado democrata Joaquín Castro, do Texas, pediu a extradição do ex-presidente brasileiro.

"Ele é um homem perigoso. Deveriam mandá-lo de volta para seu país natal, o Brasil", disse o deputado. "Apoio o presidente Lula e o governo democraticamente eleito no país", completou o democrata, que também relacionou a invasão em Brasília com o ataque ao Capitólio americano em 2021. "Terroristas domésticos e fascistas não podem usar a cartilha de Trump para minar a democracia."

A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, também relacionou os eventos em Brasília com o Capitólio: "Vemos fascistas tentando fazer o mesmo no Brasil." Na mesma mensagem, ela manifestou solidariedade a Lula e apoiou o fim do "refúgio" de Bolsonaro nos EUA.

(DW, Efe, AFP)

 
 
 
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12
Jan23

"A resposta agora será a lei", diz o cientista político Gaspard Estrada sobre invasão em Brasília

Talis Andrade
 
Policiais controlam bolsonaristas radicais que invadiram o Palácio do Planalto.
Policiais controlam bolsonaristas radicais que invadiram o Palácio do Planalto. AP - Eraldo Peres

No dia seguinte à invasão da Praça dos Três Poderes, em Brasília, e ataque violento de bolsonaristas às instituições federais, a RFI conversou com o cientista político Gaspard Estrada, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, o Sciences Po, para analisar as consequências desses eventos, que foram manchete no mundo todo nesta segunda-feira (9).

 

RFI: Mais uma vez, o Brasil esteve na capa do jornal The New York Times, da mesma forma como aconteceu quando o presidente Lula tomou posse. Porém, dessa vez não pelas boas razões. Qual é o principal impacto não só internacional, mas principalmente dentro do Brasil? Qual a primeira leitura que se pode fazer desse episódio inédito na história recente do Brasil?

Gaspard Estrada: Sem dúvida, há o ineditismo da situação. Eu acho que devemos enfatizar esse caráter inédito que, esperamos, seja a primeira e a última vez que aconteça. Desde a eleição do presidente Lula, há um sentimento de uma parte dessa militância bolsonarista mais radical de querer contestar o resultado das eleições. É por isso que eles estiveram acampados na frente dos quartéis. Houve, também, uma tentativa de atentado, no aeroporto de Brasília, antes da posse. Não podemos esquecer que isso foi evitado porque o motorista de um caminhão percebeu que tinha uma coisa estranha. Então, havia sinais de que poderíamos ter um desfecho violento. Agora, é claro que, num primeiro momento, a opção do presidente Lula foi de tentar esvaziar aos poucos esses movimentos golpistas. Havia uma espécie de debate no gabinete do presidente: de um lado, o ministro da Justiça, Flávio Dino, que foi muito claro e muito assertivo na tentativa de acabar de vez com esses acampamentos. E, por outro lado, oministro da Defesa, José Múcio, que ficava numa posição meio dúbia a respeito desses acampamentos. Eu acho que esta discussão acabou com o que aconteceu ontem. Hoje, é muito claro que os acampamentos não podem ficar. Eles têm que acabar nas próximas 24 horas. Foi a decisão da Justiça, do ministro Alexandre de Moraes. Então, eu acho que isso vai dar mais clareza ao governo. Agora, a resposta será a lei.

 

É possível imaginar que haja uma continuidade desses movimentos, desses radicais golpistas ou uma ação enérgica da Justiça rapidamente vai fazer com que isso se disperse? Qual você acha que vai ser o futuro desse movimento a partir dos episódios de ontem?

G.E: Eu acho que agora a Justiça vai agir. Houve uma nota muito relevante não só do STF, mas de todos os tribunais superiores, incluindo o Supremo Tribunal Militar, condenando a invasão. Então, eu acho que há uma resposta da Justiça que vai ser célere. Agora, o que nós temos que ver é qual será a reação do Exército, porque até hoje o Exército não queria deixar de apoiar as pessoas que estavam nos acampamentos. E só após essa decisão do STF, assinada por todas as cortes superiores, que o Exército está começando a desmontar esses acampamentos. Então, eu acho que é muito claro que a decisão tem que ser firme, no sentido que o Exército tem que cumprir as orientações do poder civil. Então, eu acho que é isso que vai ser o ponto central da questão.

 

Muito se questiona em relação às investigações que devem ser feitas para apontar as eventuais falhas que efetivamente houve em relaçãoa esses episódios. Já é possível identificar algum tipo de falha, algum tipo de responsabilidade de alguma autoridade, seja do governo, do Distrito Federal ou em nível federal?

G.E: Acho que tem dois pontos. O primeiro é que a Justiça já decidiu e o ministro Alexandre de Moraes afastou o governador do Distrito Federal durante 90 dias por causa de uma negligência. Isso já é um fato, enfim, consumado. Houve uma conivência da polícia do Distrito Federal. O próprio presidente Lula fez uma intervenção na Secretaria de Segurança Pública do DF. Então, isso é uma mostra, uma prova dessa conivência. Agora, outro ponto que para mim é mais preocupante a longo prazo, é como o governo federal vai rearticular os serviços de inteligência do governo? Porque claro que o governo federal pode até ter essa informação. Só que o governo acabou de tomar posse, há sete dias,estão começando a fazer as nomeações. Então, é claro que também na Abin, no GSI e no próprio Exército, precisará haver uma troca de lideranças para que o governo federal possa estar informado do que está acontecendo no país.

 

Você acredita que haveria cooperação do governo americano para a extradição de pessoas envolvidas nesses atos que estão nos Estados Unidos? Talvez Anderson Torres ou o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro?

G.E: Eu acho que tem dois pontos. O primeiro é que, se houver um caso juridicamente claro, sustentado para justificar uma extradição, eu não vejo nenhum impedimento político para o governo americano não extraditar o ex-presidente Bolsonaro e os seus familiares. Agora, tem outro ponto, que é a pressão política que está acontecendo dentro do próprio Partido Democrata para tomar uma providência já e expulsar o presidente Bolsonaro. Então, acho que tem essas duas vias, uma via jurídica e outra via política.

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