A imprensa mundial fez eco das falas infelizes sobre meninas venezuelanas com as quais teria “pintado um clima”
por Juan Manuel Dominguez
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A menos de um mês para que aconteça o segundo turno das eleições que irão decidir quem será o próximo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro está envolvido em vários escándalos que envolvem pedofilia, abuso de menores, assassinatos e por aí vai.
A imprensa mundial fez eco das falas infelizes sobre meninas venezuelanas com as quais teria “pintado um clima” e que ele enxergou como prostitutas pelo mero fato de estarse arrumando como consequência de uma ação social de um curso de estética. Como todo fascistóide neoliberal, mulheres vulneráveis se arrumando só podem ser enxergadas desde a sexualização dos seus corpos.
O Jornal “El Mundo”, de Madrid, Espanha, aponta “Polémica no Brasil pelas falas do presidente Bolsonaro sobre a aparência física de umas imigrantes venezuelanas”. “La Nación” da Argentina sinaliza `` Polémicas declarações do presidente Bolsonaro sobre menores venezuelanas”. o "France24" também levantou a polêmica sobre os comentários possivelmente pedófilos do presidente.
No meio de tudo isso, Bolsonaro vem sendo questionado pelo apoio de personagens como o goleiro Bruno, assassino e esquartejador da mãe do seu filho, Eliza Samudio. Outro personagem infame é o Guilherme de Pádua, assassino confesso da Daniela Perez, Filha da Autora Glória Perez. O Ex jogador Robinho, condenado em última instancia a 9 anos de prisão por estupro contra uma mulher albanesa em uma boate de Milão, na Itália.
Ainda neste mês, um dirigente do Partido Liberal (PL), partido do presidente Jair Bolsonaro (PL), e vice-presidente estadual da sigla em São Paulo, José Renato da Silva, foi indiciado pela Polícia Civil por abusar sexualmente das meninas quando elas tinham 6 anos e 7 anos até a adolescência. O caso foi revelado pela própria filha, que diz também ter sido abusada pelo pai quando era criança.
Durante a live em que Bolsonaro fez o comentário de que teria “pintado um clima” entre ele e meninas menores de idade, quem entrou na live para dar apoio ao presidente foi nada menos que Gabriel Monteiro, acusado de pedofilia e flagrado gravando vídeos pornográficos com menores de idade, pelo qual foi cassado do seu cargo de vereador pelo Rio de Janeiro.
O Dr. Jairinho [sádico e pedófilo e assassino], acusado de assassinar uma criança de forma cruel, assim como Flordelis, assassina do seu marido, também declararam apoio ao presidente Jair Bolsonaro.
Assassinos, milicianos, criminosos. Cuidado! Esse é o time Bolsonaro, diz a propaganda produzida pela equipe de marketing do PT. Nessa peça estaria faltando “pedófilos e abusadores de menores”. Toda a gente mais doentia e criminosa que o habita o mundo da política está do lado do miliciano genocida que recusou vacinar seu povo durante uma pandemia. Esse é o perfil da turma que pretende manter o hospício em que esse país se tornou desde 2018.
A terceira esposa de Jair Bolsonaro chorou porque citaram a filha da fraquejada que tem 11 anos. Não chorou pelas meninas venezuelanas de 14 e 15 anos. As meninas sedutoras, bonitinhas e arrumadinhas, donas do tempo, tanto que pintou o clima, fez sua majestade parar a moto, descer da moto, e entrar na casa para ...
Michelle Bolsonaro ouviu Damares falar estórias pornôs dentro de uma igreja, estórias de sexo com crianças, histórias de terror, e disse amém.
Vídeo antigo de Bolsonaro numa loja maçônica causou polêmica em razão das críticas de grupos evangélicos. Fake news que circula nas redes sociais associa Lula a satanismo. Escute as piores frases de Bolsonaro (vídeos)
Por g1
A primeira semana da campanha eleitoral para o segundo turno foi marcada por vídeos contra o ex-presidenteLula(PT) e o atual,Jair Bolsonaro(PL), candidato à reeleição. A segunda etapa da corrida presidencial estámarcada para o dia 30 deste mês.
As publicações viralizaram nas redes sociais e um dos vídeos foi usado em uma peça de propaganda eleitoral petista.
Maçonaria
Um vídeo antigo mostraBolsonaro discursando numa loja maçônica em uma fase pré-campanha de 2018, quando ele ainda não havia se lançado oficialmente à Presidência, mas já percorria o país. A polêmica se deve ao fato de que as igrejas evangélicas, grupo ao qual Bolsonaro faz acenos constantes em busca de votos, serem críticas à maçonaria. Em outro vídeo, Silas Malafaia, uma das influentes lideranças evangélicas que apoiam a sua reeleição, associa a maçonaria a "trevas".
Depois de esse vídeo vir à tona, passou a circular nas redes sociais umprint falso de uma publicação no Twitter atribuída a Bolsonaro em que ele diz: "Maçonaria será maior que o cristianismo no Brasil, por isso buscamos o apoio dessa gente. Cristãos, em sua maioria, são pobres e precisamos dos maçons que são ricos para bancar nossa campanha até o dia 30". A conta oficial de Jair Bolsonaro no Twitter não publicou o conteúdo atribuído a ele no print falso.Essa segunda imagem é uma montagem.
O próprio Vicky Vanilla divulgou um vídeo desmentindo o boato. "Esse pronunciamento faz parte de uma live que fiz e está sendo usado fora de contexto", diz. "O vídeo está sendo espalhado como uma fake news a meu respeito e a respeito do candidato Lula, que não tem qualquer ligação com a nossa casa espiritual", acrescenta.
Ainda sobre esse tema, outro vídeo que ganhou repercussão foi um publicado pela então vice-presidente da Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil em Uberlândia, Flávia Aparecida Moraes, na quarta (6) dizendo que"não vai mais alimentar quem vive de migalhas", se referindo aos moradores da região Nordeste do Brasil, que votaram em peso em Lula no primeiro turno. Após a repercussão da declaração, ela pediu licença do cargo.
Canibalismo
Propaganda do PT na volta do horário eleitoral resgata vídeo de 2016 em que Bolsonaro diz que comeria um indígena
O vídeo é de uma entrevista de Bolsonaro a um jornalista do "New York Times" em 2016, época em que o presidente ainda era deputado federal. A entrevista completa está nas redes sociais do presidente.
O presidente relata que um indígena que havia morrido estava sendo cozido pela aldeia. "É para comer. Cozinha por dois, três dias, e come com banana. Eu queria ver o índio sendo cozinhado. Aí o cara: 'Se for, tem que comer'. Eu como! Aí, a comitiva, ninguém quis ir", contou Bolsonaro.
Agressão a mulheres
Outro vídeo que ganhou repercussão nas redes sociais traz um trecho de uma entrevista antiga de Bolsonaro ao extinto programa humorístico da Band CQC - Custe o que Custar em que questionado se "já deu uns sopapos em alguma mulher alguma vez", ele responde: "Já".
É longa a lista de mulheres agredidas por Bolsonaro (vide tags): Conceição Aparecida Aguiar, Marinor Brito, Vera Magalhães, Preta Gil, Maria do Rosário, Patrícia Campos Mello, Daniela Lima
por David Nemer /Publica Agência de Jornalismo Investigativo
Ataques de Jair Bolsonaro à jornalista da TV foram complementados por campanha de assédio online no Twitter e Telegram
Robôs foram usados para inflar apoio feminino ao presidente
Relembramos o histórico de ataques às mulheres de Jair Bolsonaro
Caso Vera Magalhães: Bolsonaro odeia as mulheres porque odeia a democracia
No último debate presidencial, no domingo (28/08), ao ser questionado pela jornalista Vera Magalhães sobre a queda da cobertura vacinal e desinformação difundida por ele, o presidente Jair Bolsonaro (PL), em mais uma demonstração de misoginia, respondeu: “Vera, não pude esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão em mim. Não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”.
Na tarde de segunda-feira, o termo difamatório “Verba Magalães”, uma referência ao salário da jornalista na Tv Cultura, chegou aos Trending Topics do Twitter.
Porém Vera Magalhães não estava só. Uma corrente liderada por mulheres ocupou o Twitter para demonstrar o apoio e solidariedade à jornalista. As contas mais relevantes foram da Fátima Bernardes (@fbbreal), Simone Tebet (@simonetebetbr), Andreia Sadi (@andreiasadi), Natuza Nery (@natuzanery), Patrícia Campos Mello (@camposmello), e Miriam Leitão (@miriamleitao).
Misoginia como projeto autoritário
O Bolsonarismo tende a aumentar seus ataques quando o alvo é mulher. Outro exemplo é a postura das redes de apoio ao presidente sobre a cantora Anitta.
Ultimamente, devido ao posicionamento político da cantora, que declarou voto em Lula, os grupos bolsonaristas no Telegram têm se ocupado a deslegitimar o poder e a influência de Anitta, assim, como manchar a sua reputação. Desde o início de 2022, nos mesmos grupos bolsonaristas no Telegram monitorados pelo Sentinela Eleitoral, já foram proferidos mais de 1520 mensagens com tons misóginos e sexistas contra Anitta.
Durante o século 20, mulheres se organizaram e conquistaram diversos direitos ao redor do mundo, como o de votar, o acesso aos cuidados de saúde reprodutiva, inserção social, educação, entre outros. A jornada para a conquista da igualdade de gênero parecia não ter volta. Porém, nos últimos anos, a ascensão de líderes autoritários em diversos países – apoiados em estratégias de desinformação online – não só comprometeu a democracia, mas promoveu sérios retrocessos aos direitos das mulheres.
Segundo as pesquisadoras de Harvard Erica Chenoweth e Zoe Marks descreveram no artigo “A vingança dos Patriarcas – Por que os autocratas temem as mulheres” (aqui, em inglês), não é coincidência que a igualdade das mulheres esteja sendo revertida ao mesmo tempo em que o autoritarismo está em ascensão. Os direitos civis das mulheres e a democracia andam de mãos dadas, porém há uma geral dificuldade em reconhecer que o primeiro é uma pré-condição para o segundo.
De acordo com as pesquisadoras, autocratas e autoritários patriarcais têm boas razões para temer a participação política das mulheres: quando as mulheres participam de movimentos de massa, esses movimentos são mais propensos a ter sucesso e mais propensos a levar a uma democracia mais igualitária. Em outras palavras, mulheres totalmente livres e politicamente ativas são uma ameaça para líderes autoritários e de tendência autoritária – e, portanto, esses líderes têm uma razão estratégica para serem sexistas. Compreender a relação entre sexismo e retrocesso democrático é vital para aqueles que desejam lutar contra ambos.
Assim, nessa coluna, vale a pena dissecar pontos traduzidos do artigo de Erica Chenoweth e Zoe Marks para demonstrar como o bolsonarismo e seu líder Jair Bolsonaro atacam as mulheres como um meio para desmantelar a democracia brasileira.
Em 1998, quando era deputado federal, Bolsonaro agrediu pelas costas Conceição Aparecida Aguiar, na época gerente da Planajur, empresa de consultoria jurídica e que atendia ao Exército;
Em 2011, Bolsonaro atacou Preta Gil quando ela o perguntou como ele reagiria se algum de seus filhos se envolvesse com uma mulher negra. “Eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o seu”, respondeu;
Em 2012, Bolsonaro votou contra a PEC das Domésticas que visava lhes assegurar direitos trabalhistas;
Em 2014, disse que não estupraria a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) porque ela não merecia. Bolsonaro também já afirmou que mulheres que decidem ser mães deveriam ganhar menos e, caso não estejam contentes, que busquem outro emprego;
Em 2016, durante o impeachment de Dilma, ele celebrou um torturador que inseriu baratas nas vaginas de mulheres, para mostrar que ele era “o terror”;
Em 2017, Bolsonaro afirmou que a sua única filha “veio uma mulher” porque ele deu “uma fraquejada”;
Em 2019, Bolsonaro em uma fala sexista e homofóbica, afirmou que o Brasil não poderia ser um país de turismo gay, mas que “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher fique à vontade”.
Por outro lado, Bolsonaro ataca constantemente a imprensa, um dos pilares da democracia, porém não é de se surpreender que jornalistas mulheres são o seu alvo preferido.
Em 2018, ao se pronunciar sobre um furo de reportagem da jornalista da Folha Patrícia Campos Mello, que revelou a contratação de disparos em massa com fake news na campanha de 2018, Bolsonaro disse que ela ” queria dar um furo a qualquer preço contra mim”. A declaração, com os tweets do seu filho Eduardo Bolsonaro amplificaram os ataques misóginos que já estavam acontecendo no Twitter e em grupos de WhatsApp.
No seu artigo, Chenoweth e Marks afirmam que, apesar da flagrante misoginia, autoritários e autocratas conseguem recrutar mulheres como protagonistas de seus movimentos políticos, como é o caso da Damares Alves e da primeira dama, Michelle Bolsonaro.
Damares Alves promove discursos em que valoriza a maternidade e a família tradicional para obscurecer políticas desiguais de gênero. Já a Michelle Bolsonaro tem sido instrumental para tentar diminuir a rejeição do seu marido no eleitorado feminino — ela tem participado de comícios e convenções partidárias para promover a percepção que Bolsonaro se importa com as mulheres, ela chegou a afirmar que ele “sancionou 70 novas leis de proteção à mulher”.
O Bolsonarismo também usa as redes para demonstrar de forma artificial que as mulheres o apoiam. No dia seguinte ao debate presidencial (29/08), as hashtags #SouMulherEVotoBolsonaro e #MulheresComBolsonaro foram parar nos assuntos mais comentados do Twitter (Trending Topics).
Na visão do autoritário patriarcal, os homens não são homens de verdade, a menos que tenham controle sobre as mulheres em suas vidas. Bolsonaro, após ter o apoio incondicional da deputada Joice Hasselman, ao sentir que ela seria uma ameaça à sua liderança, cortou relações e, junto com a sua base, focou em atacá-la com mensagens e memes misóginos com referências à sua condição física. Diversas vezes em que Carla Zambelli se manifestou em coletivas com Bolsonaro, foi avisada para ficar quieta. Bolsonaro também demonstra controle sobre a primeira dama, Michelle, ao fazer insinuações sobre a vida sexual do casal.
Por que tanta raiva das mulheres?
No último debate presidencial, a candidata Simone Tebet perguntou a Bolsonaro: “Por que tanta raiva das mulheres?”
A resposta é simples: porque Bolsonaro odeia a democracia. Por mais que as mulheres brasileiras, e seus direitos, estejam sendo atacadas e ameaçadas, é preciso mais do que nunca reconhecer os seus esforços de resistência. É nelas que está a saída do Bolsonarismo.
Estudiosos da democracia muitas vezes enquadraram o empoderamento das mulheres como resultado da democratização ou mesmo como função da modernização e do desenvolvimento econômico. No entanto, como afirmam Chenoweth e Marks, as mulheres exigiram inclusão e lutaram por sua própria representação e interesses por meio de movimentos contenciosos de sufrágio e campanhas de direitos que, em última análise, fortaleceram a democracia em geral.
Alguns, como o movimento pró-democracia do Brasil em meados da década de 1980, tiveram ampla participação feminina: pelo menos metade dos participantes da linha de frente eram mulheres. Atualmente, as mulheres são 52,7% do eleitorado brasileiro e assim podem ser decisivas na derrota não só do Jair Bolsonaro mas na derrota do bolsonarismo como um todo.
Se a história servir de guia, as estratégias autoritárias falharão a longo prazo. Como explicam Chenoweth e Marks, as feministas sempre encontraram maneiras de exigir e expandir os direitos e liberdades das mulheres, potencializando o avanço democrático no processo.
Mas, no curto prazo, autoritários patriarcais descontrolados podem causar grandes danos, apagando conquistas que levaram gerações para serem alcançadas.
Colaboraram Natalia Viana, Yasodara Cordova e Laura Scofield
Há um ano protagonizamos o que foi o maior protesto já realizado por mulheres no Brasil, e a maior concentração popular durante a campanha da eleição presidencial.
Há um ano gritamos ao mundo, de todas as regiões do país, que não tolerávamos a candidatura à Presidência de um homem que faz declarações misóginas. Um homem que proferiu ameaças à democracia e afirmou a uma colega de parlamento que não a estupraria porque é muito feia.
Um homem que disse que seus filhos não namoram mulheres negras porque foram “muito bem educados”, que as mulheres devem ganhar menos porque engravidam, que prefere que o filho morra num acidente de trânsito a ser homossexual, que os negros dos quilombos não servem nem para “procriar” e que tem um coronel torturador como herói.
Não eram apenas mulheres ligadas à esquerda, mas que, de algum modo, compreendiam quais poderiam ser as consequências da irresponsabilidade de uma escolha como a que se desenhava. Algumas em focos de cidadania organizados e consolidados, outras que se insurgiram naquele momento.
Os atos reuniram cidadãs que assumiram a incumbência de participar e de pressionar por outro caminho para dirigir o país.
Eleito, a atuação de Jair Bolsonaro é considerada uma verdadeira afronta aos direitos humanos, em geral, ao meio ambiente, à cultura e à educação, ao Estado laico, aos direitos trabalhistas, às liberdades individuais, aos povos tradicionais.
Tem sido duro e exaustivo acompanhar cada passo dado para trás pelo governo: da revisão dos processos de anistia às ameaças e perseguições político-ideológicas, que levaram mulheres e homens que lutam para transformar realidades, como Márcia Tiburi e Jean Wyllys, a deixar o país.
Há um ano dissemos não a ele. Mas não estávamos profetizando nada.
Bolsonaro, em essência e inteiramente, nos forneceu todas as informações do que seria a realidade de um governo seu. Não havia necessidade de ser decifrado.
Nos instou a dizer se queríamos habitar seu mundo binário, onde se encontravam a tirania, o machismo, o racismo, a homofobia e a misoginia, em contraste com a defesa de valores humanitários básicos.
Fizemos, pois, de nosso grito, nosso brado, um alerta e um chamamento do que não pode caber na ideia de democracia, como o escárnio público e o deboche que apontam que nós, mulheres, não merecemos sequer respeito.
Já governante, quando convidou, em abril deste ano, turistas a virem ao Brasil e “ficarem à vontade se quiserem fazer sexo com uma mulher”, Bolsonaro deu a senha de que nos enxerga como objetos, utilizáveis, como se pudesse dispor de nossos corpos.
Como habitantes deste imenso pedaço de mundo chamado Brasil, sabemos que estamos incluídas no coletivo de todos que acreditam e lutam por um país plural, diverso e mais igual.
Um ano depois de termos ocupado as ruas, nos encontramos, de certo modo, paralisadas pelo formato dado ao debate público.
Polemizamos pelas redes o “direito de vestir azul” como sendo a contenda central do enquadramento da discussão de gênero, que passa, na verdade, por uma fixação muito mais profunda de novos padrões de moral e costumes, com protagonismo das igrejas evangélicas e adentrando às escolas.
Em tempos que desafiam nossa capacidade de prosseguir e nosso senso de realidade, que nos atingem nesse festival de intolerância, opressão e medo, em que as políticas para mulheres são ridicularizadas e desprestigiadas pela voz de uma ministra que responde aos problemas com frases de efeito de fundamentalismo religioso, precisamos de novo gritar: Ele não!
Em tempos em que o governo é como uma maldição, condenando tudo a fenecer, como um bando de gafanhotos em um campo de trigo – para usar a metáfora bíblica que tanto gosta a ministra Damares - precisamos mostrar que seguimos e seguiremos.
Sair do marasmo e reencontrar nosso aprendizado, reinventando os mecanismos de ocupação do espaço público, nas ruas e fora delas, para afirmar nosso compromisso essencial com nossa agenda de conquistas.
Nosso presente é assustador e, por isso mesmo, muito desafiante. Na catástrofe posta, estamos em guerra. Uma guerra que possui muitos elementos, inclusive a linguagem.
Na batalha das narrativas, existem as ferramentas que falseiam a realidade e prestam informações distorcidas, que nos indicam que é necessário construir - outra vez e coletivamente - respostas que não sejam as do individualismo.
Não custa lembrar sempre que “em tempos de guerra, a primeira vítima é a verdade”. Publicado em 5 de Outubro de 2019
Histórico de falas misóginas e sexistas começa muito antes de 2018, quando foi eleito presidente da República
por Inara Chagas /Brasil de Fato
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Mesmo antes de ser presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) já possuía um extenso histórico de falas e ações que atacam diretamente algumas minorias, como é o caso das mulheres. A lista é composta por falas e ações envolvendo apologia ao estupro, agressão física e políticas públicas de dignidade menstrual.
Não à toa, em 2022, os atos do Dia Internacional da Mulher (8M) carregam como lema “Pela Vida das Mulheres, Bolsonaro nunca mais! Por um Brasil sem machismo, sem racismo e sem fome”, já que as falas de Bolsonaro trazidas nesta matéria também contribuíram para o cenário atual, em que mulheres ainda precisam lutar contra o machismo. Confira.
1. Histórico de violência física
Em 1998, já como deputado federal e em campanha para reeleição, Jair Bolsonaro agrediu fisicamente Conceição Aparecida Aguiar, na época gerente da Planajur, empresa de consultoria jurídica e que atendia ao Exército. Segundo o Jornal do Brasil, que apurou a agressão, Conceição foi agredida pelas costas durante uma discussão com “uma das correligionárias” de Bolsonaro.
Em 2018, durante sua campanha para a presidência da República, a matéria que relatou o caso foi encontrada no acervo digital da Biblioteca Nacional e repercutiu nas redes sociais.Questionada pela revista Piauí, Conceição afirmou que, mesmo sendo vítima de violência por Bolsonaro, ainda votaria nele, pois, segundo ela, o candidato seria o único a ter caráter.
2. Boa educação
No extinto programa da Band TV “Custe o que Custar” (CQC), Bolsonaro foi sexista e misógino. O ano era 2011, e o alvo da vez foi a cantora Preta Gil, que entrevistava o político. Na ocasião, a cantora perguntou como o então deputado reagiria se algum de seus filhos se envolvesse com uma mulher negra. “Eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em um ambiente como, lamentavelmente, é o seu”, afirmou Bolsonaro.
Tempos depois, o político se pronunciou, alegando que não tinha entendido corretamente a pergunta.
A frase proferida por Jair Bolsonaro (PL) em 2014 lhe rendeu uma condenação por danos morais. Na época, em entrevista ao portal Zero Hora, Bolsonaro disse que não estupraria a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) porque ela não merecia.
“Ela não merece porque ela é muito ruim, porque ela é muito feia, não faz meu gênero, jamais a estupraria. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar, porque não merece”, disse Bolsonaro.
Bolsonaro foi condenado em 2017 pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF). O então ministro do STF, Marco Aurélio Mello, manteve a condenação por danos morais, com indenização de R$ 10 mil para Maria do Rosário.
Ainda em entrevista ao portal Zero Hora, Bolsonaro afirmou que é difícil ser patrão no Brasil, com “tantos direitos trabalhistas”. “Quando o cara vai empregar, entre um homem e uma mulher jovem, o que que o empregador pensa? "Poxa, essa mulher aqui tá com aliança no dedo, não sei o quê, ela vai casar, é casada, daqui a pouco engravida, seis meses de licença-maternidade, bonito para c*, para c*, ". Quem que vai pagar a conta? É o empregador”.
Ao ser questionado sobre a situação das mulheres trabalhadoras que decidem ser mães, Bolsonaro insinuou que elas deveriam ganhar menos e, caso não estejam contentes, que busquem outro emprego.
Em 2017, durante uma palestra feita na sede do Clube Hebraica no Rio de Janeiro, Bolsonaro aumentou sua lista de frases misóginas. Ao se referir sobre o gênero de seus filhos, o chefe do Executivo proferiu: “Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”.
Carlos Bolsonaro (Republicanos) e Eduardo Bolsonaro (PSL), políticos e filhos de Bolsonaro, afirmaram em suas redes sociais que a fala do pai não passou de uma brincadeira. Segundo o deputado federal de São Paulo, "Quando ele [Jair Bolsonaro] brinca, o pessoal do politicamente cai nele”.
6. Um novo conceito de "equilíbrio"
Em discurso feito no Dia Internacional da Mulher de 2019, já na condição de presidente, Bolsonaro afirmou que, "pela primeira vez na vida, o número de ministros e ministras está equilibrado". De 22 ministros do Executivo, Bolsonaro nomeou apenas duas mulheres: Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento). A justificativa para considerar o número de ministras equilibrado foi a "energia” das ministras.
"Pela primeira vez na vida, o número de ministros e ministras está equilibrado em nosso governo. Temos 22 ministérios, 20 homens e duas mulheres. Somente um pequeno detalhe: cada uma dessas mulheres que está aqui equivale a dez homens. A garra dessas duas transmite energia para os demais", disse o chefe do Executivo.
7. Turismo sexual? Temos por aqui
Em mais uma fala sexista e, dessa vez, homofóbica, Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil não poderia ser um país de turismo gay, mas que “quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher fique à vontade”.
Em resposta, várias entidades, organizações e estados brasileiros se manifestaram repudiando a fala do presidente. Cleone dos Santos, da Marcha Mundial de Mulheres e coordenadora do grupo Mulheres da Luz, na época,afirmou que a fala foi um retrocesso. “Temos uma luta histórica contra o turismo sexual e hoje temos um presidente da República desconstruindo isso. É o maior retrocesso que já vivemos”.
Em fevereiro de 2020, Bolsonaro se pronunciou sobre o depoimento de Hans River do Rio Nascimento para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das fake news. Hans, ex-funcionário da empresa Yacows, afirmou que a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, teria oferecido relações sexuais em troca de informações.
Ao se pronunciar sobre o caso, Bolsonaro disse: “Ela [Patrícia] queria um furo. Ela queria dar um furo a qualquer preço contra mim", utilizando a expressão “dar o furo” com duplo sentido. O chefe do Executivo foi responsabilizado pelo ato, sendo condenado a pagar R$ 20 mil para a jornalista, por danos morais.
Além de falas machistas por parte de Bolsonaro, temos a sua atuação política, que também ataca pessoas que menstruam. Em 2021, o presidentevetou trecho de uma lei que distribuiria absorventes de forma gratuita para pessoas em vulnerabilidade social. Segundo o chefe do Executivo, não havia previsão orçamentária no Projeto de Lei para custear a medida. Meses depois, no Dia Internacional da Mulher de 2022, Bolsonaro sancionou um decreto viabilizando a ação.
Embora o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual (lei 14.214) tenha sido aprovado, houve repúdio por parte da sociedade civil pelo veto ao artigo. Isso porque a proposta (PL 4.968/2019), da deputada federal Marília Arraes (PT-PE), era de combater a precariedade menstrual, ofertando gratuitamente absorventes higiênicos para estudantes de baixa renda em escolas públicas, além de mulheres em situação de rua ou vulnerabilidade social extrema e privadas de liberdade.