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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

20
Mai23

Um tiro de CPI no próprio pé (vídeos)

Talis Andrade

por Jeferson Miola

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A oposição bolsonarista fabrica pedidos de impeachment do presidente Lula e pede CPIs contra o governo na mesma proporção com que produz mentiras e dissemina discursos violentos e de ódio.

Nas últimas semanas a ultradireita conseguiu emplacar duas CPIs: a do MST, totalmente sem fundamento legal e com o propósito exclusivo de criminalizar o MST e constranger o governo; e a CPI da intentona golpista de 8 de janeiro, como palco para a construção de uma narrativa delirante.

Para isso, os fascistas contaram inclusive com apoio de parlamentares desleais, integrantes de partidos que comandam ministérios no governo Lula e indicam correligionários para cargos federais.
 

A extrema-direita não debate projetos para o país, até porque a comparação com o ruinoso governo fascista-militar que jogou o país no precipício a deixa em inapelável desvantagem.

Por isso, no lugar de uma oposição racional e programática, continua empenhada na guerra fascista contra a democracia, fazendo balbúrdia e tumultuando o país. Esta guerra fascista contra a democracia não acabou com a derrota da chapa militar na eleição de outubro passado, e ainda está bem longe de acabar.

No Congresso e no debate público nas redes sociais e na mídia, essa extrema-direita age como uma malta de depredadores dispostos a destruir tudo o que encontram pela frente; a começar pela destruição da verdade factual e histórica.

No seu estado de transe permanente, os bolsonaristas tinham a ilusão de que com a CPI dos atos golpistas conseguiriam substituir a realidade dos acontecimentos pela narrativa delirante de que o governo Lula foi deliberadamente omisso e, pasme, teria estimulado um autogolpe!

O governo nunca temeu esta CPI. Apenas evitava sua instalação por considerar que a responsabilização dos criminosos, já em curso no âmbito da PF e do STF, liberaria o Congresso Nacional para canalizar toda a energia política e a agenda institucional no enfrentamento das graves urgências nacionais, ao invés de se distrair com espetáculos grotescos armados pelos fascistas.

Agora que a CPI foi aprovada, os bolsonaristas dão sinais de arrependimento. Inventam todo tipo de subterfúgio para retardar sua instalação. Perceberam, enfim, que a CPI é um tiro no próprio pé.

Imagine-se o enredo fabuloso que poderá ser escrito a partir de depoimentos de representantes da “família militar”, a começar pela Dona Cida, esposa do general conspirador Villas Bôas e contumaz frequentadora do acampamento criminoso no QG do Exército, onde orgulhosamente proclamava o grito de guerra “Selva!”, ladeada por criminosos civis e fardados em estado de êxtase.

É extensa, também, a fila de oficiais de altas patentes, da ativa e da reserva, principalmente do Exército, que deverão ser convocados para tentarem explicar o inexplicável – dentre outros, os generais Braga Netto, Júlio César Arruda, Henrique Dutra, Augusto Heleno; o coronel Élcio Franco; os tenentes-coronéis Mauro Cid e Fernandes da Hora; o ex-major Aílton Barros e uma longa lista de militares delinquentes que agem como milicianos fardados.

A CPI poderá inquirir, também, muitos delinquentes civis profundamente implicados com os atentados. Nesse rol, se enquadram o ministro do TCU Augusto Nardes, que se reunia na caserna e conhecia de perto a conspiração; assim como Anderson Torres, parlamentares, ativistas digitais bolsonaristas e empresários financiadores do terrorismo.

E, por óbvio, o banquete de depoimentos de elementos criminosos abarca, naturalmente, o miliciano-chefe e seu clã.

Se pudessem voltar no tempo, é provável que os fascistas teriam desistido da péssima ideia de CPI. A estratégia rocambolesca poderá dar muito errada.

Se a CPI dos atos golpistas for de fato instalada, a extrema-direita ficará ainda mais desnuda, com suas vísceras golpistas totalmente expostas.

O general Gustavo Henrique Dutra, ex-comandante militar do Planalto, durante audiência da CPI dos Atos Antidemocráticos do dia 8 de janeiro

O empresário Joveci Xavier de Andrade, suspeito de financiar atos golpistas de 8/1, negou que tivesse participado de atos em acampamentos golpistas, mas foi desmentindo com uma foto.
 

"CPI é urgente para investigar que financiou atos golpista", diz presidente do PSOL Juliano Medeiros

O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) defendeu a CPI para investigar os atos terroristas em 8 de janeiro. Em discurso na tribuna da Câmara, ele afirmou que "a verdade virá" e que vários bolsonaristas acabarão cassados pelo apoio aos golpistas 

Reinaldo Azevedo defende que sejam denunciados ao Conselho de Ética e cassados os parlamentares que apoiaram os atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília

Esposa do general Villas Bôas vai a acampamento golpista: 'Selva'

14
Mai23

O maior crime são os juros

Talis Andrade
 
 
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por Fernando Brito

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Tento, outra vez, retomar o blog, uma semana depois da alta hospitalar, após 38 dias de internação e, infelizmente, sem poder tratar como superados os problemas que me levaram a ela.

Confesso que preferia continuar fora de debates políticos, ao quais o cansaço desanima, sobretudo diante da miséria humana e moral a que vejo submetido meu país, não apenas porque vão se revelando as monstruosidades a que estivemos (e ainda estamos) submetidos, ao vermos que, à estupidez e ao fascismo do homem a que nossas elites entregaram ao Brasil somam-se, também, práticas do banditismo mais rastaquera que se praticou no Planalto, como o tráfico de joias e a falsificação de comprovantes de vacinação que ocupam o centro do noticiário.

Por mais repugnantes que sejam as situações que estão vindo à tona – e não serão as últimas, tenha certeza – há, porém uma imundície que se desenha cada vez mais claramente.

Está cada vez mais evidente que, vencidos nas urnas e vencidos nas tentativas golpistas, querem que se mantenha o processo de destruição social e nacional do Brasil pelo rentismo, que não aceita perder parte alguma de seu poder.

Lula tem toda a razão em dizer que se pode discutir qualquer coisa neste país, só não se pode discutir os juros.

Esta é, porém, a questão central.

Foi por ela que nos impuseram um Bolsonaro.

E é esta a luta que temos de vencer. (publicado in 4/5/2023)

02
Mai23

Golpe malogrado: a hora da verdade

Talis Andrade
 
 
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É preciso derrotar a regressão reacionária

 

por Alberto Cantalice

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A instalação da CPMI que investigará a tentativa de golpe de Estado, no 8 de janeiro, mobiliza o país. 

Considerada por todos os analistas de Brasília como verdadeiro “tiro no pé” disparado por parlamentares bolsonaristas de extrema-direita, a CPMI tem a obrigação de escarnecer e pôr à luz as vísceras do golpismo enrustido. 

É preciso que a Comissão Parlamentar vá a fundo nos porões que financiaram, estimularam e apologeticamente insuflaram as pessoas a depredarem os três poderes da República. “Não tenho dúvidas que Bolsonaro tentou dar um golpe”, disse o presidente Lula em entrevista ao jornal El País, da Espanha. Mas não só. A minuta que roteirizava a intentona e que foi encontrada na casa do ex-ministro da justiça Anderson Torres é um dos fios do novelo. 

A participação por ação ou omissão do antigo chefe do GSI Augusto Heleno, bem como de outros altos oficiais merecem pela gravidade a mais ampla investigação e se comprovado o cometimento de crime de lesa-pátria, a prisão. 

Bolsonaro apesar de ser o personagem principal da patranha, não agiu sozinho. As conexões internacionais da extrema-direita tupiniquim também merecem o escrutínio da sociedade brasileira.  

É inegável as digitais do trumpismo representado por Steve Bannon na disseminação da indústria das fales News que inundaram as eleições de 2018, com claro transbordamento para o pleito recém realizado. 

O fenômeno da emergência do fascismo ultrapassa em muito as fronteiras nacionais. É uma praga que se expande nos quatro cantos do mundo. 

É hora das forças democráticas e progressistas se unirem cada vez mais em uma grande concertação global, na luta contra a xenofobia, o machismo, o racismo que compõem a espinha-dorsal dessa camarilha. 

a exclusão e a concentração de rendas e riquezas. O esvaziamento econômico dos países centrais e a luta de todos contra todos estimuladas por eles, não pode perdurar. 

A chance de ouro das forças progressistas brasileiras é a CPMI e para isso devemos contar com nossos parlamentares dispostos a fazer o enfrentamento a luz do dia. Os porta vozes da mentira não podem prevalecer. 

É preciso derrotar a regressão reacionária. 

A hora é agora! 

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24
Abr23

Eu “ouvo” as vozes do “golpe” e de “crimes”: a apropriação da Inconfidência Mineira por Romeu Zema

Talis Andrade
 
 
 
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Zema ofende Minas Gerais

e a memória da Inconfidência

 

por Luiz Carlos Villalta

A “Revolução de Minas” ou “Conspiração de Minas”, mais conhecida como “Inconfidência Mineira”, desde sua ocorrência em de 1788-89, foi apropriada por diferentes grupos e pessoas, em conformidade com seus interesses políticos. O governador Romeu Zema o fez. Não há nada a estranhar nisso.

Mas é dever denunciar os erros históricos (sim, bolsonaristas, há uma verdade histórica, ainda que relativa, porque marcada por algumas certezas e pontos obscuros ou que suscitam diferentes interpretações) contidos na apropriação, bem como os significados políticos que ela possivelmente exprime. Este é o caso dos usos da Inconfidência Mineira por Romeu Zema e seu governo.

Romeu Zema não prima por dotes intelectuais nem muito menos por fazer um bom governo. Vitorioso em duas eleições em função da terra arrasada em que se encontrava o estado de Minas Gerais (não vou me estender nesta análise, mas PT e PSDB mineiros nos devem uma autocrítica séria, indispensável para que construamos um futuro diferente no estado), Zema não perde a oportunidade para exprimir sua precariedade em termos linguísticos e culturais. Destaca-se por revelar uma ignorância que nem em crianças se aceita, como conjugar com erro o verbo ouvir, na primeira pessoa do singular (ele disse “eu ouvo”), ou imaginar que a poetisa Adélia Prado trabalhasse com produtores e jornalistas de um podcast para o qual dava entrevista. Sua ética duvidosa também se exprime quando sugere, por exemplo, que a vítima é culpada do crime que a teve por objeto (no caso, o governo Lula, vítima do golpe bolsonarista de 8 de janeiro), ou quando se esgueira entre a oposição a Lula e o oportunismo de colar-se a ele, de modo silente, para tirar proveitos eleitorais.

No último 21 de abril, num misto de sincerícidio “falho” e de afronta à memória coletiva nacional, porém, Romeu Zema cruzou o Rubicão. Primeiramente, ele concedeu a medalha da Inconfidência para dois políticos de duvidosa reputação e, mais ainda, notórios traidores: Michel Temer e Sérgio Moro. Depois, criou uma interpretação nova para a Conspiração de Minas, tão “nova” como seu Partido Novo.

Michel Temer foi o protagonista e o grande articulador de um Golpe de Estado contra sua companheira de chapa, a Presidenta Dilma Roussef. É inesquecível sua expressão de regozijo sádico em foto tirada quando do triunfo da votação do impeachment da ex-presidenta. São duradouros e danosos os efeitos de sua “Ponte para o futuro”, ou melhor, pinguela para o abismo, sentidos até hoje. Temer é o típico burocrata partidário, de todas as épocas, que constrói uma carreira em meio a atividades nebulosas, quase sempre muito vantajosas em termos econômicos e políticos. Sua figura, carcomida por essa antiguidade arcaica e repugnante, por isso mesmo, parece ter saído de páginas de jornais de outrora, de tempos remotos. A foto de seu ministério, por exemplo, só de homens e políticos tradicionais, trai o mofo que ele representa. Traidor de Dilma Roussef, enfim, ele é também traidor da pátria.

Sérgio Moro é o anti-magistrado. Não deve ter aprendido nos bancos universitários as lições de Cesare Beccaria, em Do Delito e das penas (1764), sobre o processo penal, ou, tendo-as aprendido, tratou de subvertê-las em sua prática como magistrado, criando leis (quando devia meramente cumprir com rigor as existentes) e desrespeitando outras e, assim, afrontando a legalidade. Moro usou o processo penal para concretizar seus interesses políticos, consoantes e afinados com os do “Império” norte-americano, e, com isso, condenando réus sem provas, dentre eles o Presidente Luís Inácio Lula da Silva. Fez as vezes de promotor, quando deveria ter sido juiz. Atuou, ainda, como peça fundamental para a ascensão e a vitória eleitoral de um fascista, o inominável. Por fim, ganhou um ministério como prêmio por sua façanha. Depois de trair a justiça, traiu o Duce brasílico. Não se contentando com este zigue-zague, voltou a apoiá-lo tempos depois, em 2022. O que importa aqui é registrar: Romeu Zema concedeu a Medalha da Inconfidência a dois traidores notórios! Premiou, assim, dois Joaquim Silvério dos Reis do século XXI, num movimento autenticamente anti-Inconfidência: homenagear traidores com a Medalha da Inconfidência representa dar um tiro no peito do mártir Tiradentes, apunhalá-lo pelas costas, tal como fez seu amigo Joaquim Silvério.

Zema não se contentou, entretanto, em fazer essa traição à Inconfidência – aliás, já passou da hora de refutarmos o uso desta denominação, que consagra a memória da monarquia absoluta portuguesa, a memória do poder, em detrimento da daqueles que a combateram, os conspiradores de Minas, uma vez que Inconfidência significa traição. Num ato falho – atenção ao significado desta expressão, que remete a uma ação que segreda uma verdade que não se quer ou não se deve explicitar –, Zema soltou uma nota em que adjetiva a Conspiração de Minas como “golpe” e os seus participantes como praticantes de “crimes”, além de insinuar que todos eles, à exceção de Tiradentes, foram mentirosos. Zema, com isso, hiperbolizou a visão que a monarquia portuguesa construiu sobre o ocorrido em 1788-89: o governador de Minas, tal como seu Partido Novo, coisa mais velha que a Idade da Pedra, em 2023, apedrejando a Conspiração de Minas, mostrou sua adesão à visão da monarquia absoluta, aos vencedores de 1792! Nada mais repulsivo de quem se espera, como governador de Minas que é, ao contrário, defender os perdedores de 1792, o mártir Tiradentes e os outros conspiradores. Falar em “golpe”, “crimes” e em mentirosos significa referendar o que diziam dona Maria I e seus oficiais régios!

Essa escolha de termos, porém, tem um significado político ainda mais repulsivo, bem contemporâneo: de apoio ao “golpe” de 8 de janeiro de 2023, àqueles que o fizeram como ativistas e como mentores. Esta apropriação é indigna do estado de Minas Gerais e, de resto, do Brasil e dos brasileiros. Os golpistas de 8 de janeiro não atuaram em defesa da liberdade, mas da opressão, da ditadura, do obscurantismo de fascistas, fardados ou civis. Atuaram contra a democracia e as liberdades. Afrontaram a vontade popular sacramentada nas urnas em 2022, apesar de todas as tentativas de desfigurá-la, protagonizadas pelos mesmos mentores do golpe de 8 de janeiro. Os golpistas de 8 de janeiro são criminosos e como tais devem ser tratados, com o rigor e os direitos prescritos pelas leis, em julgamentos justos, que não imitem os realizados por Sérgio Moro. Suas mentiras devem ser desmascaradas com base em provas sólidas.

Zema embaralhou os significados de dois movimentos: um, de conspiração, de revolta não concretizada, em nome das liberdades; outro, de golpe contra uma ordem democrática, visando à ditadura. Zema ofende Minas Gerais e a memória da Inconfidência. Se a Conspiração de Minas Gerais de 1788-1879 foi uma tentativa frustrada de revolta visando à liberdade, o Golpe de 8 de janeiro foi claramente uma revolta cujo fim era sufocar a liberdade e a vontade popular e, mais ainda, cujos efeitos foram danos imensos ao patrimônio público e colocar-se em risco as instituições democráticas. 

Com tudo isso, Romeu Zema revelou-nos o que é: simpatizante do golpe de 8 de janeiro de 2023, candidato a herdeiro do fascismo bolsonarista. Tiradentes, que não está no túmulo, mas em alguns outros lugares – as partes do seu corpo foram colocadas no caminho entre Rio e Minas, ficando sua cabeça em Vila Rica, enquanto sua figura histórica reina no panteão de heróis pátrios consagrados pela memória coletiva –, deve estar inquieto com tudo isso. Ele era o porta-voz de ideias verdadeiramente revolucionárias: os mais eloquentes anti-colonialismo e anti-patrimonialismo. Ele deve estar esbravejando contra Romeu Zema. Deve tê-lo ouvido muito bem. Deve ter-se indignado com os crimes contra a memória que Romeu Zema perpetrou: escolhendo a visão da monarquia absoluta e buscando usar a memória da Conspiração de Minas em favor de seus projetos políticos pessoais, certamente afinados com o mais abjeto (e velho!) colonialismo. 

Viva Tiradentes!

 
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22
Abr23

Banco Central enriqueceu Roberto Campos Neto

Talis Andrade
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Juros altos e dólar nas alturas bom demais para dono de empresas nos paraísos fiscais e traficantes de moedas

 

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto tão honesto quanto o avô que enriqueceu com a ditadura militar de 64, disse nesta sexta-feira (21) que, se os juros não estivessem altos no Brasil, a taxa de inflação ficaria em 10% em 2023, não 5,8%, como previsto pelas projeções.

Ele afirmou ainda que a taxa Selic precisaria estar em 18,75% hoje para frear o aumento de preços no país. Pelos preços nas alturas, o brasileiro nada compra, porque não tem grana, e as indústrias estão fechando, coisa da mistura de Campos Neto com Bolsonaro.

Bolsonaro colocou o negro de castigo com fome. E envenenou com mercurio os rios dos indígenas. É o Brasil colônia com lanterna na popa, recebendo joias do Ali Babá das Arábias (Quem foi governo, e não roubou nos tempos de Bolsonaro presidente, levante a mão)

Campos Neto, dono de empresas offshore, tem sido alvo de críticas do governo Lula, parlamentares e empresários pela decisão de manter, em março, a taxa básica de juros em 13,75% — patamar em vigor desde o início de agosto de 2022. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) argumenta que os juros altos emperram o crescimento da economia.

"O Banco Central fez a maior alta de juros num ano de eleição na história do mundo. Isso mostra que o BC atua de forma bastante independente. Na política monetária, quando você age antes, o custo é menor", disse Campos Neto em palestra na conferência da Lide, em Londres. Isso, sim, é vender o Brasil do futuro lá fora, o Brasil do Brics. Isso, sim, é chamar o capital europeu para investir no Brasil de Lula. 

"Se a gente não tivesse subido os juros, a inflação não seria 5,8%, seria 10% em 2023 e 14% no ano seguinte. E a taxa de juros estaria em 18,75%."

Falando para uma plateia de empresários, ex-ministros da Fazenda, ex-presidentes do Banco Central e parlamentares, Campos Neto defendeu repetidas vezes a autonomia do Banco Central. O quinta-coluna não quer perder a boquinha. 

Segundo ele, embora o "anseio dos juros seja político" o trabalho do Banco Central "é tecnico".

"O timing técnico é diferente do timing político, por isso a autonomia é importante. O custo de combater inflação é alto e sentido no curto prazo, mas o custo de não combater é mais alto e perene", afirmou.

Ele citou a Argentina como exemplo de país que viu a inflação ficar descontrolada depois de reduzir juros, abandonar metas de inflação e retirar a autonomia do Banco Central. Campos pra tudo cita os hermanos como exemplo. É leal dependente do Tio Sam, como era o avô, tanto que alarda uma única moeda para todo o vasto mundo. Moeda só existe o dólar. Ele não tem complexo de vira-lata, não. Tem ganância de investir no dólar. Suas empresas vão bem, obrigado. O dólar sobe, o presidente do Banco Central do Brasil fica mais rico, e pra provar que caminha certo no passo de Midas cita, novamente e sempre, a Argentina.

"Será que vale seguir sistema de metas? Olhamos países que tinham sistemas e abandonaram. A Argentina aumentou meta para ter flexibilidade. Depois abandonou o sistema de metas e a autonomia do BC, e a inflação acelerou", disse.

Para o presidente do Banco Central a taxa Selic alta se justifica porque previsões econômicas para os próximos anos no Brasil se deterioraram.

"De novembro para cá, as expectativas começaram a se deteriorar, tanto para 2025 quanto 2026", agoura Campos Neto, o profeta do fim do Brasil. O Brasil quebrado, pária, republiqueta de bananas, com um presidente do Banco Central terceiro mundista aqui, e Primeiro Mundo nos paraísos fiscais. O Roberto Campos cria de Paulo Guedes, com suas empresas estrangeiras, e seus ideais da extrema direita fascista, que nem o avô, que também levou uma fakeada tal Bolsonaro. 

Jeferson Miola: Banco Central autônomo é dogma do pensamento único  neoliberal para alimentar voracidade do mercado - Viomundo
 
15
Abr23

Dino aciona CNJ e MPF contra desembargador racista e preconceituoso

Talis Andrade
www.brasil247.com - Mário Helton Jorge
Mário Helton Jorge branquelo

 

Gilmar Mendes: Centenas de crimes cometidos na lava jato (vídeo)

 

Os racistas costumam dizer que a população paranaense é composta por diversas etnias. São imigrantes alemães, poloneses, ucranianos, italianos, portugueses, holandeses, espanhóis. Todos exilados da fome, das duas grandes guerras, das lutas internas, fratricidas, cruéis, lideradas por ditadores nojentos e sangrentos. 

Esquecem os indígenas culturalmente mais ricos, que todos os brancos são descendentes, na sua grande maioria, de escravos brancos nas lavouras da Europa. E analfabetos. Os alfabetizados que apareceram eram nazistas e fascistas que praticaram crimes contra a humanidade nos campos de concentração.

A supremacia branca esquece os amarelos japoneses. E os negros, quando os emigrantes europeus e japoneses substituíram, no Brasil, a mão de obra escrava. De acordo com o IBGE, em 2018, 34% da população paranaense era negra ou parda.

No Paraná, pouco mais de um terço da população está nesse grupo, mas o governo estadual não tem políticas públicas específicas voltadas aos negros.

Escrevo provocado pelo desembargador racista, da extrema direita, partidariamente bolsonarista lavajatista Mário Helton Jorge, que durante sessão realizada na última quinta-feira (13), destilou rancor contra outras regiões do país ao afirmar que o Paraná "tem nível cultural superior ao Norte e ao Nordeste".  Disse mais: o Paraná que elegeu o juiz Sérgio Moro senador, o procurador Deltan Dallagnol deputado federal, não possui o "jogo político dos outros estados”. Ele esquece a máfia da lava jato, da liga da justiça da república de Curitiba, formada por juízes, procuradores e delegados safados. Quadrilha que prendeu Lula, no golpe eleitoral de 2018, para eleger o miliciano nazista, fascista, capitão da reserva Jair Bolsonaro, um velho deputado saudosista da ditadura militar de 1964, que tem o serial killer coronel Brilhante Ustra, promovido a marechal, como herói.

A declaração do desembargador aconteceu durante uma sessão da  2ª Câmara Criminal. 

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), anunciou pelo Twitter neste sábado (15) que acionará o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Ministério Público Federal (MPF) contra o desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná Mário Helton Jorge.

"Precisamos de uma Justiça antirracista no Brasil. E por isso vamos enviar ao CNJ e ao MPF o caso do desembargador que propagou que um Estado tem 'nível cultural superior' a outras regiões, em abordagem discriminatória. Consideramos que a conduta pode ser enquadrada na Lei 7716/89", publicou Dino. A lei citada define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.

 
 
 
 
09
Abr23

A horda

Talis Andrade
Imagem: Ramy Kabalan

 

Considerações a propósito de 8 de janeiro no Brasil

 

por Eugênio Trivinho

 

“Um estado de cavalos” (João Guimarães Rosa1).
“… todos gritam em uníssono, e o tinir é o aplauso dos objetos” (Elias Canetti2).

 

Terror moderno, Guerra Fria e estagnação dialética

No início deste ano, a imprensa, a jurisprudência e a academia alimentaram celeuma em relação à validade ou não da caracterização dos atos vandálicos de 8 de janeiro em Brasília como terrorismo. A discussão, que obviamente repercutiu nas redes sociais, extrapola necessidades de precisão conceitual exclusivamente para fins penais: além de requerer caracterização política e contextualização social-histórica, envolve implicações constitucionais evidentes (para além das de segurança nacional), em defesa da democracia como dinâmica de Estado, regime de governo, processo civilizatório e valor universal. A consistência da discussão depende, igualmente, da apuração de que terror se trata. Se razões de espaço descartam recensão profunda, algumas sinalizações a respeito, mesmo as intempestivas, ganham prioridade.

Independentemente de motivos axiomáticos – de valor sobretudo ideológico, para o bem e/ou para o mal), sabe-se que o terror, do ponto de vista estratégico e tático, constitui princípio e ação políticos de contrarresposta violenta a condições sociais concretas de existência. Como tal, o terror é, também, um instrumento de tomada, manutenção e/ou expansão de poder por meios violentos (físicos e/ou coativos). Mais especificamente, o terror se instala para conquistar, preservar e/ou ampliar espaço numa batalha (campal ou não), para forçar o inimigo a recuar de posições ou desistir de intenções, para evitar que o sinistro avance, para demonstrar, por capacidade irruptiva, com quem está o poder ou com quem ele não está, e assim por diante. Se ou quando mudanças – ou horizontes de mudança – em condições vigentes são concretas ou presumidas, o terror pode encabeçar processos revolucionários, mediá-los ou finalizá-los. O terror abre e/ou fecha o caminho para cumprimento desses objetivos.

O vínculo fenomenológico da questão com o movimento dialético da história social e política, no entanto, permite fazer apostas alternativas de esclarecimento. Uma das mais idiossincráticas e luminosas se assenta no pós-estruturalismo francês.

Não sem razão, Jean Baudrillard, teórico heterodoxo e instigante sobre o terror na modernidade tardia, ambientou, originariamente, o assunto no plano simbólico da lógica binária da Guerra Fria.3A beligerância absoluta via chantagem mútua – nenhum passo invasivo ou destrutivo poderia ser dado por nenhuma das partes sob pena de represália de monta – “congelou” (por assim dizer) o movimento dialético da história, proibindo os poros sociais de gestar, abrigar e/ou desdobrar mudanças estruturais ou significativas (de suplantação completa das condições vigentes). Um dos resultados fragmentários dessa tendência de estagnação foi o terror como reação degradada à redução da política ao mero presenteísmo,4 com este detalhe sine qua non: a mencionada reação serve-se da compulsão espetaculosa e mercantil do universo multimediático para instilar efeitos permanentes de medo no circuito noticiário e imagético, atingindo (em rota de alvo diuturno) a vida de milhões de consumidores.

As condições históricas e geopolíticas que desconstruíram o muro de Berlim, em 1989, dissolveram pari passu a lógica binária da Guerra Fria em prol da aparente hegemonia militar de nação única sobre centenas de outras. Esse processo, favorecedor da cultura anglo-saxônica, em especial a estadunidense, culminou num planeta tentativamente regrado pela posição política de um bloco único de poder, ancorado na Organização para o Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Mesmo que a recente emergência tecnológico-comercial da China como eixo global de contrapoder (com a Rússia a tiracolo) evoque algo do fantasma dicotômico posterior à Segunda Guerra Mundial, as condições macroestruturais, do ângulo de vista do terror, não sofreram modificações essenciais: a relativamente severa contração da potência dialética do establishment internacional, a qual excita o apetite terrorista, passou a realizar-se de forma aparentemente multipolar, sob o influxo inapelável de uma beligerância por predomínio hegemônico e sem prejuízo de apelo presenteísta – beligerância, lembre-se, campal e por delegação (a exemplo da resistência multinacional da Ucrânia contra a invasão russa) e, em geral, não-campal (em bastidores de espionagem, contrainformação e demais estratégias de inteligência).

Em interpretação desdobrada e livre, o terrorismo – isto é, a ideologia do terror em movimento contra a ausência de movimento (na direção do desejo imediato dele, terrorismo) na história da modernidade política – equivale, mais precisamente, a uma forma explosiva de ação planejada, fomentada e executada contra determinado espaço social, povoado ou não, quando as possibilidades históricas de superação da realidade disputada se esgotaram e, ainda assim, em relação a elas, permanece, para um dos lados contendores, profundo rasgo de insatisfação e/ou ressentimento, a impedir a aceitação das condições e tendências predominantes. Com a asfixia de seu pertencimento à modernidade tardia, esse modelo de terror, exasperado por defasagem em relação aos trunfos do inimigo em torno do pomo da disputa, instaura-se e se propaga (como atmosfera mediática de amedrontamento) quando a dialética, no sentido da transformação social em nome de aspirações utópicas, se afigura impossível de cumprimento.

O foco concentrado no cerne da questão dissolve qualquer dúvida: quando a viabilidade de mudanças substanciais falha, comparece, no campo da escaramuça, a matança de inocentes (além de inimigos fardados e armados), arruinamentos citadinos (para espalhar o temor da existência) e a destruição de domicílios e locais de trabalho e lazer (uma vez que o campo de batalha se confunde com a zona de moradia, troca e sobrevivência). A primazia política dessa violência – como antes dito – se confunde com sua hipóstase (dela, violência) em medo (ou seja, ameaça socialmente espargida) por meio do uso abusivo da comunicação de massa e interativa (mais propriamente, de sua ingenuidade noticiária indiscriminada e, portanto, cúmplice).

O motivo é trivial: o sistema mediático mercantiliza o terror ao converter seus atos em bens simbólicos consumíveis como espetáculo, seja no conforto televisivo das salas de estar, seja na prerrogativa digital à mão customizada – em quaisquer telas de experiência alucinatória. Com tal expertise – a que o mundo ocidental acertadamente atribui valor de covardia –, o recado do terror é direcionado e franco: os supostos vencedores e suas narrativas, junto com as condições materiais que os explicam e mantêm, não passarão impunes. Seu revide – inseparável da simples vingança, sob a ótica do senso comum – comparece como resultado a esmo. Emana, porém, de cálculo relativamente arredondado.

As aspirações políticas (fundamentalistas ou não) desse modelo de terror, devotado ao paradoxo da abolição veloz da pretensa abolição autoritária do telos, comparecem como representações genuínas da dialética. Estão longe de sê-lo: esse terror é natimorto em potência teleológica. Se, como sugere Baudrillard, o espetáculo multimediático perseguido pelo terror se esgota, operacional e simbolicamente, no presenteísmo, essa violência, ao agir em represália para ferir tais condições, acaba por autossabotar-se quando as ratifica, traindo seu próprio desejo de telos diverso e reduzindo-se ao mesmo presenteísmo. Sem potência trans-histórica efetiva e/ou alavancas socioestruturais viáveis para realizá-la, ele é tão somente um sintoma do refechamento político no perímetro frustrado de revoluções propriamente ditas.

Evidentemente, a ignição “pós-dialética” do terrorismo pode torná-lo “pós-moderno” (na acepção literal e superativa do prefixo), jamais pré- ou pós-político, muito menos pré- ou pós-mediático. Ele pode ser tanto aguerrido (a exemplo dos agrupamentos marcados por forte flexão religiosa) quanto expressão irreversível de esgarçamento doutrinário.

Necropolítica neofascista e terrorismo bolsonarista

 

Sem carnificina concentrada, mas não sem destruição instantânea, os atos vandálicos na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, no Palácio do Planalto e no Supremo Tribunal Federal (STF) não escapam, de certo modo, às características elencadas. A fleuma deste terrorismo é tão historicamente regressiva – tão nostálgica a ditaduras e autocracias fardadas – que legitima a evocação de lógicas sociopolíticas da segunda metade do século XX anteriores à queda do muro de Berlim ou, se se quiser salto extra, aos ataques a símbolos globais dos Estados Unidos em janeiro de 2001 – arruinamento de torres gêmeas que alterou substancialmente as relações internacionais, sobretudo em matéria geopolítica e militar.

Seria dispensável registrá-lo: nada há de pré- ou pós-ideologia nesse reduto. A necropolítica neofascista do bolsonarismo, no entanto, torna o procedimento oportuno: ela jamais se perde na estrutura dinâmica que animou os atos vandálicos de janeiro de 2022.

Em princípio, o esquema político e social de sua militância “quebra-tudo” (inclusos os 38% de cidadãos justificadores do vandalismo)5 é bastante puído: uma elite civil e militar abastada, historicamente treinada na liderança e no mando, captura, fustiga e fomenta amplo séquito para o “campo de batalha”, vias de fato para a qual serviu previamente o emparelhamento de ruas e praças às redes sociais, com destaque para acampamentos próximos a Quartéis Generais (QGs) e demais instâncias das Forças Armadas, nas capitais e em dezenas de cidades do país.

Especificamente, essa horda, implicando largo contingente de correligionários e simpatizantes em diversos estratos sociais, é, em regra, sustentada por empresários brasileiros, de nacionalismo reacionário e neoliberal graúdo, que rechaçam o resultado do pleito de outubro de 2022. Em alinhamento ao longo domínio latifundiário-autoritário no país – da fase imperial ao estirão republicano –, eles almejam regime de chumbo (com ou sem o miliciano-mor) contra o tal “comunismo que ameaça a pátria”.

A estrutura dinâmica desse contingente extremista combina centralização política (especialmente por lideranças nacionais e estaduais) e descentralização sócio-operatória (pelo “rebanho de manobra”), dentro e fora das redes sociais. Do moralismo religioso-nacionalista à idolatria supremacista e nazifascista, a segmentação interna da horda se distribui, em síntese, entre, pelo menos, cérebros de planejamento e fomento e militantes de inflamação e execução (depredadores/saqueadores ou não).

O cerne do perfil ideológico do bolsonarismo se desnuda por sua própria franja vandálica. No limite, os depredadores autodemonstraram o quanto essa extrema direita – desde os partidários mais aguerridos aos simpatizantes regulares – assenta-se num aglomerado organizado6 muito próximo de uma “seita de massa”, com características conhecidas: seu estado severamente deturpado ou nublado de consciência política (se se tomar por cotejo os fundamentos do Estado de Direito ocidental dos últimos dois séculos e pouco) – uma condição permanente de delírio psiquicamente normalizado para si e para adversários – explica o cultivo fanático-subserviente a líderes autoritários e “carismáticos”; a apropriação indébita e ignara da flâmula republicana e do cromatismo verde e amarelo mistura, em odienta ciranda, inconformismo pós-eleitoral, indignação antidemocrática e desejo imediatista de se libertar de ambos, a partir de um sectarismo fissurado na instauração de um governo de exceção sob a tutela da Forças Armadas.

Sem culpa ou temores, a horda depredatória agiu em Brasília sob o lema do “tudo ou nada”, impermeável a qualquer choque de realidade. [A evidência da derrota eleitoral assumiu ares de falsidade afrontável em bolhas digitais de encorajamento distorcido; milhões de eleitores, entre eles os vândalos, sentiram-se (e sentem-se) roubados: foi o protofüher quem venceu o pleito.]. O fato de cerca de 3% a 18,4% da população7 apoiarem totalmente esse terrorismo não patenteia senão a crosta grosseira de deseducação antidemocrática – enfim, a barbárie da incultura política – no imaginário de parcela significativa do eleitorado brasileiro.

Sob álibi vingador, de ataque a um governo tomado como ilegítimo, embora egresso de pleito hígido e inconteste, a extrema direita atentou contra o Estado propriamente dito, mediante arruinamento de símbolos de poder permanente – a República em si, a Justiça em si, o “sistema” em si, a democracia em si, e assim por diante. Esse cume de distúrbio foi ensaiado dias antes, em meados de dezembro de 2022, quando bolsonaristas tentaram, também em Brasília, arranhar a diplomação presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE): depredaram o patrimônio do Estado e incendiaram ônibus e automóveis, entre outros atos de violência.

Crime político desfechado por um anonimato sedento de ribalta fugaz, os atos terroristas nos edifícios públicos do Distrito Federal foram, por ora (depois de crimes letais aparentemente pontuais), o estouro tumultuante-ultraconservador mais acabado da necropolítica neofascista do bolsonarismo – o legado fúnebre do pior presidencialismo brasileiro, o do quadriênio 2018-2022, protagonizado, vale enfatizar, por um movimento político de escarnecimento das três principais dimensões constitucionais da vida nacional e civilizada: a República, o governo e a sociedade civil.

Nessa conjuntura, a visão sociofenomenológica psicanaliticamente orientada está à vontade para computar o quanto energias pulsionais de frustração política sob o “comunismo imaginário” podem se sublimar em obscuridade galhofeira e anulatória de equipamentos republicanos e, pretensamente, da historicidade destes – uma destruição patrimonial (e, tentativamente, simbólica) custeada por impostos dos 49,1% de eleitores do ex-inquilino do Palácio do Planalto.

A veemência desse cenário lança luz retroativa sobre o procedimento linguístico (propriamente lexical) da produção noticiosa corporativa e conservadora. Não deixa de ser significativo constatar tantos e quantos meios de comunicação de massa chamarem doravante bolsonaristas depredatórios de “golpistas” e “terroristas”. De jornais e revistas impressos a emissoras televisivas (versões Web inclusas) e canais-satélites digitais, poucos veículos responsáveis pelo mainstream deixaram de fustigar serpentes de golpe em 2016 e de fortalecer neofascistas em 2018.

Desde a primeira década deste século, enquanto forças de esquerda se preocupavam com o crescimento progressivo da extrema direita no país e em escala internacional, os gérmens do bolsonarismo foram, por esses media, tratados jornalisticamente como patifaria, pedra bruta sem atmosfera, rala peça de xadrez gravemente negligenciada, sem classificação estrita – procedimento que mesclou descrença alegre no mal, desinteresse imperito pelo baixo clero e exercício solene de vistas grossas. O terrorismo de janeiro em Brasília, no entanto, estava pressuposto desde, pelo menos, a década passada. A obstinada preservação de honras discursivas, com exigente contradição zero em narrativas editoriais e em rastros anuais de pauta, assegura, como se vê, reputação empresarial no limite de exageros desprovidos de autorreflexão, à beira, se se quiser, da desonestidade ou da má-fé.

Horda: do golpe ao terror

 

Em bolhas digitais (empresariais ou não) de propagação neofascista e negacionista, financiadores, instigadores e/ou executores dos atos vandálicos aguardavam vitória idílica e irreversível após invasão das dependências do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do STF. A meta, clássica demais para efeito veraz, era condicionar, nos dias subsequentes – inúmeros levaram travesseiros –, caos suficiente no país para incentivar as Forças Armadas a atropelar o governo eleito e, em ação delirante, a intervir nos três Poderes contra o “comunismo imaginário”, em nome de Deus, da pátria, da família, da propriedade privada e da “liberdade” – enfim, o conhecido positivismo nacionalista e populista “para o bem da nação”.

De forma suicidária, a horda subestimou, desde antes da abertura do processo eleitoral de 2022, a inteligência estratégica e a potência articulatória das instituições republicano-democráticas e das honras ministeriais do novo governo; a ambiguidade ou hesitação das frações bolsonaristas das Forças Armadas; a reação imediata da sociedade civil organizada, com milhares de manifestações de repúdio; o apoio internacional à democracia no país, e assim por diante.

A contrapelo da estratégia extremista desastrada, o movimento veloz de uma peça institucional no tabuleiro político foi crucial: a preferência do Poder Executivo pela intervenção direta na segurança pública do Distrito Federal.

A recusa da implantação do Estado de Defesa – segunda opção institucional após a medida de intervenção – frustrou ânimos civis, fardados e milicianos nas fileiras da ultradireita: a peça mobilizada descartou a tutela do governo pelas Forças Armadas. A réplica da sociedade civil organizada, repudiando a tentativa sabotadora, jogou, igualmente, papel fundamental na preservação democrática do funcionamento institucional e das relações civis como um todo.

Esses elementos do cenário bastam para sinalizar o quanto sutilezas da ação terrorista em Brasília e da atmosfera política os fazem ultrapassar aparências previsíveis e somar complexidade. Do ponto de vista estratégico, a gema dinâmica dos fatos indicia dois momentos específicos.

(i) A franja aguerrida da horda estava, de fato, acampada há mais de dois meses na cidade (a partir do segundo turno de 2022), à espera de um golpe de Estado, com a participação ou não do ex-inquilino do Palácio do Planalto e com apoio de bolsonaristas nas três Armas.

(ii) A decretação do resultado das urnas pelo TSE, a diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva em meados de dezembro, a transmissão da faixa presidencial no início de janeiro e a ressonância multimediática e social em respeito à Constituição Federal impuseram, porém, uma flexão no processo inteiro, asfaltando o terreno republicano que encalacrou, definitiva e irreversivelmente, o adversário – sem volta.

Essa segunda rota factual, polêmica com certeza, precisa ser teoricamente experimentada em todas as letras: 35 anos de renovação – mais tortuosa que linear – das instituições republicanas e democráticas no país podem tê-las fortalecido tanto no quadriênio 2018-2022 (sobretudo no último ano) que a única alternativa final de expressão política da extrema direita foi este rompante derrotista em fluxo de “descarga da massa”8 (para honrar Elias Canetti): o telos político (de intensa espera da intervenção armada) cedeu franquia, nas proximidades dos prédios, à aparente anomia da destruição indiscriminada. Custa acreditar que a horda extremista caminhou em direção aos símbolos da República sem esse objetivo a priori. [Ao esquadrinharem o antro dos responsáveis por conceber, organizar, financiar, incitar e executar o vandalismo e a rapinagem, as investigações federais também precisam apurar de onde partiu a ordem para essa “descarga”, quais os nomes implicados e demais informações atinentes.]

Essa atuação vandálica, por seu turno, abre-se a duas possibilidades interpretativas: a primeira, priorizando cálculo épico-teleológico (ligado à realização do golpe militar), não se excetua do perímetro clássico da ciência política; a segunda, atenta ao desespero pragmático dos extremistas (por autopercepção de impotência) e ao arruinamento voluntário do mundo para exorcismo de insatisfações ressentidas, respira, livremente (com todos os eventuais riscos e insuficiências metodológicos), princípios de sociofenomenologia à luz de conjeturas pós-estruturalistas. O desdobramento cotejado das duas leituras expande, com certeza, o diapasão de surpresas a respeito dos fatos.

Conforme já assinalado, a leitura política convencional admite, ao custo de concordar com fleumas conservadoras, que os criminosos protagonizaram invasão e destruição do patrimônio público para, sob o mote “agora ou nunca”, condicionar, com ou sem cadáveres, o caos social necessário à justificação da interveniência das Forças Armadas nos Poderes da República, à la 1964, com amparo distorcido no artigo 142 da Constituição Federal. Em outros termos, como a horda carecia de criatividade e alternativa estratégicas (sendo, portanto, refém do modelo antigo de investida militar), a tática do vandalismo integrava gradação pragmática planificada, com sabotagem institucional demodé.

Vertentes de centro-esquerda em geral, instâncias matriciais da sociedade civil organizada e a maioria dos meios de comunicação corporativos e conservadores assumiram a tese desse liame entre depredação antirrepublicana e tentativa campal de golpe de Estado – a mesma tese do governo federal. As incertezas políticas e institucionais que rondam a jovem democracia brasileira demonstram que essa leitura não é equivocada. A Polícia Federal (PF) apurou tentativa de assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com tiro de fuzil a longa distância, no dia da posse no cargo, em 1º de janeiro.9 A conformação aberta do acontecimento em Brasília, porém, não permite que a mencionada leitura monopolize (e refeche) o campo interpretativo.

Em particular, a crença exclusiva no esquema teleológico das ações vandálicas faz a leitura política convencional perder de vista (e não levar às últimas consequências) o significado sociofenomenológico da flexão antes aludida, que evoca – dos fundamentos à empiria mais rasa – a alta resiliência do contexto político e interinstitucional vigente. O foco prioritário nessa dimensão silenciosa expõe os atos vandálicos como espécie de “bagaço de laranja” de um extremismo frustrado na série de graves ameaças às instituições e, ao final, derrotado no processo eleitoral que eles mesmos, os autoritários, não podendo rechaçá-lo no todo, tiveram de tolerar como ambiente mandatório de disputa.

Isto significa: a marcha com gritos de guerra nas vias públicas de Brasília, a invasão dos prédios e o quebra-quebra, em janeiro passado, já não portavam horizonte efetivo algum – não se tratava de golpe como potência dialética, mas de terror puro e simples, isto é, de destruição pela destruição, como forma de expressão de insatisfação ressentida e de divulgação multimediática em tempo real (live e online) do que ocorre se e quando a extrema direita é contrariada (não tanto do que ela pode realizar além disso). A partir desse momento, a horda já não era de manifestantes políticos, mas de lumpenterroristas sem telos viável. Discursos calcados no Código Penal os aproximaram de criminosos comuns.

O acontecimento – vê-se – cultivou obviedades: em matéria de atuação política em zonas urbanas, a rusticidade voluntária, abundante em redes sociais, marcha, de forma atabalhoada, em direção a “revoltas sem cabeça”. Sua inteligência de estatura rasa pode se desdobrar em terrorismo convicto e hedonista.

O fato de a subjetividade da horda e, dentro dela, a dos depredadores/saqueadores ter preservado, do início ao fim dos acampamentos, expectativa de interceptação militar do establishment não altera o repertório e a rota do entendimento. Fatores idealísticos não têm ascendência reversiva (sequer mediata) sobre macrocontextos fenomenológica e tendencialmente assentados. Em léxico de senso comum, o vandalismo, para todos os efeitos pragmáticos, aconteceu somente porque, no terreno da política, os criminosos já “não tinham mais para onde correr”.

À carne previamente golpista, dourada em longos abarracamentos, sobrou um sulco previsível para manifestação decepcionada, infantilmente agressiva, de descontentamento não apenas pela dilapidação irreversível do poder político antes possuído, mas sobretudo pela impossibilidade da conquista da ditadura desejada – manifestação de inconformismo inconsolável, por assim dizer, pela perda simbólica do falo (para registrá-lo, não sem ironia, em episteme lacaniana, ímpar), a saber, perda não do poder propriamente dito, mas do golpe fardado que não veio. O terror foi, assim, a última saída honrosa para uma convicção fundamentalista malograda.

A validade teórica dessa provocativa hipótese – a do caráter teleológico pré-erodido dos atos vandálicos – evidencia-se, igualmente, quando a preocupação estratégica enfoca o perfil extremamente rude e banal desses atos. O desdobramento quixotesco da “sarrafusca descabeçada” do bolsonarismo foi tentado em planície dominical e esvaziada, sem absolutamente nenhuma “peça” concreta e consistente para colocar no centro do tabuleiro, exceto o nome de um doidivanas tíbio, em autoexílio forçado (de “férias” na Flórida, Estados Unidos, custeadas com verba pública), ou alternativa militar sem carisma e articulação majoritária fora da caserna.

De novo, imaginaram – à moda antiga – somente a truculência das armas no lugar da minoria simples do eleitorado. Esse cochilo estratégico de partida, se trocado em miúdos, determinou a lacuna matemática da chegada; do ponto de vista sociofenomênico, a quantidade repercutiu fatalmente na qualidade do resultado esperado: a horda precisava de muito mais gente – precisava de massas e mais massas (protagonistas e tácitas), de milhões de acampados e terroristas – e tudo o que ela tinha era somente a si, uma horda. Em matéria proporcional, uma “revolta descabeçada” pode ser feita por meia dúzia.

Desse ponto de vista – o da impotência político-dialética do surto bolsonarista –, os estilhaços de vidro, alvenaria e arte nos edifícios públicos não conduzem a visão menos sombria: questões de valor não se põem nesse pormenor. No que tange à defesa da democracia, o terror sem telos viável não é, por exemplo, politicamente mais vantajoso que o terror vanguardista e bem-sucedido. A brutalização civil-militar jamais perde cariz corrosivo: insurreições antirrepublicanas, investidas antidemocráticas e sabotagens institucionais preservam, em geral, capacidade atentatória em tempo diferido contra ordens constitucionais. O malogro de ontem autoaprende: se revisto – e recomposto o telos –, pode ser o golpe de amanhã.

Por óbvio, esse reconhecimento (exclusivamente teórico, sem qualquer efeito prático) faz a hipótese da impotência dialética do motim jamais comungar com atenuações em matéria de responsabilização penal e civil, nem com qualquer abatimento na indenização patrimonial aos cofres estatais. Essa discrepância recobra síntese clara: havia, desde o início, intencionalidade de golpe, não por acaso alentado por meses; a erosão institucional transitava nos meandros organizatórios do trabalho do crime, sob prerrogativas geopolítico-jurisdicionais citadinas, nas proximidades de QGs e demais unidades militares; o motor do sinistro, entretanto, carecia de dialética, dado o contexto social-histórico, político e institucional do país. A incriminação e o apenamento, após análise individualizada dos casos, inclusos os de reconhecimento “humanitário” por razões legais e/ou judiciais, devem, por isso, equivaler aos de uma investida sabotadora efetiva.

Para gravame das penas, evoque-se que o quadriênio 2018-2022 foi, de ponta a ponta, golpe heterodoxo serial na República e na democracia nacionais – por dentro do Estado, contra o modelo socioinstitucional desenvolvido a partir de 1988 –, com ataques segmentados (explícitos e oclusos, dos maiores aos menores) desferidos por Ministérios do governo federal. Brasília, em janeiro passado, foi cume de expiração – derradeiro, espera-se – desse rastro político egresso do inferno.

A reedição ilustrada do ciclo argumentativo anterior, com realce para o pomo da contradição envolvida, burila, em complemento, a assertividade da conjetura. Cerca de quatro décadas após as ruínas do regime militar e da promulgação da Carta Magna de 1988, as condições institucionais pró-establishment republicano-democrático já estavam aprioristicamente refechadas – declara o discurso ufano-progressista, certo da robustez da herança consolidada desde então. Eterna, Cassandra, a mítica clarividente grega, joga há muito certezas na fogueira (e, para tanto, não precisa computar a arruaça institucional de 2016): os atos vandálicos – alerta ela – materializaram baga ideológica que, em outras circunstâncias históricas, teria encontrado êxito; e havia armamento previsto para homicídio político. A prudência exige vigília – arremata –: democracias latino-americanas são vulneráveis como penugens.

Seja como for – guardada esta advertência –, se, de outro ângulo do caleidoscópio, a hipótese arrolada estiver correta, não é menos verdadeiro que as instituições republicanas e democráticas brasileiras, para além de qualquer desconfiança sobre sua capacidade de resistência, já se mostravam fortalecidas o suficiente, com freios e contrapesos ao longo do quadriênio 2018-2022, para absorver punhaladas tentativamente fatais, a ponto de liquefazerem meta e douração de golpe, deixando escapar apenas espaço para protestos civis anômicos. Elas têm tudo – espera-se – para prosseguir assim.

Ao gravetar a vaidade dos paradoxos, a mencionada conjetura, embora costure tese empiricamente indefensável, mas não desprovida de sentido, professa pressupostos impagáveis: com um olho aberto, outro fechado, concede às instituições republicanas e democráticas beneplácito importante, o da minoração da dúvida sobre sua potência de autopreservação. Amputada de contexto, a lógica, por certo, pouparia lúmen tanto à hipótese quanto ao procedimento para delineá-la. Não raras vezes, o caráter indefensável de uma tese para alguns é, porém, o que, ao ver de outros, não se sustenta de nenhuma forma.

Quanto aos aspectos reportados, remanesce por ser feito, na área política, um cotejo mais profundo entre o terror brasileiro e o terror norte-americano, ocorrido dois anos e dois dias antes. No todo, a avocação bolsonarista do atentado ao Capitólio nos Estados Unidos, em 06 de janeiro de 2021, colocou a extrema direita brasileira mal com a história, com diversos estratos sociais e com a comunidade internacional. Dois motivos são fortes: plágio e ridículo.

Em ângulo inverso, essa iniciativa de repeteco configurou exemplo exuberante de como a barbarização bolsonarista contribuiu para que as vertentes de esquerda em torno do Partido dos Trabalhadores (PT) e de sua ampla frente democrática se vinculassem (mesmo que temporariamente) a “agenda positiva” na visibilidade multimediática corporativa e conservadora, ligada a amplo consumo diuturno.

Ressentimento neofascista e comportamento de massa

 

A rota da reflexão abarca ainda notas livres sobre a horda à luz do comportamento de massa devastador.

Não pertence às regras da sensatez crer que, entre os criminosos, havia (ou há) quem pudesse (ou possa) alegar, com veracidade, que se encontrava in loco por desaviso; ou, ao inverso e in extenso, quem, no meio da horda (nos acampamentos, na frota de ônibus, nas proximidades dos prédios invadidos etc.), descurava a ciência de que as ações poderiam culminar em prisão em flagrante, inquérito policial (por vários crimes), denúncia pelo Ministério Público Federal (MPF) abertura de processo judicial e condenação, com ou sem encarceramento. Ambas as suposições abusam da inteligência mais mediana.

O Brasil dispõe, desde 2016, de regras legais – cuidadosas, mas limitadas – de combate ao terror.10Com dorsos aquecidos por abraços de conforto afluente, os criminosos, cúmplices também de crença, apostaram em redenção mundana a posteriori, pela justiça comum, à sombra da impunidade. Não por acaso, atuaram, do início ao fim, com comportamento aniquilador típico de condições inóspitas de massa: como se não houvesse amanhã – ou seja, terror (neste caso, sob cálculo, em “represália” vazia e sem medo).

[Semanas depois da prisão em flagrante de mais de 2 mil vândalos para audiência de custódia pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJ-DFT) e pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), centenas deles foram incriminados e mantidos presos.11 A gravidade da situação cavou choque de realidade na extrema direita. Os depredadores/saqueadores descobriram a roda: os limites da tolerância institucional e penal possível. Ao mesmo tempo, a democracia foi posta diante de um estranho espelho compulsório por seus mais truculentos opositores – uma condição que jamais se configura como teste, mas eterna chance de reafirmação de princípios: enquanto os casos individuais estiverem em análise judicial e policial, os valores democráticos estagiarão entre, por um lado, o cinismo de clamores vitimistas da horda por direitos humanos (combatidos pela própria horda até o gás de pimenta arder seus olhos ou até as grades chegarem) e, por outro lado, a necessidade de punições exemplares por parte do Estado, no rastro de método ancestral para desanimar levantes similares.]

A compleição pragmática de repulsa e violência a priori – antes de qualquer diálogo – apenas escoa, em ápice de sarcasmos exasperados, a natureza política, social e moral da extrema direita bolsonarista. Traduz e bem representa, nessa medida, a história agressiva da cepa, que remonta, na conformação de massa, às primeiras décadas europeias do século XX. Quando a rusticidade voluntária desse extremismo partidário exercita ressentimento em ruas e praças, em frente a QGs, nos parlamentos e em redes digitais, suas placas tectônicas arrastam regressões políticas as mais hediondas ou escabrosas: militarização de vínculos sociais, porões de tortura, sabotagens do capital monopolista e oligárquico, latifúndio pós-colonialista sustentado em trabalho escravo, garimpo invasor e predatório, deflorestação sem limite, intensificação do reacionarismo religioso e de sociopatias fóbicas, aplauso à matança policial indiscriminada, além de negacionismo científico e suas expressões patéticas, como a ignorância terraplanista e a grosseria antivacina.

Um adendo arremata o relato: independentemente da força política desse arrastão insidioso, o perfil comportamental apontado remete – lembre-se – ao infantilismo incorrigível não apenas de quem não tolera perder o poder, mas sobretudo de quem, magmas adentro do submundo político, reza com fervor pela reinstauração de regimes de exceção e, com isso, pela volta da violência como método de Estado contra adversários.

Por essa razão, o legado ético radical do horizonte jurídico de Nuremberg, a partir de 1945, com julgamentos e condenações de responsáveis hitleristas pelo Holocausto, justifica inteiramente, por experiência e auscultação desse submundo, o discurso da suspeita convicta em legítima autodefesa e autoproteção prévias contra agressões lesa-humanidade (efetivas ou potenciais). Interpretado sob liberdade fiel ao mesmo campo político, esse legado, intrépido, assevera o que o olvido se recusa a abandonar.

“Diante de derrotas – diz a herança –, nazifascistas, de qualquer corolário, mesmo cristão, não pranteia ou lacrimeja (sobretudo se for abastado, financiador de golpe, sob anonimato de pretensos bastidores); antes, cultiva raiva incontida, desejando que o ressentimento compartilhado se converta em força produtiva de sublevação imediata ou oportuna. Quem pranteia ou lacrimeja, dentro ou fora da prisão, amedrontado por revertério ou imprevisto indigesto, é o numerário útil da massa de manobra – nada ingênuo, nada inocente –, cuja crença fetichista num tiranete barra a consciência suficiente sobre a fervura do chão tocado com pés descalços. Guardião exemplar dos direitos humanos – continua o legado –, o ideal da impessoalidade civilizatória das instituições republicanas e democráticas, no entanto, jamais se compadece do cerne e da crosta de sabotagens terroristas: seus responsáveis vivem na pele ventos plúmbeos que regaram para aprendizado íngreme. Quem, dos defensores da democracia, exercita, com inoportunidade, compadecimento – por notável humanidade, mas sem calo expressivo –, esquece, quase sempre, o ímpeto de destruição com o qual, antes do pranto autoritário, o neofascista operou com o orgulho inveterado de quem não se importa com vidas alheias – e assim poderia destruir também a vida do compassivo. O medroso desolado, que pranteia sob escombros do mundo em sua cabeça, precisa compreender, com rapidez, que a necropolítica que escapa a seus olhos e que ele apoia apaixonadamente não ameaça apenas a democracia como estrutura dinâmica de governo e Estado, mas, no miúdo, a vida de seu parente ou vizinho; e talvez, por isso, este tenha se despedido mais cedo durante a pandemia, sob motejos presidenciais e ministeriais”.

A investigação histórica e jornalística tende a se surpreender caso o ressentimento fustigado pelo delírio do “comunismo imaginário” não açode o bolsonarismo (civil-empresarial, militar e miliciano) a novas atuações virulentas, coordenadas ou esparsas, paralelas a investidas eleitorais, para retomada de poderes, institucionais ou não; e a isso as instâncias republicanas e democráticas devem estar permanentemente atentas, na fiada que abrange desde órgãos judiciário-administrativos (com efeitos imediatos e diferidos) até setores públicos e privados de investimento (de longo prazo) na educação para a democracia e para os direitos humanos vis-à-vis contra autoritarismos de quaisquer cepas.

Notas


1. Visada de Riobaldo sobre tropa de jagunços perigosos, em Grande sertão: veredas (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 19. ed., 2001), p. 133.

2. Trecho de “Ânsia de destruição”, item do primeiro capítulo de Massa e poder (Companhia das Letras, 2019), p. 17.

3. Entre contextualização histórica e tratamento conceitual estrito, a perspectiva de Baudrillard a respeito, diversificada ao longo do último quarto do século XX, foi expressa em L’échange symbolique et la mort (Paris: Gallimard, 1976), Les stratégies fatales (Paris: B. Grasset, 1983), Power Inferno (Paris: Galilée, 2002), L’esprit du terrorisme (Paris: Galilée, 2002) e no artigo que, com título idêntico, culminou neste último livro (Le Monde, 03 nov. 2001, disponível em https://www.lemonde.fr/disparitions/article/2007/03/06/l-esprit-du-terrorisme-par-jean-baudrillard_879920_3382.html).

4. O termo é tributário da reflexão de Fredric Jameson sobre a configuração pós-moderna da cultura contemporânea, em Pós-modernismo: ou a lógica cultural do capitalismo tardio (Ática, 1997, p. 52-54), que repercute artigo anterior do teórico literário norte-americano, “Pós-modernidade e sociedade de consumo” (Novos Estudos CEBRAP, n. 12, jun. 1985, p. 16-26). Com base nas conclusões de Lacan sobre a esquizofrenia, Jameson foi um dos primeiros a notar a emergência histórica recente de um “presente perpétuo” (ou eterno) na vida cotidiana. Na realidade, esse presenteísmo está mais arraigado na cultura veloz das metrópoles e na percepção fragmentária do tempo do que se imagina. Para cotejo com vertentes diversas, vejam-se A conquista do presente, de Michel Maffesoli (Rio de Janeiro: Rocco, 1984), e El tiempo em ruinas, de Marc Augé (Barcelona: Gedisa, 2003, p. 81, 90, 108).

5. Os dados resultam de pesquisa de opinião realizada pela Atlas Intel e estão disponíveis em https://www.cnnbrasil.com.br/politica/atlasintel-para-38-ataques-no-df-se-justificam-em-algum-nivel.

6. Um aglomerado glocal, frise-se – nem local, nem global, antes na, com a e/ou a partir da miríade de pontos físico-corporais inextricavelmente entrelaçados a redes comunicacionais em tempo real (de massa, interativas e híbridas). Veja-se, do autor, A dromocracia cibercultural (Paulus, 2007), Glocal e A condição glocal (Annablume, 2012 e 2017, respectivamente).

7. Os percentuais justapõem sondagens feitas por dois institutos de pesquisa, Atlas Intel e Datafolha. Os resultados estão em https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/01/datafolha-93-condenam-ataques-golpistas-e-maioria-defende-prisoes.shtml. Uma ambiência noticiosa pode ser encontrada em

https://www.brasildefato.com.br/2023/01/12/datafolha-93-rejeitam-destruicao-golpista-em-brasilia-55-veem-reponsabilidade-de-bolsonaro e na matéria citada na nota anterior.

8. A expressão comparece no elegante (e já epigrafado) Massa e poder (São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 15-19), com a diferença de o sentido original do autor búlgaro-britânico contemplar mais (embora não exclusivamente) a descarga repentina e não planejada.

9. Mais detalhes em https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2023/02/flavio-dino-diz-que-havia-atos-preparatorios-para-a-execucao-de-um-tiro-no-dia-da-posse-de-lula.ghtml.

10. A íntegra da Lei Antiterrorismo (n. 13.260, de 16/03/2016) está em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13260.htm.

11. Síntese informativa e atualizada em https://www.cartacapital.com.br/justica/a-quantidade-de-golpistas-ainda-presos-pelos-atos-do-8-de-janeiro-segundo-o-stf.

07
Abr23

Crueldade de ataque a creche em Blumenau caracteriza violência na sociedade atual

Talis Andrade
 
Família faz oração durante homenagem às vítimas do ataque na creche Cantinho do Bom Pastor em Blumenau, Santa Catarina, em 5 de abril de 2023.
Família faz oração durante homenagem às vítimas do ataque na creche Cantinho do Bom Pastor em Blumenau, Santa Catarina, em 5 de abril de 2023. REUTERS - STRINGER

O ataque a uma creche na cidade de Blumenau, em Santa Catarina, que matou quatro crianças com idades entre 3 e 7 anos, é o décimo a uma instituição educacional no Brasil nos últimos oito meses, acendendo o alerta sobre a recorrência destes casos no país. Para especialista, a crueldade do crime caracteriza a violência na sociedade atual.

Em países como os Estados Unidos, há tempos os estabelecimentos escolares se tornaram alvos de ataques armados. Desde os anos 1970, os norte-americanos registraram mais de 2000 tiroteios em escolas, muitas vezes executados pelos próprios alunos ou ex-alunos.

Ainda que menos comuns, as escolas europeias também foram palco de agressões. O último caso na França foi a de uma professora de espanhol, apunhalada diante da classe por um de seus alunos, de 16 anos, em uma escola em Saint-Jean-de-Luz, no sul do país.

Os estabelecimentos escolares são símbolos fortes e importantes para os agressores, pois simbolizam o Estado e suas instituições. O ambiente escolar também pode ser sinônimo de maus-tratos para vítimas de bullying.

O Brasil, que parecia até agora poupado deste tipo de violência, começa a temer a “importação” deste modelo de violência. O drama de Santa Catarina aconteceu apenas algumas semanas após uma professora ser assassinada a facadas por um aluno de 13 anos dentro de uma escola, em São Paulo.  

Segundo o sociólogo César Barreira, fundador do Observatório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará, o problema ainda não pode ser considerado como fenômeno comum, mas começa a gerar preocupações.

Para ele, o caso da creche do Bom Pastor, em Blumenau, traz dois aspectos que chamam a atenção e caracterizam a violência na sociedade atual: a crueldade e o fato de ser uma violência difusa, podendo atingir a todos.

Crimes cruéis

“O primeiro é a questão da crueldade, que não é uma categoria sociológica, mas que é uma característica muito forte nessas ações de violência”, diz. “É como se a gente tivesse uma exacerbação da violência. Ela é exacerbada e passa a haver ações de crueldade ou crimes de crueldade que fogem praticamente de uma explicação social. A gente quase não consegue entender porque é que determinadas ações ocorrem”, analisa.

Ele cita como exemplo assassinatos durante assaltos, em que a vítima já entregou os bens. “Esse ataque agora é muito carregado disso, de crueldade. São ações que não têm muita explicação social”, diz.

Para Barreira, a arma usada no ataque, a machadinha, ainda que menos letal que uma arma de fogo como as utilizadas em matanças nos Estados Unidos, é um símbolo desta crueldade.

“A gente observa a sociedade como se fosse uma sequência – ainda que ela não seja assim tão lógica. Você tem conflitos sociais, estes conflitos sociais se exacerbam e tornam-se violência. A violência agora se exacerba e se torna crueldade”, explica.  Além disso, ele lembra que essa violência contra crianças é “moralmente negada”, já que os menores pertencem a uma categoria “que deve ser protegida”.  

 

Uma pessoa se recolhe diante do memorial em homenagem às vítimas do massacre na escola Robb de Uvalde, no Texas, em 26 de maio de 2022.
Uma pessoa se recolhe diante do memorial em homenagem às vítimas do massacre na escola Robb de Uvalde, no Texas, em 26 de maio de 2022. AP - Kin Man Hui

 

Violência difusa

Outra característica apontada pelo sociólogo no caso é a “violência difusa” que existe na sociedade contemporânea. Ela se manifesta através da sensação de que todas as pessoas são passíveis de serem vítimas. “Você não tem mais aqueles ‘lugares sagrados’. Nós tínhamos a casa, a escola – que é um bom exemplo disso –, a igreja. Esses lugares deixaram de ser ‘sagrados’, de serem seguros”, diz.

Mas, apesar da existência deste tipo de violência, ele lembra que as pessoas que mais sofrem agressões e crimes no Brasil continuam sendo negros, jovens e pobres. Além disso, as mortes em massacres e chacinas são comuns no país.

“Os massacres, que são caracterizados quando há assassinato de mais de três pessoas, às vezes da mesma família, são cometidos contra pessoas normalmente pobres e moradores de favela e colocados nessa vala comum do tráfico de drogas. Aí já não se busca entender porque houve mortes”, salienta. “As pessoas só vão se preocupar, e isso é outra característica da violência, quando a violência lhes atinge”, diz.

O especialista também não descarta o “bolsonarismo” como um elemento “impulsionador”. “Essa questão do ódio e de que todo mundo deve andar armado, todo mundo sabe que circulação de arma, principalmente a arma de fogo, propicia mais violência”, diz.

“O ódio é uma palavra muito forte. Na sociologia a gente não gosta muito de usar. Primeiro porque é quase indefinível, mas nós, estudiosos dessa temática de violência, nos deparamos com essa questão do ódio”, reconhece.

Redes sociais e crueldade

No caso específico do que aconteceu em Santa Catarina, ele aponta também para o aspecto do uso das redes sociais, que criam a possibilidade deste tipo de fenômeno existir.  “As redes sociais, nós sabemos, propiciam essa discussão do ódio, da vingança”, diz.

Em seus trabalhos ele comprovou, além do ódio, a circulação de discursos de crueldade nas plataformas.  “A pessoa tem que ser presa, mas depois de ser presa, essa pessoa tem que ser torturada. Aí essa pessoa tem que ser morta, em uma sequência de violência”, analisa.

Barreira diz que concorda com a decisão de alguns veículos de comunicação de não publicar o nome, fotos, vídeos do autor do ataque, que poderia influenciar novos atos de violência. “Eu acho que essa discussão é muito interessante, porque às vezes existe uma certa irresponsabilidade na divulgação de como ocorreu, com muitos detalhes. Nós sabemos que alguns casos as pessoas terminam imitando, isso é fato”, afirma.

Alguns países, como o Canadá, não informam a identidade de suspeitos e detalhes de atos de terrorismo. A ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, também anunciou, em 2019, que não diria o nome do atirador que matou 50 pessoas em duas mesquitas em Christchurch para não fazer publicidade da ação do terrorista. 

ANAUÊ! O INTEGRALISMO E O NAZISMO NA REGIÃO DE BLUMENAU

Com depoimentos de acadêmicos e descendentes de alemães da região de Blumenau, o documentário revisita o que aconteceu no período da Segunda Guerra Mundial àquela sociedade: o envolvimento ideológico com o nazismo e integralismo; as informações que tinham sobre o holocausto; como foi tratada esta sociedade pela “nacionalização” e a relação que havia entre alemães e brasileiros natos. Direção e roteiro de Zeca Pires

07
Abr23

Neonazismo explodiu no Brasil com Bolsonaro

Talis Andrade
www.brasil247.com -

 

Brasil encontrou em Jair Bolsonaro um sintetizador do ódio, divulgador em larga escala do sentimento que esteve presente no âmago de uma parte da população

 

por Aquiles Lins

O massacre realizado em Blumenau nessa quarta-feira (5), onde um homem de 25 anos invadiu uma creche e assassinou quatro crianças entre quatro e sete anos, e deixou outras quatro feridas, é um reflexo da estimulação do ódio promovida durante os últimos quatro anos, sob o governo de Jair Bolsonaro. 

O Brasil é hoje o país no mundo onde mais cresce o número de grupos identificados com ideologias de extrema direita como fascismo e nazismo. O número de células neonazistas se multiplicou no país: passou de 72 em 2015 para 1.117 em 2022. A maioria está concentrada nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, segundo monitoramento feito pela antropóloga Adriana Dias, doutora pela Unicamp e uma das maiores pesquisadoras sobre o tema no Brasil. 

Na primeira metade do século XX, o Brasil foi sede da maior filial do partido nazista fora da Alemanha, com 3.000 membros. Isso explica em parte o aumento das manifestações de ódio no Brasil, um país miscigenado por excelência onde pequenos grupos que espalham tentam emular uma superioridade racial e muitas de gênero. O nazismo é punido no país com base na Lei de Crimes Raciais, e a pena pode chegar a cinco anos de prisão. 

Obviamente não podemos descartar o crescimento das manifestações de ódio com o cenário internacional. Em vários países do mundo, como Estados Unidos, Alemanha, Hungria, Polônia, Ucrânia e vários outros países da União Europeia registram grupos de extrema-direita. No Brasil, que, desde sua constituição enquanto território pela Europa, é palco de exploração baseada na raça, encontrou em Jair Bolsonaro um sintetizador do ódio, um divulgador em larga escala de um sentimento que esteve presente no âmago de uma parte da população. 

O crescimento da extrema-direita não é passageiro. Apesar de necessário, o reforço no patrulhamento escolar anunciado pelo governo Lula é uma medida paliativa, que não surte efeitos estruturais no combate à disseminação do ódio e do neonazismo bolsonarista. 

O combate deve envolver diversos setores do governo federal, de estados, municípios, plataformas de redes digitais e organizações da sociedade civil. Inclusive o capital financeiro. Enquanto este segmento, inclusive, seguir flertando com fascismo, a luta no Brasil será cada vez mais árdua, com muitas mortes a mais. 

aroeira nazista bolsonaro.jpeg

06
Abr23

MPF pede que Polícia Federal também investigue jovem que comemorou aniversário com suástica nazista em bolo

Talis Andrade
 
Jovem é investigado por colocar suástica nazista em bolo de aniversário |  Metrópoles
 
Polícia investiga jovem que usou foto de Hitler em bolo de aniversário em  Pelotas | Rio Grande do Sul | G1
 
Bolo de aniversário com gosto amargo... - Israel nas Notícias | Facebook
 
 
Bolos sobram pelas mesas da nobreza do Sul 
 
 

Órgão também indicou medidas cautelares para outros perfis que republicaram postagens com o objetivo de divulgar o nazismo

 

O jornalista Joaquim de Carvalho escreve reportagem com a denúncia da ex-ministra dos Direitos Humanos Ideli Salvatti, que foi senadora por Santa Catarina, de que alunos de um câmpus do Instituto Federal de Ensino se fotografaram em posição que, no conjunto, formava a suástica.

Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul com autoridades da extrema direita, células nazistas, clubes de tiro, escolas cívico-militares passaram da política para as páginas políciais com esperadas chacinas planejadas por estudantes psicopatas em escolas e de policiais serial killers nas favelas, que fatalmente concentram a população negra de cada cidade do Sul do Brasil. 

Lula anuncia a investigação das células nazi-fascistas, uma varredura que passa por delegacias e quartéis que foram acampamentos de golpistas bolsonaristas, cuja ousadia terrorista invadiu e depredrou os palácios da Presidência da República do Brasil, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional. 

Essas investigações de chacinas, de propaganda do ódio, sempre existiram, e no governo Bolsonaro o abafa era escandaloso.

 

 Jovens durante comemoração de aniversário com bolo com símbolos nazistas — Foto: Arquivo Pessoal

Jovens durante comemoração de aniversário com bolo com símbolos nazistas — Foto: Arquivo Pessoal

O Ministério Público Federal (MPF) pediu à Polícia Federal (PF) que também investigue caso de um jovem de 18 anos que comemorou aniversário com suástica nazista em bolo, em Boa Vista. A Polícia Civil já investiga o caso.

Mais cedo, o jovem pediu desculpas pelo comportamento e afirmou ser praticante do budismo que tem como um de seus símbolos a Cruz Gamada e que é semelhante à suástica. 

No pedido, o órgão também indicou medidas cautelares para outros perfis que republicaram postagens com o objetivo de divulgar o nazismo.

Para o MPF a comemoração com o símbolo "pode configurar apologia ao nazismo, que é crime inafiançável e imprescritível segundo a legislação brasileira".

 

"O inquérito policial é sigiloso e detalhes sobre as investigações e pedidos feitos pelo MPF serão divulgados quando da conclusão dos trabalhos e anúncio das medidas cabíveis", detalhou.

 

O órgão tomou conhecimento do ocorrido após imagens da comemoração, postadas nas redes sociais pelos amigos e pelo próprio jovem, circularem em aplicativos de mensagens e notícias na imprensa local.

Além do MPF, o Ministério Público de Roraima (MPRR) também acompanha as investigações.

 

Bolo com suástica

 

O jovem é estudante de direito em uma universidade particular de Roraima. Nas imagens do aniversário, ele está acompanhado de outras seis pessoas e carrega o bolo com o símbolo nazista.

Em algumas publicações, as felicitações ao estudante foram acompanhadas de frases que faziam comparações a Adolf Hitler. Em uma delas, uma pessoa diz que o jovem "não é Hitler mas merece conquistar o mundo".

A apologia do nazismo usando símbolos nazistas, distribuindo emblemas ou fazendo propaganda desse regime é crime previsto em lei no Brasil, com pena de reclusão.

Em nota, ele pediu desculpas por ele e pelos amigos e afirmou não ter tido intenção maldosa (leia a íntegra abaixo). "Primeiramente, quero pedir sinceras desculpas pelo meu comportamento e de meus amigos acerca do episódio do meu aniversário. Reforço que em nenhum instante tivemos a intenção de sermos maldosos e nos arrependemos muito por

ter nos deixado levar pelo momento", afirmou.

Além disso, o jovem explicou que é praticante do Budismo, que tem como um de seus símbolos a Cruz Gamada e que é semelhante à suástica.

 

"Por esta razão, o tema foi utilizado de forma errônea. Na emoção do momento da surpresa para mim, não tive reação para pensar o quão grave era esta atitude e por isso, mais uma vez, pedimos desculpas pela atitude de mau gosto", ressaltou ele.

 

Frase faz comparação a atuação de hitler.  — Foto: Arquivo pessoal

Frase faz comparação a atuação de hitler. — Foto: Arquivo pessoal

 

A apologia do nazismo usando símbolos nazistas, distribuindo emblemas ou fazendo propaganda desse regime é crime previsto em lei no Brasil,com pena de reclusão.

SAIBA MAIS

A instituição onde o jovem estuda informou que repudia qualquer "manifestação que faça referência ao nazismo, uma das piores passagens da história da humanidade, e que jamais pode ser utilizada como forma de pensamento, referência ou argumento de qualquer cidadão em nosso país".

 

Apologia do nazismo

 

A apologia do nazismo se enquadra na Lei 7.716/1989, segundo a qual é crime:

 

  • Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa – ou reclusão de dois a cinco anos e multa se o crime foi cometido em publicações ou meios de comunicação social.
  • Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.

 

A lei é respaldada pela própria Constituição, que classifica o racismo como crime inafiançável e imprescritível. Isso significa que o racismo pode ser julgado e sentenciado a qualquer momento, não importando quanto tempo já se passou desde a conduta.

 

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