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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

14
Jan23

VEJA QUEM SÃO OS 46 DEPUTADOS FEDERAIS QUE DEFENDERAM OU MINIMIZARAM O TERRORISMO EM BRASÍLIA

Talis Andrade
FAÇA PARTE  Ilustração: The Intercept Brasil

 

Conheça os nomes e os rostos dos parlamentares favoráveis aos atos golpistas de domingo ou à impunidade dos terroristas.

 

UM LEVANTAMENTO feito pelo Intercept identificou 46 deputados federais eleitos em 2022 que defenderam, incentivaram ou ao menos tentaram justificar de alguma forma os ataques terroristas do último domingo. Dez deles apoiaram abertamente os golpistas, como se eles se manifestassem por causas legítimas; 24 procuraram disfarçar o apoio, minimizando os protestos, desviando o foco das acusações ou culpando “infiltrados de esquerda”; e outros 12 foram contrários às prisões dos terroristas, chegando a alegar a ocorrência de violações – não comprovadas – de direitos humanos.

UM LEVANTAMENTO feito pelo Intercept identificou 46 deputados federais eleitos em 2022 que defenderam, incentivaram ou ao menos tentaram justificar de alguma forma os ataques terroristas do último domingo. Dez deles apoiaram abertamente os golpistas, como se eles se manifestassem por causas legítimas; 24 procuraram disfarçar o apoio, minimizando os protestos, desviando o foco das acusações ou culpando “infiltrados de esquerda”; e outros 12 foram contrários às prisões dos terroristas, chegando a alegar a ocorrência de violações – não comprovadas – de direitos humanos.

A lista poderia ser bem maior, pois vários parlamentares endossaram um tuíte de Jair Bolsonaro relativizando os atos. Destacamos, no entanto, apenas os casos mais expressivos, como os deputados que, mesmo tendo repudiado os atos oficialmente, divulgaram mensagens que colocam em dúvida se o repúdio foi genuíno.

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Gráfico: The Intercept Brasil

 

Independentemente da estratégia utilizada no momento de se pronunciarem publicamente sobre o terrorismo, todos os deputados citados deixaram de lado a defesa irrestrita da democracia. Boa parte dos parlamentares bolsonaristas que criticaram os atos de domingo só o fizeram por causa do vandalismo e da violência. No entanto, mesmo que o protesto tivesse sido pacífico, ainda seria antidemocrático, assim como eram os acampamentos na frente dos quartéis. Afinal, a motivação dos golpistas sempre foi contrariar o resultado de uma eleição e impor sua vontade contra a da maioria dos brasileiros.

Entre os defensores do terrorismo, está o deputado Sargento Gonçalves, do PL do Rio Grande do Norte. Em um vídeo publicado em suas redes sociais, ele mandou uma mensagem para os “policiais militares de todo o Brasil, em especial aos policiais integrantes das forças de segurança pública do Distrito Federal”, pedindo que eles tivessem “muita sabedoria e serenidade, muita cautela na hora de agir contra os cidadãos que invadiram o Congresso Nacional”. O deputado que incentiva os policiais a serem coniventes com a depredação dos prédios públicos dos Três Poderes defendeu que os invasores “não são bandidos”. O Sargento Gonçalves também postou um vídeo do momento em que a multidão invadia o Congresso Nacional e escreveu na legenda que “todo poder emana do povo”.

Gráfico: The Intercept Brasil

 

Outro defensor dos atos golpistas foi o cearense André Fernandes, do PL. Pouco antes da meia-noite de sábado para domingo, ele postou no Twitter que ia acontecer, na Praça dos Três Poderes, “o primeiro ato contra o governo Lula” e avisou que estaria lá. Depois, publicou uma foto da porta do gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que foi arrancada pelos terroristas, e escreveu na legenda: “quem rir vai preso”. Após a má repercussão, o deputado negou que estivesse no protesto e excluiu as postagens.

Quem também está no grupo dos defensores é a deputada bolsonarista Silvia Waiãpi, do PL do Amapá. Ela publicou ao menos três vídeos mostrando os golpistas em ação. Um deles é do momento em que um policial da cavalaria é derrubado e seu cavalo é ferido com barras de ferro.

Outros deputados federais que defenderam abertamente o terrorismo de domingo foram o monarquista Luiz Philippe de Orleans e Bragança e o delegado Paulo Bilynskyj, ambos do PL de São Paulo. De Pernambuco, temos a deputada Clarissa Tércio, do PP, e o Coronel Meira, do PL. Bia Kicis e José Medeiros, respectivamente do PL do Distrito Federal e do Mato Grosso, também estão na lista, assim como Ricardo Barros, ex-ministro da Saúde de Michel Temer e ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara, do PP do Paraná. Em uma entrevista para a CNN, Barros apoiou a ação dos terroristas. “As pessoas estão aí de cara limpa, não estão encapuzadas. Por que isso? Porque elas acham que a eleição foi roubada”, disse.

Muitos deputados federais publicaram notas de repúdio contra os protestos violentos, mas várias de suas postagens nas redes sociais revelam que eles são, na verdade, simpatizantes disfarçados do terrorismo. Eduardo Bolsonaro, por exemplo, postou no Instagram o print de um tuíte do pai. O ex-presidente Jair Bolsonaro, que fugiu para os Estados Unidos às vésperas da posse de Lula, criticou as “depredações e invasões de prédios públicos”, comparando manifestações legítimas da esquerda com os atos golpistas de domingo. A postagem também foi reproduzida por vários deputados bolsonaristas.

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Gráfico: The Intercept Brasil

 

Dos 24 simpatizantes disfarçados, 17 são do PL, partido que falhou em reeleger Bolsonaro em outubro. Um desses parlamentares é o mineiro Nikolas Ferreira, deputado mais votado do Brasil. Os demais são do PSDB, Novo, MDB, União Brasil, PP, Avante e Republicanos. Entre eles, estão os que culparam o Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes ou o próprio Congresso pelos atos violentos. Um exemplo de apoio disfarçado é o do deputado federal Vicentinho Júnior, do PP de Tocantins. Ele gravou um vídeo se colocando contra as depredações, mas afirmou: “Não posso dizer aqui que não é de direito do cidadão reivindicar o seu direito à transparência, à lisura de um processo eleitoral”. Em seguida, diz que o código fonte das urnas devia ter sido aberto – embora o TSE afirme que abriu o código por um ano e que ele foi inspecionado pelas Forças Armadas.

O levantamento identificou também 12 deputados federais que defendem impunidade para terroristas e quem atenta contra a democracia, principalmente os que estavam acampados no Quartel-General do Exército em Brasília e foram levados para a Academia Nacional da Polícia Federal. Eles alegam que os direitos humanos dessas pessoas estão sendo desrespeitados e chegam ao cúmulo de comparar o local para onde elas foram conduzidas a “campos de concentração” nazistas.

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Gráfico: The Intercept Brasil

 

O deputado Osmar Terra, do MDB do Rio Grande do Sul, chegou a divulgar a falsa informação de que uma idosa havia morrido. Terra é ex-ministro do Desenvolvimento Social de Temer e ex-ministro da Cidadania de Bolsonaro. Já o deputado Carlos Jordy, do PL do Rio de Janeiro, acusou o presidente Lula, o ministro da Justiça Flávio Dino e o “Xerife” – apelido que bolsonaristas deram a Alexandre de Moraes – de “abuso de autoridade”.

A Polícia Militar do Distrito Federal conduziu mais de 1,5 mil pessoas suspeitas de envolvimento no terrorismo protagonizado por bolsonaristas no último domingo. De acordo com a Polícia Federal, todos os detidos receberam “alimentação regular (café da manhã, almoço, lanche e jantar), hidratação e atendimento médico quando necessário”. Várias entidades, como a Ordem dos Advogados do Brasil, acompanham os procedimentos.

 

 

Ataques terroristas em Brasília têm culpados de sobra, mas são obra militar

Rafael Moro Martins
 

Como os intervencionistas criaram o ‘mito’ Bolsonaro e depois pularam do barco

Amanda Audi
 

Igrejas conservadoras serão incubadoras da extrema direita se governo não mudar forma de lidar com elas

Ronilso Pacheco

 

Após os trâmites realizados pela Polícia Federal, os presos foram apresentados à Polícia Civil e encaminhados ao Instituto Médico Legal. Segundo balanço divulgado na tarde de terça-feira, dia 10, 527 pessoas foram presas e 599 foram liberadas por questões humanitárias, “em geral idosos, pessoas com problemas de saúde, em situação de rua e mães acompanhadas de crianças”.

Ainda na tarde de terça, políticos do PSOL pediram ao ministro Alexandre de Moraes a inclusão de 11 parlamentares no inquérito do STF que investiga os atos antidemocráticos. Seis deputados federais denunciados estão no levantamento feito pelo Intercept – André Fernandes, Ricardo Barros, Carlos Jordy, Silvia Waiãpi, Clarissa Tércio e José Medeiros. Os demais são o senador Magno Malta, do PL do Espírito Santos, e os deputados estaduais Júnior Tércio, do PP de Pernambuco, e Sargento Rodrigues, Coronel Tadeu e Ana Campagnolo, respectivamente do PL de Minas Gerais, de São Paulo e de Santa Catarina. Todos são acusados de estimular o golpismo e o terrorismo nas redes sociais.

Quem foi além e chegou a marcar presença nos atos terroristas foi a suplente de deputado federal Pâmela Bório, do PSC da Paraíba. Imagens divulgadas no seu próprio Instagram, depois apagadas, mostram que ela subiu no telhado do Congresso. A ex-esposa do ex-governador Ricardo Coutinho, do PT, aparece nos vídeos acompanhada do filho, que é menor de idade.

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Mapa: The Intercept Brasil

 

Segundo João Paulo Martinelli, advogado e doutor em Direito pela USP, os parlamentares que estimularam abertamente a participação em atos terroristas podem ser responsabilizados, mas o processo até a punição é longo. “Em âmbito criminal, o uso da violência ou grave ameaça com intuito de abolir o estado democrático de direito e depor o governo legitimamente constituído é considerado crime contra as instituições democráticas, previsto no artigo 359 do Código Penal. Já o artigo 287 trata da apologia ao crime ou ao criminoso”, explicou o jurista. Nesse caso, a denúncia teria que ser oferecida ao STF pelo procurador-geral da República, o bolsonarista Augusto Aras.

Já na esfera administrativa, a denúncia pode se dar por quebra de decoro parlamentar, ou seja, pelo comportamento inadequado de um deputado. Qualquer cidadão tem o direito de fazer uma denúncia ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, desde que um partido político assine a representação. Depois disso, há um trâmite interno que pode culminar na votação em plenário pela cassação do parlamentar. Para isso, é preciso que ao menos 257 deputados votem pela perda do mandato.

Na quarta-feira, dia 11, a Procuradoria-Geral da República solicitou ao STF a abertura de inquérito contra os deputados federais Clarissa Tércio, André Fernandes e Silvia Waiãpi, devido às postagens feitas por eles nas redes sociais. No mesmo dia, advogados que fazem parte do Grupo Prerrogativas solicitaram ao ministro Alexandre de Moraes uma medida cautelar para impedir a posse dos deputados federais Carlos Jordy, Silvia Waiãpi, André Fernandes e Nikolas Ferreira, prevista para 1º de fevereiro. O pedido se estende aos deputados estaduais Sargento Rodrigues, do PL de Minas Gerais, e Walber Virgolino, do PL da Paraíba. O documento pede, ainda, a instauração de inquérito policial para apurar a responsabilidade penal dos parlamentares.

 

ANTES QUE VOCÊ SAIA… Quando Jair Bolsonaro foi eleito, sabíamos que seria preciso ampliar nossa cobertura, fazer reportagens ainda mais contundentes e financiar investigações mais profundas. Essa foi a missão que abraçamos com o objetivo de enfrentar esse período marcado por constantes ameaças à liberdade de imprensa e à democracia. Para isso, fizemos um chamado aos nossos leitores e a resposta foi imediata. Se você acompanha a cobertura do TIB, sabe o que conseguimos publicar graças à incrível generosidade de mais de 11 mil apoiadores. Sem a ajuda deles não teríamos investigado o governo ou exposto a corrupção do judiciário. Quantas práticas ilegais, injustas e violentas permaneceriam ocultas sem o trabalho dos nossos jornalistas? Este é um agradecimento à comunidade do Intercept Brasil e um convite para que você se junte a ela hoje. Seu apoio é muito importante neste momento crítico. Nós precisamos fazer ainda mais e prometemos não te decepcionar.Faça parte do TIB 
 
07
Out21

Bolsonaro "vai perder" as eleições e "deixará o poder", diz Lula em entrevista para jornal francês

Talis Andrade

O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva é a manchete de página inteira do jornal Libération desta quinta-feira (7).

 

O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva estampa, em foto de página inteira, a capa do jornal Libération desta quinta-feira (7). O líder do PT deu uma entrevista exclusiva para o diário que destaca que, a um ano das eleições presidenciais no Brasil, Lula domina as pesquisas de intenção de voto.

"Bolsonaro vai perder", essa é a manchete de capa do jornal Libération, que dedica cinco páginas e seu editorial à pré-campanha eleitoral brasileira. Em uma longa entrevista à Chantal Rayes, correspondente do diário em São Paulo, Lula garante que mesmo que o atual presidente não queira deixar o poder, "o povo vai decidir de outra forma". 

O líder do PT diz ao Libération que ainda não é candidato, mas está refletindo e debatendo com outros partidos e organizações de esquerda uma aliança para governar o país a partir de 2023. Ele garante que, apesar das ameaças, tem confiança nas intituições brasileiras para que as eleições sejam realizadas. Outra certeza é de que Bolsonaro será derrotado e "responderá diante dos tribunais por seus atos arbitrários", diz o ex-presidente.

Questionado sobre o enfraquecimento da imagem do Brasil no exterior, Lula afirma que Bolsonaro jogou a diplomacia "no lixo", tornando o Brasil um pária internacional. "Ninguém quer recebê-lo ou ser recebido por ele", diz. O líder petista também declara não se arrepender de classificar o presidente de genocida, diante da gestão da epidemia de Covid-19 no Brasil, que deixou quase 600 mil mortos. 

Lula também falou de seus projetos, como a ideia de criar um salário universal "para todos os que foram expulsos do mercado do trabalho pela nova economia", do papel da comunidade internacional na preservação da Amazônia, sobre a qual afirma que o Brasil tem soberania, e da necessidade do debate sobre a regulação das mídias, que, lembra, não deve ser confundida com censura.

Como ex-presidente, durante dois mandatos, o líder petista acredita ter "uma responsabilidade infinitamente maior do que aqueles candidatos que nunca governaram". "O Brasil precisa, mais do que nunca, de um partido como o PT e de alguém que tenha sensibilidade social e conheça a alma do povo", destaca.

Em editorial, Libération escreve que "Bolsonaro se tornou tão perigoso para o país que os brasileiros parecem prontos a recorrer a um veterano que todos acreditavam estar aposentado". O jornal critica a falta de renovação no PT, mas afirma que é urgente levar os brasileiros a adotar um líder que o país merece. 

 
 
04
Out21

Os mil dias de Bolsonaro presidente. Não há o que comemorar

Talis Andrade

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por Ricardo Noblat

Celebrar o quê hoje? Se vivo fosse, os 100 anos que completaria Carlos Zéfiro, autor de livretos com desenhos eróticos chamados de catecismos e que marcaram o despertar sexual de adolescentes entre os anos 1940 e 1980? Ou os 1.000 dias de desgoverno de Jair Bolsonaro, o pior presidente da história do Brasil?

Zéfiro era do bem, como podem testemunhar os que desfrutaram de sua arte. Bolsonaro, do mal, como admitem 59% dos brasileiros ouvidos pela mais recente pesquisa Datafolha que disseram que de jeito nenhum votarão nele nas próximas eleições. Que Zéfiro descanse em paz! Que Bolsonaro não tenha descanso!

Foram 1.000 dias com pelo menos três crises por mês, segundo o jornal O Globo. No 48º dia, 30% dos entrevistados pelo Datafolha avaliaram que seu governo era péssimo ou ruim. Há 10 dias, eram 53%. A Câmara dos Deputados coleciona 132 pedidos de impeachment contra ele, e em breve receberá mais.

A cada 52 dias, um ministro foi demitido ou pediu demissão. Um deles, Ricardo Salles, cunhou a frase “passar a boiada” quando aconselhou Bolsonaro a aproveitar a pandemia para revogar leis de proteção ao meio ambiente. Sob a pressão do governo americano, Salles saiu do governo por meter-se com contrabando de madeira.

Outro, Abraham Weintraub, da Educação, referiu-se aos ministros do Supremo Tribunal Federal como “vagabundos” que deveriam ser presos. Perdeu o emprego, evadiu-se do país e ganhou como prêmio de consolação uma diretoria do Banco Mundial, em Washington, com direito a salário pago em dólar.

Em um ano de pandemia, o governo trocou quatro vezes de ministro da Saúde. O terceiro, o general Eduardo Pazuello, tornou-se famoso com a frase exemplar: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Seu sucessor, o médico Marcelo Queiroga, por dar o dedo em Nova Iorque e levar o vírus para as Nações Unidas.

Ao se eleger, Bolsonaro prometeu “destruir o sistema” para pôr outro em seu lugar. O sistema venceu e está à procura de um presidente para pôr no lugar dele. O que Bolsonaro conseguiu foi destruir o combate à corrupção e contribuir para a morte de quase 600 mil pessoas ao dar passe livre à Covid-19,

Nunca antes um presidente da República participou de manifestações de rua em que seus devotos cobrassem o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal – Bolsonaro estrelou duas delas, uma à porta do Quartel-General do Exército em Brasília, a outra no 7 de Setembro na Avenida Paulista.

Brigou com o presidente da França, chamando sua mulher de feia; deslocou tropas para a fronteira com a Venezuela, mas só um caminhão a atravessou; declarou seu apoio a candidatos a presidente derrotados na Argentina e nos Estados Unidos; insultou a China, o maior parceiro comercial do Brasil no mundo.

Onde já se viu um presidente ser incapaz de não conquistar o partido pelo qual se elegeu e simplesmente abandoná-lo? Anunciar a criação de um partido para chamar de seu e não conseguir? E a 12 meses da eleição, estar sem partido porque muitos querem vê-lo pelas costas? Mas isso é nada se comparado com seu legado.

O voto impresso foi para o lixo. A inflação, antes sob controle, disparou. O número de desempregados aumentou de 13,3 milhões para 14 milhões, e ele não tem uma só grande obra para mostrar. Viajará nesta semana à Bahia para inaugurar com pompa e muito barulho 10 quilômetros de uma estrada asfaltada.

Ganhou uma vizinha incômoda em Brasília – sua ex-mulher Ana Cristina do Valle, nitroglicerina pura, um arquivo vivo que o derrubaria se resolvesse falar. Bolsonaro está agora às voltas com três filhos zero investigados por corrupção. Agradeça a Deus porque o quarto zero ainda está em fase de testes.

De saúde, não vai bem. Imaginou que daria uma boa notícia ao país quando afirmou no último fim de semana que não haverá golpe. Só não haverá porque o Exército, que batizou de seu, não parece tão empolgado com a ideia de jogar fora das quatro linhas da Constituição em socorro a um presidente sem futuro.

Para este blog, não será surpresa se Bolsonaro, mais à frente, desistir de concorrer à reeleição. Está aí uma boa notícia que certamente seria comemorada.

03
Out21

"Fora Bolsonaro": imprensa europeia destaca atos a favor do impeachment do presidente brasileiro

Talis Andrade

 

O jornal francês Le Monde destaca que os protestos ocorreram em 84 cidades brasileiras, convocados por movimentos e partidos de esquerda, além de centrais sindicais. O diário ressalta que a principal reclamação é a gestão da epidemia de Covid-19, que deixou quase 600 mil mortos no Brasil. No entanto, os participantes dos atos também criticam o aumento nos preços dos alimentos, do gás e da gasolina, bem como a alta taxa de desemprego: mais de 14 milhões de pessoas estão sem trabalho no país. 

Le Monde também trata sobre a dificuldade do movimento de obter resultados concretos. "Mais de uma centena de petições que pedem o impeachment aguardam na Câmara dos Deputados, mas seu presidente, Arthur Lira, um aliado do governo, não dá sequência aos procedimentos. O Supremo Tribunal, por sinal, ordenou a abertura de várias investigações contra Jair Bolsonaro e seus familiares, especialmente pela disseminação de falsas informações", publica. 

O site da revista francesa Courrier Internacional lembra que esse é o sexto ato organizado contra o presidente desde maio, quando a oposição resolveu retornar às ruas depois de um ano de crise sanitária. A matéria lembra, no entanto, que essa foi a primeira vez que os organizadores contaram com o apoio da centro-direita e da direita, "com o objetivo de estender a frente de batalha para resistir os ataques de Bolsonaro contra as instituições democráticas e as urnas eletrônicas". 

 

"Uma figura odiosa"

Thom Philipps, o correspondente do jornal britânico The Guardian no Rio de Janeiro, acompanhou o ato na capital fluminense e conversou com os manifestantes, para quem Bolsonaro "é uma figura odiosa". A matéria lembra que pesquisas recentes mostram que 58% da população rejeita o presidente brasileiro.  

No entanto, com um apoio inveterado de 20% de sua base e o aval do centrão, um impeachment neste momento parece algo improvável para o jornal britânico. Para The Guardian, a única chance de tirar o Bolsonaro do cargo é através das próximas eleições, sobre as quais "sondagens mostram que ele perderia para qualquer adversário". 

Para o jornal português Público, a mobilização "Fora Bolsonaro" reforça a candidatura de Lula para as eleições de 2022, "que tem 45% das intenções de voto", ressalta a matéria. O diário dá destaque às manifestações "Fora Bolsonaro" organizadas por brasileiros que vivem em Portugal - as maiores ocorreram em Lisboa, Porto e Braga. 

 

04
Jan21

Relatos nas redes sociais afirmam que coro de Bolsonaro na Praia Grande foi encenação

Talis Andrade

Segundo internauta, maioria das pessoas que participou da aglomeração apareceu poucos minutos antes da chegada do presidente, e abandonou a praia logo após a sua partida

 

Por Victor Farinelli /Revista Forum

A manifestação a favor de Jair Bolsonaro e contra o João Doria na Praia Grande teria sido uma encenação? É o que dizem certos relatos que surgiram nas redes sociais neste domingo (3), alguns acompanhados de fotos e vídeos.

Durante alguns minutos, o presidente se banhou no mar da cidade do litoral paulista nesta sexta-feira (1º), em atividade que causou uma pequena aglomeração de centenas de pessoas, as quais fizeram coro a favor do mandatário e ofenderam o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

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No entanto, as redes sociais têm mostrado outra versão daquela cena. O primeiro indício partiu de uma internauta chamada Ester Nogueira. Ela assegura que “estava tudo normal, praia com algumas dezenas de pessoas na areia, outras tantas em quiosques, quando um movimento estranho se iniciou”.

Em seguida, Ester conta que “um número de homens foi chegando à orla, e entrando no mar, como a espera de algum acontecimento, do qual mais ninguém sabia. Após uns vinte minutos chega o falastrão, cheio de pompa, e dentre os seus ‘seguranças’, que foram os primeiros a descer da embarcação, começaram a puxar um coro sinistro, com palavras de baixo calão, para incendiar a turba. Após o teatro macabro, estes mesmos que haviam aparecido do nada, se dispersaram e a praia voltou ao seu normal”.

Também surgiram fotos e vídeos tomados desde edifícios próximos ao local onde a aglomeração aconteceu, mostrando que o movimento na praia não era tão favorável ao presidente como se via no vídeo da última sexta.

Em seguida, Ester conta que “um número de homens foi chegando à orla, e entrando no mar, como a espera de algum acontecimento, do qual mais ninguém sabia. Após uns vinte minutos chega o falastrão, cheio de pompa, e dentre os seus ‘seguranças’, que foram os primeiros a descer da embarcação, começaram a puxar um coro sinistro, com palavras de baixo calão, para incendiar a turba. Após o teatro macabro, estes mesmos que haviam aparecido do nada, se dispersaram e a praia voltou ao seu normal”.

Também surgiram fotos e vídeos tomados desde edifícios próximos ao local onde a aglomeração aconteceu, mostrando que o movimento na praia não era tão favorável ao presidente como se via no vídeo da última sexta.

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05
Dez20

Energia no Brasil depende das chuvas

Talis Andrade

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Bolsonaro, carreata em Macapá

 

O presidente Jair Bolsonaro visitou a capital do Estado do Amapá, Macapá, depois de 22 dias sem energia.

Visitou no dia em que geradores termoelétricos contratados para contornar as falhas no fornecimento começaram a funcionar parcialmente. Bolsonaro viajou acompanhado do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e do senador Davi Alcolumbre, e foi recebido com xingamentos e vaias da população em Macapá.

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Todo esse civilismo, porque Davi tem um irmão candidato a prefeito. O povo vota amanhã.

Ontem, segundo o diretor-geral da ANEEL foi a primeira vez que um presidente do Senado realizou a sustentação oral de um tema naquele órgão regulador.

A diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) aprovou, por unanimidade, a redução 4,12% no valor da tarifa da energia elétrica no Amapá para os próximos 12 meses. Leia mais. No Brasil todo, sobe.

Tanto que Bolsonaro pediu pro povo economizar energia elétrica:

—Eu tenho certeza que você, que está em casa agora, pode apagar uma luz agora. Evitar o desperdício. Tome banho um pouco mais rápido, que ajuda também a deixar os reservatórios mais altos. As chuvas do final de outubro, começo de novembro, não vieram — disse Bolsonaro.

— Foi o período mais seco dos últimos 90 anos — disse Bento Albuquerque.

Segundo informou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), responsável por monitorar o fornecimento de energia em todo o país, na terça-feira (1º), o nível dos reservatórios das principais hidrelétricas está entre os mais baixos da série histórica  (Reservatórios ameaçados de privatização). Na segunda-feira (30), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) retomou o sistema de bandeiras tarifárias, com acionamento da bandeira vermelha patamar dois, o mais caro. O presidente Jair Bolsonaro chegou a citar risco de novos apagões nas redes sociais.

De acordo com o ONS, os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste estão com 17,7% da capacidade, inferior aos 18,9% registrados em 2019. "Nos últimos anos, o país passou por uma escassez hídrica que não permitiu a total recuperação dos níveis dos reservatórios".

Neste momento, o armazenamento só está superior aos 15,8% verificados em 2014. No mês seguinte, em 19 de janeiro de 2015, o Brasil sofreu um apagão em 11 Estados devido a picos de consumo associados ao forte calor. 

Essa dependência das chuvas se deve à subserviência colonial, entreguista, quinta-coluna da Lava Jato.

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Angra 3: a obra mais enrolada do Brasil que levou Temer à prisão

angra3.jpgAngra 3 segue o padrão já conhecido para outras obras e negócios fechados na Lava-Jato 

 

por Carolina Riveira /Exame

A prisão do ex-presidente Michel Temer pela Lava-Jato do Rio, em 2019, devolveu os holofotes para uma obra que há 35 anos habita o noticiário nacional: a usina nuclear de Angra 3. A prisão, segundo o Ministério Público Federal, está relacionada a desvios de recursos nas intermináveis obras da usina.

As acusações mostram que Angra 3 segue o padrão já conhecido para outras obras e negócios fechados na Lava-Jato, com acusações de desvio de verbas capitaneadas por empreiteiras privadas e políticos. A Petrobras tem uma coleção delas: a questionável compra de 50% da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006, mesmo que as obras exigissem custos extras não previstos; a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, envolvendo desvios com a construtora Camargo Correa; ou ainda a obra do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), envolvendo as construtoras Odebrecht e UTC.

Angra 3, por sua vez, é gerida pela Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras. Iniciada em 1984, a obra até hoje é um elefante branco no cenário energético brasileiro. Sua primeira paralisação veio dois anos depois de iniciadas as obras. Mesmo antes da prisão de Temer, o empreendimento já havia entrado na mira da Lava-Jato em 2015, quando foi preso o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro.

A obra está paralisada desde então. Na ocasião, as investigações apontaram que Pinheiro teria recebido 4,5 milhões de reais em propina entre 2009 e 2014 por esquemas de corrupção relacionados à usina. Outro preso em 2015 foi José Antunes Sobrinho, dono da empresa de engenharia Engevix, uma das contratadas para construir Angra 3. A prisão de Temer é justamente fruto da delação premiada de Sobrinho.

Em sua delação, Sobrinho afirmou que fez pagamentos de propina ao que o MPF chama de “um grupo criminoso liderado por Temer”. Em resumo, o MPF aponta que as empresas contratadas para fazer um dos projetos de Angra 3 — a Argeplan, do Coronel Lima, ligado a Temer — não tinham expertise para tal. Por isso, subcontrataram a Engevix. Mas não de graça: segundo o MPF, o grupo de Temer solicitou à Engevix o pagamento de propina.

O dono da Engevix afirma que pagou 1 milhão de reais em propina a pedido do Coronel Lima e do ex-ministro Moreira Franco, com o conhecimento de Temer. A propina teria sido paga em 2014, depois do início da Lava-Jato.

Os valores pagos às empresas sem capacidade de realizar a obra — que superam 10 milhões de reais — também são vistos como desvio de recursos pelo MPF. A investigação apura crimes de corrupção, peculato e lavagem de dinheiro. A Engevix, tal qual outras construtoras envolvidas na Lava-Jato, prosperou sob o esquema de corrupção envolvendo o governo brasileiro.

Os esquemas de corrupção envolvendo a usina Angra 3 vão além. Também, em um outro caso, o Tribunal de Contas da União (TCU) proibiu as construtoras Queiroz Galvão, Empresa Brasileira de Engenharia, Techint Engenharia e Construção e UTC Engenharia de fechar contratos públicos devido a fraude em licitações de Angra 3. Para construir só com empresas estrangeiras. Os Estados Unidos são contra. 

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22
Out20

Bolsonaro é xingado

Talis Andrade

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Correio Braziliense - O presidente Jair Bolsonaro foi alvo de ofensas de uma motorista enquanto acenava para populares na Via Dutra, no Rio de Janeiro, na tarde deste sábado (17). Junto a policiais rodoviários federais, o chefe do Executivo passou quase 10 minutos na lateral da via.

12
Out20

Quem não está conosco ou não é como nós está contra nós?

Talis Andrade

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por Wilson Gomes/ Cult

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Nas primeiras semanas das minhas aulas de comunicação e política, ensino aos meus estudantes que, na ação e na comunicação estratégicas, há que se considerar sempre quatro categorias de destinatários de mensagens: “o nosso lado”, os aliados, o adversário (às vezes, inimigo) e os neutros. E que em hipótese alguma, na comunicação política, deve-se esquecer ou negligenciar as distinções entre os quatro grupos.

A construção do “nosso lado” é, certamente, importante. Primeiro, é preciso mobilizar as pessoas, e é fato que ninguém se envolve com um lado sem um combustível de indignação ética, um sentido de ultraje moral, um senso de urgência para mudar uma situação injusta. Em segundo lugar, as pessoas precisam admitir que é possível modificar a presente situação de decadência, injustiça, incompetência, corrupção. Sim, a gente pode fazer alguma diferença, as coisas estão ruins, mas isso não é imutável, podemos alterar essa história.

Por fim, há o essencial processo de definição deste “nós”, o sujeito desta história, normalmente construído em oposição a alguns “eles”, os adversários. Um antagonista é fundamental na narrativa política, uma vez que não dá para mobilizar as pessoas para que lutem contra meras abstrações como a epidemia, a fome, o caráter nacional, a pobreza ou a guerra; mas contra o grupo x ou a pessoa y, sim. 

O problema vem depois de estabelecido o “nós”. Os teóricos da propaganda ensinam que é preciso considerar que há pelos quatro tipos de interesse, sentimentos e prioridades políticas no campo, mas a ansiedade do ativismo manda simplificar tudo em dois: nós e eles. E aí começa a complicação. 

Na disputa política, “aliados” não são e nem precisam ser iguais a nós, em pensamento e caráter; são só pessoas ou grupos que partilham conscientemente conosco ao menos um objetivo, a derrota do nosso adversário. “Neutros” são tão somente pessoas que escolheram não lutar ou não escolher um lado, e que queremos ou como aliados ou que fiquem exatamente assim, neutros. 

Entretanto, neste momento, os gênios da militância política da esquerda, principalmente os petistas, convenceram-se de que na arena política há apenas “nós”, quer dizer, eles, que estão do lado de dentro do círculo, e os inimigos, do lado de fora. A equação é simples e se resume em duas proposições: 1) ninguém pode ser nosso aliado se não é exatamente igualzinho a nós; 2) não existem neutros, quem não está do nosso lado está contra nós, mesmo que não se considere inimigo e não nos tenha antipatia. Pois antipatia é coisa que pode ser providenciada.

A obra interminável de alienação de aliados e adversários, com que se gasta uma energia imensa na esquerda, serve a este propósito. E aí é um tal de “Tabata Amaral nunca foi de esquerda”, “Ciro foi do centro para Paris, e não veio em socorro quando mais precisávamos”, “Felipe Neto não tem Lula tatuado no braço”, “Reinaldo Azevedo inventou o termo ‘petralha'”, “Vera Magalhães pediu o impeachment”. Uma fileira de impugnações sem fim. Ora, se todas essas pessoas fossem petistas ou mesmo de esquerda, e se os petistas e a esquerda já tivessem votos suficientes para enfrentar a extrema-direita, o problema não existiria. O problema, contudo, existe, e ignorar que aliados e neutros, principalmente os mais influentes, são as peças-chaves na disputa política é de uma estupidez medonha. 

A este ponto do argumento, a pergunta surge, redonda, na cabeça de muita gente: Ora, estes que se dizem neutros e isentões, não podem ser boas pessoas considerando que estamos na deliciosa expressão de Sergio Moro, diante do monstro do pântano, não é?  Bem, como não se trada de uma história sentimental, mas de política, a resposta curta é que taticamente isso não é da sua conta. Estrategicamente, a razão de certas pessoas não estarem nem do nosso lado nem do lado do adversário é desimportante, considerando-se a premência de evitar que elas se bandeiem para o adversário.

Lembremo-nos que, em 2018, o oportunista Bolsonaro, com seus apenas 20 ou 30% de apoiadores, precisou somente convencer os não bolsonaristas que também não eram petistas de que a derrota do seu inimigo era um interesse comum. Com isso, bastou-lhe tão somente que uma fração dos neutros se aliasse a ele, quer dizer, votassem contra o PT, ao mesmo tempo em que conseguiu manter neutra a outra fração, que não apareceu para votar ou votou branco ou nulo. Tecnicamente, foram os neutros, os nem-Bolsonaro nem-PT, que decidiram o último campeonato eleitoral. E, pelo andar da carruagem, devem decidir o próximo. 

E hoje ainda, enquanto a esquerda se fragmenta e passa em obsessiva revista lealdades e mágoas, Bolsonaro, aparentemente, fala só para o bolsonarismo e contra os adversários. Mas não se importa com aliados, certo? Engano! O seu lado trabalha o tempo todo para manter a amizade com aliados, mesmo que isso implique em queimar florestas para satisfazer o agro ogro ou privatizar tudo para deixar contentes os “faria limers”. 

Sim, mas como ele fala apenas para os seus, não está nem aí para os neutros, não é? Falso! Ele aposta que os seus aliados lhe darão 30% e que conseguirá os outros 21% de que precisa dos neutros, simplesmente fazendo-os escolher entre ele e “a volta do PT”. Bolsonaro não precisa convencer os neutros a ficarem do seu lado, moderando o discurso ou oferecendo-lhes algum torrão de açúcar. Sua tática consiste em assustá-los com a demonização do outro lado. Sim, o neutro (esse sujeito que não é nem bolsonarista nem petista) que a esquerda escorraça. Bolsonaro precisa dele para fechar a sua conta. 

Assim, toda vez que uma petista pisa na ponta dos pés de um “desprezível” isentão ou ambivalente, o bolsonarismo faz “a festa do 21%”. Aliás, nem precisam fazer nada, pois a esquerda radical e os identitários se encarregam de enxotar quem não é 100% petista na direção do gado. Um belíssimo trabalho de autossabotagem. 

A esquerda petista parece que quer mesmo é o gozo da mágoa, o desfrute do martírio, não sair de debaixo da bota de Bolsonaro.

Há muitas alegorias para a política. Os bolsonaristas a pensam como guerra (inimigo, morte, ataque), os petistas a enxergam como um drama sentimental (traição, ressentimento, broken hearts, separação e rosário sem fim de mágoas). A política, contudo, nem é uma coisa nem a outra. 

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16
Ago20

Está fora de hipótese uma política econômica honesta nos aspectos sociais

Talis Andrade

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por Janio de Freitas 

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Bolsonaro deve festejar depressa o aumento em sua aprovação de 32% para 37% da população adulta, com a rejeição em queda de 44% para 34%, como detectado pelo Datafolha. A aparência generosa desses números esconde uma situação paradoxal e, pior, crítica para o futuro do próprio Bolsonaro, da economia e da eleição presidencial já em esboços.

É coisa de gaiatos a interpretação bolsonarista de que a melhora reflete satisfação com as alegadas medidas contra a pandemia e com a iniciada reabertura das atividades econômicas. São claríssimos os indicadores da contribuição determinante, para os novos números, do benefício emergencial de R$ 600 mensais, para o qual se inscreveram 40% da população. Aqueles que estão sem ocupação elevaram sua aprovação a Bolsonaro em 12 pontos e diminuíram a rejeição em 9. No quesito ótimo/bom, o índice dos que receberam o benefício mostra-se seis pontos acima dos que não o pediram e cinco pontos acima da média nacional.

No Nordeste, região que se destaca pela reversão de opiniões, os R$ 600 são o único dinheiro disponível no caso de 52%. No geral, mais de metade dos que receberam aquele meio salário mínimo, 53% deles, o usaram para comprar comida. A fome, portanto. Fome sem retórica, verdadeira e cruel, razão incomparável para reverter, como um agradecimento da indigente, a indiferença ou a rejeição antes espontâneas.

Ao custo, diz o governo, de cerca de R$ 50 bilhões a cada rodada de pagamento, o benefício se revela a Bolsonaro como o caminho capaz de levá-lo à reeleição que sempre atacou e agora é sua obsessão. Mas Paulo Guedes é direto: não há dinheiro para pagar ainda o benefício emergencial. Seria um único pagamento, em maio, de R$ 200 na humanidade máxima de Guedes e de R$ 600 na decisão do Congresso. A realidade se impôs, sob a forma de temor da massa sem ganho algum por força da pandemia, e veio a prorrogação até agosto/setembro. Agora, diz o ministro, acabou.

No dia mesmo em que o Datafolha preparava a divulgação da pesquisa, a quinta (13), os noticiários mal disfarçavam a euforia midiática com a declaração de Bolsonaro, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre reafirmando, como compromisso, a regra neoliberal de teto dos gastos governamentais. Arrocho, bem entendido. Era uma tentativa de aplacar a insatisfação que desmontava, com pedidos de demissão, o grupo de Guedes na Economia.

Menos de 24 horas depois, estavam contrapostos o teto de gastos e a continuidade do benefício como melhor perspectiva para Bolsonaro, os seus militares e os filhos ampliarem sua permanência no poder, utilizando-o como defesa e como mais queiram. E sem os riscos de tentar um golpe. Ao passo que o teto, se satisfaz as contas e a renda dos neoliberais teóricos ou empresariais, dificultará ou impedirá até a simples volta ao país anterior à pandemia. Com vistas à eleição, um problema talvez sufocante para Bolsonaro.

Ocorre que a escolha contra o teto incluiria uma derrota irreparável de Paulo Guedes. Com provável pedido de demissão. Além disso, se falta dinheiro e a pandemia não o promete, emissão de recursos e inflação não seriam surpreendentes. Com os efeitos conhecidos.

Está fora de todas as hipóteses sérias uma política econômica inteligente e honesta também nos aspectos sociais. Logo, Bolsonaro é um desastre nacional crescente, até quando levado a um breve alívio da fome dos indigentes. Realidade assim só é possível em país ele próprio indigente.

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22
Fev20

Carnaval do Fora Bolsonaro tem até Moro na cadeia

Talis Andrade

Vídeo incorporado

247 - Festa mais tradicional do Brasil, o Carnaval já leva em seu primeiro a política para as ruas em manifestações contra o governo Jair Bolsonaro.

No Twitter, a hashtag #CarnavalDoForaBolsonaro alcançou um dos principais TTs - Trending Topics, ou Tópicos de Tendências, em português.Image

Uma das principais imagens é a de Bolsonaro fazendo sinal de arminha, na Sapucaí pela Acadêmicos de Vigário Geral.

Os foliões também protestaram contra o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que aparece encarcerado em alegoria de bloco de rua.

Em Salvador (BA) e pelas ruas do Recife (PE), os foliões entoaram o já tradicional “eih, Bolsonaro, vai tomar no c*”.

Também foram vistas fantasias, como a das “barbies fascistas”, que circularam pelas ruas do Rio de Janeiro.

Ano passado, Bolsonaro criticou o Carnaval e causou polêmica ao publicar um vídeo obsceno na internet, com o golden shower, que, na tradução literal, significa "chuveiro dourado", que é o ato de urinar no parceiro durante o sexo. O vídeo repercutiu no mundo. Depois, Bolsonaro perguntou o que era golden shower. 

 

 

 

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