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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

07
Ago22

Amazombras (por Gustavo Krause)

Talis Andrade

 

A Amazônia não precisa de estatal. Basta um Presidente que não permita que a lei e a imagem do Brasil sejam pisoteadas pela “boiada”

 

 

O PSB, partido do vice Geraldo Alckmin, propôs a criação de mais uma estatal – Amazombras – que seria responsável por articular instituições de pesquisa, militares e universidades para o aproveitamento econômico da região.

A proposta revela a imperiosa necessidade de debates públicos. O eleitor tem o direito de avaliar o que os candidatos pensam e como pretendem enfrentar os grandes desafios do país. Dar um basta aos candidatos/postes e ao estelionato eleitoral.

No caso específico, boas intenções podem resultar em consequências indesejáveis. O Brasil tem um vício original: o empreendimento colonizador seguia a cartilha do mercantilismo estatal e as Ordenações Manuelinas que, segundo Jorge Caldeira na obra magistral, “História da Riqueza no Brasil”, “nada tinha a ver com universalidade ou igualdade. Tratava-se apenas da organização da desigualdade”.

Ao longo do processo histórico, o traço dominante foi “estado demais e cidadania de menos”. É um equívoco, no entanto, debitar nossos problemas a acessos de estadofobia. Neste sentido, é importante registrar que a modernização conservadora da “Era Vargas” foi viabilizada pelo nacional desenvolvimentismo, tracionado por investimentos estatais em áreas consideradas estratégicas.

O Estado agigantou-se nas auroras democráticas e nos surtos autoritários. Celebrou um pacto perverso com a política clientelista e com a rigidez ideológica. Apesar dos avanços da desestatização, segue confirmada a profecia de Roberto Campos “Uma vez criada a entidade burocrática, ela, como a matéria de Lavoisier, jamais se destrói, apenas se transforma”.

Segundo dados da Secretaria do Tesouro e de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, a União ainda detém participações em 429 empresas, assim distribuídas: controle direto 46 sendo 19 dependentes de recursos do tesouro (R$ 24,5 bilhões de aporte em 2021); controle indireto, 85; minoritária direta, 54 e minoritária indireta, 244.

Ora, a questão amazônica para ser enfrentada não precisa de estatal, é suficiente que o Presidente da República compreenda a dimensão global da sustentabilidade ambiental e não permita que a lei e a imagem do Brasil sejam pisoteadas pela “boiada”. A Amazônia é a prioridades das prioridades.

Para vencer a brutalidade da ignorância, vale a leitura de um trecho da carta do Chefe Seattle à proposta de compra da terra indígena pelo Presidente dos Estados Unidos (1854): “A terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra […] O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um dos seus fios. Tudo que fizer ao tecido, fará a si mesmo”.Ricardo Salles “passando a boiada”: ministro do Meio Ambiente muda leis na  pandemia - Amazônia LatitudeBolsonaro vai passando a boiada da destruição - 16/06/2022 - Cláudio Hebdô  - FolhaCampanha cobra posição de empresas que estariam apoiando o | Política

Gilmar Fraga: sem novidade | GZH

TRIBUNA DA INTERNET

MPF cobra Justiça Federal no DF por decisão sobre afastamento de Ricardo  Salles - Flávio Chaves

TRIBUNA DA INTERNET5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente: data para reflexão e ação -  Sindicato dos Bancários e Financiários de Bauru e RegiãoCharge: Salles deixa o Ministério - Blog do AFTM

CHARGE 2019 - AMAZÔNIA ACONTECE

Amazônia em chamas

Charges: Amazônia Nada Legal!UNIFENAS 2019: A charge acima apresenta um enfoque crítico sobre o avanço  da atividade pecuarista no espaço amazônico - INDAGAÇÃO

Gilmar Fraga: queimando o filme em Dubai na cara de pau... | GZH

 

Confira a charge de Miguel Paiva desta sexta-feira

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16
Ago21

Delirante impeachment de ministros do Supremo

Talis Andrade

Blog Por Simas: O “SERTANOJO” SÉRGIO REIS FAZ TERRORISMO

Reinaldo Azevedo no Twitter
 
Reinaldo Azevedo
Já que a patuscada do voto impresso perdeu força com a derrota na Câmara, Bolsonaro volta a ameaçar as instituições agora com o delirante impeachment de ministros do Supremo. Ele quer é constranger Rodrigo Pacheco.
Aras, Lira e a conivência com os delírios sangrentos de Bolsonaro

Sérgio Reis, o sertanejo de Santana, prega golpismo a serviço do Rei do Gado. As suas "análises" políticas que circulam por aí evidenciam uma soma espetacular de ignorância e autoritarismo, compatível com a do líder que ele incensa.

Reportagem de Chico Alves no UOL. Sérgio Reis só representa seus reaças babões. Líderes caminhoneiros negam manifestação: 'Sérgio Reis não nos representa'. Sérgio Reis tem de ser enquadrado na Lei 13.260, que é a Lei Antiterrorismo. “Nossa, Rei!!! Lei Antiterrorismo só por convocar manifestação pra fechar o STF?” Até poderia. Mas não é por isso. É QUE ELE QUER CANTAR. Aí é ameaça terrorista, sim! 

Vida de gado

Aí a Bozolandia diz: “Com medo do Sergio Reis”??? Nem diga. Imagino este senhor liderando a luta armada, né!? O maior risco seria dar um tiro no pé mijado.

A coisa + sábia q Sérgio Reis disse na vida foi: “Se você pensa q meu coração é de papel, não vá pensando, pois não é”. Prodígio do pensamento lógico-dedutivo. E noticiam a sua “agenda” criminosa: depor os 11 do STF. Ninguém vai indagar ao Marcola quais suas reivindicações?

02
Nov20

Nhonho o toureador do boi bombeiro

Talis Andrade

lápis de memória: tourada

A ministra Tereza Cristina, da Agricultura, recomendou soltar na Amazônia, no Pantanal, o boi bombeiro para apagar as queimadas.

Ao comer mato, galhos, folhas secas, matéria orgânica inflamável, segundo ela, o boi acabaria prevenindo o avanço do fogo.

O presidente da República, Jair Bolsonaro, o sabe tudo, também denunciou que a  perseguição dos índios e das ongs à criação de gado solto na região seria uma das razões para a piora das queimadas, além das restrições ao manejo do fogo em pastagens e em reservas ambientais.
 
Para que os campos de pastagens avancem, que aconteçam os desmatamentos, para o plantio dos capinzais.
 
Deixem a boiaba passar, aconselha Salles contra os argumentos de Maria Fofoca e Nhonho. 
 
Deixem a boiada solta no verde da paisagem.
 
Nhonho e Salles são os mais recentes apelidos criados por Salles. 
 
Recentemente, o ministro do Meio Ambiente negou essa sua criatividade palaciana. 

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Salles fala em conta hackeada e parlamentares não acreditam após xingar Maia no Twitter

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Nas redes sociais, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, chamou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de 'Nhonho', um personagem do seriado mexicano 'A Turma do Chaves'. O ministro afirma não ser ele o autor da postagem e que sua conta no Twitter pode ter sido hackeada. A postagem foi feita em resposta a um tweet de Maia que critica Salles sobre o desmatamento e a má relação com o governo.

 

Print da resposta de Ricardo Salles a Rodrigo Maia no Twitter. Foto: Reprodução/ Redes Sociais (Crédito: )

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02
Nov20

Entre taças de vinho em Noronha, estava Salles no nascer do "caso Nhonho"

Talis Andrade

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por Ricardo Kotscho

Às vésperas do feriadão de Finados, sem outros assuntos mais urgentes na sua área para resolver, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acompanhado de uma fornida comitiva, embarcou num avião da FAB para o arquipélago de Fernando de Noronha (PE), onde não há sinais de focos de incêndio.

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Estavam a bordo também o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e outros funcionários do governo.

10
Set20

A aura da covardia e da mentira: o fascínio da extrema-direita

Talis Andrade

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HIPÓCRITAS DA MENTIRA

por Flavio Aguiar

- - -

Certa vez um amigo, alemão, me alertou para uma característica essencial do comportamento dos nazistas que, a pretexto de engrandecê-la, destruíram a nação: ali onde outros hesitavam, eles não se detinham sequer para pensar. Disse um dos personagens do poeta e ensaísta alemão exilado em Paris, no século XIX, que ali onde se queimam livros se termina queimando pessoas. Os nazistas não hesitaram em fazer ambas as coisas. Na noite de 10 de maio de 1933 gigantescas fogueiras arderam em toda a Alemanha, queimando milhões de livros.

Na mais famosa delas, na hoje Bebelplatz, em Berlim, em frente à Universidade Humboldt, a fogueira foi inaugurada pelo diretor da vizinha Faculdade de Direito, que trouxe pessoalmente uma braçada de livros da sua biblioteca para lançá-la às chamas. Em 1942, numa mansão às margens do lago Wannsee, nas cercanias de Berlim, realizou-se a Conferência que leva aquele nome. Presidiu-a o sinistro general Reinhard Heydrich que, aliás, terminaria sendo morto por um comando guerrilheiro na então Checoslováquia. Secretariou-a o dedicado e incansável Adolf Eichmann, depois julgado e executado em Israel. Conforme a ata lavrada ninguém hesitou. Mataram e reduziram a cinzas milhões de judeus, romas e sintis, e outros seres “inferiores” com a mesma decisão com que queimaram milhões de livros, destruindo seu espírito e fechando o ciclo previsto por Heinrich Heine.

Sob o aparente destemor com que os nazistas enfrentavam o cotidiano – mais do que as batalhas – o que jazia era o cobertor da covardia: sua ira, sua indiferença, sua matança se dirigia aos “inferiores”, aos “pequenos”, aos “fracos”, aos “débeis”, aos “inermes”. Claro: tinham ao seu dispor os terrores da Gestapo e da SS; mas convocavam o seu populacho a despejar suas frustrações e ressentimentos sobre aqueles que não poderiam resistir muito menos revidar. Aí se incluíam as raças inferiores do mesmo modo que se acrescentavam estes objetos aparentemente inermes e indefesos: livros, o indesejável saber acumulado.

A covardia tornava-se um papel central na cenografia nazista: era necessário exercê-la; mais, exibi-la; mais ainda, proclamá-la como o comportamento conveniente e corajoso, porque demonstraria a “superioridade” de seu “senhor”, superioridade confirmada porque este (ou esta) convivia com uma ordem mais elevada de moral do que a comum, uma moralidade exacerbada pelo narcisismo de quem dita as próprias regras pisando sobre as demais. Carl Schmitt sintetizou tudo isto nas suas teses sobre o super juiz nazi que dita, teologicamente, as suas próprias leis para o universo jurídico, como se Deus fosse. Isto nos lembra… bem, tanto a República do Galeão (lá não eram juízes, mas militares autoarvorados a tal) quanto a presente República de Curitiba.

Existe aí um complicado clique mental, provocando um lapso espiritual e emocional em que a covardia se transfigura em coragem, a mesquinhez em destemor, a pusilanimidade diante dos mais poderosos em crueldade para com as vítimas deste gestus (no sentido teatral, brechtiano) de poder auto e monocrático. Ou seja, a aura da covardia exercida, exibida e proclamada necessita da complementar aura da mentira para se efetivar. Este tipo de covarde político necessita mentir, depende da mentira, e por isto ela se transforma, para além de um estratagema, em um estilo de vida. Depois de mergulhar nele, como num redemoinho, todos os escrúpulos se afogam. Mas renascem, trazendo ao corifeu deste salto num novo tipo de anonímia e de anomia, em que identidade original se perde e emerge outra triunfante, a via aberta do moralismo hipócrita, mas salvador.

Um aspecto central do ânimo para desempenhar este papel de troca de identidade é o contágio coletivo. Em grupo, os performers deste empreendimento se sentem mais fortes, e tendem, espelhando-se no assentimento dos outros, a tornarem-se mais ousados no assumir a disposição de eliminar entraves éticos comuns, substituindo-os pelo deslanchar do sentimento de pertencerem a uma nata superior de personalidades, a quem tudo é permitido.

Tomemos alguns exemplos nacionais para exame. Inicialmente, penso em dois: a célebre reunião de 13 de dezembro de 1968, gravada e com ata final, em que o governo do Marechal Costa e Silva decidiu proclamar o Ato Institucional n. 5, fechando o Congresso Nacional, dentre outras consequências gravíssimas; e a não menos célebre reunião do governo de Jair Bolsonaro, em 22 de abril deste ano, com seu rosário de palavrões, atitudes debochadas e destemperadas. Aparentemente, as duas reuniões são muito diferentes. Na primeira, reina o absoluto respeito ao protocolo e ao decoro, como os riquififes de “Senhor Ministro” pra cá e “Vossa Excelência” pra lá; na segunda, impera o deboche, o calão, a desfaçatez, o desprezo pelo protocolo e pelo decoro.

Entretanto, há uma curiosa analogia de atitudes entre ambas. Em 1968, por exemplo, capitalizando o sentimento coletivo, o então ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, diz descaradamente que é necessário mandar os escrúpulos às favas e instalar uma ditadura, como se não vivêssemos uma. Mente, portanto. Em 2020 quase todos os presentes, numa espécie de jogral ensaiado, pregam ou aceitam a prisão de discordantes e dissidentes, mesmo os alocados em instituições egrégias, como o Supremo Tribunal Federal; querem instalar a exceção, como se já não vivêssemos nela, pela mera existência do governo de que fazem parte.

Também mentem, portanto. Em 2020, com uma cara de pau exemplar, o ministro Salles diz que é necessário aproveitar a ocasião e “passar a boiada” da desregulamentação abusiva da proteção ambiental. Em 1968, com mais filigrana, o ministro da Fazenda, Delfim Netto, defende que se aproveite a oportunidade para introduzir modificações substanciais na legislação, dando ao presidente poderes de mudar a Constituição, em defesa de seu programa completamente conservador; não se advoga “passar a boiada”, mas mais simplesmente “a canetada”. Em ambas impera deslavadamente a aura da mentira: todos sabem que não falam a verdade, e se comprazem em exibir sua desfaçatez, com maior ou menor ou nenhuma observância do decoro.

Para completar o paralelo, em ambas há o pudico discordante. Na primeira, é o vice-presidente Pedro Aleixo, que diz confiar nos presentes quanto à aplicação da arbitrariedade que se proclama, mas que desconfia do guarda da esquina; na segunda, o cavaleiro templário da Lava Jato, o ex-juiz Sérgio Moro, que dali sairá para o “exílio” em relação ao governo que ajudou a criar em troca da benesse ministerial que, ao fim e ao cabo, lhe caiu mal, tiro que saiu pela culatra. Mentiras, mentiras, mentiras… embora longe de mim comparar a personalidade intelectual de Pedro Aleixo com a indigência provinciana de Moro.

A Lava Jato é outro exemplo deste coral de intensificações da impunidade. Vê-se, pelas gravações reveladas na Vaza-Jato, o quanto de “estímulo espelhado” imperava entre aquele bando de procuradores e o juiz Moro no afã persecutório contra gente que tinham à mercê, inclusive o ex-presidente Lula, tratado com o sumo desrespeito, o que revela quanto de ressentimento imperava naquela Cova do Caco judicial.

Esta operação que transfigura personalidades e atitudes encontra seu ápice na mudança de covardia em coragem. Para impor o desrespeito completo a todas as normas de comportamento, e assim afirmar sua superioridade, o melhor alvo para quem o perpetra é o indefeso; trata-se de oprimir mais ainda o já oprimido, de atormentar mais ainda o já atormentado. Assim foi com os judeus e outros “inferiores” no passado europeu; assim é hoje no comportamento dos neonazis em relação aos refugiados e imigrantes. No Brasil assim é em relação aos índios, quilombolas, LGBTIs, mulheres, idosos, crianças, et alii.

O exemplo maior desta propensão apareceu no caso do aborto da menina de 10 anos, estuprada por um familiar. Para se afirmar perante os seus, já que estava combalida pela tornozeleira que lhe fora imposta, a impostora de pseudônimo fascista divulgou o nome da menina, atraindo sobre esta a ira dos pseudomoralistas, hipócritas da mentira “elevada” à categoria de “verdade superior”. E lá se foram eles e elas atormentar a já atormentada menina na porta do hospital onde faria o aborto previsto em lei. Assim também se comportam todos os pequenos fascistas que insultam office-boys, fiscais e quem mais desafie a prepotência de suas carteiradas.

O problema maior disto tudo é que depois de vestir a carapuça, quem a vestiu tem a maior dificuldade para tirá-la. Muitas vezes prefere morrer sufocado por ela a reconhecer que errou e se perdeu no caminho

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30
Jun20

Revista francesa de fotografia tem como tema Brasil vertiginoso

Talis Andrade

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Capa da revista bianual 6Mois, que traz três reportagens fotográficas sobre o Brasil 

16
Jun20

Pandemia acelera derretimento da imagem do Brasil na Europa

Talis Andrade

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Forma como Bolsonaro enfrenta a crise do coronavírus impulsiona vertiginosamente processo de deterioração da reputação brasileira. Imprensa europeia pinta cenário catastrófico, e parcerias importantes estão sob risco

 

por Astrid Prange/ Deutsche Welle

- - -

É gritante o contraste entre a imagem atual do Brasil e a que tinha há uma década, quando era aclamado mundo afora por sua economia promissora, com a revista britânica The Economistestampando em sua capa uma imagem do Cristo Redentor decolando como um foguete. O país estava prestes a superar a França e assumir o posto de quinta maior economia do mundo. Nesse meio tempo, caiu para a 12ª posição.

"O Brasil estragou tudo?", questionava a Economist já em 2013, trazendo a crise no maior país latino-americano como manchete. Naquele momento, no entanto, ainda era difícil prever a dimensão do declínio brasileiro que estava por vir.

Apesar da crise econômica, o Brasil se apresentou para o mundo como país-sede da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, mostrando-se cada vez mais autoconfiante. Durante os governos Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o país conquistou prestígio no cenário internacional.

O país chamou atenção sobretudo por seu bem-sucedido combate à pobreza por meio de programas sociais como o Bolsa Família, que ajudaram cerca de 30 milhões de brasileiros a ascender à classe média. Há dez anos, o jornalista alemão Alexander Busch, que atua como correspondente no Brasil, resumiu o clima de euforia em seu livro intitulado Brasil, país do presente - O poder econômico do gigante verde.

Agora, a euforia definitivamente chegou ao fim. E não apenas devido à crise econômica e aos escândalos de corrupção que vieram à tona nos últimos anos. Se desde que tomou posse o presidente Jair Bolsonaro já vinha contribuindo para um derretimento da imagem do Brasil na Europa, sendo criticado por ameaçar a democracia e o meio ambiente, a maneira como vem lidando com a pandemia de covid-19 vem acelerando vertiginosamente esse processo de deterioração da reputação brasileira.

"A imagem positiva acabou", afirma Friedrisch Prot von Kunow, presidente da Sociedade Brasil-Alemanha (DBG, na sigla em alemão) e que foi embaixador no Brasil entre 2004 e 2009. Atualmente, o diplomata não vê progressos sociais no Brasil, mas sim um cenário catastrófico. "Do ponto de vista alemão, uma personalidade como Bolsonaro é inconcebível. Pessoalmente, tenho dificuldade em lidar com isso."

Acordo Mercosul-UE e meio ambiente

Assim como o presidente americano, Donald Trump, Bolsonaro ameaça abandonar o Acordo de Paris para o clima e a Organização Mundial da Saúde (OMS), e a gestão da atual pandemia vem contribuindo para isolar ainda mais o Brasil no cenário internacional.

"Na crise do coronavírus, Bolsonaro vem se mostrando ainda mais radical que Trump", afirma Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Com isso, a ratificação do acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) fica cada vez mais improvável", escreveu no Twitter recentemente.

A destruição da Amazônia também vem rendendo duras críticas ao governo brasileiro. Na última quinta-feira, Georg Witschel, embaixador da Alemanha no Brasil, disse ao portal G1 que o desmatamento na região – que, segundo o Inpe, cresceu 34,4% entre agosto de 2018 e julho de 2019 em relação ao período anterior – torna a ratificação do tratado "cada vez mais difícil".

Para ter validade, o acordo Mercosul-UE, que foi assinado na cúpula do G20 em junho de 2019, tem que ser aprovado pelos parlamentos de todos os países de ambos os blocos. "Precisamos do apoio do Brasil, e o apoio é a redução do desmatamento", afirmou o embaixador alemão.

No início de junho, o jornal britânico The Guardian publicou um editorial manifestando preocupação com o avanço da destruição da Amazônia durante a pandemia. "O mundo não pode permitir que a pandemia de coronavírus distraia da destruição da floresta tropical", diz o texto.

"Enquanto Bolsonaro continua a atacar medidas de saúde pública, a população indígena da região amazônica parece estar cada vez mais ameaçada pela violência e pela doença", diz o jornal.

Devido às políticas do governo Bolsonaro para o meio ambiente e ao aumento do desmatamento na região amazônica, Alemanha e Noruega se distanciaram do Brasil, congelando no ano passado seus repasses para o Fundo Amazônia. O Ministério alemão do Desenvolvimento vem encerrando projetos no país.

Indústria alemã avalia permanência

A indústria alemã no Brasil também vem sofrendo com o derretimento da imagem brasileira. "Não há dúvida de que o Brasil e a América Latina ficaram menos atrativos", disse Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz do Brasil, em entrevista ao jornal econômico alemão Handelsblatt na semana passada.

Ao ser questionado sobre a atuação do governo Bolsonaro diante da pandemia do novo coronavírus, Schiemer afirmou que a gestão da crise "deixa a desejar" e que "as constantes disputas políticas são uma fonte adicional de incerteza". "Com isso, a credibilidade do Brasil é prejudicada", disse.

Apesar de elogiar o fato de o governo ter agilizado o auxílio financeiro para os mais pobres e flexibilizado as leis trabalhistas de modo a evitar demissões em massa, Schiemer critica que disputas políticas tenham voltado a ocupar as autoridades e diz que gostaria que o governo dedicasse mais energia a implementação de sua agenda de reformas econômicas.

Em análise para o Handelsblatt, o correspondente Alexander Busch afirma que a crise do coronavírus e Bolsonaro são "uma combinação que acaba com o espírito empreendedor até mesmo dos maiores otimistas" e que médias empresas alemãs, duramente atingidas pelos efeitos da pandemia, se perguntam se vale a pena continuar no Brasil.

Ameaças à democracia e à saúde

Desde o início do governo Bolsonaro, editoriais dos principais jornais europeus vêm denunciando ameaças à democracia no Brasil. No último dia 7 de junho, o britânico Financial Times afirmou que, em meio à crise provocada pelo coronavírus e à queda na popularidade de Bolsonaro, "os brasileiros estão preocupados com a possibilidade de o presidente estar tentando provocar uma crise entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário para justificar uma intervenção militar".

Apesar de afirmar ser improvável que as Forças Armadas apoiem um golpe militar, o jornal aponta: "Outros países devem tomar nota: os riscos para a maior democracia da América Latina são reais, e estão aumentando."

Em meados de maio, foi a vez do jornal francês Le Monde, que escreveu que o governo brasileiro adotara uma via "extremamente perigosa" e que a postura do presidente causa "caos na saúde e semeia a morte". Para o diário, "há algo de podre" no país. "O Brasil de Bolsonaro habita um mundo paralelo", dizia o texto.   

No fim de maio, após a divulgação do vídeo com trechos de uma infame reunião ministerial em 22 de abril, o espanhol El País também havia destacado em editorial que "as ameaças à separação de poderes ali lançadas por alguns ministros são inadmissíveis" e que "o rosário de insultos emitidos pelo presidente é uma afronta intolerável às instituições".

A "gestão errática da pandemia e uma grave crise político-institucional com flertes com golpes de Estado", diz o jornal, "além de ser muito grave, desvia a atenção numa altura em que a luta contra o coronavírus deveria ser a prioridade de toda a classe política brasileira".

Num veemente editorial intitulado Covid-19 no Brasil: "E daí?"a revista científica britânica The Lancet escreveu no dia 8 de maio que "talvez a maior ameaça à resposta do país à covid-19 seja seu presidente, Jair Bolsonaro" e que a liderança do Brasil perdeu seu compasso moral – se é que jamais teve algum".

Desde então, o Brasil perdeu seu segundo ministro da Saúde em menos de um mês e viu o número de mortos por covid-19 saltar de 5 mil para mais de 43 mil, sendo atualmente o segundo país com mais óbitos em decorrência da doença.

15
Jun20

Brasil está a pouca distância de uma tragédia monstruosa. Por Janio de Freitas

Talis Andrade

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Os ditos de Bolsonaro e seu grupo são demonstrações de alienação

Por Janio de Freitas

- - -

Com a histórica indiferença por seu destino, o Brasil está a caminho de todos os recordes negativos cabíveis na pandemia, já alcançados alguns deles. Como a rapidez de disseminação e a mais deficiente comunicação/conscientização dos riscos, orientadas por um governante (sic) que se dedica a incitar e encabeçar aglomerações com propostas criminalmente golpistas.

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Como consequência lógica, o Brasil está a pouca distância de uma tragédia monstruosa: a população indígena corre o risco de sucumbir a um genocídio. Bolsonaro desconstruiu a sempre mínima rede de setores governamentais voltados, ainda que em parte, para alguma assistência aos remanescentes de brasileiros originais.

Corte de recursos, demissões numerosas, entrega de cargos a militares despreparados e apoio a grileiros, desmatadores, madeireiros e garimpeiros ilegais já compunham as bases da tragédia continuada e agravada.

O descaso por providências emergenciais para a proteção contra a virose mortífera, tratando-se da mais vulnerável população, é o cume da política de crime governamental. Não é novidade, mas nunca foi tão descarada.

Diz o general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, que Bolsonaro é apenas “reativo”, os outros é que lançam os ataques. Esse ministro não entende que políticas são agressivas ou defensivas, responsáveis ou até criminosas, nas relações de governo e população.

Reativas são as críticas a Bolsonaro, que não precisou chegar ao título de presidente para agredir o país em atos e palavras desumanas, racistas, de violência e uso de armas.

O próprio general Ramos comete agressivas atitudes contra a Constituição, a democracia e os cidadãos em geral. Sua última encenação é uma botinada na legalidade constitucional, com a afirmação de que os militares não pensam em golpe desde que a oposição “não estique a corda”.

E o que foi que o general esticou, ao dizer inverdades para servir a Bolsonaro no depoimento sobre a reunião dos desvairados? Inverdades que o levaram a correr com um pedido para retificá-las, prevenindo-se de processo por falso testemunho.

Mas minha preferência, entre as produções verbais do general Ramos, é sua resposta a certa dúvida sobre uma atitude de Bolsonaro: “Conheço há muito tempo aqueles olhos azuis…”. Só não sei o quanto a resposta clareou alguma dúvida. Ou aumentou-a.

Quaisquer que sejam, os ditos de Bolsonaro e seu grupo são demonstrações de alienação. Autêntica e insolúvel. Não é o caso do que diz, por exemplo, o presidente do Supremo, Dias Toffoli, diante das realidades brutais trazidas por Bolsonaro e sua tropa. “Algumas atitudes [de Bolsonaro] têm trazido uma certa dubiedade, e essa dubiedade impressiona e assusta a sociedade brasileira.”

Só isso? O ministro do Supremo nada vê além disso?

Esse é um pronunciamento que a nenhum integrante do Supremo deveria ser permitido, em tempo algum. Acovardado, mentiroso, nem ele e seu autor são dúbios, como Bolsonaro não é. Quando todos atentam para as ideias e manifestações antidemocráticas e contrárias à Constituição, de Bolsonaro, filhos & cia., Dias Toffoli desce a dizer-nos que tem “certeza, em todo o relacionamento harmonioso que tenho com sua excelência, com seu governo e com o vice-presidente Hamilton Mourão, […] que eles são democratas. Merecem o nosso respeito”.

Dias Toffoli abre mão do nosso respeito. A que troco, não está claro. Uma carreira política, talvez, uma vice para começar. Com o democrata Bolsonaro, quem sabe, ou alguém entre os vários que veem o retrocesso do país, a invasão dos meios de administração por incapazes e desatinados, riscos entre o de genocídio indígena e o de problemas internacionais perigosos —veem, mas jamais passam de umas poucas palavras de crítica leve, se chegam a isso, para voltar pouco depois às conveniências da ambição.

Que assim é, em nove exemplares sobre dez, a gente importante hoje circulando no Brasil.

 

14
Jun20

“Brasil está a pouca distância de uma tragédia monstruosa”, diz Janio de Freitas

Talis Andrade

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O jornalista Janio de Freitas escreveu que, com a indiferença, “o Brasil está a caminho de todos os recordes negativos cabíveis na pandemia”, em coluna publicada no jornal Folha de S. Paulo. Para ele, Jair Bolsonaro atrapalha na luta contra a pandemia porque “se dedica a incitar e encabeçar aglomerações com propostas criminalmente golpistas”.

Janio denuncia que, para a população indígena, a situação é ainda mais complexa. Bolsonaro destruiu boa parte da estrutura montada para dar assistência aos povos originários. Isso para passar a boiada, para favorecer madeireiros e garimpeiros. “Como consequência lógica, o Brasil está a pouca distância de uma tragédia monstruosa: a população indígena corre o risco de sucumbir a um genocídio”. 

Para Janio, o descaso com os indígenas, que são vulneráveis, “é o cume da política de crime governamental”.

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