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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

06
Nov23

O genocídio palestino e as palavras que matam

Talis Andrade
Foto: ANAS BABA (AFP)

 

Os bárbaros decapitam bebês e estupram mulheres, diz o Ocidente. A verdade não importa: “se não fizeram, um dia farão”, afinal, não se assassina apenas corpos. Leviandade é arma de guerra para que a voz do colonizado seja grunhidos ininteligíveis

05
Nov23

Israel na Palestina - 2

Talis Andrade
 
 
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Façam o que puderem. Isto não pode continuar…

 

por Gilberto Lopes

 

A mais grave? Talvez, mas basta olhar para a história e descobrir que, vez ou outra, ela se repete. Em julho de 2014, o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas reuniu-se em Genebra para discutir uma nova incursão israelense em Gaza, a chamada operação “Margem de Proteção”. De acordo com várias estimativas, entre 2.125 e 2.310 moradores de Gaza foram mortos (1.492 civis, incluindo 551 crianças e 299 mulheres) nesta operação. Quase onze mil ficaram feridos, e 66 soldados e cinco civis israelenses (incluindo uma criança) também perderam a vida.

A ONU denunciou que os ataques do exército israelense a Gaza poderiam constituir “crimes de guerra” e aprovou uma investigação, enquanto a Palestina solicitou ajuda internacional para obrigar Israel a cessar uma agressão que denunciou como “uma catástrofe humanitária”.

A resolução foi aprovada no Conselho de Direitos Humanos por 29 votos a favor e 17 abstenções. O único voto contra foi o dos Estados Unidos. Os Estados Unidos consideraram a resolução “destrutiva” e que não contribuiria para a interrupção das hostilidades. Israel qualificou a decisão de “farsa”. Seu embaixador no Conselho, Eviatar Manor, acusou o Hamas de cometer “crimes de guerra” e afirmou que Israel “destruiria sua infraestrutura militar”. Em 24 de julho, o Dr. Mads Gilbert, do Hospital Al-Shifa de Gaza, cidadão norueguês, publicou uma carta aberta no jornal britânico The Independent, à qual já fizemos referência.

“Os rios de sangue continuarão a correr na próxima noite. Já ouço como ajustam seus instrumentos de morte. Por favor. Façam o que puderem. Isto não pode continuar”, implorou. Dizia que “a última noite foi extrema. A invasão terrestre de Gaza produziu dezenas de veículos cheios de corpos mutilados, destroçados, sangrando, tremendo e agonizando… Palestinos feridos de todas as condições e idades, todos civis, todos inocentes”. “Depois, a orquestra da máquina de guerra israelense recomeça sua sinfonia macabra. Neste exato momento: as salvas de artilharia dos navios da marinha ancorados ao largo da costa, o rugido dos F-16, os drones repugnantes (em árabe, ‘zennanis’, ‘beija-flores’) e os Apaches. Tudo construído e pago pelos Estados Unidos”.

 

Um investimento inteligente

Tudo construído e pago pelos Estados Unidos!, disse o Dr. Gilbert. Na quinta-feira, 19 de outubro, Joe Biden dirigiu-se aos norte-americanos (e ao mundo) de sua Sala Oval da Casa Branca sobre os conflitos na Palestina e na Ucrânia. Os terroristas do Hamas desencadearam a maldade no mundo. São eles – e Putin – que pretendem acabar com a democracia e com seus vizinhos, afirmou. Se não pagarem um preço, o custo e as ameaças contra os Estados Unidos continuarão aumentando. Se colocarmos tudo em risco, se abandonarmos a Ucrânia e Israel, nossa liderança e nossos valores estarão em risco. É por isso que amanhã pedirei recursos urgentes para financiar nossas necessidades de segurança nacional, disse Joe Biden.

E pediu ao Congresso 106 bilhões de dólares: 60 bilhões para a Ucrânia e 14 bilhões para Israel. O restante para outras despesas. “É um investimento inteligente que gerará dividendos por gerações para a segurança dos Estados Unidos”, disse ele. Nestes dias de guerra, as necessidades urgentes de Gaza, cujos pouco mais de dois milhões de habitantes não tinham água, alimentos ou eletricidade, cortados por Israel, nem recursos para seus hospitais, foram estimadas em cerca de 270 milhões de dólares.

O pacote que Joe Biden enviaria ao Congresso apontava para outra direção. É um compromisso sem precedentes com a segurança de Israel, que garantirá sua vantagem militar, disse ele, acrescentando que Israel precisava operar de acordo com as leis da guerra, para proteger os civis “da melhor maneira possível”. Biden acredita que é a liderança norte-americana, seus valores, que mantém o mundo unido. Que os Estados Unidos é a nação indispensável, essencial para construir o arsenal da democracia e defender a causa da liberdade. “Não deixaremos que terroristas como o Hamas, ou tiranos como Putin, vençam. Não o permitirei”. “Somos os Estados Unidos da América!”, afirmou. Comentando o discurso, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, afirmou: “Antes, diziam que se tratava de uma luta pela liberdade e pela democracia. Agora, verifica-se que é apenas um cálculo”.

 

E as regras?

Há quem procure justificar suas posições sobre o conflito entre palestinos e Israel do ponto de vista da “ética”. Como se o problema da ética já não estivesse resolvido desde sempre, nas opções econômicas e políticas que, como a história mostra, foram tomadas há mais de 70 anos. Outros falam de “terrorismo”. Mas, transformado em arma política para desqualificar os inimigos, o “terrorismo” perdeu seu valor analítico. Utilizado como qualificativo, torna impossível qualquer tentativa de compreensão dos problemas.

E as regras? A relação israelo-palestina mostra que, há muito tempo, não há regras. Nenhuma das resoluções da ONU é cumprida. Nenhum acordo é respeitado, nem os de Oslo, nem os de Minsk, no caso da Ucrânia. Também não se fala da bomba atômica de Israel, um debate que é impossível dissociar de outros, mais atuais, sobre a bomba da Coreia do Norte ou do Irã. São outras as regras que se aplicam a estes casos?  Não podemos deixar de pensar que não faltam pessoas que queiram transformar o mundo em outro Hospital Al-Ahil. Não deveria ser feito algum esforço para evitar isso?

 

Essa história foi falsificada

“Ainda há muitos franquistas na Espanha”, disse o maestro Daniel Barenboim ao jornal espanhol El País em setembro de 2020. Aos nove anos, Barenboim partiu da Argentina para Israel com seus pais. “Meus avós maternos, especialmente a minha avó, eram grandes sionistas. Ela mais do que meu avô. A mulher era a que mandava em casa. Meu pai também não estava convencido. Digamos que minha mãe e sua sogra o contagiaram. O Estado de Israel foi criado em 1948 e meus avós partiram em 1951. Depois nós chegamos”. “Sentia falta da Argentina?”, perguntaram-lhe. “Não me lembro”, diz ele. “E agora?”. “Agora, sim, por várias razões. Porque, com o passar dos anos, voltamos à nossa infância e porque o que está acontecendo em Israel me machuca muito”.

“Como era aquele país nascente?” “Outra coisa radicalmente diferente daquilo em que se converteu. A escalada militar, que é compreensível, afetou sua bondade. O fervor diminuiu. Não se pode ocupar militarmente outros povos com nossa história, com séculos de perseguição. O sionismo começou com a ideia de um povo para um país sem povo, uma ideia poética e belíssima, mas falsa: no início do século XX, a memória histórica foi falsificada ali. Não se podia dizer que era um território sem povo. Já tinha gente antes: no início do século XX, tinha apenas 9% de judeus. Não é que não tinha ninguém. Tinha 91% que não o eram. Mas isso foi ocultado, essa história foi falsificada”, disse Daniel Barenboim.

Como sabemos, os rios de sangue continuam fluindo. A verdade é que isto não pode continuar!

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05
Nov23

O mundo não entende por que brasileiros estão presos em Gaza

Talis Andrade

Brasileiros viraram refens? 

Israel respondeu com agressividade e vulgaridade ao Brasil

 

por Marcelo Zero, 247

 

Começa a crescer a suspeita de que os brasileiros retidos em Gaza viraram uma espécie de reféns do governo de extrema-direita de Israel.

Com efeito, tal governo poderia estar usando esses brasileiros para fazer um revide político, relativo ao empenho do Brasil em buscar uma pausa humanitária e um cessar-fogo em Gaza, algo que Israel interpreta, equivocadamente, como uma ação em prol dos interesses do Hamas e contra seu direito à autodefesa.

Tal suspeita cresce porque não há nenhum motivo técnico, jurídico ou burocrático para que esses brasileiros não sejam retirados de lá imediatamente.

Em primeiro lugar, esses brasileiros são muito poucos. São apenas 34, muitos deles mulheres, crianças e idosos.

Em segundo lugar, a lista dos brasileiros foi amplamente divulgada para as autoridades israelenses e egípcias há bastante tempo. Provavelmente foi a primeira lista de estrangeiros em Gaza a ficar pronta. Ao menos umas duas semanas. Tempo mais do que suficiente para fazer checagens de segurança.

Em terceiro, o governo brasileiro providenciou, também há bastante tempo, toda a logística para trazê-los ao Brasil. O ônibus para levá-los até o aeroporto e o avião para transportá-los até o território nacional estão a postos há muitos dias. Nenhum deles ficará no Egito mais do que algumas horas. Portanto, do ponto de vista dos interesses egípcios, esses brasileiros não representam risco algum.

Ressalte-se que o governo brasileiro vem negociando arduamente a saída desses brasileiros há semanas, em todos os níveis diplomáticos. O próprio presidente Lula está diretamente envolvido nas negociações.

Desde o dia primeiro deste mês já saíram, em média, cerca de 500 estrangeiros por dia de Gaza, a maioria estadunidenses e seus aliados. Hoje, mesmo (sexta-feira), saíram cerca de 100 britânicos. Porém, os 30 minguados brasileiros continuam lá e o governo brasileiro continua sem resposta e sem explicações.

E, quando não há respostas às perguntas e explicações e motivos concretos, as suspeitas políticas crescem.

Diplomacia não é, evidentemente, o forte do atual governo de extrema-direita de Israel. Tampouco dos EUA.

Em 2014, quando houve outra intervenção militar de Israel em Gaza, com grande número de mortos de civis, o Brasil, em protesto, chamou seu embaixador um Tel-Aviv para consultas.

Em resposta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, acusou o Brasil de ser “parte do problema e não da solução” do conflito israelo-palestino e um “anão diplomático”.

Aparte a agressividade e a vulgaridade quase anedótica da resposta, a reação do governo israelense suscitou algumas perguntas.

Quem é o “anão diplomático” nessa história? O Brasil, que apoia as resoluções da ONU e as tentativas de negociação, ou os governos de direita de Israel, que as descumprem sistematicamente, manifestando desprezo pela comunidade internacional? Quem não apoia a aplicação do Direito Internacional Humanitário?  O Brasil que, com muito esforço, conseguiu construir uma Resolução equilibrada e viável no CSNU, ou os EUA, que a vetaram por interesses políticos menores?

O mundo sabe as respostas a essas perguntas.

O que o mundo e o Brasil não conseguem entender é porque os cidadãos brasileiros continuam presos em Gaza.

29
Out23

Israel não tem solução para Gaza depois da guerra, alertam especialistas

Talis Andrade
 

Palestinos estão sem comunicação — Foto: EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Palestinos estão sem comunicação — Foto: EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Por Paul Adams, BBC News

 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu “mudar o Médio Oriente”. O presidente americano Joe Biden disse que “não há como voltar atrás”. Mas a medida que as forças israelenses intensificam os seus ataques à Faixa de Gaza e emitem novos e urgentes avisos aos palestinianos irem para o sul, para onde vai a guerra e o que vem a seguir?

Israel continua dizendo que pretende destruir o Hamas “militar e politicamente”.

Mas, para além da aplicação de um poderio militar implacável e esmagador, não está claro como esta ambição sem precedentes será alcançada.

“Você não pode tomar uma atitude tão drástica sem um plano para o dia seguinte”, afirma Michael Milshtein, chefe do grupo de estudos palestinos do Centro Moshe Dayan, da Universidade de Tel Aviv.

Ex-membro da inteligência militar de Israel, Milshtein, teme que não tenha existido esse planejamento.

Diplomatas europeus dizem que estão conduzindo discussões intensas com Israel sobre o futuro, mas que até agora nada está claro.

"Você pode esboçar algumas ideias no papel, mas torná-las reais exige semanas, meses de diplomacia”, disse um deles, que pediu anonimato.

Planos militares existem - desde a destruição da capacidade militar do Hamas até a tomada de boa parte da Faixa de Gaza. Mas fontes ouvidas pela BBC com longa experiência em crises do tipo dizem que o planejamento não vai além disso.

“Não creio que exista uma solução viável e funcional para Gaza para o momento seguinte ao da evacuação das nossas forças”, afirma Haim Tomer, ex-membro do Mossad, o serviço secreto de Israel.

Os israelenses são praticamente unânimes sobre o desejo de derrotar o Hamas e não permitir mais que eles governem Gaza.

Mas o Hamas, diz Milshtein, é uma ideia - não algo que Israel possa simplesmente apagar.

Ele faz um paralelo com o Iraque em 2003, quando as forças lideradas pelos EUA tentaram remover todos os vestígios do regime de Saddam Hussein. O plano foi um desastre, diz.

Deixou centenas de milhares de funcionários públicos iraquianos e membros das forças armadas sem trabalho, lançando as sementes para uma insurreição devastadora.

Veteranos americanos desse conflito estão em Israel, conversando com os militares israelenses sobre as suas experiências em lugares como Falluja e Mosul.

“Espero que expliquem que cometeram alguns erros enormes no Iraque”, diz Milshtein.

"Israel não pode ter a ilusão de erradicar o partido no poder ou mudar a opinião das pessoas. Isso não vai acontecer."

Os palestinos concordam.

“O Hamas é uma organização popular de base”, diz Mustafa Barghouti, presidente da Iniciativa Nacional Palestina. “Se quiserem remover o Hamas, terão de fazer uma limpeza étnica em toda Gaza.”

Essa ideia - de que Israel pretende forçar centenas de milhares de palestinianos a sair da Faixa de Gaza e a entrar no Egito - está despertando os medos palestinianos mais profundos.

Para uma população já constituída em grande parte por refugiados - que fugiram ou foram expulsos das suas casas quando Israel foi fundado - a ideia de outro êxodo em massa evoca memórias dos acontecimentos traumáticos de 1948.

“Fugir significa uma passagem só de ida”, diz Diana Buttu, ex-porta-voz da Organização para a Libertação da Palestina (OLP).

Giora Eiland, ex-chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, diz que a única forma do país concretizar as suas ambições militares em Gaza sem matar muitos palestinianos inocentes é a evacuação dos civis.

O pedido de Joe Biden de financiamento ao Congresso para apoiar Israel e Ucrânia é outro fator que gera temor entre os palestinos.

Até agora, Israel não disse oficialmente que quer que os palestinianos atravessem a fronteira. As Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram repetidamente aos civis que se deslocassem para “áreas seguras” mal definidas no sul.

Mas o presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sissi, alertou que a guerra de Israel em Gaza pode ser “uma tentativa de forçar os habitantes civis a migrar para o Egipto”.

Supondo que ainda existam palestinos em Gaza quando a guerra acabar, quem irá governá-los?

“Essa é a pergunta de um milhão de dólares”, diz Milshtein.

Israel, diz ele, deveria apoiar a criação de uma nova administração, dirigida pelos habitantes de Gaza, com a adesão dos líderes locais e o apoio dos EUA, do Egito e talvez da Arábia Saudita. A nova administração deveria também incluir líderes do Fatah, o grupo palestino que hoje controla Autoridade Palestina (ANP) na Cisjordân ia e que o Hamas expulsou de Gaza.

Hoje, no entanto, a ANP e seu presidente Mahmud Abbas são impopulares entre os palestinianos na Faixa de Gaza.

Diana Buttu diz que a ANP pode até querer regressar a Gaza, mas não “nas costas de um tanque israelense”.

A veterana palestina Hanan Ashrawi, que foi membro da ANP na década de 1990, irrita-se com a ideia de que estrangeiros, incluindo Israel, tentarão mais uma vez determinar como os palestinianos conduzem suas vidas.

“As pessoas pensam que é um tabuleiro de xadrez e que podem mover alguns peões aqui e ali e dar um xeque-mate no final. Isso não vai acontecer”, diz ela.

Entre aqueles que já lidaram com guerras em Gaza antes, há uma profunda apreensão e uma sensação de que quase tudo já foi tentado antes.

O ex-oficial do Mossad Haim Tomer diz que suspenderia as operações militares por um mês, num esforço para retirar os reféns primeiro.

Em 2012, após uma ronda anterior de combates em Gaza, ele acompanhou o diretor da Mossad ao Cairo para conversas que resultaram num cessar-fogo. Os representantes do Hamas, diz ele, estavam presentes, com as autoridades egípcias fazendo o meio campo. Um mecanismo semelhante deveria ser utilizado novamente, diz ele, mesmo que Israel tivesse que libertar prisioneiros.

"Não me importo se libertarmos alguns milhares de prisioneiros do Hamas. Quero ver os reféns voltando para casa."

Israel, diz ele, poderia então decidir se retoma as operações militares em grande escala ou optaria por um cessar-fogo de longo prazo.

Vídeo: Embaixadas dos Estados Unidos e de Israel foram alvos de protestos e ameaças após o bombardeio de um hospital na Faixa de Gaza que deixou quase 500 mortos na noite desta terça-feira (17).
 

Vídeo: Aconteceu sexta-feira última (27) uma série de protestos pró-Palestina. A comunicação foi cortada da Faixa de Gaza, num gesto considerado por diplomatas estrangeiros como um sinal de que existe um risco iminente de uma ofensiva militar ainda maior sobre a região.
 
Vídeo: Manifestações pró-Palestina se espalham pelo mundo inteiro
 

 Vídeo: Milhares de pessoas foram às ruas pelo mundo, neste sábado (28), para protestarem a favor da Palestina. Os manifestantes, que exibem bandeiras pró-palestina, pedem o fim dos bombardeios na Faixa de Gaza, que já mataram mais de 7 mil palestinos.
 

Vídeo: Uma manifestação de apoio à Palestina, e que pedia o cessar-fogo do governo israelense, acabou em confronto com a polícia, no último sábado (21) em Nova York, EUA. A 'marcha' pelo povo palestino, que atravessou bairros como Queen e Brooklyn de forma pacífica, terminou com confronto entre manifestantes e policiais.
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
20
Out23

Hamas e o que as notícias [não] nos contam

Talis Andrade

 

por Mariane Nava

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Uma vez, há muito tempo, durante uma aula de história do ensino médio, um professor falou: “a história é sempre contada pela versão dos vitoriosos”. Isso me marcou e abriu uma infinidade de possibilidades (e perguntas) em minha mente. Se a versão contada é de quem ganhou (seja uma disputa física, ideológica ou até mesmo narrativa), como seria a história aos olhos de quem perdeu?

Talvez pelo interesse na ideia da pluralidade de versões, optei por fazer jornalismo. Afinal, as notícias são ferramentas da história, pequenos fragmentos que retratam um tempo e lugar que – um dia – estarão muito distantes. E é sobre essa versão que possivelmente quem não presenciou os fatos construa o seu imaginário de como foi passado.

Por isso, é necessária a vigilância sobre o que e como são contados os fatos nos jornais. Não apenas por pura crítica, mas sim para desnudar as intenções das publicações, conectá-las ao passado e ponderar as consequências para o futuro.

Afinal, os jornais contribuem para escrever a história e legitimar uma determinada versão em detrimento de outras. E, em se tratando da imprensa hegemônica, é aquela que geralmente melhor se adequa aos interesses dos vitoriosos e poderosos. Já presenciamos centenas de vezes esse processo e estamos tendo a oportunidade novamente, agora com o conflito entre Israel e Gaza.

Se você abrir o portal do Estadão, da Folha, do Globo, de qualquer afiliada ou de pequenos sites que se alimentam das agências de notícia, perceberá uma semelhança: todas aponta o problema ao terrorismo, despertando o gatilho do medo ou da raiva em muitos leitores.

A proposta desse texto não é analisar o problema entre Israel e os Palestinos, mas apontar a unicidade nas vozes no jornalismo a partir das notícias do conflito na faixa de Gaza.

Confesso que quando vi as primeiras notícias sobre os ataques, a primeira coisa que fiz foi pesquisar a história política da antiga Palestina para relembrar a sequência de fatos da criação de Israel: um estado criado em maio de 1948 após décadas de lobby e de campanhas imigratórias promovidas pelos defensores do sionismo – movimento que defendia a criação de um Estado judeu na Palestina como solução ao antissemitismo na Europa. O que forçou os palestinos a sair do território que hoje é Israel e muitos deles se abrigaram na faixa de Gaza, criada em 1949 para esse fim.

No meio disso, é criado o Hamas. Um movimento islamista palestino, de orientação sunita, que surgiu em 1987 e que se intitula o movimento de resistência palestino contra a existência de Israel.

Alguns jornais como a CNN até trouxeram reportagens especiais comentando o que é a faixa de Gaza e as origens do Hamas, mas, ainda assim, possivelmente poucos leitores ou telespectadores façam a conexão entre a criação de Israel, a expulsão dos Palestinos e os ataques.

Grande parte do noticiário está preocupado em atualizar o número de mortos, transmitir o posicionamento dos líderes mundiais, as negociações de um corredor humanitário e etc. Novamente, essas informações são legítimas e necessárias, contudo, o jornalismo não pode mais se pautar apenas por isso, permanecendo na superficialidade e na fragmentação dos fatos.

É necessário manter a atualização dos acontecimentos, mas também é possível trazer especialistas para analisar a situação a partir de uma visão menos pontual. Sendo possível a inserção de hiperlinks e outros materiais interativos que permitam localizar o leitor historicamente e construir uma perspectiva de compreender o que aquele fato significa.

Mas, poucas empresas permitem que os jornalistas “gastem tempo” com isso e menos ainda que ofereçam outros pontos de vista para além das fontes de sempre. O resultado é a permanência de notícias rasas – facilmente copiáveis por agentes da desinformação – e que pouco exploram a complexidade dos fatos.

Mas, navegando sobre o assunto e insatisfeita com a cobertura rasa da grande mídia, encontrei um texto publicado no Intercept [Maior jornal de Israel não culpa o Hamas pelos ataques] que dá pistas interessantes para entender o que está por trás do conflito para além do “pânico terrorista”. No texto de autoria de Andrew Fishman, é apresentada a visão do jornal Haaretz de Israel sobre o conflito, e – surpreendentemente – o periódico apontou as ações do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, como a causa do problema.

O texto do Haaretz, citado pelo Intercept, pontua as políticas de “limpeza étnica” marcadas por estupros, assassinatos e pilhagens perpetrada por grupos paramilitares terroristas israelenses em 1948, após a declaração do estado de Israel. E, desde então, a contínua tentativa de extermínio do povo palestino, apoiada, segundo o jornal, por Netanyahu.

Fishman explica: “Esse extremismo da parte de Israel é a causa do surto de violência, não o ‘islamismo’, o antissemitismo ou o ódio irracional. Os israelenses minimamente razoáveis veem isso claramente. Porém, qualquer um que tenha a coragem de dizer o óbvio no Brasil será criticado como apologista do terrorismo, apoiador do Hamas ou antissemita”.

Uma visão bastante distinta do que vemos na grande imprensa brasileira, que parece reduzir a complexidade de uma história milenar a uma sentença: foi um ataque terrorista. E continuar a atualização dos fatos segundo a cartilha do bem x mal… quando, na verdade, a questão não é tão simples assim.

Situação que me fez lembrar a fala do meu professor: “a história é sempre contada pelos vitoriosos” e talvez acrescentar, “muitas vezes, o jornalismo também”.

 
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26
Set23

Os Estados Unidos e sua eterna democracia antidemocrática

Talis Andrade

 

Cerimônia de lançamento da ''Iniciativa Global Lula-Biden para o Avanço dos Direitos Trabalhistas na Economia do Século XXI'', que aconteceu na cidade de Nova York ( EUA), em 20 de setembro de 2023. Foto: Ricardo Stuckert/PR

 

por Jair de Souza I VioMundo

 

Em sondagem recém divulgada com vistas ao pleito eleitoral do próximo ano, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump aparece com 51% da preferência do público consultado contra tão somente 42% do atual ocupante do cargo, Joe Biden.

Provavelmente em função de suas disputas internas, Biden se aproveitou da presença de Lula em Nova York onde fez o discurso de abertura da 78ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas para colar sua imagem à de nosso presidente com base numa suposta identificação de ambos com as causas trabalhistas e a liberdade sindical.

É inegável que isso soou muito estranho para todos os que temos alguma ideia da evolução histórica das condições de vida dos trabalhadores nos Estados Unidos.

Embora a figura de Lula esteja indissoluvelmente associada aos interesses das classes trabalhadoras, a de Biden, pelo contrário, não nos inspira o mais mínimo vínculo nesse sentido.

Como aceitá-lo como um lutador pelas causas dos assalariados naquele país onde as massas trabalhadoras historicamente nunca tiveram direitos equiparáveis aos conquistados por seus pares de outros países?

Como entender que o panorama seja este, já que estamos acostumados a escutar no rádio, assistir pela televisão ou a ler em jornais e revistas, que os Estados Unidos são a maior democracia do mundo?

Em razão do que vem sendo inculcado em nossa mente desde nossa mais tenra idade, seríamos induzidos a crer que democracia e liberdade são coisas intrínsecas à sociedade estadunidense.

Este costume de associar a imagem dos Estados Unidos ao que as sociedades humanas têm de mais belo vem de longa data.

Basta recordar que Alexis Tocqueville e outros destacados expoentes do liberalismo se referiam aos Estados Unidos como o país modelo da liberdade e da democracia.

Não à toa, a chamada Revolução Americana, que culminou com sua independência e desvinculação do Império Britânico, foi saudada por quase todos os adeptos do pensamento liberal como uma consagradora vitória dos ideais da liberdade.

A circunstância de a nova nação ter sido edificada em cima do extermínio quase total dos povos ameríndios que já habitavam aquelas terras há milhares de ano não parece ter incomodado os entusiastas da nova potência que estava sendo forjada.

Tampouco veio a significar um fator capaz de incomodar os admiradores dessa tal “liberdade” o fato de a base da economia estadunidense de então estar sustentada no trabalho escravo.

Que milhões de homens e mulheres de pele negra fossem equiparados ao gado e tratados como objetos de compra e venda para o usufruto de seus proprietários não chegou a se constituir em motivo suficientemente válido para gerar questionamentos desses intelectuais liberais filo-americanistas.

Talvez tenha sido assim porque, para eles, a única liberdade que realmente merecia ser levada em conta é aquela que dá aos proprietários o direito de dispor de seus bens a seu bel-prazer, mesmo que esses bens de sua propriedade sejam seres humanos.
 

Essa forte identificação não pôde ser abalada nem sequer com o regime de supremacia branca instalado nos estados do sul após o término da guerra civil de secessão que tinha posto fim à escravidão.

Ou seja, os admiradores da liberdade prevalecente nos Estados Unidos nunca se preocuparam com o que esse modelo de discriminação racial significava de fato para os milhões de negros que eram considerados e tratados como “sub-homens”, os chamados _undermen_ (expressão em inglês que foi traduzida pelo nazismo hitlerista como untermenschen_).

Convém acrescentar que, além de alavancar a ideologia racial do nazismo, o supremacismo branco dos Estados Unidos também serviu como fonte de inspiração para o regime de apartheid na África do Sul.

Tendo ciência dos antecedentes da eterna benevolência dos teóricos do liberalismo em relação com a evolução dos Estados Unidos, fica-nos um pouco mais fácil entender como esse país passou a ser apresentado e idealizado como o exemplo mais próximo da perfeição com respeito ao exercício da democracia.

Nos dias atuais, é muito comum observar os dirigentes dos Estados Unidos tomando decisões que visam inviabilizar ou depor governantes de outros países que se mostrem desafinados com as orientações que lhes são passadas.

Nessas ocasiões, os desafetos são tachados de ilegítimos e acusados de não representarem de verdade a vontade da maioria de seu próprio povo.

No entanto, se o principal critério a adotar na classificação de um país como uma democracia for a escolha de seus dirigentes em conformidade com o desejo da maioria de seus habitantes, e se o aplicarmos com rigor na análise do processo eleitoral estadunidense, inevitavelmente, vamos concluir que, neste aspecto, os Estados Unidos jamais poderiam ser considerados como um país democrático.

Não obstante haver por lá a possibilidade formal da existência de vários partidos políticos, na prática, somente podem chegar à presidência da nação, ou compor bancadas significativas no parlamento, aqueles que recebem o apoio financeiro das grandes corporações econômicas.

Sendo assim, há apenas dois em condições efetivas de disputar o comando administrativo do país: dois partidos de características básicas muito semelhantes e representativos dos mesmos interesses de classe, ou seja, o Partido Republicano e o Partido Democrata,.

Seria possível considerar como democrático um processo eleitoral que desse a vitória ao candidato menos votado pela população?

Embora, inicialmente, talvez pareça uma pergunta fora de propósito, ela ganha muito sentido em relação aos Estados Unidos. É que, segundo às leis eleitorais vigentes por lá, o candidato vitorioso em um pleito presidencial não precisa necessariamente ser alguém que tenha obtido mais votos dos eleitores do que seu concorrente.

Na verdade, desde sua fundação como República, vários presidentes foram eleitos apesar de terem tido menos votos da população que seus contrincantes.

Podemos citar o ocorrido na eleição de 2000, quando o republicano George W. Bush derrotou o democrata Al Gore, e na de 2016, quando o republicano Donald Trump se impôs à democrata Hillary Clinton.

É que nos Estados Unidos as eleições presidenciais são indiretas. Em outras palavras, lá, os presidentes são eleitos através de um Colégio Eleitoral e não por via direta.

Contudo, o fator que dá às eleições presidenciais estadunidenses um caráter acentuadamente antidemocrático não é tanto sua forma indireta, e sim a maneira como se estabelece a composição do Colégio Eleitoral.

Seria importante repassar essas características para que tenhamos mais clareza sobre seu funcionamento e as aberrações que delas podem derivar.

A população habilitada não vota diretamente no candidato a presidente de sua preferência. Os votos dos eleitores servirão para formar um Colégio Eleitoral, o qual será composto por 538 delegados, resultantes da soma dos 100 senadores e dos 435 deputados eleitos pelos estados, acrescidos dos 3 representantes de Washington D.C. (a capital da União).

O número de delegados por estado é uma questão altamente criticável e de modo algum expressa uma verdadeira representação proporcional do número de eleitores existentes.

Vai se sagrar vencedor aquele aspirante que conquistar ao menos 270 delegados do total. Até este ponto, para o bem ou para o mal, não há muitas diferenças em relação à escolha dos dirigentes nos modelos parlamentaristas da Europa Ocidental e de vários outros lugares.

Porém, o que torna o processo dos Estados Unidos espantoso é a peculiaridade de o candidato presidencial que obtém a maioria dos votos de um estado carregar para o Colégio Eleitoral o número total dos delegados do referido estado.

Portanto, indiferentemente de ter vencido por 99,9% a 0,1% ou por 50,1% a 49,9% dos votos, o partido vitorioso no local vai somar para sua chapa na Convenção o número total dos delegados previstos para tal estado.

Estamos diante de uma monstruosidade antidemocrática que permitiria a um candidato, em tese, vencer a disputa presidencial precisando tão somente garantir sua vitória por um percentual mínimo nos 11 estados com maior número de delegados, ainda que perca fragorosamente nos demais 39 estados da União.

O quadro dado a seguir nos mostra como isto poderia ocorrer.

Esta aberração se vê agravada pelo pouquíssimo interesse dedicado pelo Sistema com vistas a garantir e viabilizar o voto das maiorias populares.

Nos Estados Unidos, os dias de eleição são considerados dias úteis normais, e não feriados. A população não está dispensada do trabalho por lei e não tem sua remuneração garantida caso se ausente para exercer seu direito ao voto.

Além disso, como o voto não é obrigatório, não me parece difícil entender porque tanta gente deixa de participar, especialmente entre as classes trabalhadoras, uma vez que os mais ricos não costumam ter entraves para sufragar e parecem ter noção da importância de seu voto para garantir a defesa de seus interesses.

Por isso, não chega a surpreender a constatação de que os índices de participação eleitoral nos Estados Unidos ficam geralmente muito abaixo do que ocorre em outros países, raramente ultrapassando os 50%.

Das observações que fizemos, podemos concluir que a realidade está longe de confirmar aquilo que os bajuladores dos Estados Unidos gostam de alegar.

Se os encaminhamentos dos processos eleitorais puderem atestar a qualidade democrática de uma nação, os Estados Unidos deveriam estar classificados nos degraus mais baixos da escala, e jamais poderiam posar como protótipos de correção a serem seguidos.

22
Set23

Ex-comandante do Exército ameaçou Bolsonaro de prisão

Talis Andrade

general gomes.webp

Bolsonaro e Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército. Foto Estevam Costa/PR

 

“Se o senhor for em frente com isso (o golpe da extrema direita), serei obrigado a prendê-lo”, avisou o general Freire Gomes a Bolsonaro. Militar sabia que uma ditadura bolsonarista não tinha apoio de comandos regionais e dos EUA, segundo Mauro Cid.

 

por Plinio Teodoro, Revista Forum

Principal alvo da pressão de bolsonaristas radicais, o general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, teria ameaçado dar voz de prisão a Jair Bolsonaro (PL) na reunião em que o ex-presidente buscou apoio da cúpula das Forças Armadas para dar um golpe de Estado e prender opositores e o atual presidente, Lula, vencedor nas urnas.

A informação teria sido revelada na delação premiada do tenente coronel Mauro Cid, que afirma que o almirante Almir Garnier, da Marinha, teria sido o único entre os comandantes das três Forças a colocar as tropas à disposição do golpe de Bolsonaro - o brigadeiro Carlos Batista, da Aeronáutica, teria ficado calado.

A reação de Freire Gomes teria ocorrido no dia 24 de novembro quando, em reunião fora da agenda no Palácio do Planalto, Bolsonaro perguntou aos comandantes das três forças se estariam fechados com ele para contestar o resultado das urnas.

Garnier teria aderido prontamente. Já Freire Gomes afirmou que não compactuava com o plano e foi além: “Se o senhor for em frente com isso, serei obrigado a prendê-lo”.

Segundo reportagem de Maria Cristina Fernandes, no Valor, o general tinha conhecimento de que não havia condições para o golpe dentro do Exército. Ele sabia que os comandantes do Sul (Fernando Soares), do Sudeste (Thomaz Paiva), do Leste (André Novaes) e do Nordeste (Richard Nunes) não apoiariam quaisquer aventuras golpistas de Bolsonaro.

Além disso, Freire Gomes estaria ciente de que um golpe dado por Bolsonaro não teria apoio dos Estados Unidos de Joe Biden, tanto de militares, quando de civis. Seis comitivas estadunidenses já teriam vindo ao Brasil em 2022 para dar esse recado a Bolsonaro e às Forças Armadas.

Favores a Bolsonaro

Na delação, Cid ainda teria revelado que Garnier aderiu ao golpe por dever favores a Bolsonaro. Ele foi alçado ao comando da Marinha pelo ex-presidente sem ter comandado nenhuma das esquadras da força - uma pré-condição para se chegar ao topo da carreira.

Garnier também teve a esposa Selma Foligne Crespio de Pinho contratada pelo governo de Jair Bolsonaro na Secretaria-Geral da Presidência poucos meses depois de se aposentar da Marinha, em abril de 2019. 

Filho do casal, o advogado Almir Garnier Santos Junior foi contratado pela Engepron em 29 de julho de 2019, no segundo semestre do governo de Jair Bolsonaro, seis meses depois do pai ser alçado ao segundo posto de comando do Ministério da Defesa.

Segundo a reportagem do Valor, um mês após a reunião, um amigo encontrou Garnier numa sala da Marinha "à paisana, com a barba por fazer, indisposto a participar da cerimônia de transmissão do cargo".

De fato, o então comandante da Aeronáutica foi o único a não passar o bastão para seu sucessor, o almirante Marcos Olsen, no governo Lula.

Caso seja confirmada a delação de Cid, Garnier - que estaria com problemas de saúde - pode responder por ao menos dois crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito e tentativa de golpe de Estado.

Na Justiça militar, o almirante pode perder a patente. E mesmo que venha a ser deposto do quadro de oficiais, seu salário será pago na conta da esposa.

Pressão sobre Freire Gomes

Sócio de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) na Braz Global Holding, empresa criada em maio do ano passado em Arlington, no Texas, Paulo Generoso antecipou pela rede X (antigo Twitter) o encontro entre Bolsonaro e a cúpula das Forças Armadas, revelado em delação premiada pelo tenente coronel Mauro Cid.

Em sequência de tuites publicado no dia 20 de dezembro de 2022, Generoso confirma que "em reunião esta semana com o alto comando das Forças Armadas, Bolsonaro pediu apoio para barrar o avanço do judiciário sobre os outros poderes e pediu para que a posse de Lula fosse adiada por 6 meses, até que equipe de juristas fizesse uma investigação sobre favorecimento à (SIC) Lula".

Em seguida, o sócio de Eduardo Bolsonaro faz menção a uma resistência do então comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, que vinha sendo pressionado pela horda bolsonarista a apoiar a tentativa de golpe.

"Freire Gomes foi contra [o apoio ao golpe de Bolsonaro] e disse que não valia a pena ter 20 anos de problemas por 20 dias de glória e falou que não apoiaria ou atenderia o chamado do presidente para moderar a situação mesmo após Bolsonaro apresentar vários indícios de parcialidade em favor de Lula pelo TSE e STF", escreveu Generoso.

22
Set23

Mauro Cid recebeu estudo safado sobre "poder moderador" dos militares, que justificaria golpe sangrento e ditadura de Bolsonaro após a vitória de Lula nos dois turnos 

Talis Andrade
 
 
Artefato foi colocado em caminhão com mais de 60 mil litros de querosene de aviação -  (crédito: Material cedido ao Correio)
Bomba foi colocado em caminhão com mais de 60 mil litros de querosene de aviação, para explodir o Aeroporto de Brasília

 

Maior atentado terrorista do Brasil

Usando dispositivo remoto, homem planejou explosão sob caminhão com querosene no aeroporto de Brasília. Acampamentos de terroristas na porta dos quartéis patrocinados por traficantes de ouro, de mercúrio, de agrotóxicos. Sabotagem dos kids pretos 

 

Uma revelação bombástica abala o cenário político relacionada ao plano golpista ditatorial discutido em reuniões secretas entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e altos escalões das Forças Armadas. O caso veio à tona após a divulgação de e-mails da equipe de ajudantes de ordens e desordens da Presidência, que indicam um encontro entre Bolsonaro, comandantes por ele nomeados das Forças Armadas e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, em 14 de novembro de 2022, apenas quinze dias após o segundo turno das eleições presidenciais. No dia 30 de novembro teve uma reunião no Senado para convocar facções da extrema direita, e marcar reunião nacional em Brasília, para pedir intervenção armada do exército, para prender o presidente Lula logo depois da posse, na primeira semana de governo petista.

O encontro, que não constava na agenda oficial do ex-presidente, teria ocorrido no Palácio da Alvorada e levanta questões sobre sua natureza e conteúdo. Dois dias após essa reunião, Mauro Cid, ajudante de ordem unida e desordens de Bolsonaro, teria recebido um estudo sobre o "poder moderador" de militares, uma tese adotada por bolsonaristas para justificar uma intervenção militar sangrenta, com prisões de esquerdistas nos estados e lista de líderes políticos e juristas marcados para morrer. O lema do golpe "todo poder para a família de Bolsonaro presidente, do filho 01 senador, 02 prefeito do Rio de Janeiro, 03 deputado federal por São Paulo, e 04 deputado federal por Brasília. Michele seria coroada rainha Ester das igrejas e do PL Mulher de Valdemar Costa Neto.

Segundo informações vazadas por Cid em sua delação, Bolsonaro teria se encontrado com a cúpula das Forças Armadas e integrantes do governo da ala militar após as eleições para discutir detalhes de uma minuta que contemplava medidas golpistas. Na época, o então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, teria supostamente declarado a Bolsonaro que sua tropa estava pronta para aderir a um chamamento do então presidente. Embora os e-mails relacionados à agenda do dia 14 de novembro não mencionem nominalmente os comandantes presentes, é importante ressaltar que as três Forças eram lideradas por Almir Garnier (Marinha), General Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Tenente-Brigadeiro do Ar Baptista Junior (Aeronáutica) naquela ocasião.

 

DEZEMBRO DE ESCURIDÃO

Depois da reunião do dia 30 de novembro no Senado, com a participação de terroristas e kid pretos, foram iniciados o ensaio geral do golpe. 

Escreve Henrique Lessa, in Correio Brasiliense:

Um grupo de manifestantes desembarcou de um ônibus no final da tarde da segunda-feira (5/12) em frente ao hotel onde o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está hospedado em Brasília. O grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), vestindo camisetas da seleção, foi ao local pedindo uma intervenção militar que impeça a posse do petista no dia 1º de janeiro de 2023.

Os manifestantes usavam roupas verde e amarela, e no grupo, alguns dos integrantes de origem indígena utilizavam cocares e adereços e gritavam que Lula “não subirá a rampa''. Eles também hostilizaram alguns jornalistas que estavam de plantão em frente ao hotel aguardando algum comunicado do presidente eleito.

No mesmo hotel, mais cedo, Lula recebeu os enviados do presidente americano, Joe Biden, o Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, e o diretor sênior para assuntos do Hemisfério Ocidental, Juan Gonzalez.

Entre os manifestantes estava o bolsonarista Oswaldo Eustáquio, blogueiro preso a pedido de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), durante as investigações do inquérito dos atos antidemocráticos.

Segundo a Polícia Militar do Distrito Federal, a manifestação durou cerca de meia hora, e se dispersou por volta das 19h, quando a polícia reforçou a segurança em volta do hotel onde Lula estava hospedado, com cerca de 30 PMs.

As tentativas de invadir o hotel continuaram por todo mês de dezembro. 

 

NOITE DE TERROR EM BRASÍLIA

Narra Ana Lúcia Ferreira, in Mais Brasília:

 
 

O grupo ateou fogo em ao menos 7 veículos, incluindo 4 ônibus, totalmente queimados e 1 ônibus parcialmente. Eles também quebraram diversos carros e ainda depredaram uma lanchonete do MC Donald’s, uma Delegacia de Polícia, postes de iluminação pública e tentaram derrubar um ônibus de um viaduto.

5ª Delegacia de Polícia, na Asa Norte depredada por grupo bolsonarista. Foto: Reprodução/ Redes Sociais

 

Vestidos com camisa do Brasil, os manifestantes se espalharam por diversas regiões do DF bloqueando vias com pedaços de concreto, botijão de gás e cones.

Além de equipes do Batalhão de Choque e da Forças Tática, um helicóptero chegou a ser usado para procurar manifestantes em áreas escuras. O Governo do DF, porém, não informou se houve prisões.

De acordo com o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Júlio Danilo, parte dos vândalos pró-Bolsonaro responsáveis pelos atos de violência em Brasília estavam acampados no QG do Exército.

Toda a confusão teve início após uma ordem de prisão expedida pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), contra o indígena bolsonarista José Acácio Serere Xavante.

A Polícia Federal (PF) o conduziu até a sede da corporação, na Asa Norte. O pedido foi da PGR (Procuradoria-Geral da República), que apontou o indígena como um dos integrantes dos atos antidemocráticos na capital federal.

Repúdio O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), repudiou a violência dos manifestantes e a atribuiu a uma “minoria raivosa”.

A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) também se pronunciou sobre os atos de vandalismo praticados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) na tentativa de invasão da Polícia Federal (PF), na Asa Norte. De acordo com a Federação os atos são um “atentando contra a vida de policiais federais no cumprimento de suas funções, em seu local de trabalho”.

O Conselho Federal e a Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) divulgaram uma nota de repúdio e afirmaram que “é preciso prender os responsáveis e agir firmemente para a efetiva punição de todos na forma da lei”.

Artefato foi colocado em caminhão com mais de 60 mil litros de querosene de aviação -  (crédito: Material cedido ao Correio)
Artefato foi colocado em caminhão com mais de 60 mil litros de querosene de aviação

 

BOMBA DE DINAMITES NA NOITE DE NATAL EM BRASÍLIA

O plano maligno era explodir dinamites mais um caminhão-tanque de combustível para avião na pista do aeroporto de Brasília na Noite de Natal  
 
 
Escreve Darcianne Diogo: O plano criminoso orquestrado por um empresário bolsonarista para explodir uma bomba próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília poderia resultar em um dos maiores atentados terroristas do Brasil — em plena véspera de Natal. O trabalho das forças de segurança do DF impediu que a tragédia acontecesse e colocou atrás das grades George Washington De Oliveira Sousa, 54 anos, preso pela Polícia Civil (PCDF).
 

O plano criminoso orquestrado por um empresário bolsonarista para explodir uma bomba próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília poderia resultar em um dos maiores atentados terroristas do Brasil — em plena véspera de Natal. O trabalho das forças de segurança do DF impediu que a tragédia acontecesse e colocou atrás das grades George Washington De Oliveira Sousa, 54 anos, preso pela Polícia Civil (PCDF).

O atentado frustrado contava com equipamentos singulares, incluindo um dispositivo de acionamento remoto. O artefato foi posicionada para também envolver um caminhão de querosene, o que poderia ter aumentado o poder destrutivo do ataque.

Detalhes do plano Segundo informações da polícia, George procurou — entre 22h e 5h de sexta-feira (23/12) — até encontrar o melhor ponto para deixar o artefato explosivo. O empresário teria então encontrado um caminhão-tanque, abastecido com 63 mil litros de querosene de aviação (28 mil no primeiro compartimento, e 35 mil no segundo), na Estrada Parque Aeroporto (Epar), em frente à Concessionária V1, e apoiou a bomba no eixo do automóvel. A carreta estava estacionada em uma área perto do aeroporto.

O artefato seria explodido por meio de um dispositivo remoto. A perícia da Polícia Civil do DF (PCDF) identificou que houve tentativa de detonar a bomba. “Graças a Deus conseguimos interceptar. Não conseguiram explodir, mas a perícia nos relata que eles tentaram acionar o equipamento”, frisou o diretor-geral da PCDF, o delegado Robson Cândido.

Peritos estimam que seria muito provável que a quantidade de explosivo fosse hábil para romper o compartimento do tanque, mas ainda não há confirmações concretas. No entanto, em caso de rompimento, resultaria na explosão ou em um incêndio de grandes proporções.

Artefato foi colocado em caminhão com mais de 60 mil litros de querosene de aviação

Polícia Civil do DF (PCDF) estava no local periciando, logo após a desativação da bomba feita pelo Esquadrão Antibombas da PMDFMinervino Júnior/CB/D.A.Press

24/12/2022. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Esquadrão Anti Bomba do Bope e Polícia Federal em ameaça de bomba no Aeroporto.Minervino Júnior/CB/D.A.Press

24/12/2022. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Esquadrão Anti Bomba do Bope e Polícia Federal em ameaça de bomba no Aeroporto.Minervino Júnior/CB/D.A.Press

24/12/2022. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Esquadrão Anti Bomba do Bope e Polícia Federal em ameaça de bomba no Aeroporto.Minervino Júnior/CB/D.A.Press

24/12/2022. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Esquadrão Anti Bomba do Bope e Polícia Federal em ameaça de bomba no Aeroporto.Minervino Júnior/CB/D.A.Press

24/12/2022. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Esquadrão Anti Bomba do Bope e Polícia Federal em ameaça de bomba no Aeroporto.Minervino Júnior/CB/D.A.Press
 

Quem é George? Morador do Pará, George deixou a mulher e filhos na terra natal e chegou à capital em 12 de novembro para fortalecer o movimento dos protestantes acampados em frente ao Quartel-General do Exército (QG). O empresário viajou em uma caminhonete, em que trouxe, no interior do veículo, armas, munições e artefatos. Em Brasília, hospedou-se por um tempo em um hotel da área central. Depois, alugou um imóvel por meio de uma plataforma de serviço on-line para acomodações e hospedagem.

Prisão Na tarde desse sábado (24/12), o Esquadrão de Bombas da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) conseguiu desativar um artefato explosivo encontrado próximo ao Aeroporto de Brasília, por volta de 13h20. O material explosivo foi encontrado dentro de uma caixa por funcionários da Inframérica por volta de 7h45. Os funcionários interditaram parte da pista com cones, e esperaram os policiais militares chegarem.

Com a PMDF no local, uma das pistas sentido ao Aeroporto de Brasília foi interditada. O procedimento para a remoção do objeto, que são duas bananas de dinamite ligadas a um fio, iniciou por volta de 11h55 pelo Esquadrão de Bombas da corporação. Às 13h20, o grupo desativou a bomba, e deixou o local logo após, seguido do CBMDF e da PF.

Em menos de 8 horas, investigadores da 10ª Delegacia de Polícia (Lago Sul) chegaram ao encalço de George. No apartamento e no carro dele, os policiais encontraram um arsenal, roupas camufladas, munições, espingardas e artefatos explosivos. "Ele estava em uma caminhonete, carro próprio, e trouxe os armamentos por lá. Mas as emulsões explosivas foram encaminhadas para ele posteriormente. Será investigado quem enviou, mas de antemão elas são oriundas de pedreiras e garimpos do Pará, mas iremos investigar essa conexão", falou o diretor-geral da PCDF.

No depoimento prestado à PCDF, o empresário confessou que pretendia distribuir armas e munições para os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que estão acampados em frente ao QG, caso houvesse necessidade e orientação nesse sentido. George foi indiciado pela prática de terrorismo, posse e porte de armamento e munição e posse de artefato explosivo.

 

Um verdadeiro arsenal foi encontrado com o suspeitoPCDF/Divulgação

ATOS DE SABOTAGEM E ACAMPAMENTOS DE BADERNEIROS NA PORTA DE QUARTÉIS

Atos terroristas aconteceram em todo o Brasil. Ações ilegais patrocinadas pelo agronegócio, notadamente o agrotóxico, os traficantes de ouro, de pedras preciosas, de mercúrio e cocaína (vide tags). 

Atos de sabotagem como acampamentos ilegais na porta de quartéis, bloqueio de estradas, propaganda de listas de presos e de pessoas marcadas para morrer, como aconteceu no golpe de 1 de abril de 1964.

A sabatogem em linhas de transmissão de energia passou a ser investigada a partir do dia 8 de janeiro dos atos de vandalismo em Brasília. 

Leia reportagem de Guilherme Grandi, na Gazeta do Povo, in 10 de janeiro de 2023:

O governo federal (do presidente Lula) criou um gabinete de crise para apurar a derrubada de três torres de transmissão de energia elétrica desde a noite de domingo (8) nos estados do Paraná e Rondônia. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que tornou o fato público apenas nesta terça (10), há indícios de sabotagem e de vandalismo, como o corte de cabos de sustentação.

Segundo dois boletins informativos enviados à Gazeta do Povo, as quedas das torres ocorreram em linhas que ligam as usinas de Itaipu, Jirau e Santo Antônio ao sistema interligado brasileiro. Por conta disso, segundo a agência e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), não houve desabastecimento de energia.

Em um deles, a Aneel cita o repúdio às “ações criminosas praticadas neste domingo [8]”, que culminaram com a invasão aos prédios públicos de Brasília, e diz que manteve contato com o ONS e diretores de operação dos principais centros urbanos do Brasil para “garantir segurança no fornecimento de energia elétrica”.

A CPMI dos Atos Terroristas deveria investigar a explosão de torres, sabotagem dos kids pretos. 

20
Set23

Trabalhadores, Haiti, reforma da ONU: 3 sinais de que Lula e Biden tentam levar relação a novo patamar

Talis Andrade
Lula e Joe Biden

CRÉDITO, REUTERS Biden e Lula se encontraram bilateralmente durante Assembleia Geral da ONU


  • por Mariana Sanches
  • BBC News

 

Aplausos, punhos cerrados, sorrisos fartos. Estas foram as reações do presidente americano Joe Biden quando seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os dois países vivem um momento "excepcional" e o encontro entre os dois políticos representa "o renascer de um novo tempo entre o Brasil e os Estados Unidos".

A reunião entre os dois presidentes começou às 13h27, no horário de NY, e durou cerca de uma hora.

Do lado brasileiro, além de Lula, participaram os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Marina Silva (Meio Ambiente), o assessor especial Celso Amorim, o senador Jaques Wagner (PT-BA), a embaixadora do Brasil nos EUA, Maria Luiza Viotti, e o assessor-adjunto internacional do Planalto, Audo Faleiro.

Do lado americano, estavam a secretária do Tesouro, Janet Yellen, o secretário-adjunto de Estado para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, o Enviado Climático John Kerry, e a embaixadora dos EUA no Brasil, Elizabeth Bagley, entre outros.

"Essa reunião não é apenas uma reunião bilateral, há uma perspectiva conjunta de trabalho excepcional com os EUA", disse Lula.

Biden foi na mesma linha. "Nós temos a obrigação de liderar a próxima geração para um mundo melhor. A intenção de Brasil e EUA é de fazer isso juntos."

A reunião Lula e Biden, às margens da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, e o evento com sindicalistas de Brasil e Estados Unidos dos quais os dois líderes também participaram na tarde desta quarta, 20 de setembro, devem elevar a parceria entre os dois países a um "novo patamar".

Esta tem sido a interpretação de diplomatas brasileiros e americanos e de integrantes do Planalto e da Casa Branca sobre a agenda de Lula e Biden que conversaram reservadamente com a BBC News Brasil nos últimos dias em NY.

E o comportamento dos dois presidentes no início da conversa entre ambos, presenciado pela imprensa, não deixou dúvidas sobre isso.

Biden quebrou o protocolo ao estender a presença da imprensa na sala em que ambos se reuniram, acompanhados de seus ministros e secretários, por mais de 11 minutos. “Eu sei que minha equipe já está enlouquecendo, mas quero dizer mais algumas palavras”, disse um entusiasmado Biden.

O presidente americano fez questão de dizer que seu pai não tinha um diploma universitário e que costumava dizer: “Joe, um emprego é muito mais do que um contracheque. É (a condição de ter) dignidade, auto-respeito, e olhar nos olhos de seus filhos e dizer ‘querido, vai ficar tudo bem, de verdade””.

Lula não deixou passar a coincidência: lembrou que também não possui um diploma universitário, apenas técnico, e que passou 27 anos numa fábrica.

Lula tampouco poupou elogios ao colega. "Nunca vi um presidente americano falar tão bem dos trabalhadores”, disse Lula, rememorando os discursos que assistiu do democrata.

O presidente brasileiro fez questão de dizer que partiu de Biden a ideia de lançar um documento em defesa do trabalho digno em conjunto com seu colega brasileiro.

Presidente do G20 no ano que vem, o Brasil, por meio de Lula, prometeu levar o texto preparado pelos dois governos, ao bloco, para tentar angariar mais signatários.

"Obrigado, Lula, por ter vindo e por trabalharmos por um mundo melhor", disse Biden.

Segundo os dois governos, o momento atual deve servir para superar tensões acumuladas nos últimos meses com o que americanos viram como um posicionamento ambíguo - ou eventualmente até mesmo pró-China e Rússia - de Lula no tema da guerra na Ucrânia e do que brasileiros viram como baixa ambição e pouca condição do envio de fundos da Amazônia pela gestão Biden.

Lula discursa na ONU

CRÉDITO, JUSTIN LANE/EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK Lula abriu sessão de debates da Assembleia Geral com discurso na terça-feira

O trabalho

Agora, os dois países pretendem manter o foco nos princípios compartilhados - como a defesa dos direitos trabalhistas e da democracia - e trabalhar juntos em temas no qual concordam e podem se apoiar mutuamente nos ambientes multilaterais.

"E essa é uma combinação perfeita, porque eu venho do mundo do trabalho e eu acho que o trabalho está muito precarizado, o salário está muito aviltado, cada vez mais os trabalhadores trabalham mais e ganham menos e essa sua ideia de a gente apresentar uma proposta que começa a ser discutida e poderá ir até o G20 é muito importante para o Brasil, é importante para os Estados Unidos e eu acho que é importante para o mundo", disse Lula, mencionando a iniciativa em favor de direitos trabalhistas e liberdade sindical que ambos lançavam.

"A sacada não está em algo escrito no documento, está no fato de que Brasil e EUA estão liderando isso juntos, que Lula e Biden construíram algo novo em conjunto", disse à BBC News Brasil um dos auxiliares de Lula com envolvimento direto no assunto.

Não está claro ainda como esta carta de princípios relativamente genéricos - como a defesa da dignidade, da diversidade e dos direitos no trabalho - será concretamente implementado em cada país.

O texto da declaração conjunta fala em "colocar os trabalhadores no centro das nossas soluções políticas".

Como antecipou a BBC News Brasil na segunda-feira, o documento fez menção explícita aos empregos da nova economia verde, um dos temas que mais preocupam os líderes sindicais, já que a transição econômica dos combustíveis fósseis para a redução de emissão de carbono tende a eliminar mais postos de trabalho do que gera.

O material lista "promover abordagens centradas nos trabalhadores para as transições digitais e de energia limpa" como um dos "cinco dos desafios mais urgentes enfrentados pelos trabalhadores em todo o mundo".

 

Situação no Haiti

Polícia Nacional do Haiti tenta retomar bairro ocupado por gangues na capital Porto Príncipe

CRÉDITO, REUTERS Polícia do Haiti tenta retomar bairro ocupado por gangues em Porto Príncipe

 

Distante dos olhos da imprensa, por exemplo, a previsão da Casa Branca era de que Biden pedisse a Lula que aproveitasse sua relação próxima com Pequim para tentar fazer com que a China deixe de vetar, no Conselho de Segurança da ONU, o envio de uma força policial internacional ao Haiti, que vive um colapso do Estado e está dominado por gangues.

O Quênia já se dispôs a liderar a missão, da qual o Brasil participaria com treinamento de policiais, e o governo haitiano já expressou publicamente interesse no envio da ajuda externa.

Ainda assim, a posição chinesa não se alterou e tem impedido o envio da força ao Haiti.

Um diplomata brasileiro que conversou com a BBC News Brasil notou que a posição dos chineses, antagonistas globais dos americanos, é bloquear o interesse americano, até porque interessa ao país manter uma situação de instabilidade no que seria "o quintal dos EUA", dada a instabilidade que os chineses acusam os americanos de criar em Taiwan.

Um diplomata brasileiro com conhecimento do tema disse à BBC News Brasil que Lula estaria sim disposto a abrir conversa com Pequim para tentar fazer com que eles se movessem em outra direção.

 

Reforma do Conselho de Segurança da ONU

Outro exemplo de concordância entre os dois presidentes está na necessidade de reforma das instituições multilaterais. O assunto, inclusive, foi mencionado nos discursos de ambos na Assembleia Geral da ONU.

Assim como Lula, cujo mote internacional é “o Brasil voltou, Biden também tem se esforçado para reocupar espaços multilaterais dos quais os EUA foram retirados durante o governo anterior, de Donald Trump, cujo slogan era “América primeiro”.

Recentemente, ao participar do G20, na Índia, Biden se comprometeu a endossar a candidatura indiana por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. O Brasil tem o mesmo pleito, mas os americanos, que têm defendido a reforma do Conselho, ainda não se comprometeram a apoiar o Brasil no objetivo.

Questionados sobre se isso gerava algum constrangimento ao país, diplomatas brasileiros contemporizaram. “Claro que para os americanos, até pelo antagonismo entre Índia e China, faz sentido fazer um gesto claro para a Índia, mas eles certamente nos apoiam”.

Outro exemplo de concordância entre os dois presidentes está na necessidade de reforma das instituições multilaterais. O assunto, inclusive, foi mencionado nos discursos de ambos na Assembleia Geral da ONU.

Assim como Lula, cujo mote internacional é “o Brasil voltou, Biden também tem se esforçado para reocupar espaços multilaterais dos quais os EUA foram retirados durante o governo anterior, de Donald Trump, cujo slogan era “América primeiro”.

Recentemente, ao participar do G20, na Índia, Biden se comprometeu a endossar a candidatura indiana por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. O Brasil tem o mesmo pleito, mas os americanos, que têm defendido a reforma do Conselho, ainda não se comprometeram a apoiar o Brasil no objetivo.

Questionados sobre se isso gerava algum constrangimento ao país, diplomatas brasileiros contemporizaram. “Claro que para os americanos, até pelo antagonismo entre Índia e China, faz sentido fazer um gesto claro para a Índia, mas eles certamente nos apoiam”.

09
Set23

Golpista pega 22 anos de cadeia nos EUA. No Brasil serão condenados pelos atos golpistas terroristas...

Talis Andrade
 
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Capitólio de Bolsonaro repetição mambembe de Trump

Por Altamiro Borges

A agência Reuters noticia que o líder do grupo neofascista Proud Boys (“Meninos Orgulhosos”), Enrique Tarrio, acaba de ser condenado a 22 anos de prisão por orquestrar a violenta invasão do Capitólio, sede do Congresso dos EUA, em janeiro de 2021. A ação golpista visou impedir a posse do presidente Joe Biden e foi insuflada pelo direitista derrotado Donald Trump, sob o falso argumento de que as eleições foram fraudadas. Dois anos depois, também em janeiro, os fascistas nativos tentaram repetir a dose em Brasília, invadindo e depredando as sedes dos Três Poderes. Os principais líderes dessa conspiração, porém, permanecem soltos. Só os bagrinhos golpistas foram detidos e boa parte já foi solta! 

Segundo a Reuters, a pena de 22 anos para Enrique Tarrio é a maior dada até agora para os 1.100 acusados do ataque ao Capitólio, que teve um saldo trágico de cinco mortos e centenas de feridos. “Foi um ato calculado de terrorismo. Ele praticou e endossou o uso de desinformação”, afirmaram os procuradores, que pediram uma pena ainda maior, de 33 anos, para o líder neofascista, durante a audiência no tribunal do distrito de Columbia. “Tarrio era o principal líder daquela conspiração, o principal organizador”, sentenciou o juiz Timothy Kelly.

 
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Grupo extremista prega ódio e violência

Para o FBI, a polícia federal ianque, o Proud Boys é uma organização “extremista com laços com o nacionalismo branco". O grupo foi criado em 2016 pelo empresário Gavin McInnes, cofundador da corporação Vice Media, e é conhecido por sua retórica inflamada de estímulo ao ódio e à violência. Em meados de 2020, durante debate da campanha eleitoral na televisão com Joe Biden, a seita de extrema-direita ganhou fama aos ser mencionada por Donald Trump – que hoje também é réu por quatro casos criminais na Justiça dos EUA. 

Além de Enrique Tarrio, outros psicopatas do grupo neofascista já foram punidos. Na quinta-feira passada (31), Joseph Biggs e Zachary Rehl foram condenados a 17 e 15 anos de prisão, respectivamente, pela participação na invasão. Um dia depois, Ethan Nordean, considerado um dos chefões do Proud Boys, pegou 18 anos de cadeia, e Dominic Pezzola, responsável por quebrar janelas do Capitólio usando um escudo policial roubado, pegou 10 anos. Em maio já havia sido condenado a 18 anos de cadeia Stewart Rhodes, líder de outro grupo de extrema direita, o Oath Keepers (Guardiões do Juramento), que também organizou o ataque ao parlamento dos EUA.

PF mira financiadores dos atos golpistas

 
 

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