Vendilhões, impostores disfarçados de “pastores” mobilizaram multidões nas redes sociais com supostas profecias e revelações sobre intervenção militar, ataque aos Poderes e retorno de Bolsonaro à Presidência. Um insulto à inteligência e à civilidade.
Neste documentário, nosso repórter João Fellet explica como religião e política se mesclaram e como isso influenciou os atos de 8 de janeiro, quando os prédios dos três Poderes foram invadidos e depredados em Brasília. Confira.
Em 12 de maio de 2016, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) foi batizado no Rio Jordão, em Jerusalém, enquanto ocorria no Senado o processo pela admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff. O parlamentar está em Israel, onde se reuniu com congressistas do país e participou das festividades dos 68 anos de aniversário da independência israelense. A cerimônia foi realizada pelo Pastor Everaldo, presidente do PSC. (Correio do Povo)
No dia 29 de abril de 2018, o deputado federal Jair Bolsonaro, ainda como pré-candidato à presidente, esteve no Congresso Gideões Missionários da Última Hora (GMUH), a convite do pastor Reuel Bernardino. E recebeu oração abdominal. Isso antes da fakeada...
Pastores usam profecias para convocar 'guerra santa' por Bolsonaro - BBC News Brasil
Líderes religiosos atraem centenas de milhares de seguidores nas redes sociais com mensagens que dizem ter recebido de Deus; discursos incluem visões sobre intervenção militar, explosão no STF e retorno de Jair Bolsonaro ao poder. Em 15 de novembro, Lucas Moreira, filho da pastora, postou um vídeo ao lado da mãe numa manifestação que bloqueou a rodovia BR-101. "Nós fazemos a nossa parte, Deus faz a dele, há tempo de paz e há tempo de guerra", afirmou a pastora.
Crédito, Pastora Valdirene Moreira tinha mais de 300 mil seguidores quando o YouTube derrubou seu canal; desde então, recorreu aos canais dos filhos e criou novas páginas para continuar publicando na plataforma.
Crédito, O ex-vereador de Fortaleza Reginaldo Rolim, que se define também como apóstolo e profeta no Ministério Atalaia do Deus Vivo, um pequena igreja no Ceará. Em 29 de outubro, na véspera do segundo turno, Reginaldo disse ter recebido a seguinte revelação: Bolsonaro ganharia a eleição, mas Lula seria declarado o vencedor. "Muitas pessoas dizem que Bolsonaro ia dar um golpe militar, só que eu via que o Exército é que tomava a frente, intervinha nas eleições e divulgava algo que estava em oculto e que estava sendo tramado há muito tempo atrás", diz o pastor.
Bolsonaro acreditou que a economia iria pelos ares e, com ela, seu governo, se combatesse a pandemia como Mandetta pedia. Então, preferiu associar-se à morte. Foram mais de 700 mil.
Se desejasse apenas se reeleger, não partiria para o confronto sangrento com a Justiça. O ápice foi no 7 de setembro de 2021, em comício na Avenida Paulista, quando ele explodiu:
“Acabou o tempo dele. Alexandre de Moraes: deixa de ser canalha. Eu quero dizer que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente nunca mais cumprirá. A paciência do nosso povo se esgotou. Ele tem tempo ainda de pedir seu boné e cuidar de sua vida. Ele para nós não existe mais.”
Em live nas redes sociais, desafiou o ministro:
“Tu está (sic) pensando o quê da vida, que você pode tudo? E tudo bem? Você um dia vai dar uma canetada e me prender? É isso que passa pela tua cabeça?”
Quem quer pegar galinha não diz xô. A galinha dos ovos de ouro de Bolsonaro não era a reeleição, mas o golpe. Em legítima defesa do país e dela mesma, a Justiça decretou: “Chega! Basta! Fora!”
E Noblat finaliza:
O imexível e imbrochável capitão de fancaria acabou castrado, tornando-se também inelegível. Falta a canetada. Que não será uma canetada, mas um julgamento que obedeça aos ritos da lei.
É assim nas democracias que não são relativas, mas de verdade.
O que se pretendia com a invasao e a quebradeira de 8 janeiro em Brasilia senao uma resposta sangrenta da policia estadual do DF e das policias federais e das Forças Armadas. Bastaria uma morte para ser a bandeira do confronto, da guerra civil, pretendida na noite de vandalismo do dia 12, ou a explosao de uma bomba no Aeroporto de Brasilia com milhares e milhares de morte. (continua)
Bolsonarismo transformou a desinformação no seu principal instrumento de ação
Em 8 de janeiro de 2023, milhares de bolsonaristas que estavam acampados em frente ao Quartel General do Exército em Brasília partiram a pé rumo à Praça dos Três Poderes. Lá, invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, causando uma destruição cujas imagens correram o mundo.
Essa empreitada foi incubada nos ventres demoníacos dos quatro cavaleiros do apocalipse bolsonarista.
A fome. Ministros de Bolsonaro prometeram (Paulo Guedes e seu discípulo Roberto Campos Neto), para milhões de famintos, restos de comida e alimentos com o prazo de validade vencido. Inclusive o Congresso, de maioria bolsonarista, aprovou o comercio de alimentos nocivos.
Assim aconteceu o inimaginável: Tivemos a fila da fome.
A fila do osso. E outras ofertas miseráveis do Brasil colonia que voltou para o Mapa da Fome, para o atraso do Terceiro Mundo, da lanterna na popa, dos escroques coroneis do Ministerio da Saude e dos pastores larapios do Ministerio da Educaçao.
O governo dos mercadores que vendem pé de galinha, carcaça de frango, e dos milhões de brasileiros que catam alimentos no lixo.
Revoltada a população invadiu as ruas e praças clamando "fora Bolsonaro!" . E "comida no prato!"
A peste. O Brasil bateu a marca, no dia 8 deste mês de julho, dos 37.693.506 brasileiros infectados, com 704.370 mortes, uma quantidade que não muda a posição do país no ranking global da pandemia – ainda é o 2º com mais mortes e mais casos, atrás apenas dos Estados Unidos.
Um genocídio com a marca do governo Bolsonaro, da militarização do Ministério da Saúde.
O texto indica que as orientações dadas pelo governo federal, seja nas declarações do presidente Jair Bolsonaro ou nas informações divulgadas pelo Ministério da Saúde, mostram que o objetivo dos mandatários era expor os brasileiros ao contágio em massa, buscando eliminar a pandemia por meio da chamada imunidade de rebanho.
“Esta Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia colheu elementos de prova que demonstraram sobejamente que o governo federal foi omisso e optou por agir de forma não técnica e desidiosa no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, expondo deliberadamente a população a risco concreto de infecção em massa”, diz o relatório.
O relatório denuncia o chamado “gabinete paralelo”, composto por médicos, políticos e empresários, servia de validação para disseminar a ideia de que era seguro se contaminar pelo coronavírus contanto que se fizesse uso de medicamentos sem eficácia contra a Covid.
De acordo com o relatório, como os integrantes não faziam formalmente parte da administração, seria mais difícil responsabilizar o governo pelas informações que prestavam. Neste grupo estão nomes conhecidos, como o empresário Carlos Wizard, a médica Nise Yamaguchi e o virologista Paolo Zanotto, todos indiciados por epidemia com resultado morte.
“A CPI também pôde concluir que um dos principais objetivos do gabinete paralelo era o aconselhamento do Presidente da República para que fosse atingida a imunidade de rebanho pela contaminação natural no Brasil”, diz o texto.
Foi com base nas orientações dos integrantes do gabinete paralelo e acreditando que a pandemia se dissiparia naturalmente que o presidente Jair Bolsonaro resistiu ao uso de máscaras, ao distanciamento social e até mesmo à compra de imunizantes.
A CPI também conclui que foi com base na credibilidade dos integrantes do gabinete paralelo que o governo fez — e segue fazendo — propaganda de medicamentos que compõem o "kit covid" (como hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina), mesmo com estudos de alto padrão científico atestando sua inutilidade no tratamento da Covid e de órgãos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), recomendando o abandono de seu uso.
“A insistência no tratamento precoce em detrimento da vacinação aponta para o Presidente da República como o principal responsável pelos erros de governo cometidos durante a pandemia da Covid-19, já que foi corretamente informado e orientado pelo Ministério da Saúde, e mesmo assim agiu em contrariedade à orientação técnica, desprezando qualquer alerta que se contrapusesse a suas ideias sem fundamento científico, ou simplesmente demitindo os técnicos responsáveis por esses alertas”, afirma o texto. Leia aqui o relatório para conhecer melhor a face horrenda do Anjo da Morte, a carranca do presidente Bolsonaro (continua)
Terão sido as arruaças de 12 de dezembro um estertor ou um ensaio para o 1o. de janeiro?
“A besta que viste\ foi e já não é\ e há de subir do abismo\ e irá à perdição
(Apocalipse de São João, 17, 8)
por Flávio Aguiar /A Terra É Redonda
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Para mim não há dúvidas de que o atual usurpador do Palácio do Planalto está tentando manter-se nele através do que se criou a moda de chamar um “autogolpe”. Ou seja, trata-se de um golpe de Estado promovido por quem já está nolocusdo poder, em busca de mais poder.
Em nosso passado houve alguns autogolpes, a começar pelo fechamento da Constituinte em 1823, por D. Pedro I. Os primeiros anos depois da Proclamação da República foram marcados por “autogolpes”, desfechados por Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. A proclamação do Estado Novo, em 1937, também foi um “autogolpe”.
Outra tentativa de tal quilate em nossa história, é atribuída, por uma parte das interpretações a respeito, ao então presidente Jânio Quadros, em 1961. Esta parte das interpretações avalia que Jânio Quadros renunciou com o objetivo de ser reconduzido à presidência nos braços do povo, com plenos poderes. A tentativa falhou. Nem o povo acolheu-o nos braços, nem as Forças Armadas o acolheram dentro de seus quartéis ou blindados. Instalou-se uma crise política que quase levou o país à guerra civil, com os ministros militares tentando, sem resultado, impedir a posse do vice-presidente João Goulart. E o desenlace da crise passou pela criação da épica Rede da Legalidade, liderada pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, e pela saída conciliatória da Emenda parlamentarista, articulada, entre outros, por Tancredo Neves.
Uma outra interpretação vai na linha de afirmação atribuída ao então coronel Golbery do Couto e Silva, segundo a qual Jânio Quadros renunciou porque faltou alguém que o trancasse no banheiro. Quer dizer, Jânio Quadros renunciou porque chegou ao auge das crises de depressão que o assolavam na solidão de Brasília. Talvez a renúncia tenha sido fruto de ambas as hipóteses conjugadas.
Também a proclamação do Ato Institucional no. 5 foi um “autogolpe”, fechando mais o regime já fechado da ditadura de 1964.
Bem, mas hoje a história é outra. Está claro que o usurpador do Palácio do Planalto está tentando algo. O que será este algo? Provocar o caos, abrindo as portas para uma “intervenção militar”, tradução branda para “golpe de Estado”, e assim permanecer no Palácio usurpado? Negociar uma “zona de conforto” para si e para sua família depois do 1o. de janeiro? Não se sabe ao certo, podendo uma das hipóteses ou ambas estarem certas. Estará ele deprimido? De início parecia que sim, com aquela pose de cabeça descaída quando ouviu a notícia de que seu adversário ganhara a eleição que ele esperava vencer graças às torpes manobras que o favoreciam. Agora não se sabe. Pode ter-se retirado para o sepulcro do Palácio que usurpou para ressuscitar gloriosamente depois. Neste sentido, terão sido as arruaças de 12 de dezembro um estertor ou um ensaio para o 1o. de janeiro? Ou seriam ambas as coisas?
O certo é que o usurpador do Palácio se deu, nele mesmo, um autogolpe. Ou seja, renunciou sem renunciar. Escondeu-se. Esfumou-se. A não ser para provocar mais desmontes no Estado, atingindo a educação, a saúde, até a água do Nordeste. Criou um vácuo para açular a corja que anseia por uma arrebentação militar que sufoque a legítima e legal manifestação das urnas.
Não há paralelo disto em nossa história. Um governo instituído, ainda que por usurpação devido às manobras de 2018, que não governa mais, e um governo eleito que já governa por tabela, ainda que mais por retórica do que por atos concretos, uma vez que ainda não é governo, nem de direito nem de fato. Mas já governa, reconhecido pelos seus pares internacionais e por declarações de intenção, já que o governo, como disse, não governa mais, nem mesmo desgoverna, como fazia antes.
Apenas se ausenta, para estimular o caos, como se viu na “Noite da diplomação” na capital da República, com as hordas de arruaceiros à solta pelas ruas. O usurpador gerou seu próprio fantasma, como um Macbeth que se auto-assassinasse. Talvez Macbeth seja uma imagem grandiosa demais para tamanho candidato a Messias, pois o personagem de Shakespeare era tresloucado, mas valente. Quem sabe a melhor imagem para o nosso (nosso?) candidato a Messias seja a de Smerdiákov, o sinistro e prepotente, mas impotente personagem deOs irmãos Karamázov, de Dostoievski.
É uma situação historicamente insólita, sem precedentes. Quem falou em nome da manutenção da ordem é o futuro ministro da Justiça, enquanto o atual, em meio às arruaças, jantava tranquilamente em um restaurante e as hordas assaltavam outro, queimando veículos e aterrorizando famílias.
Pelo que se vê no noticiário, o usurpador acolheu no Palácio pelo menos um arruaceiro que temia ser preso. No recinto presidencial há ofertas de lanchinhos para quem exige a ruptura com a Constituição, ou seja, o golpe de Estado.
O Brasil segue. O ministro do Supremo Tribunal Federal, antes denunciado pelas esquerdas como anti-democrático, agora é louvado como o campeão da democracia. E com justiça, diga-se de passagem. Onde estamos? Na completa surrealidade. Em todo caso, algumas balizas se mantém. Curiosas balizas. Como em 1961, as esquerdas revolucionárias defendem a ordem e a legalidade, dentro dapaxque alguns ainda denunciam como a da liberalidade burguesa. Muita gente das direitas se filia a este movimento de defesa das instituições. A ala conservadora radicalizada prega a subversão das mesmas instituições, querendo solapa-las para impor seus desmandos. As Forças Armadas continuam em suas casernas, ilhadas pela horda que pede a sua intervenção. Correligionários do usurpador golpista abandonam seu navio, condenando-o ao auto-ostracismo.
O governo dos Estados Unidos, antes semeador de golpes pela América Latina e alhures, também defende agora a legalidade e a posse do presidente eleito, de esquerda.O tempora, o mores! Decididamente, o Brasil não é para principiantes. Nem mesmo que sejam candidatos a Messias.
Na crise da democracia, devemos ir aos clássicos. Aristóteles dizia que o homem é um ser sociável por natureza. É um politikon zoom, animal político. Ou isso, ou somos deuses. Ou somos bestas.
Por isso, foi enfático: a política é uma ciência estritamente humana, não é assunto nem de bestas nem de deuses.
Também Aristóteles dizia que, por ser um animal político, o ser humano busca parceiro(a) para se unir e formar família, grupos e assim vai.
Talvez hoje em dia o homem (ou mulher) busca parceiros de WhatsApp para formar neocavernas. É o novo "homowhatszapiens".
Acima dos grupos humanos estão os grupos de WhatsApp. Viva. E o TikTok, é claro.
Platão, professor de Aristóteles, talvez tenha sido o primeiro a criticar as bestas, os néscios. Contra esses, formulou a Alegoria da Caverna.
As sombras são sombras, denunciava. Mas de nada adiantava. O rei filósofo foi apedrejado ao dizer que as sombras não eram a realidade.
Hoje em dia já não há fatos. Há apenas narrativas. Mas, como vimos, isso é coisa velha. E, pior, sempre cabe qualquer narrativa. Eis o novo mundo. Vasto mundo. Que, assim, pode, sim, ser chamado de Raimundo, para desdizer o poema de Drummond.
Hoje já é possível dar às palavras o sentido que se quer, dando razão ao personagem Humpty Dumpty, de Alice Através do Espelho, de Lewis Carroll.
Como exercitar a democracia nestes tempos em que já não há fatos? Eis a pergunta de 2.500 anos de filosofia. E de política.
Pergunta-se: do modo como se apresentam, hoje, as redes sociais são compatíveis com a democracia?
As redes, com seus algoritmos e quejandos, criam seus próprios critérios de verificação. É esse o ponto. Daí a incompatibilidade com a democracia.
A democracia moderna é uma questão de linguagem pública. Há critérios para se dizer as coisas — e esses critérios são públicos, construídos intersubjetivamente.
Por isso não surpreende os "outsiders". Outsider é quem vem de fora do jogo de linguagem da política. As redes facilitam isso. Por quê? Ora, exatamente porque criam seus próprios critérios de verdade.
O que é uma república? A resposta é polis. É res pública. Coisa pública. Política. Coisa essencialmente pública. Porém, quando o meio de se fazer política passa a ser as redes, privatiza-se os critérios de verificação. Desaparece a mediação.
Daí passam a valer todos os paradoxos e paroxismos: gente contra a corrupção que tem orgulho de sonegar. Médico a favor de cloroquina. Médicos que possuem autonomia absoluta para receitar cloroquina; mas canabidiol, não. Pastores e evangelizadores que apoiam tortura, misturam o que é de Deus e o que é de César para prosperar (anti)politicamente com base na fé alheia. Fracassamos? A pergunta é retórica.
As redes permitem isso, porque, assumindo o já paradoxal papel de meio — porque não há mediação —, substituem a política, pública e tradicional, por um simulacro em que os critérios são ad hoc.
A mentira como critério da verdade.
A política foi degenerada — pelos tais outsiders — e, fundamentalmente, "evangelizada": pastores da fé e da carteira alheia, "padres" de festa junina — os outsiders de um Estado que é laico.
A esperança? Recuperar o politikon zoom. O animal político. E não as bestas "políticas".
Afinal, fatos existem, por mais que as narrativas queiram se impor. E, sim, as sombras eram mesmo sombras.
Às vezes, o padre é mesmo só de festa junina. E o que é de Deus não é de César.
A política é pública. Como disse Aristóteles, a política não é assunto nem de bestas nem de deuses.
Logo, como os tais "outsiders" e os protagonistas — que misturam religião e sua (anti)política — à toda evidência não são deuses, resta-lhes a segunda hipótese, segundo o velho Aristóteles: bestas.
Miguel (com microfone), Célia Arquimino Barros (mãe) e outra irmã dele (Foto: Reprodução (Globo))
Um menino chamado Miguel, de 11 anos, telefonou para a PM e pediu ajuda porque não tinha comida em casa, em Santa Luzia (MG). "Minha mãe só tem farinha e fubá pra comer", disse. A fome uma exlusividade da população civil. 116 milhões de brasileiros sofrem insuficiência alimentar. A fome um caso de polícia
Este o Brasil real de Bolsonaro, o Brasil da inflação, do desemprego. O Brasil dos sem terra, dos sem teto, dos sem nada. O Brasil exportador de alimentos no mapa da fome. O Brasil do menino chamado Miguel, de apenas 11 anos. Que telefonou para a Polícia Militar (PM), pelo 190, e pediu ajuda porque não tinha comida em casa, na noite desta terça (2), no município de Santa Luzia, Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG).
"Senhor policial, é por causa que aqui em casa não tem nada pra gente comer e eu tô com fome. Minha mãe só tem farinha e fubá pra comer", disse.
A mãe de Miguel, Célia Arquimino Barros, de 46 anos, vive com seis filhos no bairro São Cosme. "Eu vivo de auxílio emergencial, e o pai manda R$ 250, mas não é todo mês que manda", disse ela àTV Globo.
Mais de 60 milhões de brasileiros enfrentaram algum tipo de insegurança alimentar de 2019 a 2021, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgado no mês passado.
O menino fez certo. A fome no Brasil é um caso de polícia. Dos gorilas comendo. Dos cavalões comendo. O Brasil do cartão corporativo do Bolsonaro sob sigilo de cem anos. O Brasil do orçamento paralelo de Ciro Nogueira. Do orçamento secreto de Arthur Lira. Da ministra da Agricultura que quis solucionar o problema da fome, oferecendo alimentos fora da validade. Do ministro da Economia recomendo aos que comem que ofereçam os restos de comida aos sem nada, aos pobres. Que 40% da população civil pena na pobreza, para o governo pagar salários acima do teto, pagar para generais salários de marechais, salários que ficarão como herança para as filhas que não se casarão no civil, para permanecer solteiras até a virada deste século se as democracias intermitentes, as democracias interrompidas pelos golpes militares permitirem.
“Grande humanista”, diz Reinaldo Azevedo sobre Guedes sugerir sobras de comida a mendigos
por Davi Nogueira
Em publicação nas redes, o jornalista Reinaldo Azevedo comentou a mais nova declaração absurda do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Durante anúncio de projeto de flexibilização da regra que trata da validade de alimentos no Brasil, Guedes sugeriu que sobras de alimentos de famílias de classe média e restaurantes sejam doadas a pessoas vulneráveis.
Comparando com a quantidade de comida consumida por uma pessoa da classe média na Europa, que ele diz serem “pratos relativamente pequenos”, o ministro afirmou que no Brasil exageramos e deixamos “uma sobra enorme”.
Reinaldo respondeu à fala do ministro e lembrou que o Brasil tem ”110 milhões vivendo em insegurança alimentar”.
Ele disse, em tom irônico, que Guedes e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que teve a ideia de distribuir alimentos vencidos aos pobres, são “grandes humanistas”.
O Brasil é o 3° maior produtor de alimentos do mundo e o maior exportador. Mas há 110 milhões vivendo em insegurança alimentar. Tereza Cristina teve uma ideia: alimentos vencidos pra pobres. Guedes teve outra: distribuir sobras de restaurantes pra mendigos. Grandes humanistas!
Mesmo após anos de evidências e fatos, como o assassinato de Marcelo Arruda, jornalistas e veículos ainda investem em uma polarização que nunca existiu
A ROUPA MAIS PREZADApela maioria dos jornalistas é aquela costurada com o fio da objetividade. Sentem-se não apenas mais bonitos, mas principalmente mais blindados e, portanto, mais seguros, com ela. Tornam-se semi-deuses: enxergam tudo do alto, sem se misturar com mesquinharias cotidianas como posicionamento político (coisa de ativista) e as questões do machismo (problema das mulheres), do racismo (problema dos negros) e do classismo (problema dos pobres).
Para costurar essa roupa-escudo, os jornalistas usam como principal matéria-prima os fatos e as evidências. É algo que vai na mesma linha do “cientificamente demonstrado”. Se algo aconteceu daquele jeito, só pode ser explicado pela descrição da ocorrência, como se um acontecimento não tivesse passado, contexto, futuro, raiz.
Pois bem, vamos brincar de Jornalista Equilibrado Usando Terno e Dono de Algum MBA Gringo e levar em consideração que os fatos são suficientes para explicarmos as coisas que ocorrem “lá fora”.
Moa do Katendê: assassinado com 12 facadas por um eleitor de Bolsonaro durante o primeiro turno das eleições presidenciais em 2018 após declarar seu voto em Fernando Haddad.
Jornalista espancada com pedaço de ferro e ameaçada de estupro também no primeiro turno das eleições presidenciais de 2018. Saía do local no qual havia acabado de votar quando dois homens a arrastaram pelo braço ao verem seu crachá de jornalista. Os agressores disseram que ela era “de esquerda”. Um deles usava calça jeans e uma camiseta preta com a foto de Jair Bolsonaro (PSL) e os dizeres “Bolsonaro Presidente”.
Jair Bolsonaro concede indulto ao deputado Daniel Silveira,condenado pelo STFapós atacar a corte e dizer que imaginava ministros“levando uma surra”.
Nas últimas semanas, diversos atos violentos em eventos envolvendo a campanha de Lula foram registrados, desde a explosão debombas caseiras com fezesà invasãode reuniões.
O assassinato do guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Aloizio de Arruda, que comemorava seu aniversário de 50 anos quando foi atacado pelo policial penal federal Jorge José da Rocha Guaranho. O caso possui semelhanças com o ocorrido com Moa do Katendê: no caso deste, o criminoso se envolveu em uma discussão, foi até em casa e se armou com uma faca do tipo peixeira. No segundo, o assassino deixou mulher e filha em casa e voltou com sua arma de fogo. Mas Marcelo também estava armado: morreu após disparar contra Guaranho.
Eu sei, eu sei: você já leu tudo isso que está aqui. A gente se engana achando que jornalismo trata necessariamente de novidade. Na verdade, ele tem muito de repetição. E é exatamente isso que está acontecendo desde o último terrível fato elencado aí em cima, o assassinato de Marcelo. Mesmo após anos de evidências e fatos que desenham um ambiente político novo no Brasil, no qual o bolsonarismo passa a mirar diariamente uma arma real ou simbólica contra nossas cabeças, uma penca de jornalistas insiste em colocar o campo democrático na mesma balança do discurso de morte e extermínio do presidente.
Mas não é de qualquer “campo democrático” que estamos falando: é preciso nomear o ex-presidente Lula para entender melhor o fenômeno dos jornalistas e/ou articulistas “objetivos” que ignoram os adorados fatos quando o ex-metalúrgico ou o Partido dos Trabalhadores estão na roda.
Nos últimos dias, artigos como o escrito porRicardo Kertzman, na IstoÉ (coloca Lula e Bolsonaro como “as bestas do apocalipse”), e o de Fábio Zanini, naFolha(“Ato de bolsonaristas pelas armas, fala de Lula e crime no Paraná mostram clima desfavorável à pacificação”), entre outros, nos mostraram como barbárie também se desenha a partir do ar-condicionado do home office ou das redações.
“Nesse ambiente, eventos banais tornam-se mortais, especialmente se os dois lados estiverem armados”, diz um trecho do artigo do último colunista. Essa é uma falsa equivalência estarrecedora, e não somente pelo fato de dezenas de eventos violentos pulularem após o espraiamento do bolsonarismo no país, mas por diminuir o peso imenso da caneta e do discurso de alguém que está no poder – e ainda turbinadíssimo pelo Centrão.
Um lado é o presidente do Brasil. O outro é um candidato.
Um lado é o presidente do Brasil. O outro é um candidato.
Vou repetir: um lado é o presidente do Brasil. E ele é parte máxima de nossa institucionalidade.
A polarização política sempre existiu no país. O que é novo entre nós e que continua a ser tratada com punhos de renda é a violência do bolsonarismo
A polarização política sempre existiu no país. O que é novo entre nós e que continua a ser tratada com punhos de renda é a violência do bolsonarismo. O que não é novo entre nós é uma imprensa dotada de uma visão precária de democracia. Acho muito ruim que o candidato elogie atos violentos como o realizado pelo ex-vereador Manoel Eduardo Marinho, conhecido como Maninho do PT, como fez em um evento no fim de semana. Mas comparar essa fala infeliz ao paredão de violência do bolsonarismo é forçar a barra.
Perdi a conta do número de pessoas que me disseram ter vontade de se expressar politicamente usando bandeiras ou adesivos em seus carros, janelas, roupas. Não o fazem por uma razão simples: medo de apanhar na rua. Ou, como no caso de Marcelo, de serem assassinadas.
Vocês têm notícias de bolsonaristas com medo de usar adesivo do presidente ou pendurar em seus carros bandeirinhas do Brasil?
Estão chamando “um lado” (para usar o termo raso) que tem apanhado, morrido, se lascado e está em parte acuado, de “extremista”?
Nos últimos anos, a palavra “polarização” vem sendo repetida por uma estrutura midiática acostumada a binarismos diversos, explícitos em termos como “gente do bem” e, vejam só, “dois lados”.
Nessas lógicas binárias não se associam Daniel Silveira, funk misógino e os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips, por exemplo. Ou incentivo ao garimpo, racismo e xenofobia. Divide-se o bolsonarismo em gavetinhas e, usando-o aos poucos de cada vez, tem-se a impressão que ele pode não ser tão terrível assim.
Parte de nossa imprensa continua a tropeçar nas próprias platitudes ao se negar a trabalhar com a complexidade lá fora. Assim, constrói mitos e heróis, vilões e desgarrados, tudo a depender das suas necessidades econômicas e políticas no momento. A questão não são fatos, nem a leitura mais acurada dos mesmos, no final. A questão é – em nome de uma ideologia, bom dizer – instrumentalizá-los, mesmo quando flertam com a destruição de vidas.
Toda vez que equipara Bolsonaro e o bolsonarismo a qualquer coisa que já tenha acontecido na política brasileira, o jornalismo pula o cercadinho e vai fazer companhia ao presidente.
A democracia brasileira conviveu durante décadas com o pluripartidarismo sem que repórteres e editores precisassem recorrer a toda hora a termos que conformassem as legendas como “extremistas”. Isso era termo usado, no máximo, para tratar aquelas com poucas chances de atingir postos majoritários, como o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, o PSTU, e o Partido da Causa Operária, o PCO, ambos à esquerda, ou o Partido de Reedificação da Ordem Nacional, o Prona, já extinto, à direita. O Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB, hoje Movimento Democrático Brasileiro, MDB, o Partido dos Trabalhadores, o PT, ou o Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB, por exemplo, transitavam entre centro, centro-direita e centro-esquerda, sem ocuparem os postos máximos da radicalização política.
Se nosso espectro político majoritário foi historicamente “equilibrado” ao centro com matizes à esquerda e à direita, o que muda no cenário para que a imprensa e mesmo nós, sociedade perpassada mais pelo senso comum do que pelo senso crítico, passássemos a ver tudo pela lente “radical”?
A instrumentalização da objetividade jornalística ajudou não só a propagar um racismo estrutural e epistêmico quanto nos trouxe de presente um Jair Bolsonaro
A resposta está no crescimento da ultra-direita brasileira, uma explosão de visibilidade embalada por ao menos três fatores. O primeiro é a consolidação de um contexto político e social mais conservador em todo o mundo, no qual se misturam, entre outros componentes, o colapso político de vários países causado por violentas disputas internas e uma onda inédita de imigração (foram 272 milhões de imigrantes em 2019, 51 milhões a mais do que em 2010, segundorelatórioda ONU). A precarização global do trabalho, resultando em um aumento de preconceito e violência sobretudo entre populações imigrantes, somente agrava essa questão.
O segundo fator se ancora na agudização dos sentimentos de raiva, impotência e medo derivados do contexto esboçado acima: trata-se da instrumentalização política de dados e algoritmos, principalmente nas redes sociais. O mais célebre escândalo desse uso indevido de informações foi protagonizado pela Cambridge Analytica, empresa que utilizou dados pessoais de usuários do Facebook para influenciar as eleições presidenciais americanas em 2016.
O terceiro fator para o crescimento da extrema direita no Brasil, apesar de seu precedente também global, ainda é pouco investigado entre nós – e é sobre ele que precisamos atentar: ele decorre dessa insistência em tratar Bolsonaro e o bolsonarismo como um extremo em oposição a outro, supostamente existente.
Vou repetir: de um lado está o presidente do Brasil. É o cargo máximo de nossa institucionalidade. Do outro, são movimentos sociais, candidatos, população.
Bolsonaro, como já escrevi, não nasceu somente graças ao Superpop e ao CQC, sejamos claros. Essa é outra platitude que só serve para manter bonitinhos os ternos e MBAs dos Jornalistas Equilibrados. Ele sofreu um banho de loja realizado pela imprensa que se autointitula como “profissional” e transformou o autor da frase “o erro da ditadura foi torturar e não matar” (dita em 2008 e 2016) em um cara “controverso”.
Desde a madrugada de domingo, a respeito do assassinato de Marcelo, li várias vezes que um lulista e um bolsonarista “trocaram tiros”.
Alguém tem a festa invadida, a própria vida e a da família e amigos ameaçada por um homem armado. Usa seu próprio revólver para se defender. E o resumo é “troca de tiros”.
Poderia ser “legítima defesa”, mas estamos falando de algo que envolve o PT.
O fato é que o jornalismo “neutro”, empresarial, das redes e conglomerados mais assentados, passou a se constituir como norma. Tudo aquilo que não está conformado nele seria, assim, um desvio, uma anormalidade situada, como já colocou a pesquisadora e jornalista Márcia Veiga. Um veículo como, por exemplo, esteThe Intercept Brasil, foi e é criticado por se posicionar demais, ou, pior, por ser “ativista”. Mas, se entendemos que o Interceptfoi “ideológico” ao publicar as mensagens da Vaza Jato, devemos pensar o mesmo em relação ao Jornal Nacional no momento em que este vazou a ligação telefônica entre Dilma Rousseff e Lula.
Para marcar esse lugar que parece limpo e equilibrado, esse “estar acima das paixões”, nossos veículos naturalizaram o discurso criminoso de um político celebrizado midiaticamente. Primeiro, ele era apenas um cara controverso; depois, já presidente, um extremista que está em uma ponta enquanto Lula (cujo governo foi marcado por alianças com partidos como PMDB, hoje MDB, está na outra.
É fundamental perceber como o ex-presidente vai ser continuamente construído como o Bolsonaro do outro lado do espelho. Está posta a “polarização” que – sugerem esses veículos – nos apequena enquanto sociedade e da qual precisamos nos livrar; afinal, precisamos valorizar a democracia à brasileira, na qual indígenas e pretos são tratados como cidadãos de segunda classe e uma distribuição de renda mais justa é uma ideia estapafúrdia. A instrumentalização da objetividade jornalística (através, por exemplo, do jornalismo declaratório) ajudou não só a propagar um racismo estrutural e epistêmico quanto nos trouxe de presente um Jair Bolsonaro.
Enquanto imprensa e outras instituições fundamentais para a manutenção de nossa relutante democracia assinarem embaixo das práticas autoritárias e preconceituosas, enquanto normalizarem Bolsonaro o colocando como um espelho reverso de Lula, vamos seguindo o bonde em direção ao precipício. No volante, alguém “autêntico” que foi confundido pela imprensa séria como um tiozão do pavê que às vezes soltava um impropério.
Engraçado.
Folclórico.
Controverso.
“O avesso do fantoche é o terrorista”, escreveu o sociólogo Derrick de Kerckhove, que analisa democracia, dados e novos fenômenos da política. É uma análise que é também um retrato de um Brasil, onde, depois de pouco mais de um ano na presidência, o presidente resolveu levar até à imprensa que o ajudou a chegar ao poder, um humorista, o Carioca, vestido como ele mesmo, Jair Bolsonaro. Na ocasião, o presidente foi questionado sobre o PIB que crescera apenas 1,1% em 2019. Em vez de falar com repórteres, BolsonaroestimulouCarioca a distribuir bananas e a responder em seu lugar. Caos instaurado, perguntas não respondidas, bananas jogadas, selfies, apoiadores transmitindo ao vivo, gargalhadas, “mito”.
Vou repetir: é o presidente do Brasil. É o cargo máximo de nossa institucionalidade.
Há algo muito importante naquele dia e que talvez ainda não tenhamos entendido: Bolsonaro agiu com imensa coerência quando colocou um humorista para ser nosso presidente. Ali nos deu, jornalistas, uma lição: ao ajudarmos a eleger um cara “meio controverso”, demonstramos que podemos ser tratados como idiotas. Dos atos tantas vezes violentos contra a imprensa, talvez aquele tenha sido um dos mais didáticos, e mesmo lúdico: tivemos uma experiência única de ver alguém sem qualquer capacidade para responder pela República ocupar os holofotes da política para fazer graça, distrair, ocupar a nossa atenção.
Eu não estou me referindo ao humorista, e sim ao fantoche. Falo do seu avesso.
Vou repetir: ele é o presidente do Brasil.
*Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), em 2021 o Brasil registrou 430 casos de violência contra jornalistas. Foram mais casos que em 2020, quando foram registrados 428 ocorrências. É um recorde na série histórica, iniciada em 1990.
O governo espera à Herodes, um massacre de inocentes para iniciar a vacinação de crianças.
Leia nota da OAB sobre vacinação obrigatória de crianças.
A consulta pública sobre vacina da Covid 19, mais uma palhaçada mortal do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para agradar o negacionismo, o obscurantismo de Bolsonaro, o governo das Quatro Bestas do Apocalipse, a fome que mata, a morte pelas doenças do Terceiro Mundo - tuberculose, hanseníase, verminoses como a ancilostomíase e esquistossomose, malária, doença de Chagas, leishmaniose e tracoma são algumas das doenças da pobreza e estão associadas às más condições de higiene e saneamento-, o genocídio da pandemia da covid-19, a ameaça da epidemia da gripe H3N2, as chacinas nas favelas, zonas de guerra das milícias, do tráfico, da polícia que mata - a prática nazista de um militar morto vale a vida de dez civis.
Outra puxa -saco é o ministro da Educação Milton Ribeiro, que decidiu proibir as Instituições Federais de Ensino de exigir a vacinação contra covid-19 como condicionante ao retorno das atividades educacionais presenciais.
Nota pública sobre vacinação obrigatória de crianças (OAB/SP)
Diante das notícias largamente veiculadas na imprensa sobre a queda no índice de imunizações de crianças, do surto de doenças e da detecção do aparecimento de enfermidades que estavam erradicadas no Brasil como sarampo, poliomielite, dentre outras e ainda, considerando o teor das dúvidas apresentadas por pais, guardiães e educadores à Comissão Especial de Direitos Infantojuvenis da Seção Bandeirante da Ordem dos Advogados do Brasil vem a público prestar os seguintes esclarecimentos:
É dever de todos os pais (e/ou eventualmente guardiães) submeter os filhos menores ao calendário de imunização visando preservar a sua integridade física, a qual é indisponível, ou seja, não se trata de uma faculdade, mas sim de uma obrigação legal;
AConstituição Federal de 1.988em seuArtigo 227assevera de forma clara a fundamental importância do papel da família juntamente com a Sociedade e o Estado na preservação dos direitos dos infantes, sendo que em 1989, com a promulgação da Lei nº 8.069(ECA)foi o legislador categórico ao acrescentar dentre os deveres inerentes ao poder familiar a obrigatoriedade de vacinação de crianças nos casos determinados pelas autoridades sanitárias, conforme o calendário de vacinação definido pelo Ministério da Saúde(art. 14, §1º);
A institucionalização de políticas públicas voltadas a imunização contra enfermidades ocorreu com o advento daLei nº 6259/75e tem por escopo, dentre outras nuances, disponibilizar gratuitamente à população brasileira acesso a vacinação preventiva de enfermidades, em sua grande maioria recomendadas pelaOrganização Mundial da Saúde;
A não submissão a determinação legal além de deixar a criança vulnerável a enfermidade, torna-a vetor de risco para proliferação de moléstias junto a sociedade;
Em caso de inobservância da norma existe a possibilidade de aplicação de multa aos pais (de 03 a 20 salários mínimos) que pode ser dobrada em caso de reincidência(Art. 249 ECA), não obstante podemos ter a decretação de reflexos restritivos no exercício do poder familiar, decretação de medidas de proteção e até mesmo a configuração de crimes previstos no código penal como abandono, tentativa de homicídio, homicídio, além de delitos contra a saúde pública;
O Poder Público tem o dever de manter campanhas de vacinação e manter todas as vacinas obrigatórias em postos de saúde. Na falta de atendimento na sua cidade, avise imediatamente ao Conselho Tutelar, ao Ministério Público ou a Subsecção mais próxima da Ordem dos Advogados do Brasil;
É dever de todos informar as autoridades públicas sobre a ocorrência de tais casos, em especial, o Conselho Tutelar de sua localidade para adoção das medidas cabíveis; e
Caso os pais desejem submeter o filho a um processo de imunização distinto da forma tradicional, tal pedido deverá ser submetido ao Poder Judiciário e, somente após a obtenção de uma manifestação favorável do Juízo competente, devidamente embasada em perícia e argumentos científicos, poderemos ter uma exceção à regra que assegure a manutenção de uma vida saudável ao infante.
Ricardo de Moraes Cabezón Presidente da Comissão Especial de Direitos Infantojuvenis
Com o mote #ForaBolsonaroRacista, o Dia da Consciência Negra, neste sábado (20) tem atos convocados em todo o país
por Roberta Quintino
No dia 20 de novembro, amanhã, entidades sindicais e movimentos popularesestarão mais uma vez nas ruas contra a política genocida do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em defesa da igualdade racial, da vida, da democracia e do emprego.
Com o mote #ForaBolsonaroRacista, o Dia da Consciência Negra tem atos convocados em todo o país pela Convergência Negra, Coalizão Negra por Direitos e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, articulado com diversas organizações dos movimentos sociais negros.
A publicação aponta ainda motivos para que a população ocupe as ruas no próximo sábado, dentre eles, registra que Bolsonaro é responsável pelo retorno da fome no Brasil, fator que atinge em cheio a população negra, pobre e periférica do país.
Para o secretário de Combate ao Racismo do Partido dos Trabalhadores do Distrito Federal (PT-DF), Daniel Kubuku, o “dia 20 de novembro é uma conquista do movimento social negro”. Nesse sentido, unificar as pautas pela saída “desse governo genocida” e a luta antirracista é fundamental para visibilizar e “darmos mais ênfase à pauta pela igualdade racial”, aponta. Em Brasília, o ato será realizado no Museu da República, a partir das 15h.
Kubuku destaca que “Bolsonaro não inventou o racismo, mas seu desgoverno aprofundou as desigualdades em nossa sociedade que já é racializada”, diz. Para ele, as falas, ações e omissões de Bolsonaro concorrem para o aprofundamento do genocídio da população negra.
“Desde a sua retórica militarizada, passando pela naturalização e incentivo ao genocídio da população negra, até chegar à destruição das políticas sociais e promoção da igualdade racial. Estamos falando de um governo corrupto e genocida, que mata pela doença, pela fome, e pelo extermínio físico e simbólico de tudo que remete a nossa ancestralidade africana. Portanto, ir as ruas pra dizer Fora Bolsonaro é uma tarefa urgente de todo movimento social negro nesse dia 20 de novembro”, ressalta Kubuku.