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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

30
Dez22

Acampamentos patriotários

Talis Andrade

Imagem: Marcelo Jaboo

 

A mise-en-scène pseudopatriótica com o pavilhão verde-amarelo disfarça a vileza, para enganar os bobos

por Luiz Marques /A Terra É Redonda

A democracia nasceu cinco séculos antes da era cristã, em Atenas. À mesma época, tinha início a transição romana do reinado à república aristocrática, democratizada por pressão dos plebeus e seus líderes que se julgaram qualificados o suficiente para integrar o círculo político de poder, apoiados no forte princípio da igualdade. Depois, a democracia hibernou durante mais de um milhar de anos, para redespertar aos poucos nas pólis de Veneza e Florença, já na Itália medieval e renascentista.

Robert A. Dahl, em A democracia e seus críticos, compara as experiências igualitaristas e isonômicas de dois mil e quinhentos anos atrás “à invenção da roda ou à descoberta do Novo Mundo”. Etimologicamente o termo “democracia” deriva do grego, combina demos (povo) com kratia (governo, autoridade). Portanto, é o “governo do povo”. Um achado revolucionário que trouxe possibilidades inusitadas para a administração da sociedade, jamais imaginadas noutras modalidades de governo. As cidades-Estado deram lugar aos Estados-nação.

A democracia viveu problemas de identidade, no percurso. Há distintos modos ditos democráticos de governar. Na Antiguidade, prevaleceu a participação direta; na Modernidade, a representação. Ao se pronunciar no Ateneu Real de Paris, em 1819, Benjamin Constant avaliou que o deslocamento da participação para a representação esteve vinculado à metamorfose da concepção de liberdade dos antigos (dedicada à vida pública) para a concepção de liberdade dos modernos (dedicada à vida privada), dadas as circunstâncias históricas. Tudo sob os controversos avatares da democracia.

Em uma obra instigante sobre o tema, Democracia e representação, Luís Felipe Miguel considera que esses são territórios em disputa. “A expressão ‘democracia representativa’ guarda uma tensão interna que não deve ser escamoteada, mas mantida como um desafio permanente. A representação estabelece, por sua lógica, um movimento de diferenciação oposto ao requisito da igualdade, que é próprio da democracia. Lutar contra essa tendência, buscando a redução do diferencial de poder entre os representantes e os representados, é uma tarefa sempre renovada”. (Veremos em 2023).

Hoje, a passagem da participação para a representação possui um caráter geopolítico. Textos de ciência política escritos por sul-americanos evocam a participação; escritos por autores europeus destacam principalmente a representação. Onde o Estado se deixa permear por demandas sociais, a representação é bem acatada. Onde o Estado é mera correia de transmissão das classes dominantes, a participação é uma exigência das classes trabalhadoras para compensar o handicap. Não à toa, as edições inaugurais do Fórum Social Mundial (FSM) ocorreram na América Latina, em Porto Alegre, a capital do Orçamento Participativo (OP) para aprimorar a gestão das finanças públicas.

 

Democracia e república

Demos é uma noção polissêmica, às vezes exclusiva de segmentos (nobres, proprietários, homens, brancos); às vezes inclusiva da população (mulheres, imigrantes, negros, analfabetos). No fundo, a dificuldade está em que a democracia designa um ideal de governança e, em simultâneo, descrições empíricas da institucionalidade em países que aparentam incongruência ao utilizar a terminologia. A polissemia também atinge a tradição republicana: ora aristocrático-conservadora com uma solução de equilíbrio entre os ricos e os pobres; ora democrático-progressista com a recusa à coexistência de instituições com pontos de vista classistas. A contraposição do interesse geral ao dos particulares simplificou o dilema; em tese, sem a divisão de classe incrustada no aparato de représentation.

O caminho para a democracia e a república é sinuoso e contraditório. Vide a Venezuela, que polariza emoções no espectro político ocidental. Uns classificam o Estado venezuelano de ditatorial, comandado pela mão de um tirano, e propõem romper relações diplomáticas. Outros reputam-no democrático, a cargo de um legítimo exponencial da vontade majoritária, ungido pelo voto em eleições livres. Os contorcionismos sobre os significantes esvaziam a sua (a nossa) inteligibilidade.

O passo das cidades-Estado aos Estados-nação levou às associações políticas transnacionais. ONU, UE, Nafta, Otan, Brics e COPs são articulações mais complexas do que as registradas no alvorecer da democracia. Entre a Grécia clássica e o século XVIII, se postulou que os Estados democráticos e republicanos deveriam ser minúsculos, em território e população, pelos padrões atuais. Das cidades-Estado, restaram San Marino e Liechtenstein como legados pitorescos de um passado desaparecido. As reuniões em assembleias com a totalidade dos cidadãos, de logística complicada nas ágoras, tornaram-se quimeras. O aumento populacional fez John Stuart Mill descartar o assembleísmo.

A representação procura aplicar o vetor da igualdade aos sistemas políticos de magnitude. Corpos legislativos, que na Idade Média garantiam os predicados de donos das terras e dos comerciantes, se transmutaram em órgãos para atender o conjunto da população (válida). A democratização dos Estados nacionais não partiu de uma tábua rasa. Seu desdobramento discursivo, em instituições imprescindíveis nas sociedades de porte volumoso, foi esmiuçado pelo conceito de “poliarquia” formulado por Robert A. Dahl. A poliarquia (“governo de muitos”) não é mais do que a democracia liberta de incumbências pelos democratas insatisfeitos, com ela. Corresponde a uma “democracia formal”, sem um poder demiúrgico e disruptivo para reordenar o mundo à revelia da política.

Países com governos poliárquicos caracterizam-se pela universalização dos direitos individuais, funcionários concursados, sufrágio direto e inclusivo, direito de concorrer aos cargos eletivos, liberdade de expressão, informação alternativa e autonomia associativa. Essa taxonomia contém o mínimo para uma nação merecer o selo de autenticidade democrática – e dirimir dúvidas a respeito.

Se comunidades pequenas acarretam a opressividade dos indivíduos não-conformistas (Atenas foi intolerante com Sócrates), comunidades populosas tendem a ser tolerantes em face das dissidências. Para tanto, é essencial lideranças que prezem o pluralismo político e ideológico, os conflitos se atenham em limites suportáveis e não se esgrimam coerções violentas (polícia, militares) para conquistar e manter o domínio em “hegemonias fechadas”, pelo autoritarismo ou o totalitarismo.

 

O processo democrático

O processo democrático permitiu à humanidade alcançar: (a) a liberdade política sob o crivo da autodeterminação individual e coletiva; (b) o desenvolvimento humano com autonomia moral e responsabilidade pelas próprias escolhas e; (c) a proteção e a promoção dos interesses e dos bens que as pessoas compartilham entre si. Esse processo, que está longe da perfeição, está ligado aos valores da igualdade. Fato que o converte em “um meio necessário para a justiça distributiva”.

A visão democrática vai além do edifício do real ao focar na perspectiva de mudança do status quo, por via pacífica. Caso contrário, a democracia não teria superado as instituições e as crenças que sustentavam o feudalismo, ou o fascismo e o nazismo na Europa, ou as ditaduras civis-militares sangrentas em nosso continente. A democracia se reinventa nas lutas por direitos, na direção do igualitarismo possível para construir uma sociedade sem discriminação, acolhedora e plural.

O ataque à democracia foi revigorado na década de 1980, com a crescente dominação desde então do neoliberalismo em nível internacional. O receituário neoliberal não é só um modelo econômico, mas “la nouvelle raison du monde” como mostram Pierre Dardot e Christian Laval, em um livro de mesmo título. A nova razão do mundo separa as aspirações democráticas do princípio de igualdade. Defende a desigualdade como meta prioritária dos governantes, fiel ao Consenso de Washington. O retrocesso civilizacional destruiu os imperativos éticos vindos da Revolução Francesa, através da tríade liberté, égalité et solidarité para a sedimentação de um Estado de direito democrático.

“Liberdade”, no sentido que se possa viver sem estar submetido às arbitrariedades de ninguém. “Igualdade”, no sentido positivo da equanimidade para que cada um tenha acesso aos expedientes de uma vida com autonomia. “Igualdade”, no sentido negativo contra a exclusão social e política, bem como contra a pobreza, a humilhação e a invisibilidade. “Solidariedade”, no sentido da dupla realização da liberdade e da igualdade para transcender os particularismos, acessar as oportunidades justas de autodesenvolvimento e comungar o bem comum com direito a um tratamento digno para todas, todos e todes. As estruturas sociais e a consciência andam juntas com a cidadania plena.

Alguns citam Alexis de Tocqueville, em A democracia na América, ao argumentar sobre a suposta dinâmica que ao unir a democracia e a igualdade dispararia uma propensão autodestrutiva, a longo prazo. O colapso das instituições democráticas na Itália, na Alemanha e na Espanha, entre 1923 e 1936, confirmaria a conjectura do pensador. Contudo, a tempestade teve uma curta duração.

Não é a expansão do igualitarismo nos hábitos, costumes e ideias, senão a introjeção inconclusa dos valores da igualdade que acirra os conflitos, em defesa dos privilégios de classe. As políticas igualitárias necessitam de um tempo para formar um novo senso comum, na sociedade. Nos países em que as instituições democráticas existem há mais de uma geração, e houve um acerto de contas transparente com o passado, a substituição da democracia por um regime de exceção é algo raro.

 

Os acampamentos patriotários

“O patriotismo é o último refúgio dos canalhas”, a frase do crítico literário inglês Samuel Johnson data de 1775. Referia-se aos que por detrás das juras de amor à pátria e à liberdade, hipocritamente, escondem as ambições pessoais. A pantomima não é uma invenção da extrema-direita bolsonarista. Mas foi aperfeiçoada pela massa de manobra que aterrizou defronte os quartéis e, inclusive, na frente de uma loja da Havan, em Santa Catarina. Como se enviassem uma mensagem criptografada ao “pato manco” que ainda chora a derrota nas urnas, apesar dos estupros eleitorais cometidos na campanha com dinheiro público e privado. Ou como se cobrassem, do Véio, um cachê atrasado.

Estados antidemocráticos funcionam como moedas aos que vendem seu apoio e voto, em troca de proventos espúrios com a hiperexploração dos trabalhadores e a retirada de direitos trabalhistas e previdenciários dos mais vulneráveis. É o que mobilizou frações da burguesia financeira, industrial e comercial em favor da reeleição do genocida que carrega no currículo 400 mil óbitos evitáveis, na pandemia do coronavírus. A mise-en-scènepseudopatriótica com o pavilhão verde-amarelo disfarça a vileza, para enganar os bobos com uma estética que recende as manifestações nazifascistas.

Ações externas após os eventos de 2013 e 2015 ressignificaram, com o mote da corrupção, o período em que o presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) governaram o Brasil (2003-2016). O questionamento sobre o resultado das eleições de 2014, vencidas por Dilma Rousseff, e a guinada programática que fez a presidenta eleita pressionada pela crise econômica “largar a mão da esperança”, de um lado; de outro, as pautas de lesa-pátria introduzidas pelo inominável pulha que mandava na Câmara dos Deputados redundaram no impeachment, capitalizado pelo extremismo da direita populista que eclipsou a centro-direita tradicional. Com as peças em movimento no tabuleiro de xadrez, um palhaço sociopata subiu a rampa da presidência e municiou organizações criminosas.

Em Brasília, o acampamento patriotário teve dez mil membros; agora contabiliza menos de 800 zumbis. Arsenais de armas pesadas (fuzis, submetralhadoras) foram apreendidos. O incêndio de carros, ônibus, agressões e intimidações extrapolaram a legalidade. Implodiram a sociabilidade do demos, com a conivência de autoridades corrompidas pelo bolsonarismo. No apagar das luzes do sinistro espetáculo, que foi o desgoverno, decretos oficiais liberam a devastação de terras indígenas e indicam um militar para ocupar a Secretaria de Cultura nas últimas semanas, com o propósito de atiçar as pulsões de morte. Os terroristas, com a bomba armada no caminhão de combustível para aviões, no aeroporto do Distrito Federal, pretendiam suscitar o caos – para variar. Eles merecem ser punidos com exemplaridade, “dentro das quatro linhas da Constituição”. Não é o circo, é o terror.

O novo governo precisa mostrar que sabe cuidar do povo e, o povo organizado, do governo de reconstrução. Vai para o lixo da história o golpe malogrado. Os financiadores do mal e os fanáticos negam ao eleitorado a isonomia participativa e representativa, e o igualitarismo político para eleger o presidente do Brasil. Creem-se superiores à soberania popular, em uma realidade paralela. Mas a força da ideologia democrática é tal que até o déspota do Qatar rendeu-se: “Esta foi a Copa da igualdade”. Descontado o cinismo, importa o reconhecimento sub-reptício da democracia. Ouçam o rufar dos tambores: O patigiano portami via / O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao

08
Ago22

Nota de Solidariedade a Manuela D’Ávila

Talis Andrade

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O Partido das Trabalhadoras e dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul e a Secretaria Nacional de Mulheres do PT vêm expressar sua solidariedade à Companheira de lutas, Manuela D’Ávila e expressar veementemente o nosso repúdio aos ataques inaceitáveis e criminosos sofridos por Manuela e sua família.

Não podemos aceitar nenhum tipo de ataque, tampouco quando isso acontece com a intenção de intimidar para silenciar uma das vozes mais importantes na luta por igualdade e por mudanças na sociedade brasileira.

Exigimos que as autoridades investiguem e punam o autor dessas ameaças, por fim, mas uma vez reafirmamos nossa irrestrita solidariedade à Manuela e sua família com a certeza que seguiremos juntos e juntas na luta contra a misoginia e demais crimes de ódio.

 

MANUELA D'ÁVILA: HÁ VIDA POLÍTICA FORA DE ELEIÇÕES?

 

Manuela d’Ávila, convidada do programa 20 MINUTOS ENTREVISTA,  defendeu a adoção imediata de ações emergenciais para o combate à fome na base da população brasileira. Para a ex-vereadora, deputada estadual e deputada federal filiada do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), setores progressistas brasileiros se afastaram da esfera pública tanto no mundo virtual como no real e, portanto, se desconectaram da vida cotidiana da maioria do povo. "Muitos de nós resistimos a iniciativas de solidariedade prática, como quem diz que é assistencialismo, mas são espaços de articulação de saídas para o dia a dia do povo”, afirma.

O período da pandemia evidenciou ainda mais essa ausência de articulação e de atuação prática: “Como não tivemos um grito unificado em defesa das cozinhas das escolas públicas abertas produzindo alimento para o povo? Não tem explicação para isso”. Tais espaços vagos, como já vinha acontecendo, acabaram preenchidos por comunidades de base como as reunidas em torno de igrejas evangélicas.

A ex-candidata a vice-presidenta da República em 2018, na chapa de Fernando Haddad, localiza os “feixes de luz” que despontaram na “escuridão severa” pós-2014: estão representados pela juventude que se manteve na rua, pelas mulheres mobilizadas a partir da construção do golpe contra Dilma Rousseff e pelos negros e negras que constituem a base trabalhadora do país e se expressam em bancadas antirracistas em diversas instâncias legislativas.

D’Ávila combate a ideia de um “sujeito universal” evangélico, difundida habitualmente à esquerda, e diz não reconhecer uniformidade na população neopentecostal. “Na primeira vez que fui a um templo desses, o que me impactou foi a auto-estima das mulheres negras super-exploradas no trabalho, vítimas de violência, que chegam ali e celebram, cantam se arrumam.” De modo análogo, ela questiona a uniformização corrente da “classe operária” ou “classe trabalhadora” na compreensão da desigualdade brasileira.

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30
Jul22

Mulheres de Atenas: entenda a crítica de Chico Buarque (escute a música)

Talis Andrade

Mulheres de atenas: entenda a crítica de Chico Buarque

 

Você conhece a música Mulheres de Atenas, de Chico Buarque? Descubra o que o autor queria realmente criticar por meio desta obra e como as cidadãs gregas, que inspiraram a composição, viviam no passado

 

Em primeiro lugar, precisamos nos lembrar que Chico Buarque compôs a música Mulheres de Atenas no ano de 1976, durante o período do Regime Militar. Portanto, ele não tinha a liberdade de expressão que temos hoje.

Por isso, nem ele nem outros artistas daquela época expressavam suas críticas ou opiniões abertamente, em público. Muitos deles usavam metáforas para falar do que não concordavam, fosse na sociedade ou no governo do país.

Portanto, embora em toda a música o autor conclame as pessoas a imitarem o exemplo das mulheres de Atenas, ele etá na verdade fazendo uma crítica. Ele está mostrando que, naquele momento, vivíamos em uma sociedade patriarcal em que a mulher não tinha voz nem direitos, onde seus desejos eram anulados.

Veja alguns trechos e as ideias que eles transmitem:

  • submissão: vivem para os seus maridos, se perfumam, se banham com leite e se arrumam; quando fustigadas não choram: se ajoelham, pedem e imploram; não têm gosto ou vontade, defeitos ou qualidades (despersonalização); têm medo, apenas; não têm sonhos, só tem presságios;
  • supremacia masculina: os maridos são chamados de “orgulho e raça”, “poder e força”, “bravos guerreiros”, “heróis e amantes” de Atenas;
  • atuação exclusivamente doméstica: quando eles embarcam, soldados, elas tecem longos bordados (inclui a noção de futilidade, já que bordado é um “enfeite”);
  • servidão sexual: guardam-se para seus maridos, ficam em quarentena quando eles embarcam, estão à disposição quando retornam, suportam traições;
  • procriam para alimentar a guerra: geram para seus maridos os novos filhos de Atenas;
  • sofrem perdas devido à guerra: temem por seus maridos, jovens viúvas marcadas, gestantes abandonadas, vivem o luto, se conformam e se recolhem às suas novenas;

Portanto, de forma até irônica, Chico Buarque se refere à sociedade patriarcal. Ele canta o exemplo das mulheres de Atenas mas, na verdade, está criticando um mundo em que não existe direitos iguais para pessoas de gêneros diferentes.

Porém, essa é a crítica feita no primeiro plano. Em segundo plano, temos uma ainda mais forte. Esse homem poderoso e autoritário representa também o Estado, a ditadura militar.

Veja que ele não fala para as mulheres se inspirarem nas mulheres de Atenas. O convite dele é para todos, não existe um único destinatário.

O que ele diz, com isso, é que a ditadura impunha a todos os brasileiros uma situação semelhante às das atenienses. Os cidadãos eram maltratados e não tinham o direito de chorar, não tinham gosto ou vontades. Seus sonhos haviam dado lugar aos presságios. Como canta na música, “tinham medo, apenas”.

E não é só isso: assim como a guerra, a ditadura levava maridos que lutavam pela liberdade, e que nunca mais retornavam. Quantas mulheres, nesse período, viram seus filhos serem torturados, mortos e desaparecidos depois de enfrentarem as forças de repressão? Portanto, a crítica social e política estão camufladas na letra.

 

Mulheres de Atenas: a História por trás da música

 

Vale lembrar que esse tipo de música nos faz criar paralelos entre o presente (no caso de Chico Buarque) e o passado (as verdadeiras atenienses). Então, nada melhor que descobrir como elas viviam.

Dificilmente, alguma mulher da atualidade gostaria de ter vivido na sociedade grega. Existia uma distinção clara entre os gêneros, com papéis sociais e políticos muito bem definidos.

Enquanto os homens tinham acesso ao poder e à glória — eles eram os políticos, os guerreiros e comerciantes — as mulheres tinham uma vida totalmente submissa. Elas sempre ficavam sob a tutela de um membro da família do sexo masculino, fossem eles seus pais, maridos ou filhos, caso ficassem viúvas.

Mesmo dentro de casa, as meninas eram separadas de seus irmãos e permaneciam em uma área isolada da casa: o gynaikeion. Elas raramente saíam à rua e, para que isso acontecesse, deviam ser acompanhadas dos maridos ou pais, sempre vestidas da cabeça aos pés.

 

A mulher grega e o casamento

Mulheres de atenas

O único destino possível para a mulher era o casamento. Aliás, tratava-se de um dever religioso e cívico: ao formarem uma família, elas tinham o privilégio de procriar para gerar novos soldados para o país. Caso a esposa fosse infértil, o homem tinha o direito de se divorciar. Caso ela o traísse, ele poderia exigir a separação ou mesmo matar a infiel em público.

Do lado masculino, tudo era diferente. Eles não só tinham o direito de trair suas esposas, mas de manter relacionamentos extraconjugais tanto com mulheres quanto com outros homens. Aliás, o envolvimento entre um homem maduro e um jovem — uma prática chamada pederastia — era até incentivada pela sociedade.

A única outra alternativa para mulheres na Grécia era a prostituição. Sólon, um dos governantes do país, criou um dos primeiros bordéis públicos. A situação da mulher era realmente complicada. Um filósofo ateniense deixou registrado que os homens gregos tinham “cortesãs para dar prazer, concubinas para as necessidades diárias e esposas para dar filhos legítimos e guardar fielmente os lares”.

Sempre vale a pena lembrar que julgar antigas culturas e costumes a partir de nossos próprios valores não é o mais adequado. Embora algumas dessas situações sejam inadmissíveis hoje (embora algumas ainda aconteçam), é importante verificarmos que o momento histórico era outro.

Portanto, a cultura que temos hoje e a nossa compreensão desses fatos é resultado de um longo processo histórico. Os cidadãos daquele tempo não tinham os mesmos conceitos e valores que possuímos na atualidade. Portanto, suas ações refletem o que era comum, aceitável e até mesmo admirável em sua época.

E você, já conhecia a música Mulheres de Atenas? Sabia que ela se referia a um contexto social e político, sendo uma crítica velada não só à estrutura patriarcal, mas também à ditadura militar? Entenda melhor por que é tão importante discutir a posição da mulher brasileira na sociedade.

[As mulheres gritaram nas ruas 'ele, não'. 

As mulheres gritaram nas ruas 'fora genocida!']

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Ele não, na Cinelândia, Rio

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No Paraná, 65 mil pessoas dizem #elenão em mais de 20 | Cidades

Ele não, em Curitiba

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Ele não, no Largo do Batata, em São PauloEstudante do interior do Ceará vê sua criação viralizar como símbolo da  campanha #EleNão - 28/09/2018 - Ilustrada - Folha

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01
Abr22

'Golpe de 1964 é vergonhoso e deve ser execrado', declaram partidos de oposição a Bolsonaro

Talis Andrade

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"A ditadura militar ainda manchou o solo com sangue de brasileiros e brasileiras que lutaram por democracia"

 

A Bancada da Minoria na Câmara divulgou nesta quinta-feira (31) nota em que repudia a Ordem do Dia, divulgada pelo Ministério da Defesa, que minimiza o Golpe e a Ditadura Militar que se instalaram no Brasil no dia 31 de março de 1964. 

"Reforçamos que não há caminho fora do Estado Democrático de Direito. Não se pode reescrever a história, não houve um “movimento que refletiu os anseios e aspirações da população da época”. O que ocorreu foi um golpe orquestrado pela alta cúpula das Forças Armadas com apoio de setores da elite nacional e subsídio dos Estados Unidos da América, que financiava ditaduras em toda a América Latina", diz a nota, assinada por nove partidos de oposição ao governo. 

 

 

Somos democratas e jamais aceitaremos a defesa e exaltação da ditadura militar que matou e torturou tantos brasileiros e brasileiras

 

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A História é um carro alegre

Cheio de um povo contente

Que atropela indiferente 

Todo aquele que a negue

Milton Nascimento e Chico Buarque – 

Canción Por La Unidad de Latino America

 

 

Repudiamos com veemência a Ordem do Dia publicada nesta quarta (30) pelo ministro da defesa, general Braga Netto, e endossada pelos comandantes do Exército, da Marinha e da Força Aérea, em alusão aos 58 anos do golpe que deu início à ditadura militar no Brasil.

É inaceitável que ministros de estado eleitos no período pós-ditadura militar e comandantes das Forças Armadas profiram ataques contra o regime democrático no país. Somos democratas e jamais aceitaremos a defesa e exaltação da ditadura militar que matou e torturou tantos brasileiros e brasileiras.

As Forças Armadas servem ao país e não a governos. Devem se postar em defesa da soberania nacional e não se intrometer na vida política/partidária do nosso povo, muito menos tentando fraudar a história.

Mais uma vez, como já é de costume, o governo de Jair Bolsonaro ataca a democracia e nega o triste episódio de nossa história que perdurou de 1964 a 1985. Mais do que afrontar o acesso da população à verdade, a atual presidência da República desrespeita a memória e gera sofrimento às famílias dos mais de 400 mortos e desaparecidos, vítimas de um regime violento que cerceou os direitos humanos e a liberdade civil.

O texto assinado pelo ministro e pelo comando das Forças Armadas reflete mais um momento crítico para o país, que vive uma nova ameaça democrática promovida pelo próprio presidente, sua equipe e apoiadores radicais, com constantes ataques às instituições. Não à toa, a nota que chama o golpe de 1964 de “um marco histórico da evolução política brasileira” foi publicada no mesmo dia em que Bolsonaro voltou a questionar o Poder Judiciário sobre possíveis resultados das eleições e que um deputado federal se nega a cumprir uma determinação judicial, utilizando o espaço da Câmara dos Deputados como refúgio.

Reforçamos que não há caminho fora do Estado Democrático de Direito. Não se pode reescrever a história, não houve um “movimento que refletiu os anseios e aspirações da população da época”. O que ocorreu foi um golpe orquestrado pela alta cúpula das Forças Armadas com apoio de setores da elite nacional e subsídio dos Estados Unidos da América, que financiava ditaduras em toda a América Latina.

O golpe empresarial-militar de 1964 pôs fim ao mandato do presidente João Goulart – que propôs reformas de base que não conseguiram ser implementadas -, além de diversos outros políticos democraticamente eleitos, como o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes e do então deputado Leonel Brizola. Nos anos seguintes, instaurou a censura, exilou patriotas, dissolveu o Congresso e aumentou a desigualdade.

Não obstante, a ditadura militar ainda manchou o solo com sangue de brasileiros e brasileiras que lutaram por democracia, além de instaurar a crueldade da tortura como uma prática corriqueira do Estado contra seus opositores.

O golpe de 1964 é, sem dúvida, um dos episódios mais vergonhosos de nossa história recente e deve ser execrado para que nunca mais ocorra. Por verdade, memória e justiça!

Dep. Alencar Santana Braga, líder da Minoria na Câmara

Dep. Wolney Queiroz, líder da Oposição na Câmara

Dep. Arlindo Chinaglia, líder da Minoria no Congresso

Dep. Reginaldo Lopes, líder do PT na Câmara

Dep. Bira do Pindaré, líder do PSB na Câmara

Dep. André Figueiredo, líder do PDT na Câmara

Dep. Sâmia Bomfim, líder do PSOL na Câmara

Dep. Renildo Calheiros, líder do PCdoB na Câmara

Dep. Joenia Wapichana, líder da Rede na Câmara

 

 

17
Mar22

"É preciso proteger nossas mulheres eleitas"

Talis Andrade

Comitê Suprapartidário lança manifesto em apoio à | Política

 

 
 
 
Manuela Manu Manuela d'Ávila
 
 
Manuela
Cairão um por um! Valter Nagelstein foi condenado a dois anos de reclusão e poderá ficar inelegível após áudio racista contra a bancada negra de Porto Alegre nas últimas eleições. Racistas não passarão!

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Absurdo! Enquanto lotamos as ruas no #AtoPelaTerra contra o pacote da destruição, foi aprovada a urgência do projeto que quer liberar a mineração em terras indígenas. Não podemos recuar, cobre seu deputado para que esse PL seja derrotado na Câmara! #PL191Nao
Porto Alegre terá ato pela vida e fora Bolsonaro no | VariedadesIndígenas do RS e de SC se unem à mobilização nacional | Variedades
 

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A aprovação do projeto que quer liberar a mineração em terras indígenas é um grande retrocesso para o Brasil. Vamos pressionar nossos deputados! #PL191Nao

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Minha solidariedade a , que recebeu uma nova ameaça de morte. É preciso proteger nossas mulheres eleitas.
A trajetória e lutas de Erika Hilton, estrela da capa digital da Vogue em  dezembro - Vogue | atualidades
Não consigo contar o nº de vezes que fui agredida no mercado ou na rua por conta de mentiras e ameaças. Há 8 anos, eu sinto medo por mim e pelos meus.Algumas quedas servem para provocar alegria, nossa ou a dos outros...
 
Eu lembro a primeira vez em que fui agredida por causa de uma fakenews: era 2014. Eu estava tomando café com meu marido e um menino olhou para mim e passou a me agredir por conta de uma notícia mentirosa publicada num perfil de Twitter e num site que mentia ser de humor.Se necessário, Manuela D'Ávila reafirma que abrirá mão de candidatura pela  esquerda | A TARDE
Mas eu ando nas ruas de cabeça erguida porque sei quem sou e o que defendo e sei quem são os mentirosos que me atacam. Já esse deputado tem medo de sair na rua porque descobriram exatamente quem ele é.Mamãe falei teme bobagens que disse sobre STF - Blog da Cidadania
 
Ontem escrevi esse fio. Logo depois, o Presidente em pessoa, sem intermediários, passou a me atacar em suas redes. Tipo confissão de culpa. Ficou nervosinho, né? Vai trabalhar! 
Alma Preta - A fome de literatura de Maria Carolina de Jesus rendeu a venda  de 100 mil cópias da obra o “Quarto de Despejo” na década de 60. Com o  texto,تويتر \ 🎗Dilma Resistente على تويتر: "A Carolina de Jesus, apesar de  criança, tem muita sabedoria no que diz! #LulaLivre #Resistencia101Dias  https://t.co/r1s5f7KJyd"
Olha só quem já saiu da gráfica! Que lindo  esse livro é tão importante, tão potente, tão transformador. Quarta-feira desembarco no Rio de Janeiro para autografar toda a pré-venda. Aproveita pra levar com frete grátis e presente no site: leitura.com.br/sempre-foi-sob

A atual política de preços da Petrobras é a responsável pela alta dos preços? Entendam nesse vídeo! O completo está no canal:

 
Quatro anos da morte de Marielle e nosso país ainda exige saber quem mandou matá-la!!!
Da mesma maneira, as sementes de Marielle florescendo são esperança de que podemos ser um país mais próximo daquilo que ela sonhou e lutou.
Eu olho sua imagem e penso em Dona Marinete, em Anielle, em sua filha Luyara. Penso nas mesas de domingo com a imensidão de sua ausência. Penso em Monica. Desejo que meu carinho e solidariedade chegue até cada uma delas.Image

06
Jan22

Apresentador da Band xinga Ivete Sangalo: ‘Velha, feia e frouxa’

Talis Andrade

Em show, Ivete Sangalo puxa coro contra Bolsonaro | O Antagonista

 

"Vagabunda fica mandando a maior autoridade do país tomar no c* em pleno microfone em um hotel cinco estrelas", disparou Luiz Almir ex-vereador bolsonarista de Natal. O brado retubante "Fora Bolsonaro" acontece noutros palcos da classe alta

 

Luiz Almir, ex-vereador de Natal, apresentador da Band Rio Grande do Norte, atacou Ivete Sangalo diretamente xingando-a de “Vagabunda, velha, feia e frouxa”. A revolta de baixo calão aconteceu após a cantora ter se manifestado contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) em um show na última semana.

“Uma cantora que já tá em decadência, que envergonha o nome das mulheres. Eu gostava, não escuto. Em uma televisão, se ela tiver cantando eu mudo de canal. E queria que todo mundo fizesse isso, o Rio Grande do Norte fizesse isso”, começou a criticar.

“A vagabunda da Ivete ‘Sangala’ vem fazer um show pra ganhar dinheiro do povo besta do Rio Grande do Norte, em um hotel cinco estrelas cujo dono deve ser irresponsável também, pois se fosse no meu hotel eu tinha botado ela pra fora. E ela ficou cantando e gritando ‘manda Bolsonaro tomar no c*, não tô ouvindo não’… E o povo gritando, os esquerdistas doentes gritando”, continuou.

“Ela foi paga pra cantar. E não é porque é Bolsonaro não. Podia ser Lula, Antônio, Pedro, Manoel… Não importa quem fosse. Ninguém tem o direito de ir cantar, juntar o povo que paga pra ver o show de uma mulher que já está em decadência, velha, feia, frouxa, e a vagabunda fica mandando a maior autoridade do país tomar no c* em pleno microfone em um hotel cinco estrelas”, disse, acrescentando ainda que se fosse em outros locais Ivete teria “levado ovo na cara”.

“Fica aí o meu protesto pra essa cantorazinha de quinta categoria. Fique na Bahia”, completou Luiz Almir, alegando ainda que quem mandou milhões de reais para ajudar as vítimas das chuvas na Bahia foi Bolsonaro.

“O Papa disse ‘quem respeita a mulher, respeita Deus’, é verdade. Sem a mulher nós não existiríamos, a mulher é a mãe, que nos dá a vida. Mas tem mulher vagabunda, dessa qualidade, que vem ganhar 150, 200 mil ‘conto’ pra cantar em um hotel e fica mandando a maior autoridade do país tomar no c*. Não tenho nada a ver com o show dela. Mostrou o nível, a falta de educação, de nível, e o quanto ela envergonha o nome de ser mulher. Deveriam até examinar, será que aquilo ali ainda é mulher?”, finalizou.

Claudia Leitte fica calada ao ouvir público do show gritar ‘Fora Bolsonaro’

 

Redação Catraca Livre

Claudia Leitte se apresentou neste último sábado, 1º, e foi surpreendida por um coro do público durante o seu show gritando “Fora Bolsonaro”. Aos escutar a euforia dos fãs em um ato político, a cantora se calou e ficou sem saber o que falar.

Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, o público que estava no show grita em coro: “Fora Bolsonaro”. A cantora, que estava no palco, ficou calada e deixou o público gritando sozinho, ficando bastante sem graça com, e não conseguiu disfarçar.

Após ser cancelado por fãs, Zé Felipe deixa de seguir Bolsonaro

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Zé Felipe foi cancelado pelos fãs após descobrirem o apoio do cantor ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Após a repercussão, ele deixou de seguir o presidente da República. A história começou quando um vídeo, de 2018, onde Zé Felipe, junto com o pai, Leonardo, pediam votos ao então candidato do PSL, começou a viralizar pelas redes sociais.

Em um tuíte postado em 2018, Bolsonaro chegou a agradecer a família. “Obrigado pelo apoio Zé Felipe, Leonardo e amigos! Um forte abraço a todos”, disse na época.

 
06
Nov21

Marília Mendonça viverá para sempre, ele não

Talis Andrade

Marília Mendonça

 

A meteórica carreira da artista que já entrou para a história da música popular brasileira

 
 
 
A mulher pode tudo o que quiser, e mais além. Foi isso, e mais as suas dores e frustrações que Marília Mendonça cantou, a voz mais ouvida do Brasil, calada para sempre quando o jato em que viajava chocou-se com um cabo de alta tensão a 4 quilômetros do aeroporto de Caratinga, interior de Minas Gerais.
 
A mulher traída está em Infiel, o maior sucesso de sua curta carreira. A amante, em Como faz com ela e Amante não tem lar. A prostituta, em Troca de Calçada. Supera exalta a força da mulher, sua capacidade de resistir e de dar a volta por cima. Os versos de Marília eram simples, mas tocantes e sinceros.
 

Marília e sua mãe, de 53 anos, foram exemplos de superação. Não faz tanto tempo assim, frequentavam todas as festas possíveis para comerem mais e melhor. Marília começou a compor com 12 anos de idade. Aos 17, já fazia sucesso na boca de outros cantores. Aos 21, vendia 240 mil cópias do seu primeiro DVD.

Ela não conheceu fracassos, algo comum na carreira da maioria dos artistas. Seu segundo álbum, Realidade, lançado em 2017, recebeu uma indicação ao Grammy Latino na categoria de Melhor Álbum de Música Sertaneja. Dois anos depois, o Melhor Álbum de Música Sertaneja no Grammy foi o seu Todos os cantos.

Sabe os Beatles? No Spotify, Marília tinha mais seguidores do que eles. No Instagram eram mais de 37 milhões até a hora em que foi anunciada a sua morte. A música sertaneja, antes dela, era coisa de homens e de poucas mulheres. Ao entrar em cena, Marília tornou-se a dona inquestionável do pedaço. Não tinha para ninguém.

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Em um meio em que seus colegas de música e público têm uma forte queda por Bolsonaro, Marília ousou participar do movimento Ele não nas eleições de 2018. Coagida e ameaçada, recuou, pediu desculpas e foi perdoada. Sua obra atravessou incólume e sobreviverá ao triste tempo de extremismo que sufoca o país.

Ela ficará, e ele não.

12
Set21

Grupo lança “Bella Ciao” à brasileira: “darei minha vida para expulsar o ditador”

Talis Andrade

 

O grupo Salvadores Dali, conhecido por suas releituras transgressoras, cria versão em português da canção secular italiana; veja o clipe

 

Por Julinho Bittencourt /Fórum /Combate

Depois de lançar seu álbum autoral em 2019 e, em seguida, um EP com versões transgressoras de Noel Rosa no fim de 2020, o grupo carioca Salvadores Dali está de volta com novo trabalho: a canção italiana secular Bella Ciao. Alçada ao universo pop em todo mundo nos últimos anos com o seriado espanhol La Casa de Papel, a música ganha agora nova vestimenta contestadora e chega também em videoclipe, disponível no canal do YouTube da banda – lançado no último dia 7 de setembro, não por menos, uma data carregada de muita simbologia no calendário brasileiro.

De origem imprecisa – seus primeiros registros remontam ao século XVI – a canção foi sendo modelada ao longo dos séculos a partir de contribuições anônimas de camponeses, tendo inicialmente como seu tema central o amor. Mas na segunda Guerra Mundial, a canção popular tornou-se um hino antifascista para animar a resistência italiana, os partigiani, contra Mussolini. Com essa ressignificação, acaba se consagrando de vez na cultura popular, ganhando várias versões, tais como a jazzística de Wood Allen, a melancólica de Tom Waits e a vibrante de Manu Chao. Por conta do seriado espanhol, superou fronteiras inéditas, sendo cantada, inclusive, nas varandas italianas durante a pandemia como um hino de resistência à triste devastação do novo corona vírus na Lombardia.

Respeitando o isolamento social, os Salvadores Dali resolveram gravar a canção em português e em sintonia com o trabalho transgressor, sua maior identidade. Com pequenos ajustes na tradução da poesia original já consagrada, a longeva Bella Ciao aporta no nosso Brasil atual, carregada do espírito contestador e crítico em seus novos versos: “Suas mentiras e todo ódio/Ó bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao./Custaram vidas que foram embora/Pela sandice e desamor.” Assim a luta contra o fascismo, ou neofascismo, se une à indignação com relação aos números da covid-19 no país.

Nessa (sub)versão  – conceito que os Salvadores criaram para definir sua estética musical – o aspecto rítmico não ficou de fora. Similar às canções populares na Europa do século XIX, a música se inicia de forma melancólica, introduzida apenas pelo piano e baixo acústico. Segundo o baixista Jorge Moraes “a ideia é expressar de fato a angústia que todos sentimos em relação ao momento presente, mas sem também ficarmos presos, todavia, a esse luto musical”. Não por menos, a segunda parte da canção mergulha profundamente no estilo punk dos anos 70.

O videoclipe contou com a participação de vários amigos dos integrantes, como a mezzo-soprano Vivian Fróes, que também é militante de direitos humanos e da causa das pessoas transgêneras; a cantora de brazilian jazz e samba Flávia Enne; o sociólogo Nelson Ricardo (também compositor do grupo carioca); o cantor e poeta Zuza Zapata; a cantora de Jazz e MPB Manni Moritz; o vocalista Xandão, da banda de rock CaverJets e a participação especial de Marianna Leporace. “A canção foi produzida coletivamente, ao longo de todos esses séculos. Por isso, não faria sentido algum apresentá-la ao público sem a participação de nossos amigos”, afirma o guitarrista Marcio Meirelles.

Os integrantes do grupo Salvadores Dali que participaram desse projeto são Jorge Moraes (baixo), Marcio Meirelles (Guitarrista e pianista), Robson Batista (saxofonista) e Jorge Casagrande (bateria).

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