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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

24
Jun23

Grande mídia nega corrupção na Americanas de olho nas migalhas dos anúncios

Talis Andrade

O roubo que rende mais aquele realizado pela quadrilha mais competente (tem o apoio da imprensa vendida, com a participaçao de jornalistas escribas e politicos e governantes e funcionarios dos governos e justiça ficha sujas. t.a.) Foto: Bruno Santos/Folhapress

 

Beto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles não só lucraram com rombo da empresa como ainda compraram fatia da Eletrobrás (adquirida por bandidos de estimaçao de Bolsonaro) mas nada disso entra em pauta no noticiário dos jornalões

João Filho

Desde que estourou estourou o escândalo de corrupção das Americanas, passou a circular nas redes um vídeo de 2014 em que Beto Sicupira, um dos controladores da empresa, trata o Brasil  com profundo desprezo: “Se vocês acham que o Brasil é um negócio que vai virar Estados Unidos, vocês estão no lugar errado. O Brasil não será Estados Unidos, porque o Brasil é o país do coitadinho, do direito sem obrigação. É o país da impunidade. Isso é cultural. Não vai mudar.” 

Ao mesmo tempo em que dava essa declaração ironizando o país em que angariou uma fortuna bilionária, Sucupira e seus sócios escondiam um rombo nas Americanas de aproximadamente R$ 50 bilhões. Quando o caso estourou no início deste ano, a tese de que os sócios seriam vítimas dessa “fraude contábil” circulou na imprensa com força. O fato é que, sendo vítimas ou não, os sócios foram os principais beneficiários da roubalheira. A linha de acontecimentos deixa claro que os sócios podem ser tudo, menos vítimas. 

Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles — o trio bilionário que controlava a empresa — ficaram quietinhos o tempo todo para que as ações não se desvalorizassem. Meses antes do rombo ser revelado para o público, eles venderam mais de R$210 milhões em ações da empresa. Ou seja, os bilionários ficaram ainda mais bilionários com a corrupção e depois saíram à francesa, como se nada tivesse acontecido. Esse fato não pode ser considerado mero acaso. É uma comprovação indiscutível de que os donos sabiam exatamente o que rolava na contabilidade da empresa. 

O impacto foi enorme. Empresas fornecedoras quebraram e milhares de brasileiros ficaram desempregados — provavelmente esses são os  “coitadinhos” apontados por Sicupira. 

Trata-se, de longe, do maior caso de corrupção da história do Brasil. Nunca se viu nenhuma roubalheira que tenha chegado perto da casa dos R$ 50 bilhões. Apesar disso, a imprensa brasileira ficou cheia de dedos para carimbar o caso como corrupção. O que vimos até aqui foi um show de eufemismos. “Fraude”, “irregularidades”, “inconsistências contábeis”, “rombo”, foram as palavras escolhidas para classificar o maior caso de corrupção da história do país. Nas manchetes dos jornais e dos grandes portais, os nomes dos controladores das Americanas raramente são citados. Quase não se vê fotos dos rostos deles estampando as reportagens. O tratamento é bastante diferente do que vimos nos escândalos de corrupção envolvendo políticos que abundaram no país nas últimas décadas. A explicação é bastante simples: o trio bilionário é proprietário de outras grandes empresas que são responsáveis por uma fatia importante dos anúncios na grande imprensa. Como diria o então juiz Sergio Moro, não se pode “melindrar alguém cujo apoio é importante”. 

Enquanto rolava a corrupção nas contas das Americanas, a gestora de recursos 3G Radar, também controlada pelo trio bilionário, adquiriu 14,65% das ações da Eletrobrás. Lemann, Telles e Sicupira tiveram influência em todo o processo de privatização da Eletrobrás, iniciada durante o governo Temer, e após a conclusão passaram a ser os maiores acionistas da empresa , ganhando o poder inclusive de controlá-la.. Ou seja,  talvez seja possível dizer que uma fatia importante de uma estatal estratégica para o país foi comprada com dinheiro proveniente da corrupção nas Americanas. Pouco se fala sobre isso no noticiário. É um escândalo de enormes proporções que não ganhou o devido destaque na cobertura da imprensa. 

 

Os bilionários ficaram ainda mais bilionários com a corrupção e depois saíram à francesa, como se nada tivesse acontecido.

 

Na última terça-feira, durante a CPI das Americanas, pela primeira vez o diretor-presidente da empresa admitiu que o lucro fictício foi forjado com base em manobras corruptas na contabilidade da empresa. Mesmo com a confissão da empresa, os eufemismos permanceram nas manchetes e os rostos e nomes dos responsáveis continuaram sendo poupados. 

Na mesma noite, o Jornal Nacional, o telejornal de maior audiência do país, achou por bem gastar apenas 39 segundos da programação com o caso. Os nomes dos responsáveis nem foram citados. No dia seguinte, o jornal dedicou mais 27 segundos. Lembre-se que estamos falando do maior caso de corrupção da história do país. Quando a Lava Jato atribuiu falsamente a Lula a propriedade de um triplex no Guarujá, o Jornal Nacional fez uma cobertura intensiva do caso. O valor do roubo das Americanas é o equivalente a mais de 16 mil triplex do Guarujá. 

Na manhã seguinte à confissão feita na CPI, o UOL, um dos principais portais de notícias do país, não colocou o caso na página principal. Os jornais impressos deram destaque para a notícia em manchetes de capa, mas sempre suavizando nos termos e omitindo nomes e rostos dos responsáveis. O caso continua sendo tratado como uma mera “fraude contábil”, e não como o maior escândalo de corrupção que esse país já presenciou. 

3 bandidos.jpeg

Os homens mais ricos do país continuam desfrutando de uma cobertura jornalística bastante zelosa. Os bilionários das Americanas tiveram suas trajetórias ovacionadas pela imprensa. Telles, Lemann e Sicupira sempre foram tratados como exemplos de homens que enriqueceram graças à meritocracia. “O trio fez história ao comprar empresas em dificuldades, po­rém com nomes fortes, e reformular a gestão seguindo a cartilha da meritocracia e a obsessão por custos baixos”, escreveu a revista Exame em 2013. 

Telles era apresentado como o “empresário que começou como um office boy no mercado financeiro e se tornou um dos brasileiros mais ricos”. Sicupira era exaltado como o homem que “começou a trabalhar negociando carros usados ao lado de um amigo. Depois, passou a revender calças jeans que comprava nos Estados Unidos”. Agora que esses ícones do capitalismo brasileiro se tornaram protagonistas do maior escândalo de corrupção da história, seus nomes foram omitidos das manchetes.

 

“Fraude”, “irregularidades”, “inconsistências contábeis”, “rombo”, foram as palavras escolhidas para classificar o maior caso de corrupção da história do país.

 

A diferença entre a cobertura de casos envolvendo corrupção de políticos e de empresas privadas é abissal. Ambos impactam a sociedade da mesma forma, mas só a corrupção das empresas privadas são merecedoras da benevolência dos grandes grupos de mídia. Sabemos de cor e salteado os nomes e rostos de políticos que se envolveram em casos de corrupção. Já os rostos e nomes dos empresários corruptos — salvo aqueles que se envolveram com políticos — passam incólume pela nossa memória. Alguém se lembra dos nomes dos empresários que lucraram com trabalho escravo? Ou dos donos da Vale, empresa que foi responsável pela tragédia de Brumadinho e Mariana? E o nome dos donos da Braskem, empresa responsável pelo maior desastre ambiental urbano do planeta que destruiu milhares de casas e desabrigou milhares de famílias em Maceió? 

O viés anti-estado e a favor do mercado da grande imprensa fica límpido e claro quando casos de roubalheira em empresas privadas são noticiados. A escandalização com corrupção governamental não se repete quando os protagonistas são empresários que sustentam as empresas de mídia através da publicidade. Não importa que as corrupções privadas impactem a esfera pública da mesma maneira que a corrupção na política. A cobertura midiática do caso Americanas e de outras empresas mais parece uma tentativa de redução de danos à imagem das empresas e dos seus donos do que jornalismo. Quando o dinheiro fala, tudo cala.

Gatunos das Americanas vao cobrar nossa conta de luz

Andrea Trus entrevista Ikaro Chaves Barreto de Sousa, Diretor da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras (AESEL). Engenheiro Eletricista da ELETRONORTE, representante dos trabalhadores no Conselho de Administração da ELETRONORTE, atua no Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) na luta contra a Privatização da Eletrobrás, pela reestatização da empresa e pela soberania energética brasileira, falaremos, sobre os problemas da privatização da Eletrobrás e a relação dos acionistas com o rombo das Lojas Americanas.

A fraude nas americanas pode significar um desastre para os trabalhadores e pequenos investidores da empresa. Mas ela também pode servir de alerta para um desastre ainda maior em uma outra empresa, a Eletrobras. 

17
Fev22

Mais de cem cadáveres em Petrópolis e Bolsonaro ameaça com mais mortes pelo golpe e tortura de uma ditadura militar

Talis Andrade

Capa do jornal Meia Hora 17/02/2022

 

A Delegacia de Descobertas de Paradeiros (DDPA) e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) informaram que, pelo menos, 140 pessoas seguem desaparecidas após a forte chuva que atingiu Petrópolis, na Região Serrana do Rio. O número deve ser maior, mas os nomes já cadastrados foram passados por familiares.

Até o momento, são 117 mortes confirmadas pela Defesa Civil e o Governo do Estado do Rio de Janeiro.

As forças armadas ainda não apareceram para ajudar os civis. Do governo militar de Bolsonaro a ameaça de golpe. Golpe significa mais mortes. 

Não se dá golpe sem mortes, sem presos políticos, sem tortura, sem desaparecidos, sem exilados, retirantes da morte por balas ou espancamentos ou cadeira do dragão. 

Lá nas lonjuras da Europa, Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quarta-feira (16) que as Forças Armadas serão "fiadoras" do processo eleitoral. A declaração foi concedida à Jovem Pan após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgar o documento com as perguntas das Forças Armadas sobre o processo eleitoral e as respostas da corte. Um país democrático não pode viver sob ameaça de golpe. Veja vídeos:

 

"Estou aguardando — todo o Brasil está aguardando — o que as Forças Armadas dirão sobre a resposta do TSE. Se procede, se o TSE tem razão ou se não tem razão e o porquê. E os próximos passos serão dados pelas nossas Forças Armadas”, disse Bolsonaro.

As Forças Armadas fizeram 74 perguntas à Justiça Eleitoral. As respostas foram dadas pela Secretaria de Tecnologia da Informação (STI), do TSE. Pobre Brasil ajoelhado pelo poder militar. Pela ocupação militar do governo. São mais de 8 mil e 454 cargos de civis. Um trem da alegria desgovernado.

E o governo militar de Bolsonaro é o governo da morte pelas bestas do Apocalipse. Pela Fome. São milhões de desempregados. O Brasil dos sem terra. Dos sem teto. Dos moradores de rua. Dos moradores de áreas de risco. O Brasil dos sem nada.

Mortos pela Peste. Pela covid. Milhares e milhares morreram porque tomaram remédios ineficazes, recomendados pelo charlatanismo assassino de Bolsonaro. Muitos morreram porque não tiveram acesso a um teste, não tiveram acesso a uma máscara (máscaras faltam ainda hoje), não tiveram acesso à vacina, que o governo fez campanha negacionista, demorou a comprar, permitindo a corrupção dos coronéis. O Ministério da Saúde militarizado, comandado pelo general da ativa Eduardo Pazuello, ofereceu remédios comprovadamente ineficazes. Fez propaganda do kit cloroquina que me engana e mata. O povo procurou as UTIs sem vaga. Na fila da morte,  sem direito a uma maca, sem direito a um leito hospitalar. Um povo que morreu sem ter acesso à intubação. Que morreu sem ar. Asfixiado. Vide o morticínio de Manaus. 

Os mortos da Morte morrida pela lama tóxica das barragens em Minas Gerais, pelas águas dos rios contaminados pelo mercúrio do garimpo ilegal na Amazônia. No fogo que desmata a floresta amazônica, para a passagem da boiada de Ricardo Salles. As mortes das doenças do Terceiro Mundo: malária, leishmaniose visceral, doença de chagas, doença do sono, tuberculose e as diarreicas. AS enfermidades causadas por agentes infecciosos ou parasitas, que atingem principalmente as populações mais pobres.

A morte pela Guerra das milícias que governam Petrópolis. Milícias que elegem os senadores, os deputados federais, os deputados estaduais, os vereadores, os prefeitos, os governadores do Rio de Janeiro, reduto eleitoral da família Bolsonaro. Milícias que mataram Marielle Franco, Moïse Kabagambe, que apóiam o golpe de Bolsonaro, as milícias eleitorais armadas em expansão, lideradas por partidos da extrema direita e células nazistas. 

Capa do jornal O Dia 17/02/2022Capa do jornal Correio Braziliense 17/02/2022

14
Fev22

Moro pede dinheiro para sua campanha murcha

Talis Andrade

dinheiroheroico moro heroi.jpg

 

Faz falta a conta gráfica que a juíza Gabriela Hardt consentiu, para Deltan Dallagnol & seu bando de procuradores da Lava Jato gastar da 'vítima Petrobrás' o dinheiro ao deus-dará. Dinheirama para gastança. Bufunfa depositada no dia 30 de janeiro de 2019, primeiro mês de Sergio Moro superministro da Justiça e da Segurança Pública do governo Jair Bolsonaro, que ajudou a eleger com a prisão de Lula da Silva.

dinheiro petrobras vítima lava jato mig.png

O dinheiro foi depositado pela Petrobras na Caixa Econômica Federal da República de Curitiba. Segue a devida prova, que Dallagnol passou recibo, e jurou que o dinheiro seria gasto de maneira pia e santa. Publicou Dallaganol, sem justificar como se pode arrancar da Petrobras 2 bilhões e 600 milhões. Nunca se viu tanto dinheiro na mão de uma organização criminosa:

fundacao lava.png

O ministro Alexandre de Moraes, sem nenhuma auditoria, ordenou que o dinheiro da Petrobras, apenas o da Petrobras, tivesse destinação honesta e séria. Mas existe dinheiro de sobra das multas das delações mais do que premiadas, e dos acordos de leniência na quebra do Brasil, que a Lava Jato destruiu as principais empresas do país, de engenharia, de arquitetura, da engenharia pesada, da engenharia civil, da indústria, uma guerra de destruição da economia, de projetos estratégicos. 

Lava Jato permitiu a espionagem de empresas como a misteriosa, a aventureira, a estrangeira Alvarez & Marsal, que já faturou milhões, e fatura milhões com a Eletronuclear. Alvarez & Marsal só vai parar de faturar bilhões, quando o Brasil eleger um presidente nacionalista.

Desde o início, os Estados Unidos tentavam conhecer o Programa Nuclear brasileiro. O presidente Fernando Collor até abriu um poço profundo na Amazônia, onde jurou para o tio lá dele, o Tio Sam, que estava enterrando de vez o programa da bomba atômica brasileira. Sergio Moro fez muito mais, mandou prender o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, e paralisar as obras de Angra 3. Simbolizando o entreguismo, Moro mandou algemar o almirante Othon, herói nacional.

Depois de toda traição, o destruidor pede dinheiro para sua campanha presidencial. Escreve o jornalista Fernando Brito:

Moro pede dinheiro para sua campanha murcha

por Fernando Brito

 

À espera dos “eleitores do litoral de Minas”, divertida definição que faz hoje, na Folha, o mestre Janio de Freitas, o ex-juiz Sergio Moro planeja a abertura de uma conta bancária para recolher doações para sua campanha.

Seria, segundo a coluna de Guilherme Amado, no Metrópoles, uma “caixinha” formalmente registrada em nome do Podemos, mas que caberia ao próprio Moro administrar. “A conta bancária pertence ao partido, mas quem administra o dinheiro é o ex-juiz”, diz o jornalista.

Só mesmo a cabeça megalômana de Moro poderia imaginar algo assim, um flanco sem tamanho na legalidade de suas finanças eleitorais.

Ainda é possível dinheiro privado na campanha, mas limitado a doações de pessoas físicas e só quando houver o registro de candidaturas no TSE, sua identidade fiscal (o CNPJ) e o comitê financeiro que responderá pelas contas de campanha.

Antes disso, é possível doar aos partidos, mas estes têm contas geridas, para todos os efeitos, pelos órgãos partidários, não por um pré-candidato. E seus recursos, para serem repassados a candidatos, devem seguir as regras de campanha, quando esta oficialmente começar.

Ao exigir que a conta esteja sob seu controle pessoal, Moro não só passa um atestado público de desconfiança em seu partido, como traz diretamente para si a responsabilidade das doações .

Completamente neófito em política, põe-se numa posição de lidar diretamente com dinheiro, o que é beabá de candidato evitar.

Qualquer doador “inconveniente”, assim, pode ser apontado como um colaborador direto da campanha de Moro, o que só poderia acontecer quando oficializar a campanha.

Isto, claro, se chegarem os “eleitores do litoral de Minas” a tempo de salvar a campanha do pântano em que se encontra.

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28
Jan22

Arrastados: histórias de vida e morte nos três anos de Brumadinho

Talis Andrade

 

Bombeiros recuperam corpo soterrado de vítima do rompimento da barragem de Brumadinho: livro reconstitui história três anos depois da tragédia (Foto: Mauro Pimentel / AFP – 28/01/2019)

Elis Marina Costa planejava ficar noiva ao comemorar seu aniversário de 25 anos, em 13 de março de 2019, em Ouro Preto, onde morava com seus pais. Em 13 de março, o nome de Elis ainda fazia parte da lista de dezenas de desaparecidos na tragédia de Brumadinho, onde, no dia 25 de janeiro, três barragens de rejeitos de mineração da Vale romperam e deixaram um rastro de lama, destruição e morte. O corpo da jovem técnica de segurança do trabalho só foi encontrado em novembro de 2019, quase 10 meses depois do desastre, a cerca de três metros de profundidade e a mais de dois quilômetros da barragem da B1, a primeira a entrar em colapso.

Jornalista Daniela Arbex lança livro sobre tragédia da Vale, em Brumadinho, às vésperas de completar três anos. — Foto: Bruno Latoya / TV GloboJornalista Daniela Arbex lança livro sobre tragédia da Vale, em Brumadinho, às vésperas de completar três anos. — Foto Bruno Latoya / TV Globo

Leu essa? Brumadinho: do luto à impunidade, uma tragédia sem fim

Funcionária da empresa Fugro Geotecnia, contratada pela Vale para substituir equipamentos de monitoramento, Elis estava dentro de uma picape, com outros dois colegas, no alto da B1, a 70 metros de altura, quando a barragem, com quase 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério, rompeu, derrubou outras duas e gerou a avalanche de lama. No mesmo veículo, estava o auxiliar de sondagem Olímpio Gomes Pinto, então com 57 anos, casado e com três filhos adultos. Três anos depois, o corpo de Olímpio é um dos seis ainda não encontrados, entre os 270 mortos na tragédia de Brumadinho.

Na lista da Avabrum (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão), o número sobe para 272 porque duas mulheres estavam grávidas. Como Elis e Olímpio, a engenheira Eliane de Oliveira Melo, de 39 anos, funcionária da Retramax, outra contratada da Vale, estava numa outra picape arrastada pelo tsunami de lama. Grávida de cinco meses, já havia escolhido o nome da filha, Maria Elisa. A família de Eliane precisou esperar 69 dias até seu corpo ser encontrado.

 

Imagem 1 de 1 de Arrastados: Os Bastidores Do...1ªed.(2022) - Livro
 

Leu essa? Brumadinho: 300 quilômetros de medo, insegurança e incerteza

Para o técnico de mina Gleison Pereira e o operador Carlos Antônio de Oliveira, a caminhonete onde estavam foi salvação e não túmulo. Quando ouviram o estrondo, saíam de uma mina em direção a outra. Em disparada, a caminhonete levou os dois para fora da Vale, não sem antes parar para pegar três funcionários desesperados que lotaram a caçamba do veículo. Carlos estava em lágrimas: o filho Diego, 27 anos, engenheiro da Vale, estava no refeitório engolido pela lama.

As histórias de Elis, Olímpio, Eliane, Gleison, Carlos e Diego estão entre as muitas contadas pela jornalista mineira Daniela Arbex no livro Arrastados – Os bastidores do rompimento da barragem de Brumadinho, o maior desastre humanitário do Brasil, em que ela reconstitui os momentos que precederam a tragédia e as 96 horas seguintes ao rompimento das barragens. O livro – que será lançado nesta terça-feira (25/01) pela Editora Intrínseca – é resultado de mais de 300 entrevistas realizadas em um ano e meio de trabalho de apuração da jornalista, autora também de Holocausto brasileiro: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil e Todo dia a mesma noite – A história não contada da boate Kiss.

A enxurrada de resíduos de mineração matou trabalhadores dentro do complexo da Vale – no maior acidente de trabalho da história do Brasil -, moradores de dois distritos rurais de Brumadinho – Córrego do Feijão e Parque da Cachoeira – e até turistas hospedados na Pousada Nova Estância, vizinha da barragem, que foi completamente destruída. O colapso da barragem, em 2019, atirou quase 10 milhões de metros cúbicos de lama no Rio Paraopeba, um dos formadores do São Francisco, impactando o meio ambiente e a saúde da população que vive às margens.

Três anos depois da tragédia de Brumadinho, o Brasil ainda tem mais de 120 barragens consideradas em estado crítico – 65 são barragens a montante, a maioria em Minas Gerais – do mesmo tipo de estrutura que rompeu em Mariana, em 2015, e em Brumadinho, em 2019. A Vale já pagou mais de R$ 2 bilhões em indenizações a vítimas; e outros R$ 37 bilhões em acordos com os governos.

Na esfera criminal, a reparação é mais lenta. O Ministério Público de Minas Gerais denunciou, em 2020, 16 pessoas pelo crime de homicídio qualificado das 270 vítimas fatais da tragédia. No fim do ano passado, contudo, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou a denúncia, transferindo para a Justiça Federal a competência para jugar os responsáveis pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho. Há 10 dias, o MPMG recorreu ao Supremo Tribunal Federal contra a decisão do STJ.

Neste dia 25 de janeiro de 2022, os três anos da tragédia serão lembrados em Brumadinho com missa no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora do Rosário, presidida pelo arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Em seguida, os integrantes da Avabrum lideram uma caminhada até o letreiro de Brumadinho onde será realizado um ato público de protesto contra a impunidade e de reparação às comunidades atingidas pelo rompimento da barragem.

Leia mais

 
 
Duzentas e setenta pessoas morreram na tragédia de Brumadinho e são relembradas todo dia 25, no letreiro da cidade. — Foto: Anna Lúcia Silva/G1

Duzentas e setenta pessoas morreram na tragédia de Brumadinho e são relembradas todo dia 25, no letreiro da cidade. Foto Anna Lúcia Silva/G1

 
 
 
 

'Arrastados' reconta as 96 horas após o rompimento da barragem da Vale

Carlos Eduardo Alvim entrevista Daniela Arbex. Leia aqui 

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