Roberto Campos favorável aos altos juros para o povo e empresas offshore livres de impostos
Com empresas offshore nos paraísos fiscais, Roberto Campos Neto é contra impostos para os ricos, e favorável aos mais altos juros do planeta para os pobres do Brasil.
A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), cobrou nesta quarta-feira (20), pelo Twitter, mais redução da Selic, a taxa básica de juros, após o Comitê de Política Monetária (Copom), ligado ao Banco Central (BC),diminuir o índice em 0,5 ponto percentual.
"O processo de redução da maior taxa de juros do planeta começou tarde e não pode ser feito a conta-gotas, como indica o comunicado do Copom desta quarta-feira. O Brasil perdeu tempo demais com uma política monetária errada, imposta por um governo irresponsável e um BC sem compromisso com o País. O País tem pressa e precisa voltar urgentemente à normalidade", afirmou a parlamentar.
Este ano, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vêm pressionando o presidente do BC, Roberto Campos Neto, a baixar a taxa de juros, para facilitar o acesso da população ao crédito, aumentar o poder de consumo e ajudar no crescimento da economia.
Hora do Senado cobrar do bolsonarista Roberto Campos um Banco Central alinhado com uma política econômica voltada para o povo em geral, e para o bem do Brasil, que deixou de ser pária, e parte do Terceiro Mundo, presidido por um corrupto que recebia joias como agrado, um país 'a venda.
O Roberto Campos de Bolsonaro, que compra toneladas de ouro no Brasil do tráfico de ouro e de pedras preciosas, não pode ser o mesmo presidente do Banco Central de um Brasil do Primeiro Mundo, o Brasil de Lula.
Comentário – O CIDADÃO presidente do Banco Central se aconselha com banqueiros, mas nunca, pelo que consta, consultou o movimento sindical dos trabalhadores!
Suposições: Por sua ignorância elitista e seu TERRAPLANISMO ECONÔMICO não deve saber que são os sindicatos que negociam salários, buscam todos os dias melhores condições de trabalho e empregos, atuam na defesa dos direitos dos trabalhadores e em suas lutas históricas conquistaram benefícios como jornada de trabalho de 8 horas/dia, férias, 13º salário, licenças, seguros e muitos outros. Por isso o sindicato é a correia de transmissão direta das necessidades e da realidade financeira e econômica dos trabalhadores diante do mercado de consumo.
Não conhecendo a função dos sindicatos, consulta somente banqueiros que são remunerados pelas taxas de juros abusivas definidas pelo Banco Central que por sua vez destroem o poder de compra e consumo do salário dos trabalhadores.
2 – O TERRAPLANISMO ECONÔMICO E O TESTE DO PUDIM.
Economia é uma disciplina da área das Humanidades. TERRAPLANISMO ECONÔMICO é quando o economista lida com a economia como se fosse da área de EXATAS deixando de fora de seus estudos, análises e previsões o SER HUMANO.
Na década de 90 o Jornalista Luis Nassif escreveu um livro chamado ” CABEÇAS DE PLANILHA” para explicar esse comportamento de uma parte dos economistas brasileiros. Os CABEÇAS DE PLANILHA usam o embuste cientificista para defender teses que não se sustentam diante da realidade quando se considera o Ser Humano em todas as suas complexidades. Esses economistas que trabalham no conforto dos seus escritórios climatizados, se fazem cegos ou simplesmente não tem interesse em analisar a realidade concreta dos trabalhadores assalariados, nunca desceram ao chão das fábricas, nunca visitaram o dia a dia das donas de casa no controle dos orçamentos domésticos, não conhecem a realidade dos aposentados que são arrimos de família, contabilizam a saúde pelo adoecimento, pela quantidade de procedimentos realizados e medicamentos vendidos mais nunca pela prevenção das doenças que reduzem os gastos dos sistemas de saúde, para citar apenas alguns simples exemplos.
Falta a esses economistas, seja por falta de interesse, má fé ou outro motivo não declarado, fazer o TESTE DO PUDIM, que o mesmo Jornalista Luis Nassif explica como o teste, na prática, da aprovação ou não do sabor do quitute, no caso a política econômica do momento propagada pela mídia como um mantra a ser seguido sem nenhuma crítica ou a possibilidade de contraposições.
Além do MP, nove partidos, entre eles o PT, PSOL, PSB e PCdoB, pedem que Campos Neto seja investigado por ‘prejudicar a economia brasileira’
O Tribunal de Contas da União (TCU) deu início a uma investigação preliminar após as declarações do Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que manifestou apoio à terceirização da gestão de ativos do BC. A investigação visa apurar indícios de irregularidades relacionadas ao interesse de Campos Neto em terceirizar a administração das reservas internacionais do Brasil, o que prejudica a economia brasileira.
O ministro Benjamin Zymler foi designado como relator do caso e terá a responsabilidade de conduzir a investigação. A abertura do processo foi feita a pedido do Ministério Público junto ao TCU, por meio do procurador Lucas Furtado.
Na representação, o procurador Lucas Furtado expressou preocupação com os possíveis riscos envolvidos na terceirização da gestão de ativos do Banco Central, especialmente em relação à administração das reservas internacionais do país. Ele ressaltou a importância da transparência e da estabilidade da política monetária brasileira e afirmou que a possibilidade de terceirização demanda uma apuração detalhada por parte do TCU.
“Dada a natureza delicada e arriscada da situação, é inadmissível terceirizar a gestão de ativos do Banco Central, especialmente no que diz respeito às reservas internacionais do Brasil. Diante disso, é imperativo que o Tribunal de Contas da União atue prontamente para determinar uma investigação minuciosa dos fatos”, declarou Furtado na representação.
Agora, a equipe técnica do TCU será responsável por elaborar relatórios detalhados sobre o caso, que serão repassados ao ministro Benjamin Zymler para análise. A decisão final sobre as medidas a serem tomadas caberá ao relator, considerando os resultados das investigações.
Campos Neto tem sido duramente criticado por manter no Banco Central a taxa de juros do Brasil em mais de 13,7%. Recentemente, circulou um comunicado da presidência do banco impondo regras para que diretores deem entrevistas. A medida foi vista como um ato de censura. Campos Neto afirmou que o comunicado “apenas estabelece diretrizes”.
Nove partidos, entre eles o PT, PSOL, PSB e PCdoB, pedem que Campos Neto seja investigado por, de acordo com eles, prejudicar a economia brasileira ao manter a taxa de juros mais alta do mundo.
Saiu o dado do Banco Central (BC), sobre a atividade econômica, o IBC-BR, recuou 2,0% em maio, quando relacionado a abril. No ano acumula alta de 3,61% no ano e de 3,43% em 12 meses. A divulgação desse dado provocou reação diversa, na esquerda, que teve um surto de desespero, pois esperava que Lula tivesse uma varinha mágica, bastando dar um “pirlimpimpim” e a economia, destroçada por quatro anos de gestão criminosa de Bolsonaro, voltaria a se comportar como “uma China dos trópicos”; do outro a direita fascista, que comemorou o fato, apenas e tão somente por ser uma “derrota” de Lula.
Mas o que é real, nesse resultado, é o papel que o Banco Central, transformado em “entidade independente” a partir de 2021, tornou-se a ponta de lança dos interesses do capital financeiro já que manter uma taxa de juros em 13,75% estrangula qualquer tentativa de retomada de crescimento. Uma Lei Complementar tronou-se um dos principais instrumentos da luta de classe, que os incautos acreditam ter sido superada pelo fim da URSS, há mais de 30 anos, e o poder emanado dessa “entidade” agora se mostra claramente.
Os especialistas (ah os especialistas!) já afirmaram que o “mercado”, esse ente onipresente, projetou o crescimento do PIB em 2,24%, com base no crescimento de 1,9% no primeiro trimestre e é bom lembrar que no começo de 2023, a projeção era de 0,78%. Ora se esses mesmos especialistas estão (ou estavam) esperançosos de um crescimento superior ao de 2022, omitem que esse resultado é consequência direta da atividade predatória do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, cujo mandato, de acordo com o que foi aprovado em 2021, só terminará em 31 de dezembro de 2024, é o principal trunfo do mercado financeiro.
Obviamente que é necessário ponderar que acreditar que recuperar um país literalmente devastado por 6 anos de desmonte, e aqui eu coloco o governo Temer na conta, um apenas 6 meses de governo é um delírio, creditado aos ufanistas mais ousados, visto que a recuperação econômica se dá pela conjunção de vários elementos, endógenos e exógenos, que exigem uma condução de política econômica orientada para o desenvolvimento.
Se olharmos o ambiente externo, marcado pelas agruras de uma economia mundial marcada por uma guerra europeia, que afeta o mercado mundial de alimentos e de combustíveis; e o ambiente interno, caracterizada pela permanente busca do governo em ter condições de governabilidade, num ambiente hostil, visto que o parlamento eleito em 2022 é dominado pelas forças reacionárias e conservadoras, além de um conjunto de governadores nada simpáticos ao governo.
E é nesse contexto que a Luta de Classes se mostra claramente. A luta histórica entre as diversas frações da burguesia e os diversos segmentos que formam o proletariado, dessa vez utilizando uma instituição republica, o Banco Central, mostra que a burguesia, um nome que parecia démodé, mantém incólume seus interesses, defendendo-os com unhas e dentes, ora financiando políticos reacionários, para formar uma base parlamentar para resguardar seus ganhos; ora apoiando governos reacionários e fascistas, no caso os governos Temer e Bolsonaro; ora controlando diversos segmentos do aparelho de Estado. A burguesia não dorme.
O proletariado, enfraquecido devido ao fato de que suas representações sociais se debilitaram ao longo dos anos, quer aceitando o conceito falacioso de “conciliação de classes”, que asseverava ser possível construir uma sociedade “onde todos ganham”, uma pilhéria convenhamos; quer perdendo espaço no campo institucional, atropelado pela aliança entre a burguesia e a extrema-direita mundial, que destroçou a social-democracia e os pretensos “socialistas”. O encolhimento da esquerda foi funesto para o proletariado e este vem pagando caro por essa derrota histórica.
Não se espere, nos próximos meses, o arrefecimento das contradições que hoje estão presentes na economia e na sociedade brasileira, mas é necessário, acima de tudo, preservar o pouco ganho que foi conseguido até agora, graças a um governo centrista, mas que tem a pretensão de recuperar o próprio capitalismo no Brasil, e isso implica numa grande coalizão de forças que enfrentem os interesses do capital financeiro e das forças reacionárias que, derrotadas momentaneamente, continuam muito fortes e influentes.
Roberto Campos, o neto do economista da ditadura militar de 1964, deu entrevista 'a investidora BlackRock e disse estar aberto a delegar administração de recursos do Estado. Por falta de competência, de conhecimento, da ignorância dos funcionários do banco, mentiu o traíra
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou em uma entrevista concedida ao banco de investimentos estrangeiro BlackRock que está disposto a terceirizar a gestão das reservas cambiais brasileiras. O país tem US$ 380 bilhões em reservas – cerca de R$ 1,8 trilhão –, que são usadas para aliviar a alta do dólar, por exemplo.
Essas reservas são hoje administradas pelo BC, que tornou-se autônomo no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Campos Neto, indicado por Bolsonaro, cogita transferir essa responsabilidade a terceiros.
"A gente está aberto a essa terceirização, gestão externa vamos dizer... Hoje a grande parte da gestão não é terceirizada, mas a gente está aberto a fazer isso nessa área, principalmente, porque a gente está olhando agora para novas classes de ativos", afirmou.
Nessa terceirização, uma empresa como a própria BlackRock definiria onde seriam investidas as reservas nacionais. Campos Neto disse que o BC poderia aprender com a gestora terceirizada.
"A gente entendeu que alguns programas de gestão terceirizada a gente podia fazer dentro do Banco Central, e isso ia gerar uma sinergia positiva, porque o pessoal da equipe operacional do Banco Central ia aprender sobre ativos e aprender sobre ativos ajuda muito a atividade do dia a dia do Banco Central", disse.
O presidente do BC ressaltou que a terceirização teria de levar em conta princípios hoje adotados pelo BC: preservação de capital, governança e sustentabilidade.
Protestos e críticas
A ideia de Campos Neto foi duramente criticada por parlamentares do PT. A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do partido, questionou o que seria feito com os recursos que pertencem ao Estado.
"Campos Neto, responsável pelo Brasil ter o maior juro do planeta, agora quer terceirizar ativos do BC. É isso, tirar do Estado e deixar ao bel prazer do mercado. E o que acontece com as reservas de US$ 340 bilhões?", declarou Gleisi, numa postagem no twitter.
Campos Neto, responsável pelo Brasil ter o maior juro do planeta, agora quer terceirizar ativos do BC. É isso, tirar do Estado e deixar ao bel prazer do mercado. E o que acontece com as reservas de U$ 340 bilhões? Não explicou até agora o tal erro contábil de R$1 trilhão no banco… — Gleisi Hoffmann (@gleisi) July 21, 2023
Ela ainda pediu a saída de Campos Neto do BC.
O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) também acusou Campos Neto de sabotagem. "Na mesma semana em que tentou censurar os diretores do BC, ele aparece em entrevista à BlackRock dizendo que planeja dar a gestores privados a administração das reservas internacionais do Brasil", postou, lembrando que um novo diretor do BC indicado por Lula não pôde conceder entrevistas por normas editadas por Campos Neto.
Sem precisar de autorização, o BC gastará este ano, aproximadamente, 740 bi somente em pagamento de juros para um punhado de ultra ricos
por João Carlos Loebens
in A Terra é Redonda
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No final do ano passado foi necessário aprovar a PEC da Transição (alteração da Constituição) para aprovar o gasto de 145 bilhões no ano de 2023.
Já o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, sem necessidade de PEC ou Lei, vai gastar cinco vezes mais em 2023 somente em pagamento de juros para um punhado de ultra ricos, aproximadamente 740 bilhões, equivalente a uns oito anos de Bolsa Família, pagos para meia dúzia de ricaços em um ano. Onde mesmo está o tal do Teto (ou corte) de Gastos?
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto se nega terminantemente a baixar os juros absurdamente altos, um dos juros mais altos do mundo! Juros reais que garantem ganhos aos ultra ricos rentistas especuladores, sem necessidade de produzirem nada, alimentando-se da ciranda financeira, criada através da política pública determinada pelo presidente do Banco Central.
O atual Presidente do Banco Central foi nomeado em 2021 pelo presidente Jair Bolsonaro, logo após a aprovação da lei de autonomia/independência do Banco Central, prevendo um mandato de quatro anos não coincidente com o mandato do Presidente da República. Vai ficar no cargo até final de 2024, alinhado a políticas econômicas do governo anterior.
De forma genérica, como principal diferença de orientação econômica, poderíamos definir o governo anterior de Jair Bolsonaro como orientado a políticas públicas de concentração de renda (neoliberal), mais alinhado aos ricos, e o governo do atual presidente Lula como orientado a políticas públicas de distribuição de renda (progressista), mais alinhado aos pobres.
Dado um determinado conjunto de renda ou riqueza de um país, denominado de Produto Interno Bruto (PIB), as políticas públicas concentradoras de renda fazem com que uns ganhem mais em detrimento de outros, podendo-se chegar a níveis de meia dúzia de bilionários e milhões de pobres, resultando normalmente em insegurança social em função da fome.
Por outro lado, políticas públicas de distribuição de renda evitam a abusiva concentração da riqueza nas mãos de poucos, conseguindo uma distribuição da renda mais igualitária, com menos bilionários e menos pobres, evitando ou diminuindo a pobreza, a fome e a insegurança social.
Além do fator insegurança social mais presente nas sociedades com elevada concentração de renda, também deve ser mencionado o fator crescimento econômico, que depende muito da movimentação da economia. A concentração de renda na mão de poucos bilionários desaquece a economia, pois o dinheiro se “esteriliza” na mão de poucos. Já nas políticas de distribuição de renda as famílias passam a consumir mais, a economia se aquece, gerando desenvolvimento e crescimento econômico, tão desejado e defendido por todos.
A justificativa do presidente do Banco Central para criação e manutenção da mais alta taxa de juros do mundo é falsa – seria para diminuir a inflação. Essa justificativa seria verdadeira se a população brasileira tivesse excesso de renda/dinheiro, com consumo demasiadamente elevado. A realidade está aí a olhos vistos.
O gasto absurdo em 2023 de 740 bilhões em juros, a serem pagos com os impostos dos 200 milhões de brasileiros para um punhado de ultra ricos, inclusive estrangeiros, fará falta nos investimentos do Estado/sociedade para gerar crescimento e desenvolvimento econômico. A política pública do presidente (e equipe) do Banco Central de fixação e manutenção dos mais altos juros reais do planeta enriquece meia dúzia e empobrece o Brasil… ou não?
Efeito da agiotagem de Roberto Campos Neto: Quase 64% dos inadimplentes devem aos bancos
por Vitor Abdala - Repórter da Agência Brasil - Brasília
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A mercadoria que garante o ganha-pão de Guilherme Nogueira fica todos os dias, de segunda a sexta-feira, espalhada pelo chão de uma calçada na rua Uruguaiana, no centro da cidade do Rio de Janeiro. O jovem, de 28 anos, tinha um emprego formal, com carteira assinada até 2020.
Com a chegada da pandemia de covid-19, ele foi demitido e, desde então, tem que se virar como pode, para garantir o seu sustento e o de seu filho. Atualmente, vende mochilas que ficam expostas em uma lona para pessoas que transitam pela movimentada rua carioca.
“Tem dia que vende, tem dia que não vende. Tem dia que vende cinco, oito mochilas. Em outros, vende duas. É difícil, os guardas [municipais] querem pegar [apreender] as mochilas”, lamenta Guilherme.
A perda do emprego também o envolveu em uma situação que atinge hoje 66 milhões de brasileiros, segundo dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL): o jovem não consegue pagar suas contas.
Sem uma fonte de renda estável, Guilherme não consegue saldar suas dívidas com o cartão de crédito. “Eu não tinha condições de pagar o banco. Fiz um cartão de crédito e não tinha dinheiro na hora pra pagar. Tenho dívidas com cartão de dois bancos”, conta. “Não tenho nenhum plano para conseguir pagar isso. Está difícil”.
A inadimplência, ou seja, as contas ou dívidas em atraso, atinge, segundo o CNDL, quatro entre dez brasileiros adultos.
O número de dívidas em atraso no Brasil, em abril deste ano, cresceu 18,42% em relação ao mesmo período do ano passado. A dívida com os bancos é, segundo o CNDL, o principal motivo da inadimplência: 63,8% do total.
E, assim como Guilherme, em média os brasileiros inadimplentes devem a duas empresas. Quase metade dos brasileiros na faixa etária a qual pertence o vendedor ambulante (25 a 29 anos) estão na inadimplência.
Mas não são apenas os jovens que enfrentam o problema, nem os bancos são a única fonte das dívidas difíceis de pagar. Seu José Raimundo, de 67 anos, também é autônomo. Trabalha há anos como engraxate, a poucos metros de onde Guilherme vende suas mochilas.
E assim como o colega vendedor, foi muito impactado pela pandemia. Ainda sem conseguir contar com uma aposentadoria – ele deu entrada no Benefício Assistencial ao Idoso, mas ainda não recebeu o aval da Previdência Social para receber o dinheiro – ele perdeu grande parte da clientela que usava seus serviços antes da covid-19.
“Só por causa da pandemia, fiquei quase dois anos em casa. Depois fiquei doente, sem poder fazer nada. Fiquei três anos e pouco sem trabalhar. E aí foi atrasando tudo. Minha mulher sozinha pagando tudo: água, luz, telefone. O que eu mais atrasei foi a conta de água. Na hora que sair o benefício [da Previdência], eu vou conversar com a concessionária e parcelar. Não quero ficar devendo nada a ninguém. Não tenho essa índole de mau pagador”, conta o engraxate que retomou recentemente seu ofício.
Três em quatro idosos com 65 a 84 anos estão com dívidas em atraso no país. Água e luz respondem por 11,1% das inadimplências, percentual parecido com o do comércio, que representa 11,6% das dívidas não pagas.
E a inadimplência não poupa nem quem tem emprego formal. Alessandro Gonçalves tem 30 anos e trabalha como porteiro em um prédio comercial no centro da cidade do Rio.
Todo mês, ele precisa fazer malabarismos para garantir que seu dinheiro supra suas necessidades diárias. E isso envolve atrasar o pagamento de algumas contas. “É aquela dificuldade rotineira. Você tem uma conta pra pagar e não consegue. Chega no final do mês, pega o dinheiro pra pagar a conta e não consegue. O salário nosso, a gente faz uma conta e, quando chega no final do mês, não dá pra pagar. E aí a gente tem que atrasar as contas”.
Renda
Segundo Merula Borges, especialista em finanças da CNDL, a perda de renda é um dos motivos que levam as pessoas à inadimplência.
“Na pesquisa, quando as pessoas foram perguntadas sobre o motivo de elas terem entrado na inadimplência, elas disseram que tiveram perda de renda ou de si próprios, ou de alguém da família”, afirma Merula. “Isso é natural já que, quando a renda é menor, o espaço que os itens básicos ocupam no orçamento familiar é maior e as pessoas têm menos possibilidade de lidar com algum imprevisto que aconteça”.
Segundo a especialista, quem tem renda menor também precisa de mais disciplina financeira para evitar a inadimplência.
“Existe, sim, uma possibilidade de as pessoas se manterem adimplentes, apesar da renda mais baixa, mas é muito mais difícil. Então, o foco daquele que tem uma renda menor precisa ser em melhorar a qualificação, procurar cursos gratuitos, possibilidades de melhorar a própria renda para entrar em uma situação um pouco mais confortável”.
Merula diz que são necessárias políticas públicas que ajudem os brasileiros a saírem dessa situação de inadimplência. O governo federal prepara um programa, chamado Desenrola, que pretende renegociar até R$ 50 bilhões em dívidas de 37 milhões de pessoas físicas.
A política está sendo preparada pelo Ministério da Fazenda, que, em resposta à Agência Brasil, afirmou que “não se manifesta sobre medidas em elaboração”.
Brasileiros tentam quitar dívidas, mas juros e inflação atrapalham sair da inadimplência
A 'bola de neve' da dívida sob juros altos impede muitos de se verem livres dos pagamentos e arrastam mais pessoas para o grupo de inadimplentes. É no que dá a agiotagem do bolsonarista Roberto Campos Neto presidente do Banco Central
por Beatriz Pacheco /Valor Investe
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O número de brasileiros inadimplentes bateu recorde no início deste ano. Segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), eram 66 milhões de devedores em março, ou seja, 40,6% da população adulta no país estava com o pagamento de pelo menos uma conta em atraso. É o maior número da série histórica. E embora o volume de dívidas tenha crescido junto com o grupo de devedores, uma parte dessas pessoas tem se esforçado para pagar parcelas mais altas e até quitar dívidas neste começo de ano.
Um levantamento inédito realizado pela Paschoalotto, plataforma de recuperação de crédito, compartilhado em primeira mão com o Valor Investe, mostra que o valor médio das parcelas de dívidas pagas subiu 22,3% em março comparado aos dois primeiros meses do ano.
Em janeiro, o tíquete médio recebido dos credores foi de R$ 472,46, em fevereiro, de R$ 455,34, e em março, R$ 570,37, que apontou alta de 21% sobre a parcela de janeiro e de 25% sobre fevereiro. A média das parcelas pagas de contas atrasadas no trimestre foi de R$ 496,15.
Diego Hernandez, economista e CEO da Ativo Investimentos, lembra que há uma sazonalidade relevante impactando esses dados. Em março, o orçamento do brasileiro teve um respiro após dois meses com reajustes de contratos de serviços e gastos com educação.
"O indicador de inflação desse começo de ano, nos primeiros dois meses, esteve bem inchado, justamente por conta desses fatores. Houve muitas repactuações de contratos de serviços de telecomunicações em janeiro, além dos pagamentos de tributos (IPTU, IPVA). Por isso, costuma ser um período mais tenso para o pagamento de dívidas", diz Hernandez.
Assim, o grupo de devedores cresceu 8,32% de março deste ano contra o mesmo mês do ano passado, segundo os dados do SPC Brasil, e na passagem de fevereiro para o mês seguinte, a alta foi de 1%. Esses dados compensaram o aumento do tíquete médio.
Mesmo elevando a parcela de amortização das dívidas, o montante da dívida total no mercado que foi paga no mês passado foi menor. Quer dizer: quem pagou, conseguiu elevar o valor de pagamento, mas, além do crescimento do número de inadimplentes, o número de boletos que não foram pagos em março superou o dos meses anteriores.
Resumidamente, março foi um mês de comportamentos díspares entre inadimplentes. Muita gente tentou pagar uma parcela maior e até se ver livre da dívida. Mas muito mais gente deixou de pagar os boletos.
No fim do primeiro trimestre, cada consumidor negativado devia, em média, R$ 3.974,73, conforme o mapeamento da CNDL com o SPC. E cada inadimplente tinha compromissos financeiros, em média, com duas empresas credoras.
Diego Mosquim, diretor de planejamento e coordenador da pesquisa da Paschoalotto, analisa que o maior desafio para o consumidor é pagar todas as dívidas em cenário de juros altos, que acaba dificultando a renegociação e honrar compromissos atrasados.
“Alguns fatores contribuíram para esse cenário: a alta da inflação; o uso crescente do cartão de crédito, através da oferta de novos produtos e serviços por bancos e fintechs; e a maior demanda por serviços, como viagens e compra de passagens aéreas, geralmente também pagos no cartão”, afirma.
Os principais credores
Com esse cenário, a prioridade dos brasileiros em março foi reduzir o montante das dívidas que costumam ter juros mais altos. Credoras nos segmentos de cartão de crédito e fintechs lideraram os recebimentos nesse primeiro trimestre, tendo captado, respectivamente, 22,3% e 5,3% dos valores pagos no período.
Na sequência, inadimplentes preferiram pagar o financiamento de veículos leves, com 4% do montante pago no mês, e outros 3,3% foram destinado à redução das dívidas com consórcios.
Pelo mapeamento da CNDL com o SPC Brasil, em termos de participação, o setor que concentrava volumes a receber da maior parte das dívidas no país em março era o bancário, credor de 64% do total.
"Se antes o brasileiro tomava dívida a 2% ao mês para pessoa física, agora pega a 5%, graças ao juro real mais elevado na economia. Isso impacta o montante da dívida e dificulta a amortização", retoma Fábio Sobreira, analista-chefe e sócio da Harami Research.
Ele explica que o cenário é como uma bola de neve: além dos juros altos, que tendem a continuar altos por algum tempo, a pessoa inadimplente ainda lida com a inflação persistente, que deteriora o poder de compra. Quer dizer, com todos os preços subindo, sobra menos dinheiro para pagar as dívidas e, muitas vezes, é preciso fazer mais dívidas para garantir a compra do básico.
"E assim chegamos nesse cenário, em que dois terços dos brasileiros estão endividados e, dentre esses, um quarto não tem condições de pagar a dívida", conclui Sobreira.
Marco Antonio Villa disse que as decisões de Roberto Campos Neto, sobre a taxa de juros "não seriam técnicas", mas sim "políticas" e "alinhadas com o último governo"
Roberto Campos, neto do Lanterna na Popa, a pedra no meio do caminho do Brasil sem medo, sem fome, sem peste, sem golpe. O Brasil do Primeiro Mundo
247 –O economista Uallace Moreira, secretário de Desenvolvimento do Ministério da Indústria e Comércio no governo Lula, faz duras críticas às taxas de juros brasileiras em sua conta no Twitter. O renomado economista levanta questões pertinentes sobre o impacto dessas taxas no cenário econômico do país.
Em suas publicações, Uallace destaca a maior taxa de juros reais do Brasil em comparação com o restante do mundo. Ele questiona como é possível promover um maior crescimento econômico e a rendustrialização diante dessa realidade. As altas taxas de juros podem dificultar o acesso ao crédito e desestimular investimentos produtivos, o que prejudica o desenvolvimento econômico e a modernização da indústria.
Além de suas críticas às taxas de juros, Uallace Moreira também ressalta a preocupação com as contas públicas, argumentando que a maior taxa de juros reais do mundo onera o governo. Confira a sabotagem, a agiotagem, a desgraceira do presidente do Banco Central, o inimigo do povo Roberto Campos Neto, nomeado por Jair Bolsonaro, o pior presidente do Brasil:
Uallace Moreira
@moreira_uallace
Taxa de juros reais Como promover maior crescimento econômico com a maior taxa de juros reais do mundo? Como promover a neoindustrialização com a maior taxa de juros reais do mundo? Lembrete: a maior taxa de juros reais do mundo onera as contas públicas...
Para Lula, a atuação do BC está diretamente relacionada ao crescimento econômico e à geração de empregos - (crédito: Fotos Ricardo Stuckert/PR)
Para o presidente, Campos Neto trabalha contra o país e tem dois compromissos: com Bolsonaro e com quem quer a Selic alta
Londres — Numa das investidas mais pesadas contra o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, Luiz Inácio Lula da Silva disse, ontem, sem citar o nome do desafeto, "que aquele cidadão não tem compromisso com o país, tem compromisso com o outro governo (de Jair Bolsonaro)" e que a autoridade monetária tem autonomia, mas "não é intocável". Para o presidente da República, que veio a Londres para a coroação do rei Charles III, a questão não é a autonomia, mas o compromisso que a diretoria da instituição tem com a economia do país.
"Indiquei (Henrique) Meirelles para o Banco Central. Ele era do PSDB. Eu nem o conhecia. Duvido que aquele cidadão (Campos Neto) tenha mais autonomia que o Meirelles, que tinha a responsabilidade de ter um governo discutindo com ele. Esse cidadão (Campos Neto) não tem. Não tem nenhum compromisso comigo. Tem compromisso com o Brasil? Não tem. Tem compromisso com o outro governo que o indicou. Isso é importante ficar claro. E tem compromisso com aqueles que gostam de taxa de juros alta. Porque não há outra explicação", afirmou.
Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica em 13,75% ao ano, dando sinais de que não mexerá na Selic tão cedo. O presidente lembrou que Campos Neto disse, recentemente, que para o Brasil atingir a meta de inflação de aproximadamente 3%, seria preciso que os juros para perto de 20%.
"Está louco? Esse cidadão não pode estar falando a verdade. Se eu, como presidente, não puder reclamar dos equívocos do presidente do BC, quem vai reclamar? O presidente americano? Me desculpem, o BC tem autonomia, mas não é intocável", apontou.
Para Lula, a atuação do BC está diretamente relacionada ao crescimento econômico e à geração de empregos. "Com juros de 13,75% ao ano, não se resolve esses dois casos", assinalou. O presidente garantiu que a economia vai crescer neste ano porque o governo "está injetando dinheiro na veia". "Temos de criar empregos, dar dignidade aos trabalhadores", complementou.
Nova meta
Apesar das duras críticas ao BC, Lula afirmou que não bate na instituição "porque o BC não é gente". "Só não concordo com a atual política de juros. Sei que tem a meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mas que, então, se mude a meta. Pode mudar a hora que quiser", ressaltou. Segundo ele, empresários do varejo e da indústria e trabalhadores não suportam mais as altas taxas de juros. "Não tem crédito. Sem crédito, fica difícil a economia crescer", acrescentou.
O presidente lembrou que, nos dois primeiros mandatos, quando o BC de Meirelles aumentava a taxa básica de juros (Selic), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) reduzia a TJLP, "que não existe mais, acabou". Lula disse, ainda, que o governo tem o Banco do Brasil, a Caixa, o BNDES e o Banco do Nordeste com capacidade de emprestar, mas o BC dificulta. Destacou, ainda, que, se precisar, fará um acordo com empresários para reduzir preços e, assim, derrubar a inflação.
Lula também não economizou nas críticas à privatização da Eletrobras. "O governo tem 43% das ações da empresa, mas apenas 8% dos votos. Isso não é possível. Se o governo quiser comprar a Eletrobras de volta, terá de pagar três vezes o valor oferecido por outro comprador. Além disso, depois que a empresa foi privatizada, os salários dos diretores passaram de R$ 60 mil para R$ 300 mil, e os conselheiros recebem R$ 200 mil por uma reunião por mês", frisou.
Nossos economistas deveriam estar se armando teoricamente para uma mudança no “modo de produção” capitalista
por Renato Dagnino
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Para responder a esta pergunta de uma atenta aluna de esquerda da minha disciplina de Ciência, Tecnologia e Sociedade na Unicamp, que mesmo sem ser economista percebeu que há uma relação entre as taxas de juro e de lucro, falei algo parecido com o que aqui escrevo.
Iniciei concordando com minha aluna. E o fiz enfaticamente: não é preciso ser economista para perceber que se temos aqui a maior taxa de juros do mundo e ainda se produz um alfinete brasileiro é porque a taxa de lucro é maior do que a taxa de juros. E que, por isso, sua pergunta, dirigida às pessoas de esquerda que justamente reclamam do nível da taxa de juro, faz todo o sentido
De fato, para qualquer um é evidente que se uma pessoa tem algum dinheiro “sobrando”, ela deverá se posicionar frente a duas opções. A de contratar trabalhadores e, via a geração de mais-valia – absoluta ou, se for preciso, relativa –, se apropriar do excedente econômico (lucro) derivado da produção de bens e serviços; e a de aplicar seu dinheiro no mercado financeiro para obter juros.
Ou seja, o que se pode deduzir da realidade observada, o rendimento do dinheiro aqui destinado pela classe proprietária à produção de bens e serviços – lucro – é superior ao do aplicado na “ciranda financeira” – juro – o qual é condicionado pelo rendimento pago pelo Estado aos que adquirem títulos da dívida pública.
Se não fosse assim, eu disse a ela, não valeria a pena para os que têm algum dinheiro “sobrando” produzir sequer um alfinete. E como, apesar da desindustrialização que a classe proprietária vem provocando pela maneira como administra seus dinheiros, há ainda nos comércios muita coisa “made in Brazil”, você teria toda a razão: haveria que falar na taxa de lucro!
Minha aluna, a esta altura, revisou sua pergunta: mas será que a preocupação com a taxa de juros não se justifica? Será que ela não é maior do que a taxa de lucro?
Eu tentei responder assim: como o juro só poderá existir se em algum lugar estiver sendo gerado lucro, uma situação em que a taxa de juro é maior do que a taxa de lucro só irá perdurar caso a classe proprietária local possa se beneficiar da mais-valia extraída mediante a produção de bens e serviços realizada em outro lugar.
É pouco provável que uma situação como essa venha a ocorrer num território periférico como o Brasil: a parcela de custo da produção derivada da utilização da força de trabalho (da classe trabalhadora brasileira) é uma das menores do mundo.
E é isso, ademais, que explica o fato de que brasileiros ricos vêm adotando um comportamento sistemático e economicamente racional de “reservar” (da competição externa) setores de alta lucratividade para serem explorados por ricos de outros países. Há muitas décadas eles vêm aqui se instalando para se apropriar da mais-valia gerada pela nossa classe trabalhadora.
Mas isso é um suicídio, exclamou minha aluna! Para explicar por que não é assim eu tive que lançar mão do que aprendi de ciência política. E respondi: ao longo de nossa história, o que se costuma denominar classe proprietária logrou instaurar um arranjo institucional, típico de nosso “Estado herdado” (aquele que a esquerda deve alterar para construir o seu “Estado necessário”) que está na raiz de nossa alta taxa de lucro e que condiciona, em última instância, o atual nível da taxa de juro.
Na origem desse arranjo institucional se encontra a capacidade de nossa classe proprietária de, mediante expedientes frequentemente amorais, naturalizar a adoção de uma “política de Estado” vigente há séculos, que garante um regime de superexploração dos indígenas, dos negros, dos imigrantes famintos, dos nordestinos, dos expulsos do campo e dos “inempregáveis”.
Ressaltei, também, que como esse arranjo, que lhe proporciona um rendimento superior em muitas conjunturas históricas a de seus sócios estrangeiros (que desde a conquista do nosso território “colonizaram” uma cultura de iniquidade), elucida muitas outras coisas, haveria que explicá-lo em detalhe.
Mas, voltei ao tema das multinacionais que parecia interessar mais a minha aluna, obcecada com o falso dilema da dependência x autonomia tecnológica difundido pelos seus professores. Limitei-me, assim, a apontar que é graças a esse arranjo que nossa classe proprietária tem compensado a não exploração do potencial de lucro que elas aqui realizam, mas que caberia a eles, se não fossem “periféricos”, se apropriar. Ao serem capazes de “descontar em cima” da nossa classe trabalhadora o custo da manutenção de seu ladino “way of life”, ela tem condenado o país a uma situação que, não tivesse o caráter que tem, a envergonharia.
E, buscando fazê-la refletir sobre o que vem escutando sobre aquilo que para muitos é ainda visto como simples atraso, indolência e parasitismo ou, pior, “falta de investimento público em Ciência, Tecnologia e Inovação”, agreguei mais uma provocação. Tente entender esse “way of doing business” como algo estrutural, pouco infenso à ação depolicy makersque pretensiosamente tentam arrostar a condição periférica e seus determinantes globais. Como uma escolha racional da classe proprietária e suas empresas (e das que sendo multinacionais, por terem um CNPJ são consideradas brasileiras) condicionada por aquele arranjo e fundamentada no ancestral comportamento do capitalista – economicamente racional – de preferir, sempre que o contexto o permitir, explorar a mais-valia absoluta em vez da relativa.
Mas, afinal, perguntou a aluna, é adequada a pressão que está fazendo a esquerda no governo para reduzir a taxa de juros?
Sim: o motivo mais relevante e razoável é a de que a metade do dinheiro arrecadado pelo governo como imposto se destina ao serviço da dívida pública. E que este pagamento é calculado como uma taxa (de juros) arbitrada pelo Banco Central, ouvidos os interesses da classe proprietária, que é aplicada sobre o dinheiro que lhe foi emprestado pelos mais ricos para financiar o gasto governamental passado.
O que significa que a redução da taxa de juros é uma condição para que o governo de esquerda possa gastar mais, além de alterar o seu perfil de gasto, para entregar o que prometeu. E significa, também, que, ao gastar mais – com políticas compensatórias ou comprando de empresas que geram salários mas que “esterilizam” seu lucro, o governo estará promovendo crescimento econômico.
Impaciente, minha aluna retrucou: Mas o gasto do governo, num país já “privatizado”, é suficiente para isso?
Antes de tentar responder, achei melhor prosseguir focando a taxa de juro e apontando um segundo motivo dessa preocupação. Embora menos razoável, dado que repousa numa hipótese (ou teoria) acerca do comportamento da classe proprietária, ela deve ser levar em conta.
Essa hipótese se baseia na ideia de que existiriam hoje no interior da classe proprietária brasileira duas frações – a “produtivista” e a “rentista” – animadas por visões diferenciadas acerca do ambiente político, econômico e social e, por isto, dotadas de uma racionalidade bem distinta.
Trata-se de uma suposição que remonta a num passado bem distante no qual a fração “produtivista” era a única que interagia diretamente com a classe trabalhadora, extraindo mais-valia sob a forma de lucro. A fração “rentista” não entabulava uma relação econômica direta de exploração com a classe trabalhadora. Ela se dedicava, fundamentalmente, a negociar com a fração “produtivista” captando parte da mais-valia produzida pela classe trabalhadora sob a forma de juro.
Num passado menos distante, quando o crédito ao consumo passou a conviver com a função precípua do capital financeiro, surgiu uma outra teoria que apoia a narrativa dos “rentistas”. Se, numa dada economia (desde que funcione ocupando toda sua capacidade produtiva, física e humana) ocorrer uma queda na taxa de juros, os cidadãos, na sua ânsia por consumir lançando mão do crédito mais barato, causarão inflação. E ela, acautela piedosamente a classe proprietária, penaliza injustamente a classe trabalhadora.
Como no Brasil – marcado pelo oligopólio periférico – o que temos tido não é uma “inflação de demanda”, esse argumento da classe proprietária, embora habilmente por ela esgrimido, não merece maior comentário. Mesmo porque, e como evidencia a dramática condição de endividamento da classe trabalhadora numa situação de relativa estabilidade de preços, a “expropriação financeira” pode ser tão perniciosa quanto a inflação.
De qualquer forma, retomando o fio da meada, como a fração “produtivista”, para enfrentar os múltiplos desafios derivados da produção e circulação de mercadorias, precisa tomar dinheiro emprestado, ela tem que destinar parte do seu lucro bruto para pagar os juros devidos à fração “rentista”.
Assim, por possuírem interesses bem diferenciados em relação à forma como valorizam seu capital, essas duas frações se comportariam de modo, mais do que autônomo, antagônico em relação a uma diminuição da taxa de juros.
Daí que viria o tal círculo virtuoso de crescimento econômico, exclamou minha aluna? Com a ressalva de que esse círculo vem sendo crescentemente criticado em todo o mundo pela sua insustentabilidade, respondi que sim.
De fato, por um lado, ao deixarem de rentabilizar o seu capital comprando títulos da dívida pública agora menos rentáveis, os “rentistas” deixariam de captar uma parcela tão elevada do imposto arrecadado como serviço da dívida, permitiriam que o governo gastasse de acordo com suas prioridades.
Por outro lado, os “produtivistas”, que necessitam de dinheiro alheio para produzir bens e serviços e se beneficiar de uma alta taxa de lucro, poderiam captá-lo a um custo menor junto aos “rentistas” que já não encontrariam oportunidades tão vantajosas no mercado financeiro.
Ressalvei, também que o prazo em que isso ocorreria, que depende do ritmo em que os atores envolvidos mudariam seus comportamentos e, inclusive, buscariam ajustar as taxas de lucro e juro aos seus interesses, é de difícil estimação. E que o resultado, ainda que condizente com a expectativa do atual governo, poderia ocorrer num momento em que o não cumprimento do seu programa já tenha acarretado sérios problemas de governabilidade.
Com o ceticismo típico das boas alunas, ela retrucou: isso está muito bom para ser verdade! De fato, ressaltei, a probabilidade de ocorrência dessa acomodação desejada depende de, pelo menos, três fatores.
O primeiro, se relaciona aos “rentistas” (muitos dos quais são estrangeiros), é o nível em que, realisticamente, o governo poderia, “por decreto”, baixar a taxa de juros para desencadear aquele comportamento. Dada a fluidez e abrangência do mercado financeiro globalizado, ele depende da remuneração que eles poderiam conseguir em outros países. O fato de que no país que pratica a segunda taxa de juro mais elevada ela é cerca da metade daquela que hoje aqui existe, não pode deixar de ser considerado para estimar esse nível. Estimativa que deve levar em conta o efeito que se pretende obter vis-à-vis os obstáculos políticos a enfrentar para que ocorra a redução que desencadearia aquele comportamento…
O segundo fator tem a ver com aquela suposta autonomia comportamental; ou de modo mais radical, à existência daquelas duas frações. Ele se relaciona ao fato de que os integrantes da fração “produtivista”, mesmo enquanto tais, ou seja, enquanto proprietários ou sócios de empresas, não são, apenas, “produtivistas”. A julgar pela declaração de grande número das empresas locais, de que auferem significativos “lucros não-operacionais” (lucros que não advêm da produção e sim de aplicações financeiras), parece legítimo indagar sobre o efetivo resultado de uma redução dos juros. Será que ele seria tão grande quanto aquele que estima a “lógica” rentista?
O terceiro fator também se relaciona àquela pretensa autonomia comportamental. Mais precisamente, ao fato de que hoje, em todo o mundo e ao contrário do passado, a tal (hipotética) fração “rentista” também explora diretamente a classe trabalhadora; o que não significa que deixe de receber juros pelo dinheiro que empresta aos “produtivistas”. Através desse seu novo papel no circuito de acumulação de capital, ela passa a enriquecer mediante o endividamento da classe trabalhadora.
Dá pra resumir isso aí, professor?
Tentei: mecanismos de “expropriação financeira” cada vez mais sofisticados, pervasivos, e com grande apelo midiático geram rendimentos e um volume de riqueza que alteram significativamente o ambiente de negócios de qualquer país. Coordenados muitas vezes por corporações que possuem sólidas raízes “produtivistas”, eles funcionam com uma “perfeição algorítmica” (que substitui a antiga “precisão milimétrica”) ao longo de cadeias globais de valor que beneficiam, ainda que subsidiariamente, o conjunto da nossa classe proprietária. Tudo isso implica um crescente poder de influenciar a elaboração da política pública no sentido de azeitar os processos econômicos, políticos, sociais, culturais e até ambientais num sentido favorável a consolidação de um ambiente, que evidentemente envolve e favorece também os “produtivistas”, a “expropriação financeira”.
Minha aluna, que andara lendo os “clássicos”, perguntou: voltando às duas taxas, por que nossos economistas de esquerda mantêm a hipótese de autonomia?
Dado que apesar de pertencerem à “órbita econômica” ou mais especificamente ao “ambiente do mercado”, elas estão associadas à expectativa (psicológica, diria Keynes) que possui a classe proprietária a respeito do futuro, as razões que aventamos não os fazem mudar de opinião? E aduziu: será que essas duas frações da classe proprietária são autônomas a ponto de suscitar o efeito desejado de uma queda na taxa de juros?
É realista a expectativa, de inspiração keynesiana no plano econômico-fiscal, de seduzi-la a reencenar, aproveitando essa queda e outros subsídios, o que ocorreu há vinte anos? E será que é legítimo esperar o comportamento schumpeteriano que, no âmbito econômico-produtivo, eles presumem? Será que, acostumados a lucrar perifericamente, explorando mais-valia absoluta muito mais do que mais-valia relativa, as empresas locais seguirão o caminho da competitividade, do pagamento de salários dignos, da diminuição da sonegação hoje estimada em 10% do PIB…?
Mas o buraco é mais embaixo, disse ela! Concordando, respondi: nossos economistas deveriam estar se armando teoricamente para uma mudança no “modo de produção” capitalista similar àquela que há mais de 200 anos, com a “revolução industrial” deu origem à sua profissão. Deveriam estar mais atentos a tendências como o paralisante rentismo financeiro improdutivo, a odiosa e cínica privatização dos bens comuns, a apropriação cada vez mais pervasiva e improdutiva da riqueza social, as consequências que o estritamente econômico provocam no âmbito tecnocientífico e no ambiente cultural e no psiquismo contemporâneos.
Para não entrar em insondáveis crenças profissionais e postergar para outro momento eventuais dissonâncias acadêmicas e debates políticos, fiz ouvidos de mercador ao que ela retrucou…