Peça 3 – a Sociedade de Propósito Específico
Xadrez do grande negócio de Sérgio Moro com a Alvarez & Marsal
O jogo seria infinitamente maior se o alvo da Alvarez & Marsal fosse outro: utilizar o conhecimento acumulado para adquirir empresas brasileiras, em vez de meramente administrá-las judicialmente. Aí, as possibilidades de ganho ascenderiam a centenas de milhões de dólares.
A segunda peça ajuda a decifrar o jogo. A Alvarez & Marsal ingressou na B3 – a principal bolsa brasileira – com o primeiro pedido de listagem de uma SPAC – uma Sociedade de Propósito Específico. No caso, especificamente para captar dinheiro para adquirir outras empresas. O pedido está em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
E, aí, a contratação de Moro começa a fazer sentido. Ele é o sponsor – o garantidor do projeto, na linguagem do mercado. Sponsor é o técnico, ou personalidade pública, que tem credibilidade suficiente para convencer o investidor de que ele tem um bom negócio pela frente, investindo na SPE, ou SPAC.
Em princípio, compras de empresas sob emaranhados legais – como é o caso das empreiteiras quebradas pela Lava Jato – esbarram em uma sucessão de dúvidas e armadilhas. Como ficam os acordos de leniência, as multas a serem pagas? E há as informações que circulam no COAF (Conselho de Controle da Atividade Financeira). Eventuais ilegalidades detectadas em transações anteriores poderiam comprometer a venda das empresas.
Daí a importância do sponsor, com amplo conhecimento do mercado. Quem poderia ser melhor sponsor do que Moro e procuradores envolvidos com a Lava Jato? Por isso mesmo, interessava à Alvarez & Marsal bater bumbo com a contratação. Mesmo se não utilizar o nome de Moro nos panfletos de venda, o mercado já sabe que ele foi sócio da empresa por algum tempo.
Como diz o portal da empresa:
“Marcos Ganut , diretor administrativo da A&M com a prática de Projetos de Infraestrutura e Capital da empresa e líder de Disputas e Investigações em São Paulo, afirmou: experiência governamental e regulatória. A nomeação de Sergio aumenta nossa capacidade de ajudar os clientes a lidar com questões regulatórias complexas, alavancando nossa liderança, ação e abordagem de resultados.”
E por aí se entende outras atitudes de Moro, ao aceitar o cargo de Ministro da Justiça de Bolsonaro. Sua primeira batalha foi o controle do COAF. Planejou até colocar no comando uma pessoa de absoluta confiança, a delegada Erika Marena. Originalmente só poderiam ser do COAF funcionários públicos. Quando se decidiu que o órgão ficaria com o Banco Central, Moro arrancou um decreto de Bolsonaro que permitiu a indicação dos delegados Erika Marena e Márcio Anselmo – do grupo da Lava Jato.
Entende-se também a insistência da Lava Jato de Curitiba de manter o controle absoluto sobre o banco de dados acumulado, criando um enorme problema administrativo quando a Procuradoria Geral da República tirou esse controle. (Continua)