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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

14
Fev23

Psicologia coletiva dos neofascistas

Talis Andrade
Imagem: Mustafa Ezz

 

O grande desafio intelectual atual é “decifrar a esfinge” do neofascismo tupiniquim

 

por Fernando Nogueira da Costa

O que de manhã tem quatro patas, de tarde tem duas e de noite tem três? O ser humano. Ele engatinha quando criança, caminha quando é adulto e precisa de uma bengala quando envelhece. Édipo foi quem respondeu à questão e derrotou a Esfinge.

O grande desafio intelectual atual é “decifrar a esfinge” do neofascismo tupiniquim. Diz respeito ao perfil de quem só idolatra “deus, pátria e família”. Há diversos esforços de politicólogos, sociólogos e psicólogos para dar uma explicação para esse fenômeno com capacidade de abarcar 49,1% do eleitorado brasileiro.

Eu, como professor de Economia, leio a todos cientistas em busca de uma resposta cabal… se esta for possível, de maneira definitiva e categórica, sem dar lugar a dúvidas, evasivas ou imprecisão. Também assisti, pouco-a-pouco, porque é muito entristecedora, a importante série documental Extremistas.br da Globoplay.

Daí, visualizando os personagens celibatários – em sentido figurado sem proveito, estéreis, inúteis – dessa trama paranoica, senti necessidade de reler o Psicologia de massas do fascismo, publicado em 1933, durante a ascensão do nazismo na Alemanha. O psicanalista austríaco Wilhelm Reich analisa a razão de os fascistas apresentarem um sintoma da repressão sexual. Ele alerta: “a explicação socioeconômica não se sustenta”. Quando o pensamento e a ação dos humanos são incoerentes com a situação econômica, eles são irracionais.

O marxista comum e o economista tacanho, caso não reconheçam a psicologia, não têm resposta para esta contradição. Por qual razão apoiar um governo militarizado sem apoio à mobilidade social dos párias, mas só com concessões de benesses às suas castas?

“Quanto mais mecanicista e economicista é o sociólogo, tanto menos conhece a estrutura psíquica dos seres humanos e tanto mais incorre nos erros de um psicologismo superficial, na prática da propaganda de massas. Em vez de revelar e resolver a contradição psíquica do indivíduo, inserido nas massas, (…) explica o movimento nacionalista [místico] como uma ‘psicose de massas’”.

Como o economicista não conhece nem admite a existência de processos psíquicos, a expressão “psicose de massas” significa para ele uma coisa sem qualquer relevância social. Para Wilhelm Reich, significa um fato social de enorme importância histórica.

O livro Psicologia de massas do fascismo inicia seu questionamento exatamente no ponto onde fracassam as explicações socioeconômicas imediatas. Por conta de sua crítica ao economicismo do marxismo vulgar, desdobrando-se em crítica ao totalitarismo stalinista da União Soviética, Wilhelm Reich foi expulso do Partido Comunista da Alemanha.

Mas não foi só por parte dessa esquerda a recusa ao seu pensamento crítico. Ele teve de fugir da Alemanha, após a tomada de poder pelo nacional-socialismo (nazismo) com o incêndio do Reichstag. Seu livro, em conjunto com muitos outros banidos pelos nazistas alemães, quando chegaram ao poder, foi queimado publicamente.

Aqui, os neofascistas tupiniquins “queimam” os livros de Paulo Freire e toda a literatura universitária suposta ser de “comunistas e drogados”. Só leem suas redes de ódio na internet, ou seja, louvam os palavrões vomitados por Olavo de Carvalho como fossem um profundo conhecimento…

Pior, Wilhelm Reich também foi expulso da Associação Psicanalítica Internacional em 1934 por seus pontos de vista sobre sexualidade. Todos os livros publicados por ele foram posteriormente ordenados a serem queimados, a pedido da Food and Drug Administration (FDA), por um juiz do Maine, Estados Unidos, em 1954, durante o auge do macarthismo, o anticomunismo norte-americano.

Qual é o maior incômodo causado por ele aos fascistas? Considera a família (Tradição e Propriedade), uma das pernas do tripé Deus (Evangelismo) e Pátria (Forças Armadas), como a principal célula germinativa da política reacionária, o centro mais importante de produção de homens e mulheres reacionários. A família torna-se o pilar principal para a manutenção do sistema autoritário em favor da conservação do status quo.

Em contraponto, a mulher sexualmente consciente, capaz de se afirmar e ser reconhecida como tal, significaria o colapso completo da ideologia autoritária. Daí o ódio dos conservadores tacanhos contra a pauta identitária: feminismo, transexualismo, anti-homofobia, liberdade para dispor do próprio corpo etc.

Cada ordem social cria, nas massas componentes, as estruturas psicológicas necessitadas para atingir seus objetivos fundamentais. As contradições da estrutura econômica da sociedade estão enraizadas na estrutura psicológica das massas oprimidas, econômica e sexualmente. A compreensão do agir de maneira irracional e aparentemente sem propósito necessita da compreensão da clivagem entre ideologia e economia. Todo o misticismo é reacionário – e o homem reacionário é místico.

Ridicularizar o misticismo – a inclinação para acreditar em forças e entes sobrenaturais –, considerando-o como “embotamento” ou “psicose coletiva”, não é a medida adequada contra ele. Mas, se compreendermos corretamente a crença de o ser humano poder se comunicar com alguma divindade ou receber dela sinais ou mensagens, poderemos descobrir um antídoto para o fenômeno do conservadorismo reacionário.

Qualquer místico justificará tal comportamento com base na moralidade intrínseca da natureza do homem. Ela impede a rebelião contra as instituições divinas e a autoridade do Estado, caso esteja sob controle das Forças Armadas e seus representantes.

Tais fenômenos não podem ser explicados de um ponto de vista puramente econômico, ou seja, apoiando-se na luta de classes entre as frações de renda e/ou riqueza. É necessário entender a conexão entre esse comportamento auto repressivo e a distorção da vida sexual das grandes massas incultas e doutrinadas religiosa e militarmente.

A sexualidade ou sua energia — a libido —, instintiva no corpo, é o motor principal da vida psíquica. As condições biológicas e as condições sociais da vida cruzam-se na mente.

Desde a infância, a sexualidade é normalmente reprimida pelo medo do castigo por atos e pensamentos de natureza sexual. Isso explica a obsessão da extrema direita com os xingamentos de pederastia contra os discordantes. A repressão intensifica a sexualidade e a torna capaz de se manifestar em diversas perturbações patológicas da mente.

O código moral introjetado no ser humano, longe de ter origem divina, provém da educação dada pelos pais e seus representantes, desde a infância. Dentre as medidas educativas, destacam-se as contrárias à livre sexualidade.

A sociologia da economia sexual se pergunta: por quais motivos sociológicos a sexualidade é reprimida pela sociedade e recalcada pelo indivíduo conservador? O evangelismo diria ser pela “salvação da alma”, mas a atividade cultural em si não demanda a repressão e o recalcamento da sexualidade. Não é uma questão de cultura, mas sim de manutenção da mesma ordem social de outrora com suas hierarquias.

A combinação da estrutura socioeconômica com a estrutura sexual da sociedade (e sua reprodução) verifica-se desde os primeiros anos de vida na família autoritária. A Igreja continua com essa função castradora. Por fim, o líder autoritário no Estado defende ambas (Deus e família), onde estruturas e ideologias da Pátria armada são moldadas.

Como sexo é um assunto proibido, há uma paralisação geral do pensamento e do espírito crítico. O objetivo da moralidade familiar e evangélica é a criação do indivíduo submisso, adaptado à ordem autoritária, apesar do sofrimento e da humilhação.

A inibição moralista e antissexual impede a mulher conservadora de tomar consciência da sua situação social. Liga-a fortemente aos pastores “evangélicos” (sic), pois a fazem temer o “comunismo sexual”.

A repressão da satisfação das necessidades materiais se subordina à repressão das necessidades sexuais. Esta impede a rebelião contra as duas espécies de repressão ao reprimir seus impulsos sexuais, retirando-os do domínio do consciente e fixando-os como defesa da moralidade retrógrada contra os costumes sociais dos novos tempos.

O resultado, segundo Wilhem Reich, é o conservadorismo, o medo da liberdade. Por isso, predomina a mentalidade reacionária, vista em xucros interioranos no DF.

A ideologia fascista, ao contrário da ideologia evangélica, faz uma distinção entre as necessidades orgásticas do animal humano e as estruturas psicológicas, criadas na sociedade patriarcal autoritária. Em suas violentas manifestações, contrapõe-se ao celestial, assexual, puro. Libera o instintivo, demoníaco, sexual, extasio, orgástico.

Nos acampamentos em frente os quartéis, os “puritanos” se excitaram sexualmente. O convívio com gente da mais laia causou muita animação, empolgou-os até se afastarem da família. As manifestações coletivas são orgásticas. No vandalismo contra símbolos da República, finalmente, obtiveram um orgasmo, o mais alto grau de satisfação sexual.

07
Fev23

Patriotas versus cidadãos

Talis Andrade
 
 
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Pautas autoritárias, privatistas, de moral e costumes ensejaram o Frankenstein do atraso e da fome

 

por Luiz Marques 

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Entre as revoltas que precederam a declaração de Independência do Brasil, a Inconfidência Mineira (1789) refletiu os valores iluministas do século XVIII e a experiência das colônias da América do Norte. Os líderes descendiam da “casa grande” – militares, fazendeiros, magistrados, padres, poetas. À semelhança da Revolução Haitiana (1791), a rebelião mais popular foi a Revolta dos Alfaiates (1798), na Bahia, que envolveu militares de baixa patente, artesãos e escravizados. Composta por uma maioria de negros e mulatos, mirou na escravidão e no domínio dos brancos. Não buscou fundar um quilombo distante de uma cidade populosa, como era hábito dos foragidos (Palmares).

A última insurreição colonial aconteceu em Pernambuco (1817), encabeçada por militares de alta patente, comerciantes, senhores de engenho e padres (estima-se em 45), que se diziam “patriotas”. Sob inspiração maçônica, proclamou uma república autônoma que enlaçava Pernambuco e as capitanias da Paraíba e do Rio Grande do Norte. Sobre o modelo escravista, iniciado logo após o descobrimento e mantido por penosos 350 anos, silêncio obsequioso. Os grilhões restariam intactos.

Apesar dos pesares, no livro Cidadania no Brasil, o historiador José Murilo de Carvalho salientou no evento insurgente “uma nascente consciência de direitos sociais e políticos”, na crua geografia de abestalhados – entrecortada pela mestiçagem derivada dos frequentes estupros das negras. Por república, entendia-se o governo de povos livres em oposição ao absolutismo monárquico. Não acenava um futuro com ideias sustentadas na igualdade. Com a identidade forjada em batalhas prolongadas contra os holandeses, o patriotismo do epicentro pernambucano superava o brasileiro.

Agora, um salto temporal. Adeptos do movimento golpista recente também se autodenominaram “patriotas”. Não “cidadãos”, como na terminologia propagada na Revolução Francesa para designar o pertencimento a um Estado-nação. No caucasiano acampamento da extrema direita, incubadora dos atos descompensados no 12 de dezembro e no 8 de janeiro, em Brasília, os partícipes não evocavam o conceito de cidadania ao justificar o vandalismo brutal dos símbolos republicanos. Considerando-se indivíduos de exceção perante as leis vigentes, depredaram com brutalidade os fundamentos sedimentados por práticas civilizacionais inexistentes em hegemonias fechadas.

O clamor contrarrevolucionário não se construiu em relação a um inimigo externo: portugueses, holandeses, franceses, espanhóis ou ingleses com os quais em algum momento o Brasil esteve em conflito. Dirigiu-se ao inimigo interno (o povo) que desfraldou a bandeira da democracia, em defesa das instituições da estremecida Terra brasilis. Apostou no fratricídio e nas manipulações digitais com robôs e fake news. O dedo seletivo apontou os judeus da hora: os sujeitos políticos (partidos de esquerda), regionais (nordestinos), étnicos (negros, indígenas), de gênero (mulheres), identitários (grupos LGBTQIA+) e do conhecimento (intelectuais, cientistas, agentes da cultura e das artes).

O simulacro patriótico tinha um forte ingrediente ideológico, ligado a uma visão mítico-messiânica para ocultar o antinacionalismo econômico remanescente do colonialismo. Fenômeno reatualizado pela vassalagem vira-lata ao imperialismo estadunidense e pelas privatizações crescentes. Vide o fatiamento da Petrobrás e do pré-sal. Tudo consentâneo o Consenso de Washington. A peculiaridade do neofascismo tropical foi a estreita associação com a globalização neoliberal que, com dogmas monetaristas em favor da “austeridade fiscal” e do “teto de gastos públicos”, retirou poderes da governança submissa que, de resto, cedeu-os sem um mínimo de decoro na função presidencial.

A estratégia desenvolvimentista com foco na reindustrialização para formar um mercado de massas, dentro das fronteiras territoriais, e amainar as infames desigualdades herdadas do longo ciclo de horrores, nunca integrou a agenda do Coisa Ruim. Os protestos de aparência leonina maquiavam os desprotestos raposinos, vergonhosos, pusilânimes, de traição à pátria. O objetivo era congelar a matriz colonialista (racista) e patriarcal (sexista), junto com as hierarquias sociais da antiga tradição de dominação e subordinação. A violência e a hostilidade aos progressistas tinham um por quê.

O antipatriotismo estrutural foi disfarçado com a estética verde-amarela dos desfiles, com hinos. Os toscos revoltosos concentraram os disparos nas balizas constitucionais de amparo a uma democracia com justiça social e ambiental. Por suposto, a raiva e o ódio não se estenderam até o mundo das finanças. O rebanho de manobra desconhecia os patrões e, por ignorância, aliou-se aos opressores. Para curar frustrações com as promessas descumpridas do sistema democrático, o remédio indicado foi a instalação do regime iliberal. O liquidificador fundiu a essência neofascista (Jair Bolsonaro), o neoliberalismo duro (Paulo Guedes) e o conservadorismo teocrático (Silas Malafaia, Edir Macedo). Pautas autoritárias, privatistas, de moral e costumes ensejaram o Frankenstein do atraso e da fome.

A lógica de financeirização do Estado e os interesses do agronegócio somaram-se ao predatório extrativismo de madeiras (nobres) e minerais (ouro, diamantes) da Amazônia, o que esgaçou a crise climática e o genocídio de comunidades originárias. O programa da ultradireita fez, da floresta, uma refém do totalitarismo da mercadoria. Nisto, resumiu-se a distopia de extermínio bolsolavista. Com opção de classe nítida, os entreguistas celebraram a necropolítica no aparelho estatal. Danem-se os pobres; vivam os privilégios redobrados ao capital financeiro. La noblesse du dollar oblige.

Ao transformar as “liberdades individuais” em panaceia para os problemas da nação, a obtusidade das vertentes obscurantistas entrincheirou-se em um campo específico de direitos, que abrangiam a vida, a garantia da propriedade, a segurança pessoal, a manifestação do pensamento, organizar-se, ir e vir, e acessar informações alternativas – rápido, convertidas em passaporte para o negacionismo. Quando a ênfase recai apenas nos “direitos civis” e, estes, ademais, se restringem ao usufruto dos correligionários, os “direitos sociais” e os “direitos políticos” saem pela porta dos fundos; para retomar o estudo clássico de T. H. Marschall sobre as três dimensões indispensáveis da cidadania.

No transcurso da pandemia do coronavírus, vale lembrar, uma hermenêutica levada ao paroxismo liberou o desaforo de festas privadas, superlotadas, enquanto as UTIs dos hospitais estavam abarrotadas de pacientes da covid-19. No macabro jogral negacionista, não faltaram os empresários dispostos a “salvar a economia”, à revelia dos cuidados com as normas sanitárias para a proteção da população. A desobediência narcísica aos protocolos de isolamento social, à prescrição para o uso de máscaras e à vacinação enalteceu um hiperindividualismo, de pretensões aristocráticas. Com muita arrogância, se reproduziu nas ruas a pulsão genocida encastelada no Palácio do Planalto.

O quadro sombrio desembocou nos ataques terroristas à soberania popular, com a contestação das eleições – sem provas. A convicção tola foi regada pelo despresidente pária, a partir de 2018, para arregimentar as mentalidades entorpecidas pelo antipetismo / antilulismo e jogar desconfiança sobre os suportes da democracia na institucionalidade. O fetiche da “liberdade de expressão” avalizou as realidades paralelas dos militontos, com ares de zumbis. Mas o caos não angariou outras adesões.

É necessário intensificar a disputa política e ideológica na sociedade civil, empoderar a unidade na diversidade, fortalecer a esfera pública crítica e pluralista com a voz dos segmentos excluídos. Os marginalizados da história devem ocupar um “lugar de fala”, na intrincada arquitetura do poder nos municípios, nos estados e na União. Sem esse engajamento ativo é impossível mudanças de cenário. Não basta que os democratas e os intelectuais orgânicos das classes subalternas legitimem as justas demandas “de baixo”. A situação de espectadores das narrativas ofertadas e benefícios recebidos não contempla o importante princípio da autonomia, no processo pedagógico de desalienação. “A emancipação será obra dos próprios trabalhadores”, ensinava o ainda atual Manifesto comunista de 1848.

Para combater a sociopatia do extremismo direitista, a solução sob auspícios do governo liderado por Lula reside na implementação de: (a) Mais direitos sociais – saúde, educação, segurança, renda, formalização do trabalho, sociabilidade não discriminatória e; (b) Mais direitos políticos, por meio da participação cidadã ampliada para a elaboração coletiva de políticas públicas, na forma de um Orçamento Participativo Nacional (OPN). Para uma exposição detalhada, ver o artigo “Políticas participativas” de Leonardo Avritzer e Wagner Romão, no sítio internético A Terra É Redonda.

O desafio está em estimular a cidadania a confrontar o falso civismo que estupidificou a política, no quadriênio miliciano. Tarefa para os partidos e movimentos sociais do campo e da cidade, entidades comunitárias e estudantis, sindicatos e clubes de bocha, pagodes e saraus, ônibus e metrôs, praças e bares, almoços dominicais e intervalos dos jogos de futebol. Qualquer local. Como na bela canção de Caetano Veloso: “É preciso estar atentos e fortes / Não temos tempo para temer a morte”.

 
 
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17
Jan23

Terrorismo popular: uma reflexão sobre o fascismo doméstico

Talis Andrade

Falta pegar os financiadores

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Todos os sujeitos esvaziados de sua subjetividade serão seduzidos para o terrorismo popular

 

por Marcia Tiburi

Como conviver dentro ou fora de casa com fascistas que se tornaram terroristas e que depois de dias na prisão, são capazes de voltar sem nenhuma reflexão ou questionamento, senso de responsabilidade ou arrependimento? 

O que dizer a pessoas que continuam em delírio autoritário?

Como tratar quem, tendo sido traído por líderes diversos, fossem capitalistas financiadores, militares supostamente protetores, fosse o líder autoritário que, na verdade, não passava de um covarde, perdeu o chão e a razão e continua sem perceber ou sem querer assumir o próprio erro? 

A personalidade autoritária continua intacta e produzindo efeitos. O fascismo está a plenos pulmões com seu grito de morte e precisa ser parado antes que todos os seres sejam atingidos por seu vírus alienante e devorador de almas. 

Ao mesmo tempo, diante da catástrofe há quem insista em falar em populismo evitando, assim, o termo fascismo. Alegam que é preciso evitar exagero. Diga-se, a propósito, que o “apelo ao exagero no discurso do outro” é uma das falácias das mais comuns quando se quer amenizar um assunto ou, para usar um clichê, tapar o sol com a peneira. 

Com a invasão bárbara e a destruição dos prédios dos poderes republicanos em Brasília em 8/01 tornou-se evidente que o fascismo avançou para uma nova fase em que o terrorismo de Estado, composto de violência simbólica e física contra o povo, deu lugar ao que podemos chamar de terrorismo popular. 

Antes, Bolsonaro tocava o terror, contra os outros e contra os seus. Contra os outros através da política de choque, da ameaça, da chantagem econômica, do lançamento das pessoas na fome e na morte. 

Contra os seus, como um vaqueiro puxando o berrante para conduzir o gado, ou, se preferirmos uma metáfora mais literária e fantástica, sempre podemos lembrar o flautista de Hamelin que também conduz os ratos, mas direto para o abismo. 

Os próprios enfeitiçados decidiram tocar o terror confiando que estavam amparados por poderosos que se tornam cada vez mais imaginários, sejam financiadores que se escondem, sejam militares que não vem salvar ninguém, seja o líder autoritário e falastrão, que sempre foi, principalmente, um vagabundo e um covarde, que pretendia apenas se dar bem e promover os próprios filhos, tão monstruosos quanto ele. Prova disso é que fugiu e, no exterior, fingiu estar doente para tentar não ser extraditado. 

Há anos, um livro escrito por uma professora de filosofia - obrigada a exilar-se por ter irritado a extrema-direita brasileira e ter sido por ela perseguida e ameaçada - alertava sobre a implantação do fascismo no Brasil. A professora foi chamada de exagerada ao propor uma reflexão sobre o fenômeno do fascismo.  

Naquele época o assunto girava em torno da qualidade da relação que se desenvolveria com os fascistas que eram ao mesmo tempo, familiares. Ao enunciar “Como conversar com um fascista” a professora tocava no problema que muitos precisam enfrentar ainda hoje quando os velhos fascistas que tomaram o Brasil começando a se reproduzir desde 2014 (ano da criação do MBL, cujos membros são conhecidos por sua defesa de um partido fascista) voltam para casa depois de terem sido indiciados como terroristas. 

O problema continua atual. As subjetividades autoritárias continuam em ação e autorizadas pelos agentes do caos, os agitadores fascistas que lucram com a lavagem cerebral dos outros. Os poderosos continuarão a investir no populismo fascista e, para isso, precisam investir também na lavagem cerebral da população. Cada um é transformado em robô através da oferta de um gozo do mal e do sofrimento, seja do outro, seja de si mesmo. Todos os sujeitos esvaziados de sua subjetividade serão seduzidos para o terrorismo popular. E serão lançados por seus condutores no abismo.

O único jeito de evitar isso é produzindo consciência, resgatando do delírio e esse é trabalho para muitas gerações. Os vários governos que existirão no Brasil, terão que trabalhar para isso. A nós, meros cidadãos e cidadãs, cabe criar espaços e tempos democráticos e uma poético-política que possa nos garantir o sentido da convivência e da existência em sociedade, apesar de toda a adversidade que há no mundo humano.

#DesmonetizaJP

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12
Nov22

Massas são manipuladas pelo êxtase; A extrema direita e a perda da vergonha

Talis Andrade

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por Marcia Tiburi

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Desde a vitória da frente democrática, encabeçada por Lula, eleito presidente pela terceira vez, o Brasil vive uma onda de ataques à democracia que copia o script pós-derrota de Trump. A assessoria de marqueteiros como Steve Bannon deixa clara a ação publicitária, patrocinada por empresários, alguns que têm por princípio, não pagar impostos. Por trás dessa atitude, está a falta de senso de cidadania necessário à democracia. 

Um dado interessante a considerar é que, mesmo que toda essa encenação, para a qual são convocadas pessoas autoritárias, conservadoras e muitas com problemas emocionais sérios, mesmo que isso não esteja levando a nada, os publicitários americanos ganham muito dinheiro com a promoção da extrema direita. 

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Eles têm vendido sua expertise para partidos e grupos extremistas do mundo todo com a função de colocá-los na moda. Os que gostam de reflexões estéticas se perguntam: como fazer algo cafona voltar à moda? Ora, manipulando as massas e, para isso, apelando ao sistema de crenças intimamente ligado ao gozo de alguém. Em sentido psicanalítico o gozo é a profunda satisfação com aquilo no que se acredita. Pode ser na democracia, pode ser no autoritarismo. Pode ser numa mentira. O que importa é o êxtase. Os publicitários sabem manipular o gozo das massas adulando-as e fornecendo o êxtase. Líderes religiosos fazem o mesmo. Religião e política produzem o êxtase necessário à publicidade. 

O ridículo político que elegeu tantos em 2018, inclusive Bolsonaro, volta agora. Mesmo derrotadas, as pessoas se entregam ao ridículo e grotesco coletivo, tomadas de um gozo profundo, o gozo do êxtase. Elas se entregam sem questionamento, entram em delírio. Rezar para um muro do quartel, assim como outras atitudes desesperadas, provoca risos. Mas foi esse mesmo jogo cênico que desencadeou o código fascista entre 2016 e 2018. 
 
 
Que as pessoas tenham perdido a vergonha é um sinal de perda de relação com a verdade. A mesma vergonha que se perde no carnaval permitindo a catarse e a entrega, ocorre nessas manifestações, mas perdendo de vista que aqui não é uma brincadeira. A manipulação das massas vai continuar enquanto a subjetividade livre continuar sequestrada.
 
25
Out22

Manifestantes se reúnem em Paris em defesa da democracia brasileira

Talis Andrade
Centenas de manifestantes se reuniram neste sábado (22) em Paris em defesa da democracia no Brasil.
Centenas de manifestantes se reuniram neste sábado (22) em Paris em defesa da democracia no Brasil. © RFI

 

Apreensivos com os resultados do primeiro turno das eleições no Brasil e de olho na votação do próximo dia 30, manifestantes se reuniram neste sábado (22) na Place de la Nation, a leste de Paris, em defesa da democracia.

 

Por Andréia Gomes Durão /RFI

Ídolo dentro e fora dos gramados, o eterno craque Raí subiu ao palanque compartilhando com o público seu entusiasmo pelo exercício cívico de ir às urnas no segundo turno, convidando os eleitores a votarem “contra as desigualdades sociais, à agressão ao meio ambiente, contra o desrespeito ao direito das minorias e contra o ódio, mas principalmente a votarem a favor do amor”.

Sob gritos de “Fora Neymar”, que declarou publicamente seu apoio a Jair Bolsonaro, Raí afirmou que “o Brasil se encontra em um momento terrível, depois de tudo que se passou nos ‘últimos quatro anos’”, se recusando a pronunciar o nome do atual presidente brasileiro.

 

O ex-jogador Raí convida os eleitores brasileiros a votarem contra o agravamento das injustiças sociais.
O ex-jogador Raí convida os eleitores brasileiros a votarem contra o agravamento das injustiças sociais. © RFI

 

Representantes e líderes de entidades francesas e brasileiras comprometidas com a defesa da democracia se revezavam no palco. A presidente do grupo Amitié France-Brésil no Senado, Laurence Cohen, destacou a importância de mostrar que, “na França, há uma solidariedade em relação ao Brasil, em relação à democracia”.

“Já dei meu apoio a Lula quando ele estava na prisão, assim como me solidarizei a Dilma Rousseff, quando ela foi ameaçada de impeachment e, infelizmente, conseguiram tirá-la do poder. [...] É preciso mostrar que os democratas franceses estão mobilizados pelo mundo inteiro, e não apenas pelo Brasil, onde a democracia está ameaçada por um governo que tem ódio da população negra e dos povos autóctones, que é contra o direito das mulheres”, enfatiza a senadora em declaração à RFI.

 

“Sociedade francesa atenta”

 

Glauber Sezerino, co-presidente da associação Autres Brésils, uma das entidades organizadoras da manifestação, faz coro ao discurso de Laurence Cohen, uma vez que o ato evidencia que “a sociedade francesa está atenta ao que está em jogo hoje no Brasil, que é a continuidade de um projeto mortífero”.

“Vimos um aumento considerável de assassinatos no Brasil, um aumento da pobreza, da fome. E nós conseguimos reunir uma série de organizações francesas, que desenvolvem trabalhos na França, mas com um olhar em relação ao Brasil, para mostrar que o Brasil não aguenta mais quatro anos de governo Bolsonaro. Estamos mostrando que vamos continuar mobilizados, solidários a todos os movimentos no Brasil”, sublinha Sezerino.

 

Glauber Sezerino, co-presidente da asssociação Autres Brésils, uma das entidades organizadoras da manifestação.
Glauber Sezerino, co-presidente da asssociação Autres Brésils, uma das entidades organizadoras da manifestação. © RFI
A antropóloga e ativista Kowawa Apurinã.
A antropóloga e ativista Kowawa Apurinã. © RFI

 

Em seu discurso, a ativista indígena e antropóloga Kowawa Apurinã falou da importância da luta de todos os povos “com esse sentimento de mudar o mundo”. “A democracia é uma utopia que nós estamos sempre correndo atrás dela, e no Brasil ela está se tornando algo quase inalcançável. A resistência se faz em ocupar todos os lugares de luta, não só pelo poder, mas uma luta de vida no Brasil. Nós estamos lidando com o mal, estamos lidando com coisas malignas. O Brasil está na escuridão. Nas eleições, esperamos que o fascismo seja finalmente derrotado. [...] Se Bolsonaro não cair, iremos fazer uma revolução.”

A condição dos povos originários também estava entre as principais motivações para a artista plástica Cláudia Camposs participar da manifestação, uma vez que as populações indígenas tangenciam de diversas formas seu trabalho. “Estou muito emocionada com esse movimento todo a favor da democracia aqui em Paris. E eu sempre fui muito motivada às alianças com os representantes indígenas dentro da minha arte. É inadmissível manter Bolsonaro no poder, porque os direitos [desses povos] não estão sendo respeitados. Ele é um genocida e não dá a essas pessoas o direito de viver em seus territórios ancestrais. Isso já acontecia, é histórico, mas piorou muito. A democracia tem que ser defendida, [...] não podemos privilegiar apenas os interesses do homem branco”.

 

A artista plástica Claudia Camposs vê na ameaça à democracia uma ameaça também aos povos originários.
A artista plástica Claudia Camposs vê na ameaça à democracia uma ameaça também aos povos originários. © RFI

 

Meio ambiente

 

Não somente os povos originários, mas uma pauta tão inerente quanto, o meio ambiente, é o que leva o animador gráfico Meton Joffily a participar desta manifestação com uma obra em punho: uma releitura do mapa do Brasil. “Não é só o Brasil que está em jogo. Meu cartaz vem aqui manifestar esta preocupação com a Amazônia, com o tip point, o ponto de não retorno, que está muito próximo. E ainda há brasileiros achando que Bolsonaro é aceitável, depois de quatro anos as pessoas ainda votam nele. Ou elas são inocentes e estão sendo manipuladas pelas mentiras e fake news ou são meio mal caráter e concordam com essa agenda que é realmente autoritária. Todo mundo sabe que um segundo mandato vai fechar o caixão do Brasil.”

 

O animador gráfico Meton Joffily e seu alerta sobre o desmatamento da Amazônia.
O animador gráfico Meton Joffily e seu alerta sobre o desmatamento da Amazônia. © RFI

 

O também artista plástico Julio Villani expressou sua preocupação em “recuperar tudo que o Brasil perdeu”. “Sobretudo essa destruição da palavra que a extrema direita tem feito no mundo e especialmente no Brasil é a coisa que mais me tira o sono. Porque quando a palavra perde o sentido, a educação perde o sentido, a cultura, tudo é destruído. E é o retrato do Brasil atual. Eu tento ao máximo ser otimista. Eu tento me agarrar a esse otimismo, porque a gente ainda vai ter que lutar muito.”

Para o performer, coreógrafo e escritor Wagner Schwartz, esse encontro de pessoas e ideias representa um exercício democrático. “O mais importante de estar aqui é de encontrar as pessoas que são constituintes, que compõem esse grupo que forma a democracia no Brasil. É importante que a gente se encontre nesse momento porque a democracia realmente está em crise. E quando a gente se vê, a gente se sente menos desamparado”, acredita.

 

Wagner Schwartz e Julio Villani.
Wagner Schwartz e Julio Villani. © RFI
O escritor Julian Boal.
O escritor Julian Boal. © RFI

 

Já o escritor e crítico de teatro Julian Boal destaca que este “é um momento muito complicado, em que está havendo muitas mobilizações”. “A questão é saber como fazer para que essas mobilizações permaneçam depois das eleições. Porque o bolsonarismo não é só um fenômeno eleitoral. É também a presença nos palácios dos governadores, nas câmaras, nas assembleias legislativas. E a gente vê também a presença de Bolsonaro nas igrejas evangélicas, nas milícias, e nos corações e mentes de milhões de brasileiros. Então a questão é como a gente continua se mobilizando depois das eleições para tentar lutar contra isso. Porque o fascismo não é um fenômeno que começa e acaba nas urnas. Infelizmente”, diz Boal à RFI.

 

Democracia e autocrítica

 

Para o artista plástico Ivar Rocha, encontros como esse, em defesa da democracia, são também uma oportunidade de autocrítica. “É importante olhar para este momento como uma crítica para a esquerda, para nós todos, para entender a fragilidade do momento e entender que todos nós temos que dar um passo à frente. Porque meu medo, além do Bolsonaro, é constatar que a nossa geração talvez esteja longe de fato querer lutar pela emancipação do homem, e sim querer humanizar um capital, e isso seria uma tragédia muito maior do que qualquer Bolsonaro. Um momento como esse serve para a gente refletir e entender qual é nosso limite, quais são as nossas fronteiras na luta, na entrega, na organização.”

 

Para o artista plástico Ivar Rocha, o momento político no Brasil exige reflexão e autocrítica.
Para o artista plástico Ivar Rocha, o momento político no Brasil exige reflexão e autocrítica. © RFI
O psicólogo Jean-Pierre Guis.
O psicólogo Jean-Pierre Guis. © RFI

 

O psicólogo e fotógrafo Jean-Pierre Guis destaca que, independentemente no resultado nas urnas no próximo domingo, o Brasil seguirá fortemente dividido, o que torna a defesa da democracia ainda mais relevante para assegurar o diálogo e o equilíbrio entre lados tão opostos, que ele traduz como o contraste entre o paraíso – os avanços durante o governo Lula, a cultura brasileira, o calor humano de seu povo – e o inferno, representado pela gestão de Bolsonaro, pela manipulação dos evangélicos e pela agravamento das desigualdades sociais. “Sem um Brasil democrático, o planeta Terra terá se tornado um erro”, ele sintetiza.

 

15
Set22

"Bolsonaro gosta da violência e quer uma guerra civil no Brasil", diz Míriam Leitão

Talis Andrade

Gilmar Fraga: placebo | GZH

 

 

"O Brasil está vivendo o maior risco desde a sua constituição como Estado independente. O que quer Bolsonaro? Ele mesmo disse. Uma guerra civil"

 

 

247 - "O presidente da República tem a violência como projeto. Por isso fez o incessante trabalho de ampliar o acesso às armas, vociferar contra pessoas que ele escolhe como alvo e jamais desautorizar ato truculento de seus seguidores", diz a jornalista Míriam Leitão em artigo publicado nesta quinta-feira (15) no jornal O Globo

Ela comenta a agressão do deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos-SP) contra a jornalista Vera Magalhães e diz que "Bolsonaro escolheu a imprensa como um dos alvos, e dentro dela mira pessoas, porque assim é o método. Ao individualizar, ele autoriza o ataque e canaliza a raiva que ele alimenta com fins políticos".

"O governante autoritário quer eliminar a imprensa e para isso começa intimidando alguns jornalistas", diz Míriam Leitão, que prossegue: "não por acaso as pessoas escolhidas para serem assediadas pelo presidente e por seus seguidores são mulheres. Bolsonaro com sua aversão às mulheres organiza a misoginia e alimenta o ressentimento contra o avanço feminino".

"O presidente da República gosta da violência, ele sente prazer nela. Ele se regozija em saber, ver ou provocar o sofrimento alheio. É isso que explica sua louvação da tortura. Mas é preciso ver além da perversão. O trabalho de Bolsonaro tem tido um objetivo, uma direção, é parte do projeto maior de elevar o conflito dentro da sociedade brasileira e realizar seu sonho autoritário para o Brasil", afirma a jornalista.

Ela aponta que Bolsonaro quer provocar uma guerra civil no país e diz que a "democracia" errou ao não puni-lo no passado. "O livro de Juliana Dal Piva sobre a corrupção da família Bolsonaro, 'O negócio do Jair', resgata a frase que ele disse em uma entrevista à Bandeirantes, em 1999. 'Através do voto, você não vai mudar nada neste país. Nada, absolutamente nada. Você só vai mudar, infelizmente, quando nós partirmos para a guerra civil aqui dentro. E fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando 30 mil pessoas e começando por FHC'. Esse indicador antecedente do seu projeto deveria ter sido punido com o rigor da lei. Era uma pessoa com mandato que em uma única declaração defendia a morte do então presidente, lamentava não terem morrido outros 30 mil e propunha a guerra civil. Não levar a sério um inimigo declarado e violento da democracia foi um dos erros da democracia em relação a Jair Bolsonaro".

"Há um processo para o qual o país está sendo arrastado, com a conivência das Forças Armadas, a displicência de algumas instituições e autoridades, a bênção de algumas igrejas. Esse é o golpe. O Brasil está vivendo neste momento o maior risco desde a sua constituição como Estado independente. O que quer Bolsonaro? Ele mesmo disse há 25 anos. Uma guerra civil", conclui.

07
Set22

Brigas por dinheiro e Carlos: as cartas da segunda mulher de Jair Bolsonaro

Talis Andrade

PF pede investigação de ex-mulher de Bolsonaro por compra de mansão -  Politica - Estado de Minas

 

por Juliana Dal Piva e Elenilce Bottari com colaboração de Eduardo Militão /UOL

 

A separação entre o presidente Jair Bolsonaro e a advogada Ana Cristina Valle continua representando um dos episódios mais complicados da história do candidato do PL, que tenta mais um mandato na Presidência da República do Brasil.

Cristina, como é conhecida, também se lançou como deputada distrital pelo PP, no Distrito Federal. Novos dados da separação vêm agora à tona no episódio bônus do podcast "UOL Investiga: A Vida Secreta de Jair", que você pode ouvir na íntegra no YouTube do UOL e em todas as plataformas de podcast.

Mãe de Renan, Ana Cristina Valle comandou um dos núcleos de corrupção no  gabinete de Carlos Bolsonaro, diz MP | Revista Fórum

Seria apenas um divórcio se o processo não tivesse trazido à luz, desde a eleição de 2018, em uma reportagem da revista Veja, que Bolsonaro ocultou parte de seu patrimônio declarado à Justiça Eleitoral na disputa por uma vaga na Câmara dos Deputados em 2006. Além disso, foi acusado pela ex-mulher de ser violento.

No novo episódio do podcast, estão cartas inéditas de Cristina, escritas em 2007, com detalhes sobre as disputas por dinheiro e o tom grave da separação entre os dois.

Cópias manuscritas foram entregues, com exclusividade, à coluna por uma fonte que pediu anonimato. A coluna submeteu as cartas a duas pessoas que conhecem Cristina há vários anos e elas confirmaram a autenticidade da grafia. Além disso, as cartas também passaram pela análise de três peritos grafotécnicos, que constataram a compatibilidade da escrita.

 

Peça-chave das investigações

 

Desde 2018 —e a partir das investigações do Ministério Público do Rio e da imprensa—, ficou evidente o papel de Cristina como peça-chave do esquema de entrega ilegal de salários, conhecido como "rachadinha", que ocorreu nos gabinetes de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados e de seus filhos.

Em especial de Flávio e Carlos, que são oficialmente investigados. Cristina foi chefe de gabinete de Carlos entre 2001 e 2008. É a partir desse período que vários integrantes de sua família foram indicados para cargos públicos durante os mandatos dos enteados e do, agora, ex-marido. Ao todo, 18 parentes dela estiveram nomeados em algum momento.

No ano passado, a coluna revelou gravações de Andrea Siqueira Valle, irmã de Cristina e ex-funcionária fantasma do clã Bolsonaro. Esteve nomeada por 20 anos entre os gabinetes de Jair, Carlos e Flávio. Nos áudios, ela admitiu que entregava até 90% de seu salário. Também contou que um de seus irmãos foi exonerado por Bolsonaro por "não devolver o dinheiro certo". Essas gravações se somam aos dados da quebra de sigilo de Andrea que corroboram o que ela disse nos áudios.

É o processo de separação entre Cristina e Bolsonaro que mostra os primeiros indícios de irregularidades nos bens dele. No processo, Cristina disse que Bolsonaro tinha uma renda de mais de R$ 100 mil por mês, sem dizer de onde vinha todo esse dinheiro.

 

Primeiro trecho da carta de Cristina para Bolsonaro

 

A separação de Bolsonaro e Cristina ocorreu em julho de 2007. Na carta para Bolsonaro, ela menciona as expectativas de lucro junto às empresas que ela havia criado naquela época: um escritório de advocacia e uma seguradora.

Na carta, Cristina escreveu ao então marido que "sabia que ele ia voltar" para que se casassem como nos "sonhos" dela. Depois acrescentou: "Valle Reguladora vai se legalizar e se livrar daquela pessoa. Vamos ter muitos e muitos processos chegando. A minha meta até o fim do ano é de mil processos/mês. Vou ganhar R$ 50 mil por mês. Vou vender esta casa muito bem. Vou comprar a casa dos meus sonhos. A Valle Advogados vai dar muito dinheiro. O meu corpo e saúde vão estar sempre assim: lindos e com saúde. O DPVAT vai dar muito dinheiro".

Em dezembro de 2021, o Jornal Nacional fez uma reportagem revelando que as empresas dela estavam envolvidas em negociações suspeitas e fraudes do seguro obrigatório, o DPVAT.

Ao pedir a quebra de sigilo de Cristina, nas investigações sobre rachadinha no gabinete de Carlos Bolsonaro, o MP apresentou relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que indicavam negociações suspeitas nas contas dessas firmas.

De agosto de 2007 a julho de 2015, mais da metade do que saiu da conta bancária de uma das empresas foram saques em dinheiro vivo, um total de R$ 1,1 milhão.

 

Segundo trecho da carta

 

Em outro trecho, já na página seguinte, Cristina faz reclamações. Diz que o marido era ingrato e aponta brigas entre os dois por causa do Carlos, com quem ela trabalhava. Bolsonaro mantinha enorme desconfiança em relação à ex-mulher.

Cristina escreveu: "Foram muitas as injustiças e ingratidões de sua parte. Nunca fiz nada que pudesse desabonar a minha conduta com você e nossa família. O primeiro ponto onde tudo começou: Carlos. Por 2 anos, eu o amei, amparei e socorri todos os seus medos e em troca tive o título de sedutora de menor. Ah, como dói, dói muito, fala para ele que meu amor era sincero e puro. Não pornográfico e nunca foi e, se eu desabafei, foi porque ele me passou confiança para me ajudar com você, Jair. Mas nada adiantou".Quebra de sigilo de ex-mulher de Bolsonaro atinge período de casamento com  presidente - 20/09/2021 - Poder - Folha

 

Ao falar do patrimônio do casal, a advogada escreveu que "nunca foi a minha intenção lesar ninguém e sim crescer o patrimônio da família". "Presto conta de tudo, pois não tirei nada de vocês. Sou honesta e tenho orgulho disso", completou.

Ela finalizou o trecho dizendo: "Terceiro, o bendito flat. Comprei sem sua autorização e fiquei com muito medo e tinha razão. Mas você tinha mudado, não queria mais investir mais nada. Errei. Perdão".

Quando Cristina e Bolsonaro foram viver juntos, em 1998, ele só tinha um apartamento no Maracanã e uma casa em Mambucaba, em Angra dos Reis (RJ). Em 2007, na separação, o patrimônio do casal incluía 17 itens, entre casas, terrenos, apartamentos e automóveis, e chegava a um total de R$ 4 milhões.

A coluna apurou que o tom melancólico de Cristina tinha intenção de mexer com Bolsonaro, mas não funcionou. Apesar de os dois estarem juntos desde 1998, eles nunca formalizaram a união e Cristina teve que ir ao Tribunal de Justiça para garantir a divisão dos bens.

Além da carta para Bolsonaro, ela escreveu uma para Jair Renan, seu filho, e outra para uma amiga chamada Mariana Motta, que foi chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro (PL) na Alerj. Em ambas, também feitas em 2007, ela desabafa sobre a tristeza após a separação de Bolsonaro. [Transcrevi trechos]

 

'Ele é um pouco autoritário', diz ex-mulher de Bolsonaro para TV Norueguesa

 

Em entrevista para o site da TV estatal da Noruega, a NRK, a advogada Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro, afirmou que ele é “um pouco machista e um pouco autoritário”. Ana Cristina manteve união estável com Bolsonaro entre 1998 e 2008 e é mãe de Jair Renan, o filho “04”, como Bolsonaro costuma se referir. 

Ana Cristina foi questionada durante a entrevista sobre aspectos positivos e negativos da personalidade do ex-marido. Ao mencionar, os negativos disse:

- Infelizmente, tenho que dizer que ele é um pouco machista. Um pouco autoritário. E quando ele fala sem pensar, tem um lado positivo como negativo também - afirmou Ana Cristina à TV NRK. Já sobre os aspectos positivos, ela declarou que ele é “honesto” e “luta contra a corrupção”:

- Ele diz o que quer dizer, independentemente das consequências, e é inteligente - afirmou a ex-mulher de Bolsonaro.

A TV estatal norueguesa também questionou Ana Cristina sobre como ela analisa a condução de Bolsonaro durante a pandemia e o combate ao novo coronavírus. Ela afirmou que ele fez coisas “certas e erradas”, mas não mencionou exemplos.

- Ele fez as coisas certas e erradas durante a crise do coronavírus. Mas sua maior preocupação é que, quando a pandemia terminar, o desemprego e a pobreza matem mais do que o próprio vírus - disse a ex-mulher do presidente.

 

Investigada pelo MP do Rio

 

Advogada, Ana Cristina Valle conheceu Bolsonaro em Brasília, quando ambos participavam de uma manifestação, nos anos, 1990, de mulheres de militares que pediam aumento nos salários da caserna. Ela ficou mais conhecida nas eleições de 2018, quando disputou, sem sucesso, uma vaga na Câmara dos Deputados. Ela usou o nome de Bolsonaro nas urnas, embora nunca o tenha adicionado legalmente.

Durante a campanha eleitoral de 2018, veio a público o processo litigioso de sua separação de Jair Bolsonaro. Em viagem à Noruega, onde viveu por cinco anos, a advogada acusou Bolsonaro de ameaçá-la durante a disputa pela guarda do filho do casal. Passados mais de dez anos do episódio, Ana Cristina negou as acusações que havia feito anteriormente. Atualmente, ela trabalha como assessora do vereador Renan Marassi (PPS-RJ) na Câmara dos Vereadores de Resende, município no sul do Rio de Janeiro.

Em 2001, ela foi nomeada pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) como assessora-chefe de seu gabinete na Câmara dos Vereadores do Rio. Por isso, passou a ser investigada pelo Ministério Público do Rio no âmbito do procedimento que apura funcionários fantasmas e eventual prática de “rachadinha”, a devolução de salários de assessores, no gabinete de Carlos.

No caso de Carlos, outros seis familiares dela também são investigados por terem constado como assessores. Já no procedimento que apura a existência do esquema no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), outros dez familiares de Ana Cristina, incluindo também o ex-sogro José Procópio Valle, são investigados. Nessa investigação surgem como alvo também Fabrício Queiroz, amigo do presidente e ex-chefe da segurança de Flávio.

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Pituka e Beretta: as cadelas da família Bolsonaro que somam mais de 30 mil  seguidores no Instagram - Brasil - Extra Online

18
Ago22

Empresários bolsonaristas defendem golpe de Estado se Lula for eleito

Talis Andrade

Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, transformou a Mormaii na maior marca de  surfe do paísO público pode esperar um grande show', afirma idealizador do Gospel in  World

www.brasil247.com -

 

Empresários que finaciam candidatos da extremma direita, apoiadores de Jair Bolsonaro, atacam STF, TSE e defendem uma guerra civil em caso de vitória de Lula

 

 Empresários apoiadores de Jair Bolsonaro passaram a defender abertamente um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja eleito. Segundo o blog do jornalista Guilherme Amado, do Metrópoles, o não reconhecimento da derrota nas urnas, como apontam todas as pesquisas de intenções de voto para presidente, vem sendo a tônica do grupo de WhatsApp Empresários & Política, criado no ano passado. 

Golpe armado significa ameaça de luta armada entre militares, entre policiais e contra o povo em geral democrata e desarmado. 

Não se dá golpe sem listas estaduais de presos, sem lista nacional de lideranças marcadas para morrer. 

O grupo golpista reúne grandes empresários de diversas partes do país, desde nomes conhecidos como Luciano Hang, dono da Havan; Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; José Isaac Peres, dono da gigante de shoppings Multiplan; e outros menos famosos, como José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; e Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii. 

Empresários fregueses dos bancos oficiais e devedores dos fiscos, e inimigos da claridade. 

Segundo o blog de Guilherme Amado, o apoio a um golpe de estado para impedir a eventual posse de Lula ficou explícito no dia 31 de julho. José Koury, proprietário do shopping Barra World e com extensa atuação no mercado imobiliário do Rio de Janeiro, foi quem abordou o tema, ao dizer que preferia uma ruptura à volta do PT. Koury defendeu ainda que o Brasil voltar a ser uma ditadura não impediria o país de receber investimentos externos. “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, publicou.

Segundo a reportagem Marco Aurélio Raymundo, o Morongo é um dos empresários com visões mais extremistas no grupo e defende que o Brasil está em guerra contra os adversários de Bolsonaro. “Golpe foi soltar o presidiário!!! Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição! Golpe é a velha mídia só falar merda”, escreveu o empresário. 

Morongo significa preguiçoso, lento, paronôneo. Também pode significar hipócrita, falso, duplo, falso. Parece que não é.

O ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE, é um dos alvos dos empresários bolsonaristas. Carlos Molina, dono da empresa de auditoria Polaris, tem o costume de chamar Moraes de “skinhead” em diferentes postagens. “Já nem o PCC tem paciência para aturar o skinhead de toga”, afirmou o empresário, em uma postagem datada de 25 de julho.

Alguns autores categorizam os skinheads em quatro tipos diferentes:

  • Skinheads tradicionais;
  • SHARP (Skinheads Against Racial Prejudice) - Sigla que significa "skinheads contra o preconceito racial", e são contra manifestações racistas;
  • White Power - Os skinheads nacional socialistas e racistas, muitas vezes pertencentes a movimentos neonazistas;
  • RASH (Red and Anarchistic Skinheads) - Os skinheads comunistas e anarquistas que são contra as tendências e influências fascistas e neonazistas.

Para Molina "skinhead white power, Moraes é "rash".Também há projeções para o futuro do Brasil.

Segundo a reportagem, Luciano Hang revelou quem espera que seja eleito presidente nos próximos 12 anos. Para o dono da Havan, depois de reeleger Bolsonaro, o país deveria eleger o ex-ministro Tarcísio de Freitas para o Planalto, em 2026, e reelegê-lo em 2030. “Aí não terá mais espaço para os vagabundos”, completou.

 
"Empresários apoiadores de Jair Bolsonaro passaram a defender abertamente um golpe de Estado caso Lula seja eleito em outubro, derrotando o atual presidente. A possibilidade de ruptura democrática foi o ponto máximo de uma escalada de radicalismo que dá o tom do grupo de WhatsApp Empresários & Política, criado no ano passado e cujas trocas de mensagens vêm sendo acompanhadas há meses pela coluna. A defesa explícita de um golpe, feita por alguns integrantes, se soma a uma postura comum a quase todos: ataques sistemáticos ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a quaisquer pessoas ou instituições que se oponham ao ímpeto autoritário de Jair Bolsonaro.
 

Mensagens anteriores já indicavam o grau de radicalismo entre alguns dos empresários do grupo. No dia 17 de maio, Morongo, da Mormaii, propôs ações extremas para defender Bolsonaro, citando casos como a Revolução Francesa e a Guerra Civil dos EUA.

“Se for vencedor o lado que defendemos, o sangue das vítimas se tornam [sic] sangue de heróis! A espécie humana SEMPRE foi muito violenta. Os ‘bonzinhos’ sempre foram dominados… É uma utopia pensar que sempre as coisas se resolvem ‘na boa’. Queremos todos a paz, a harmonia e mãos dadas num mesmo objetivo… masssss [sic] quando o mínimo das regras que nos foram impostas são chutadas para escanteio, aí passa a valer sem a mediação de um juiz. Uma pena, mas somente o tempo nos dirá se voltamos a jogar o jogo justo ou [se] vai valer pontapé no saco e dedo no olho”, escreveu.

É a defesa da volta da tortura de presos políticos, a volta da tortura nas delegacias e quartéis. A volta do pior que existe no animal, da fera que brinca com sua presa, principalmente o abuso do sadismo sexual dos tarados que se escondem nos templos religiosos, na ambição dos negócios, na tradição, família e propriedade.Image

 

 

Também há projeções para o futuro do Brasil. Segundo a reportagem, Luciano Hang revelou quem espera que seja eleito presidente nos próximos 12 anos. Para o dono da Havan, depois de reeleger Bolsonaro, o país deveria eleger o ex-ministro Tarcísio de Freitas para o Planalto, em 2026, e reelegê-lo em 2030. “Aí não terá mais espaço para os vagabundos”, completou.

Leia a reportagem na íntegra. 

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PT no Senado
@PTnoSenado
Nossos senadores apresentaram à Justiça Federal do Distrito Federal uma notícia-crime contra o grupo de empresários bolsonaristas flagrados defendendo um golpe caso Lula vença as eleições. Saiba mais

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06
Ago22

A mais completa investigação sobre as origens do patrimônio político e financeiro de Jair Bolsonaro e sua família.

Talis Andrade

O Negócio do Jair - Juliana Dal Piva - Grupo Companhia das LetrasJornalista fala sobre entrevista exclusiva com militar que ocultou o corpo  de Rubens Paiva - Portal IMPRENSA - Notícias, Jornalismo, Comunicação

Resultado de mais de três anos de apuração, O Negócio do Jair: A história proibida do clã Bolsonaro desvenda o passado secreto da família que hoje comanda o Brasil.

A jornalista Juliana Dal Piva parte do escândalo das rachadinhas, exposto pelo caso Queiroz, a partir de dezembro de 2018, para contar uma história que remonta à entrada de Jair Bolsonaro na política na década de 1990.

No centro do passado que o clã tenta abafar, está um esquema de corrupção conhecido entre os participantes como o "Negócio do Jair".

O arranjo ocorria nos gabinetes funcionais ocupados pela família de Bolsonaro em seus mandatos políticos, seja de vereador, deputado estadual ou federal, e envolvia seus três filhos mais velhos, as duas ex-esposas e a atual, amigos, familiares – muitos deles atuando como funcionários fantasmas –, além de advogados e milicianos.

Com base em depoimentos exclusivos, cópias sigilosas dos autos judiciais, mais de cinquenta entrevistas, mil páginas em documentos, vídeos e gravações de áudio, Juliana Dal Piva demonstra como, à sombra dos grandes esquemas partidários, o clã acumulou milhões de reais e construiu o projeto político autoritário e regressivo que conduziria o chefe da família ao posto mais alto da República.

 

Livro traz relatos de caixas de dinheiro na casa de Bolsonaro: leia trecho

 

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por Chico Alves /UOL

O livro "O negócio do Jair: A história proibida do clã Bolsonaro", da jornalista Juliana Dal Piva, colunista do UOL, chega às livrarias com novas revelações e detalhes sobre a relação de Jair Bolsonaro com André Siqueira Valle, o ex-cunhado demitido de seu gabinete na época em que era deputado. André foi dispensado por não devolver a parcela de seu salário que Bolsonaro exigia.

No ano passado, a autora mostrou no podcast "UOL Investiga - A vida secreta de Jair" gravações em que uma irmã de André contava a história da demissão do rapaz.

No livro, a autora vai retratar o incômodo do ex-assessor com caixas de dinheiro vivo que via dentro da mansão de Jair Bolsonaro, na Barra da Tijuca, no período em que conviveu com o agora presidente e sua irmã Ana Cristina Valle enquanto eram casados.

O livro mostra que André se ressentia de ficar só com 10% do salário e que outros funcionários também viram altas quantias em espécie na residência do casal.

A coluna antecipa o trecho do livro:

André seguia a rotina combinada, mas não gostava de entregar tanto dinheiro ao cunhado. Passou a desabafar com amigos, em sigilo, que aquilo era errado. E observou com atenção algumas caixas de dinheiro vivo que o casal guardava em casa.

Certa ocasião, contou: "Pô, você não tem ideia como que é. Chega dinheiro? Você só vê o Jair destruindo pacotão de dinheiro. 'Toma, toma, toma'. Um monte de caixa de dinheiro lá [na casa]. Você fica doidinho".

Quem frequentava aquela casa não conseguia ignorar tanta grana. Marcelo Nogueira também viu muitas notas por lá. O casal mantinha um cofre no quarto, bem abastecido quando das campanhas eleitorais.

 

Juliana Dal Piva conta os bastidores do podcast 'A Vida Secreta de Jair'

 

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No "Jornalistas e Etc.", Dal Piva conta a Thaís Oyama os bastidores da investigação, os percalços da apuração e a reação dos Bolsonaro à reportagem que mostra o presidente como "o Zero Um" do esquema de rachadinha da família.

 

 

31
Jul22

Marcia Tiburi: oligarquias já perceberam que Lula vai vencer

Talis Andrade

www.brasil247.com - Marcia Tiburi e Lula

 

"Não haverá lugar para fascistas na sociedade do futuro", diz ainda a professora e filósofa

 

 

247 – A professora e filósofa Marcia Tiburi afirmou, em entrevista ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, que as oligarquias brasileiras já perceberam que Lula vai vencer e agora recuam.

"Bolsonaro se tornou inútil e só resta a ele exibir sua personalidade autoritária", diz ela. "O 7 de setembro será um ato extremista, como convém ao terrorismo. Mas como todo sádico é também um masoquista, ele pode colocar o rabo entre as pernas", aponta.

Marcia Tiburi, no entanto, ressalta que é preciso ter certa cautela com a classe dominante. "Lula é a salvação das elites, mas as elites são muito canalhas e precisamos estar sempre atentos", afirma. "Chegamos no limite da suportabilidade da figura de Bolsonaro. A Direita brasileira tem a síndrome da falta de candidato porque eles não se parecem com o povo brasileiro", acrescenta a professora. 

A professora também diz que não haverá lugar para fascistas na sociedade do futuro. "Espero que Bolsonaro seja julgado e preso. E será fundamental um projeto de educação e cultura para desnazificar o Brasil", afirma. "Será preciso tomar muito cuidado com a mídia golpista a partir de 2023 e evitar novas lavagens cerebrais", finaliza.

 

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