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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

17
Jun22

Não existem ataques virtuais, existem ataques e ponto, diz Jamil Chade sobre ameaças de morte

Talis Andrade

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Os ataques deixaram de ser insultos — o que já é grave o suficiente, para ser ameaças de morte, o que é um crime muito claro

 

O jornalista Jamil Chade afirma que já foram coletados os dados dos perfis que o ameaçaram de morte nas redes sociais nos últimos dias, após a publicação de um artigo sobre a “difusão do ódio como instrumento de poder”, no Portal UOL.

Em entrevista ao Jornal da Cidade, na Rádio Metropole, o jornalista e correspondente internacional afirmou que os ataques foram feitos depois de uma série de matérias críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro. 

"Difícil saber se é só esse artigo, ou se é simplesmente a decisão de algum algorítmo ou de algum grupo específico de virar a artilharia dessa vez contra o que eu escrevo e começar a atacar. Na verdade, os ataques são frequentes e os insultos são frequentes. A grande diferença é que, desde a semana passada, eles deixaram de ser insultos — o que já é grave o suficiente, para ser ameaças de morte, o que é um crime muito claro", afirma. 

Chade afirma ainda que não faz sentido normalizar as agressões feitas através das redes sociais. "Tem uma situação que acho que a gente precisa colocar de uma forma muito clara: é que não existem ataques virtuais, existem ataques e ponto. O impacto desse ataque é intimidar, calar, constranger, e isso é real", diz. 

O processo já corre nos meios legais, e as autoridades estão investigando os culpados. "A gente não pode dizer que isso é a nova vida, o novo mundo, e vida que segue. Não é assim. Se você tivesse num bar, num restaurante, escola ou qualquer outro lugar, você provavelmente ou denunciaria ou pelo menos chamaria a policia. Algo similar tem que acontecer no mundo virtual", afirma o jornalista.

“Espero te ver em uma geladeira de algum IML [Instituto Médico Legal] por ai”, diz um dos perfis que atacou o jornalista. 

O jornalista também cobrou providências do governo brasileiro em nome da defesa dos direitos humanos, da democracia e de tratados assinados junto à ONU (Organização das Nações Unidas).

"O governo brasileiro promove e assina declarações na ONU pela proteção dos jornalistas. Mas se não agir dessa maneira diante de ameaças que tantos de nós sofremos, o que a diplomacia faz é mentir para a comunidade internacional sobre quais são suas políticas de direitos humanos e de defesa da democracia", afirmou.

Também nas redes sociais, políticos se posicionaram em solidariedade a Jamil Chade.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), por exemplo, disse que a situação é “uma conduta abominável e covarde”.

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24
Mar22

Violência contra jornalistas: E se a imprensa fosse mais transparente?

Talis Andrade

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por Álisson Coelho /ObjETHOS

Os números são inegavelmente altos e batem recordes a cada ano. A violência e os ataques contra jornalistas estão nas mídias digitais, nas ruas, nos palácios governamentais. Casos que se repetem e têm ganhado repercussão, especialmente quando atingem profissionais que estão na mídia tradicional. Alguns indícios, que coletei nas pesquisas que desenvolvo, ainda apontam para uma subnotificação nesses dados. O poço é ainda mais profundo do que se apresenta.

Os dados mais recentes vêm da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). O relatório Violência contra jornalistas e liberdade de imprensa no Brasil, divulgado pela Fenaj considerando os dados de 2021, registra 430 casos de agressão contra profissionais e ataques à categoria e veículos de imprensa no Brasil. É o maior número desde 1998, quando a entidade começou a coletar as informações.

A Abraji ainda não publicou seus números gerais, mas confirma que o total é parecido com o coletado pela Fenaj. A entidade, no entanto, divulgou seu relatório com números da violência de gênero contra mulheres jornalistas. Ao longo de 2021, foi registrado um total de 119 ataques contra jornalistas mulheres ou ataques de gênero. Esse número representa uma média de um ataque a cada três dias. Novamente, os números são expressivos e colocam a categoria em alerta.

Em A máquina do ódio, livro no qual que narra parte das violências que sofreu após as eleições de 2018, a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, faz uma breve análise que me chamou bastante a atenção. Em um dado momento (na página 49) ela diz:

“Cabe aqui uma autocrítica. (…) Mais do que nunca, não basta se apoiar na ‘autoridade’ do jornalista, ou do veículo de imprensa para respaldar uma reportagem – é preciso descrever da forma mais transparente possível como foram obtidas as informações”

A jornalista fazia uma reflexão sobre o que viveu após a publicação da reportagem na qual narrava como empresários estavam bancando o disparo em massa de mensagens via WhatsApp em favor do então candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro. Chama a atenção o fato de que, antes do maremoto de ataques que colocaram em risco inclusive a família da jornalista, a primeira reportagem sobre o tema vinha sendo criticada, inclusive na coluna da então ombudsman da Folha, Paula Cesarino Costa.

As críticas se perderam em meio aos ataques, em um processo sobre o qual venho refletindo e que comentei nesse texto aqui no ObjETHOS. A própria Patrícia Campos Mello viria a aprofundar os dados da reportagem em outras matérias, tornando o esquema ilegal mobilizado pelos apoiadores de Bolsonaro mais claro. A reflexão da ombudsman, no entanto, parece ter feito sentido para a repórter. No livro ela segue a sua autocrítica:

“Mesmo em uma apuração sensível como aquela, que supunha fontes em off porque se tratava de participantes de esquemas ilegais de financiamento em plena campanha eleitoral, deveríamos ter explicado de forma detalhada quem eram essas fontes e mostrado as trocas de mensagem na medida do possível, tomando cuidado para não violar o anonimato pedido por essas pessoas”.

Transparência

Como reflete a jornalista, um jornalismo mais transparente é possível. Mesmo que, por vezes, as publicações sejam resistentes em implementar mecanismos que auxiliem o público no entendimento dos processos editoriais que resultam nas reportagens, é possível que as próprias matérias situem o leitor quanto aos processos realizados para que aquela versão da realidade chegasse às suas mãos. O processo de apuração é o que diferencia o jornalismo do boato, a notícia da opinião. A informação exaustivamente apurada é o que de mais importante temos a oferecer à sociedade. Por que então nós não explicamos o processo ao público?

Patrícia Campos Mello continua:

“Se tivéssemos descrito com pormenores como foi feita a reportagem, e explicitado como um jornalista trabalha para obter informações, a campanha para descredibilizar a matéria e a autora não teria ganhado tanta tração (…)”.

Veja, não trata-se aqui de culpar a vítima. Não é sobre isso que estamos falando, Patrícia e eu. Os ataques e a violência contra jornalistas é inaceitável e injustificável sob qualquer ponto de vista. Essa realidade, no entanto, existe e precisamos evoluir nos mecanismos de combate a essa situação. E nesse contexto, é importante considerarmos a transparência jornalística, os mecanismos de accountability, como aliados.

Um publico que entende o que diferencia o jornalismo do boato tende a conseguir elaborar uma crítica (sim, crítica, não ataque) mais assertiva. Hoje já está claro que parte dos ataques que sofrem os jornalistas, especialmente os que atuam no jornalismo político, vem de campanhas orquestradas. A situação vivida pela repórter da Folha parece ter sido exatamente essa. Mesmo assim, quantas pessoas acabam dando engajamento a campanhas difamatórias por não entender o básico sobre como uma notícia é produzida?

Explicitar o processo de apuração, a consulta a fontes, mostrar o caminho de onde a informação vem, todo o trabalho de checagem que um jornalista sério executa para construir uma reportagem, é um mecanismo também de defesa contra os ataques. Mais do que isso, é uma ação educativa em um país com altas taxas de analfabetismo funcional e com pouquíssimas ações e educação para a mídia.

Esse texto é uma provocação. E se o jornalismo for mais transparente?por 

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