Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

O CORRESPONDENTE

28
Set23

Deltan discutiu projeto das 'dez medidas contra a corrupção' com Silas Malafaia

Talis Andrade
 
 
Image

Deltan discutiu projeto das "10 medidas contra corrupção" com Silas Malafaia capacho de Bolsonaro

Por Alex Tajra e Rafa Santos

Consultor Jurídico

- - -

O ex-chefe da autoproclamada força-tarefa da "lava jato", Deltan Dallagnol, que perdeu neste ano o cargo de deputado federal por tentar burlar a Lei da Ficha Limpa, discutiu o projeto das "dez medidas contra a corrupção" com o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

O ex-chefe da autoproclamada força-tarefa da "lava jato", Deltan Dallagnol, que perdeu neste ano o cargo de deputado federal por tentar burlar a Lei da Ficha Limpa, discutiu o projeto das "dez medidas contra a corrupção" com o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

O ex-procurador também se mostrou receoso com o fato de o religioso ter sido conduzido coercitivamente na apelidada "operação timóteo", por meio da qual Malafaia acabou indiciado pela Polícia Federal por lavagem de dinheiro.

Em conversa com o procurador do MPF no Distrito Federal Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, que liderou a "força-tarefa greenfield", disse Dallagnol às 18h53 do dia 23 de março de 2017:

"Fiquei preocupado, na Timóteo, com uma reacao contra as coercitivas por causa da reação do Malafaia. Além disso, embora eu nunca tenha encontrado pessoalmente, trocamos algumas mensagens sobre as 10 medidas...respondi algo e não lembro se alguma vez falei por telefone com ele. Ouço falar coisas 'dúbias' sobre ele, mas nada concreto. Se houver provas de crimes dele, seria muito conveniente que eu continue afestado completamente. Se for pública a avaliação sobre potenciais crimes dele e puder dar alguma informação, é útil para eu saber como me movimentar (ou não me movimentar rs)..." — os diálogos são reproduzidos aqui em sua grafia original.

As revelações estão em trechos inéditos de diálogos apreendidos pela Polícia Federal na "operação spoofing". Após a explanação de Deltan, Lopes respondeu que estava empenhado exclusivamente nas "operações" "greenfield", "sépsis" e "cui bono", e que a investigação contra Malafaia foi desmembrada para o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).

"Sobre o Malafaia, ele foi indiciado por lavagem, mas o processo subiu para o STJ. (....) O Malafaia tem relações estranhas com um advogado que era central no esquema de desvios. Não se pode condenar antecipadamente, claro, mas eu teria cautela na relação com ele", disse o procurador no DF.

Malafaia não foi o único nome investigado pela Polícia Federal que Dallagnol citou em meio às suas negociações para fazer lobby para o projeto das "dez medidas". Em outro trecho de conversa com Lopes, em 10 de maio de 2017, ele disse que conheceu o empresário Flávio Arakaki durante evento da Caixa Econômica Federal. Ele ocupava, à época, uma das vice-presidências do banco estatal. 

O novo receio de Dallagnol era semelhante ao que nutria sobre Malafaia. Arakaki foi investigado na "sépsis" e, nesse contexto, o agora ex-procurador foi questionar Lopes sobre a integridade do empresário, a quem julgou como "alguém correto".

"Conversei com ele algumas vezes, mas jamais sobre detalhes do caso, até porque não atuo em nada que envolva ele, até onde eu sei. Cheguei a dar uns conselhos a ele, pelo prisma cristão, já que ele tem — em tese, pelo menos — a mesma fé (frequenta a mesma igreja que se engajou nas 10 medidas também)."

"Vi agora que ele seria um possível investigado em um caso seu", prosseguiu Dallagnol. "Por isso, achei melhor informar a Você que conheço ele e não seria conveniente que informações sobre a investigação que o envolve passarem por mim....Se houver informações públicas que impliquem ele e que Vc entenda conveniente que eu saiba, para adotar cautelas, por favor me avise por favor, viu? Abraços!".

Anselmo concordou e disse que "se houver relevantes que possam ser transmitidos, conto a vc". Meses depois, em julho, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, citou Arakaki em depoimento. Deltan voltou a dizer que manteve cautela em relação ao empresário, mas afirmou que Arakaki "não narrou explicitamente algo ilícito".

Outra vez Lopes concordou e falou: "Não há nada ainda categórico, só o futuro das investigações dirá. Por ora, é só ter cautela mesmo" (continua)

12
Set23

Damares diz que Brasil tem crianças com dentes arrancados para sexo oral

Talis Andrade

FAKENEWS BIZARRA QUE ELEGEU DAMARES SENADORA CUSTA APENAS R$5 MILHÕES

 

Senadora eleita pelo Distrito Federal e ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos) afirmou, MEN TI RO SA MEN TE, na campanha eleitoral de 2022 (domigo 9/10) que o governo Bolsonaro teria resgatado crianças vítimas de tráfico humano para outros países. O crime teria sido registrado na Ilha de Marajó, no Pará.

A afirmação foi feita durante um evento promovido na Assembleia de Deus Ministério Fama, em Goiânia.

"Nós temos imagens de crianças de 4 anos, 3 anos que, quando cruzam as fronteiras, tem seus dentes arrancados para não morderem na hora do sexo oral. (...) Nós descobrimos que essas crianças comem comida pastosa para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal", afirmou a parlamentar e pastora evangélica, sem apresentar jamais as imagens citadas. 

Senadora eleita, Damares fez discurso eleitoral (segundo turno) na Assembleia de Deus em Goiânia, durante culto com participação de Michelle Bolsonaro. E conclamou os fieis para "guerra espiritual" em defesa da reeleição de Bolsonaro.

23
Ago23

A emergência dos bandidos e matadores de Deus

Talis Andrade

 

Como policiais e “donos do morro” evocam a imagem de um Deus guerreiro e conquistador para justificar violência. Textos bíblicos são usados para perseguir “inimigos” e religiões afro, beirando o fundamentalismo

 

Em junho de 2017, a pesquisadora Viviane Costa, que também é pastora da Assembleia de Deus em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, teve uma surpresa ao dar uma aula de teologia em uma comunidade na região de Parada de Lucas, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Depois que um dos alunos contou ter deixado o tráfico de drogas e se tornado pastor, um tipo de história de redenção a que Viviane estava acostumada a ouvir, um segundo aluno reagiu à história contado pelo primeiro de uma forma que ela não esperava.

 
Para a pesquisadora, a teologia dos traficantes evangélicos não é muito diferente da “teologia perigosa, intolerante, de cerceamento de direitos e de liberdades” de grupos fundamentalistas que formam as “bancadas da Bíblia” nos parlamentos. “Conter o crescimento do fundamentalismo religioso é essencial para a garantia da liberdade de ser, existir e crer”, afirma.
 
Nesta entrevista, Viviane conta que iniciou sua pesquisa determinada a demonstrar que os “traficantes evangélicos” — como os que dominaram a região de Parada de Lucas e criaram ali um espaço conhecido como Complexo de Israel, comandado pelo pastor e traficante Álvaro Malaquias Santarosa, o Peixão — buscavam uma associação impossível do nome de Jesus Cristo com a violência. Ao longo de seu estudo, porém, ao seguir a trajetória de pesquisadores como Marcos Avito, autor de As Cores de Acari (2001), e Christina Vital da Cunha, autora de Oração de Traficante (2015), percebeu que as religiões sempre fizeram parte do mundo do crime e como o nome de Jesus já vinha sendo usado há muito tempo em contextos de violência, tanto por criminosos como por policiais, e como a imagem de um Cristo guerreiro, semelhante ao Deus do Antigo Testamento, responde aos anseios de quem vive aquela realidade.
 
Fausto Salvadori entrevista Viviane Costa
 
 
 
Viviane Costa é formada em história e teologia e mestra em ciências da religião 


Ponte Jornalismo – Como surgiu a ideia de escrever esse livro sobre o tema dos traficantes evangélicos?

Eu começo as minhas andanças no que agora é conhecido como Complexo de Israel — mas na época eu só conhecia como Parada de Lucas ou Cidade Alta — como pastora da Assembleia de Deus, dando aula de teologia nas igrejas da comunidade. Nessas andanças eu identifico as pinturas e as identidades das ruas mudando. Fui conhecendo a favela e entendendo que aquela divindade naquelas pichações tinha uma relação com a prática de fé do dono do morro. Comecei a pensar se aquela relação da substituição das imagens anteriores, de São Jorge e Nossa Senhora, pela frase “Jesus é o dono do lugar”, ou pichações com essa assinatura em determinados lugares, poderia ter alguma relação com o tráfico. Como pastora pentecostal e teóloga, eu vou pensar: “não tem como o nome de Jesus ser usado num contexto de violência”. Fui fazer o mestrado em ciências da religião na Umesp (Universidade Metodista de São Paulo) e estudar a narrativa do crime com essa categoria de fé nesse contexto. E aí eu identifico que não tem como dizer que o nome de Jesus não pode ser usado nesse contexto de violência, ela já está sendo. Então, eu busco tentar compreender como o imaginário desse novo Jesus — guerreiro, valente, vitorioso, com características do Deus do Antigo Testamento, mas também com características de São Jorge — começa a aparecer e a se revelar pra mim nas ruas das favelas e nas leituras da pesquisa.

 

Inclusive na introdução do livro você conta uma experiência que teve, numa aula de introdução ao Novo Testamento, em que um dos alunos era um ex-traficante e outro ainda continuava no movimento do tráfico. O primeiro contava uma história mais comum nas denominações pentecostais, a da pessoa que deixa o crime e identifica essa saída como uma salvação. Já o outro ainda estava no ambiente criminoso, mas mesmo assim se identificava como evangélico e associava as vitórias que ele tinha como criminoso à ajuda de Deus. A sua reação, que você conta no livro, foi a de perceber que não tinha como “dar respostas para realidades que não conheço”. Como foi isso para você?

Eu conhecia o contexto do ex-traficante evangélico. É um perfil que vem sendo muito pesquisado e nós, que estamos no ambiente evangélico, assistimos a muitos testemunhos dessas pessoas que tinham uma ficha criminal pesada e que foram salvas a partir de um encontro com Jesus e da transformação que essa fé provocou no seu modo de ver o mundo e de viver a vida. Mas, naquela experiência que eu vivi em sala de aula, eu estava vendo algo absolutamente inédito para mim: um traficante me dizendo que é necessário ele participar do movimento porque a partir dali tem um emprego, sustenta a família dele, leva alimento pra dentro de casa. E que a prova de que Deus estava com ele é que, numa situação de risco, ele clamou a Deus e Deus livrou a vida dele. Como eu diria pra ele que Deus não estava com ele? É essa a resposta que eu sentia que não podia dar. Eu não podia dizer “você estava em pecado e tinha que ter morrido”. Estava diante de um fato novo: um traficante convertido, estudando teologia, se identificando como evangélico e afirmando que Deus estava com ele. E ali eu não me sentia apta a responder, porque eu entendo que não posso falar sobre a experiência dele. Porque ali já tinha um pouco da cientista da religião também. Alguém que olha para o fenômeno e não se sente no direito de julgar, mas que procura ler e ouvir essa experiência religiosa como algo que acontece no corpo do outro. Aí eu entendi que precisava respeitar a experiência que ele viveu. E fiz uma oração meio que pra fugir da resposta, porque aí eu joguei pra Deus.

 

De fato, no livro você não desqualifica as experiências dos traficantes evangélicos como sendo menos legítimas, mas tenta entender qual é o papel que esse Deus desempenha na vida deles, a partir de uma epígrafe de Rubens Alves: “Homens ferozes e vingativos criam deuses ferozes e vingativos”.

Fui olhar o fenômeno com a intenção de provar que era impossível relacionar o nome de Jesus e o do Deus evangélico com violência. Mas, olhando para o Complexo de Israel, e fazendo leituras do Marcos Alvito em As cores de Acari e falando da pesquisa dele sobre o crime organizado no final da década de 80 e início da década de 90, e como São Jorge, Ogum, Santo Inácio, São Sebastião e Xangô, como essas divindades e orixás aparecem nessa prática e na dinâmica do crime da favela desde a sua gênese, eu percebi que a categoria religião nunca esteve ausente do mundo do crime. Rubem Alves me ajudou a perceber que a relação desse traficante com São Jorge era necessária porque ele precisa de um Deus protetor, que lhe faça justiça, que lhe dê vitória, que o ajude a conquistar outros territórios e a derrotar o seu inimigo. Com a mudança que acontece na religiosidade praticada nas periferias, que acompanha a mudança do campo religioso brasileiro, Ogum e outras divindades presentes nesses lugares são, em certa medida, substituídas ou redirecionadas para esse Deus de Israel, que também é vitorioso, destrói o inimigo, vence batalha e ajuda na conquista de territórios, que é exatamente a leitura que o Peixão faz nas estratégias para o avanço do território e na administração do Complexo de Israel. E aí, lembrando essa experiência da oração que eu fiz pelos dois alunos que tive, pude entender que aquela divindade, que nasce daquele lugar, nasce do cotidiano do crime que se vive na favela. Uma divindade que precisa dar conta dessa vida de violência constante, que precisa ser protetora, violenta, forte, combativa, vitoriosa, justiceira, que é como a figura de São Jorge, como a figura de Ogum e como essa imagem do Deus de Israel.

 

Quem é Peixão e quais as marcas da religião evangélica na trajetória dele no Complexo de Israel?

O que se sabe do Álvaro Malaquias, que é o Peixão — Peixão em referência ao símbolo do cristianismo do primeiro século —, é o que se vê na mídia, nas denúncias que a própria polícia já divulgou e também o que se ouve na comunidade. Ele é cria da comunidade, um homem absolutamente inteligente e estrategista. Segundo informação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Álvaro Malaquias é um pastor ordenado numa igreja pentecostal em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e hoje faz parte de uma igreja pentecostal em Parada de Lucas, que é uma das favelas que compõem o Complexo de Israel. É um homem devoto, que tem uma prática constante de recorrer a Deus pedindo direcionamento para estratégias de guerra, proteção em casos de confronto, que recebe profecias de vitória e as torna pública, que faz orações para que haja segurança nos espaços e que recebe de Deus direcionamentos para avançar, para recuar e para a administração da própria comunidade.

Capa do livro lançado pela Thomas Nelson Brasil

 

Você conta no livro que ele também faz uma oração diária na comunidade.

A oração diária não é exclusiva do Peixão e surge antes mesmo disso. É relatada no livro de Cristina Vital [Oração de Traficante], que fala da experiência religiosa de um outro traficante, que também tinha práticas e símbolos evangélicos. No caso do Peixão, além da prática de fazer orações no rádio, ele compartilha visões e revelações que recebe nas orações no monte ou em casa. Nessa prática religiosa, ele busca em Deus direção e sabedoria para solução dos conflitos locais para organização e administração da comunidade a partir de uma ética local com traços de uma identidade evangélica, em que existe, por exemplo, a proibição do crack, como fruto dessa experiência que ele vive e da compreensão desse Deus evangélico. É assim que se apresenta Álvaro Malaquias, o Peixão do Complexo de Israel, esse pastor ordenado na Igreja Pentecostal na Baixada Fluminense.

 

É um senso comum se chocar com a ideia de Jesus ou do Deus evangélico ser associado à violência, mas olhando historicamente essa associação não é algo que fuja tanto assim ao que se conhece. Tem vários “PMs de Cristo” com dezenas de mortes nas costas e algumas das atrocidades cometidas por policiais militares são até maiores que as dos traficantes. Qualquer guerra tem um capelão que vai ali abençoar a matança por um dos lados. A associação entre cristianismo e violência é tão fora do comum assim?

Se a gente pensa em Jesus da maneira que está narrada e contada no texto bíblico, que é um texto fundante para a fé cristã, é impossível essa imagem de Jesus ser associada à violência. Mas, infelizmente, a associação do cristianismo com a violência é possível. E é possível desde o seu nascimento. Há violências justificadas em nome de Deus e de um cristianismo nascido a partir de leituras realizadas do texto bíblico que se baseiam em uma interpretação que dá vida a um Deus evangélico com a identidade de um Deus de Israel, encontrado no Antigo Testamento. Esse Deus guerreiro, que avança conquistando novas terras para reforçar seu poder, não se parece com o Cristo que se revela no Novo Testamento como a encarnação de seu amor. Quando a gente olha para a teologia católica, que é a base também da teologia reformada protestante, essa teologia é branca, ocidental e absolutamente colonizadora. O movimento de expansão territorial dessa igreja usa como base teológica estruturante o avanço realizado em nome de Deus. Qual é a diferença de quando a gente pensa paralelamente com o Deus do Complexo de Israel? Quando a gente entende também que nos espaços de periferia, como na Baixada Fluminense e na zona oeste, a milícia está presente há algumas décadas naturalizando dominação e violência, na prática de um justiçamento com as próprias mãos, e não há uma denúncia da igreja, nem do senso comum? Nós sabemos que há mortes e crimes que são justificados. Quais crimes são esses? Crimes que são realizados em nome de Deus, desde que institucionalizados. Seja pela mão do Estado, seja pela mão de um grupo de extermínio, seja pela mão do Exército, desde que seja reconhecida e legitimada pelo cristianismo que não se parece com o Cristo. É por isso que entre a narrativa do cristianismo e a imagem de Jesus Cristo há tanta diferença. Quando a gente se distancia da imagem de Cristo e olha para a história do cristianismo e de toda conquista e violência que já foi realizada em nome desse Deus cristão, da expansão de teologias do poder e da prosperidade, é possível, sim, compreender que outras pessoas façam leituras do texto bíblico que relativizem violências como as que ocorrem nos territórios do Complexo de Israel.

Pichação religiosa faz referência ao Terceiro Comando Puro, na Favela da Palmirinha, zona norte do Rio, em 2015 | Foto: Viviane Costa 

 

Sobre esse cristianismo que não parece com Cristo, seu livro e o de outros pesquisadores apontam que, antes da chegada dos traficantes evangélicos, já tinha uma atuação de PMs evangélicos que se colocavam contra as divindades afrocatólicas, identificadas com o tráfico de drogas. Tem um exemplo no livro, do 9º Batalhão da PM, na região de Acari, que trocou uma imagem de São Jorge por um outdoor de “Jesus é o dono do lugar”. Como foi esse processo?

A dinâmica no Rio de Janeiro de disputa territorial é, desde a sua gênese, marcada pela presença da religiosidade dos donos do morro. A polícia conhecia essas dinâmicas e sabia que, quando um território era dominado, a divindade que representa o dono do morro também precisava ser destruída ou substituída. Por isso, quando o 9º Batalhão da PM, segundo afirma Christina Vital, entra em Acari e expulsa a facção dominante, tira da associação de moradores a imagem de São Jorge que está ali exposta, comunicando para os moradores da favela que o antigo dono do morro foi vencido e a sua divindade, também. O que acontece é que, depois de muito pouco tempo, uma placa dizendo que “Jesus é o senhor desse lugar” é colocada na associação de moradores, espaço de representação de poder coletivo dentro de uma favela. Esses agentes do Estado não estão excluídos da transformação do campo religioso brasileiro, que nas últimas décadas deixa de ser hegemonicamente católico com o crescimento dos evangélicos, principalmente em lugares de pobreza. Quando a gente olha o crescimento do movimento evangélico crescendo e vê as conversões de agentes penitenciários, de policiais, jogadores do bicho e traficantes, o Estado também começa a mudar sua identidade religiosa que até então era naturalizada, apesar de não laica — já que havia uma presença católica nas estruturas não só das leis, mas das práticas institucionais do país. Essas práticas institucionais começam a ganhar uma nova identidade, com agentes do Estado sendo agentes de Deus. E os agentes participam dessas dinâmicas de destruição e substituição de signos religiosos em confrontos e disputas por territórios no Rio.

 

Essa realidade dos policiais se colocando como agentes de Deus vai além do Rio de Janeiro. Algum tempo atrás houve o episódio daquele criminoso, Lázaro, perseguido pela polícia de Goiás, e os policiais que participavam daquela operação criaram uma retórica em que eles se colocavam como “anjos de Deus” contra um Lázaro que seria “satanista”. A polícia chegou a invadir terreiros, que seriam locais identificados com as “práticas satanistas” de Lázaro. Qual é o impacto de forças de segurança assumindo lado na guerra religiosa brasileira?

Quando você fala da religiosidade dos policiais nesse caso que você compartilha de Goiás, amplia a compreensão de como o campo religioso brasileiro vem mudando e de que forma a religiosidade tem mudado o modo de viver e de operar não só individual, mas coletivo e institucional. E essa religiosidade se apresenta cada vez mais evangélica e pentecostalizada, em alguns casos com leitura fundamentalista do texto bíblico, uma leitura que também é de uma teologia racista e que, estruturalmente, demoniza a religião do negro. Sendo assim, um policial evangélico violar os direitos de um de um criminoso que seja considerado “satanista” ou devoto de uma religiosidade afrobrasileira, entende-se como a vitória de um Deus evangélico pentecostal contra um inimigo da igreja. Essa relação não será condenada como é condenada uma associação de um traficante com o movimento evangélico. As transformações na religiosidade brasileira, nas religiosidades individuais e coletivas, estão influenciando nas estruturas e equipamentos do Estado, o que é, sim, algo preocupante e urgente para se olhar. Agora… como não ser assim? Como pensar que a religião pode ser um marcador social não importante para um político, um professor, para um agente de segurança pública, que deve cuidar da segurança de todos para todos igualmente? O único caminho para que a religiosidade individual não afete a liberdade religiosa de todos é essa fé não ser fruto de uma teologia fundamentalista. Uma religiosidade fundamentalista é excludente, desconsidera qualquer outra e terá como objetivo oprimir, violentar e impedir que os direitos do outro sejam praticados e assegurados. E esse é o grande perigo de movimentos com uma leitura mais intolerante e fundamentalista: tomarem os equipamentos do Estado e esses agentes do Estado agirem como agentes de Deus.

Personagem infantil Peixonauta usado como referência a Peixão, junto a mensagem bíblica, no Complexo de Israel 

 

A religião do Complexo de Israel é fundamentalista também?

Álvaro Malaquias, o Peixão, é alguém que se identifica como evangélico e estrutura as práticas, as dinâmicas, as estratégias, a ética, a estética, a partir dessa experiência religiosa com características de novos movimentos pentecostais. Ele afirma, por exemplo, que Deus o direcionou para livrar a Cidade Alta do Comando Vermelho destruindo as forças rivais caso fosse necessário. Quando uma experiência religiosa direciona alguém para a destruição de um inimigo, contra vida e a favor da morte, fica impossível associar essa mensagem com a figura de Cristo.

 

Esse fenômeno do Complexo de Israel é uma exceção, uma espécie de curiosidade, ou a gente talvez possa ver algo parecido com essa figura dos traficantes evangélicos aparecendo em outros locais aí do Brasil?

No caso do Complexo de Israel, os símbolos pentecostais não aparecem só na expressão religiosa, mas na dinâmica do crime que acontece nesse território. Esse fenômeno se diferencia com o de outros traficantes que também têm uma aproximação com o movimento evangélico, que participam de cultos, cantam louvores, mas se entendem como indignos de se identificarem como evangélicos, ou com os que têm uma prática de oração e se programam para deixar o mundo do crime para se dedicarem a uma vida consagrada a Deus. Quanto mais essa teologia evangélica pentecostalizada for se culturalizando, mais comum será ver novas leituras e identidades evangélicas surgindo, seja no mundo do crime organizado, seja no ambiente político — que até pouco tempo era raro —, com identidades múltiplas e novas características que até então seriam consideradas muito ambíguas e paradoxais.

 

O fenômeno que produziu os traficantes evangélicos é o mesmo que produziu as bancadas evangélicas nos parlamentos?

O crescimento dos evangélicos no Brasil, a popularização de uma mensagem evangélica, o crescimento das igrejas pentecostais, a transformação de um pentecostalismo clássico em novos pentecostalismos, seja a partir de canais em mídias televisivas, em uma igreja de periferia, ou numa igreja de classe média, vai transformando a sociedade brasileira enquanto também é transformado por ela, o que nos aponta para uma ressignificação das religiosidades populares historicamente católicas sincretizadas com práticas afro religiosas.

 

Mas como fazer com que o crescimento dos evangélicos não se traduza, como no caso do Complexo de Israel e das bancadas evangélicas nos parlamentos, em intolerância religiosa e prejuízo à democracia?

O crescimento dos evangélicos no Brasil não representa, necessariamente, o que era um ideal evangélico no pentecostalismo clássico, que é a manifestação do Reino de Deus aqui na terra, um reino de justiça, paz, igualdade. Uma teologia que aponta mais a abdicação da própria vida por amor a Cristo, na expectativa de uma vida vindoura, do que para um estabelecimento e crescimento terreno. O que fundamenta o crescimento dos evangélicos no Brasil hoje e os projetos de lei que estruturam as disputas de poder é uma outra teologia, perigosa, intolerante, de cerceamento de direitos e de liberdades e que precisa ser contida. Isso para que as liberdades religiosas, inclusive para os evangélicos, possam ser exercidas e preservadas, já que se vive num país plural, de uma cultura múltipla, riquíssima, com religiosidades múltiplas e expressões de fé cada vez mais diferenciadas. Conter o crescimento do fundamentalismo religioso é essencial para a garantia da liberdade de ser, existir e crer.

02
Jul23

Zequinha Marinho, senador que ajudou terrorista, é o bingo do bolsonarismo: pastor, amigo de grileiro e faz rachadinha

Talis Andrade
 

Senador do Phodemos-PA abriu as portas do Congresso para George Washington e tem um quê de Silas Malafaia, Ricardo Salles e Flávio Bolsonaro.

João Filho
 

Zequinha Marinho podre de rico. Foto: Jane Araújo/Agência Senado

 

NA ÚLTIMA QUINTA-FEIRA, a CPI do 8 de janeiro convocou o terrorista George Washington, o bolsonarista que planejou um atentado terrorista em Brasília. Ele foi preso depois que a polícia descobriu que ele planejava  explodir um caminhão de combustível perto do aeroporto de Brasília. “O senhor (Jair Bolsonaro) despertou esse espírito”, escreveu o terrorista em uma carta para o ex-presidente.  

Há menos de um mês de ser preso, o terrorista esteve presente em uma audiência pública no Senado Federal convocada por senadores bolsonaristas. De caráter golpista, a reunião foi palco de ataques ao processo eleitoral e ao STF, pedidos de prisão do ministro Alexandre de Moraes e a defesa aberta de um golpe militar. George Washington estava lá junto de outros dois acusados de participar do planejamento do atentado a bombas. Os policiais legislativos desconfiam que parte  dos invasores de 8 de janeiro aproveitaram essa entrada no Senado para mapear alguns pontos do prédio. 

O nome do senador que autorizou a entrada do terrorista George Washington estava mantido sob sigilo, mas a Folha descobriu. Trata-se do paraense Zequinha Marinho, do Podemos do Pará, um personagem pra lá de obscuro que reúne em si todos os estereótipos de um político bolsonarista. É pastor evangélico, tem ligações com madeireiras na Amazônia, atua em favor de grileiros, persegue os povos indígenas, é negacionista climático e é acusado de se lambuzar com rachadinha em seu gabinete. Perceba que o senador completa o bingo dos predicados do bolsonarismo: tem um pouco de Ricardo Salles, um pouco de Silas Malafaia, um pouco de Flávio Bolsonaro. 

Antes de estrear na política nos anos 90, Zequinha foi gerente do Banco da Amazônia e pastor da Assembléia de Deus. Sua carreira política começou em 97, quando foi deputado estadual no Pará. Depois, foi deputado federal do estado por 10 anos. Em 2015, chegou a ser vice-governador durante o mandato de Simão Jatene, um político marcado por escândalos de corrupção. A defesa da família, dos bons costumes e dos interesses ruralistas sempre foram suas principais bandeiras. Zequinha já era um legítimo bolsonarista antes do bolsonarismo existir. (continua)

Na primeira parte da reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que investiga os atos de 8 de janeiro, policiais civis do Distrito Federal detalharam a apreensão e prisão de George Washington Sousa, condenado por atentado próximo ao aeroporto de Brasília, em dezembro do ano passado. Ele tentou acionar artefato com potencial de destruir e matar até 300 metros de distância, segundo perito da PCDF.

Quem financiou George Washinton o homem bomba 

19
Out22

Líder religioso que usa culto para pedir voto arrisca multa e, em casos de ameaça, prisão

Talis Andrade

www.brasil247.com - { imgCaption }}

 

Templos religiosos também são considerados pessoas jurídicas e, pela lei, nenhum candidato pode ser financiado por empresas

 

por Julia Braun /BBC News

 

 

Dois dias após o primeiro turno das eleições presidenciais, o presidente Jair Bolsonaro (PL) participou de um culto na Assembleia de Deus Ministério do Belém, na zona leste de São Paulo, ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro e de outros parlamentares.

Durante a celebração, que reunia centenas de fiéis, o pastor José Wellington Bezerra da Costa, presidente da Convenção Fraternal das Assembleias de Deus do Estado de São Paulo (Confradesp), defendeu a campanha à reeleição do atual mandatário.

O poderoso chefão da Assembleia de Deus confessa seus pecados

O líder religioso pediu que os presentes falassem com "o nosso povo, com as famílias, com as mulheres" e com "parentes no Nordeste" para angariar votos para Bolsonaro. "Espero em Deus que no dia 30 de outubro estaremos confirmando o nosso voto e reelegendo o presidente da República", disse.

No mesmo culto, outros líderes religiosos criticaram o ex-presidente e adversário de Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O próprio mandatário e a primeira-dama tiveram espaço para falar com o público.

 

Jair Bolsonaro participa de culto evangélico na manhã deste domingo

A primeira-dama Michelle Bolsonaro e o presidente Jair Bolsonaro em culto na Assembleia de Deus em SP

 

"Precisamos convencer aqueles que ainda não sabem em quem votar. A igreja não pode ser omissa neste momento", disse Michelle.

Os pedidos de voto aconteceram apesar da proibição do uso de templos religiosos para propaganda eleitoral. Ganhos eleitorais dentro de igrejas, templos ou terreiros também podem ser considerados prática de abuso de poder econômico pelas campanhas.

A BBC News Brasil entrou em contato com a Assembleia de Deus e com a Confradesp para esclarecimentos sobre o culto de 4 de outubro, mas não obteve resposta.

A reportagem também não encontrou no sistema de consulta eletrônica do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decisões relacionadas ao episódio até a publicação deste texto.

Segundo especialistas em Direito Eleitoral consultados pela reportagem, violações às normas eleitorais por líderes e associações religiosas e candidatos podem levar à aplicação de multas e, em casos graves, a sentenças de prisão e até cancelamento do registro da candidatura.

O último caso, porém, nunca foi aplicado para campanhas à Presidência da República e requer infrações muito graves.

Entenda a seguir o que pode e o que não pode ser feito na campanha eleitoral por templos e líderes religiosos.

Templos religiosos, tais como igrejas, terreiros, sinagogas e mesquitas, são considerados "bens de uso comum" pela lei brasileira. E segundo a Lei das Eleições, de 1997, "é vedada a veiculação de propaganda de qualquer natureza" nesses locais.

"Falar bem de um determinado candidato não é propaganda eleitoral, mas comparar dois nomes e dizer, por exemplo, que um representa o bem e o outro o mal, pode ser considerado propaganda", explica o advogado eleitoral Alberto Rollo.

A lei estabelece como propaganda eleitoral não apenas declarações, mas também exposição de placas, faixas, cavaletes, pinturas ou pichações. O mesmo vale para ataques a outros candidatos — a chamada campanha negativa.

O descumprimento da norma pode gerar multa de R$ 2 mil a R$ 8 mil. "A multa é aplicada para quem fez a propaganda ou para o candidato beneficiado", diz Rollo.

"Por vezes, alguns acham que vale a pena praticar a ilegalidade já que o valor da multa não é tão alto, principalmente quando se trata de campanha para presidente ou governador."

Segundo o ex-ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e presidente do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral (Ibrade), Marcelo Ribeiro, o TSE costuma analisar caso a caso para determinar o que será ou não considerado propaganda.

"Pelo entendimento do TSE, um líder religioso não pode transformar o culto em um comício, mas poderia manifestar pessoalmente preferência por um dos candidatos", disse à BBC News Brasil.

"É preciso analisar casos de exagero e de desvio de função, ou seja, de transformação de uma celebração religiosa em outra coisa."

 

Abuso de poder econômico

Templos religiosos também são considerados pessoas jurídicas e, pela lei, nenhum candidato pode ser financiado por empresas.

Por isso, transgressões são consideradas abuso de poder econômico e podem levar ao cancelamento do registro da candidatura ou à perda do cargo dos candidatos envolvidos e a multa para a instituição.

São exemplos de transgressões a distribuição de materiais impressos ou organização de eventos financiados por igrejas, propaganda nas redes sociais oficiais do templo religioso ou até o uso do espaço religioso, cadastrado em um CNPJ, para propaganda.

Pessoas físicas, porém, estão isentas da regra. Dessa forma, líderes religiosos podem individualmente fazer doações a campanhas.

A norma está prevista na Lei Complementar nº 64, de 1990. O Artigo 22 do texto estabelece que casos suspeitos devem ser investigados pela Justiça Eleitoral, com a apresentação de provas e testemunhas e direito a defesa.

A lei estabelece ainda que, para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade do fato alterar o resultado da eleição, mas a gravidade das circunstâncias.

Segundo Marcelo Ribeiro, isso significa que infrações pequenas ou de menor repercussão tendem a não levar à cassação.

"Se um candidato a governador, por exemplo, participou de um ato de campanha com mil pessoas presentes em que se identificou abuso, mas ele foi eleito com 1 milhão de votos a mais que o adversário, o bom senso leva a crer que não se deve cassar a candidatura."

"Em casos de campanhas à Presidência, é ainda mais difícil que se chegue a uma cassação. Um caso assim requeriria um movimento nacional, todo irregular", diz o ex-ministro do TSE.

O Artigo 22 da lei de 1990 também se aplica a casos de utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, incluindo os religiosos, que também não podem atuar em benefício de um candidato ou partido político.

Em 2020, o TSE julgou a possibilidade de ampliar o Artigo 22 e incluir também a proibição de "abuso de poder religioso" na lei. O tribunal, porém, rejeitou a tese.

 

Coação e ameaças

Há ainda um caso mais grave de infração, relacionado ao uso de violência ou grave ameaça para coagir alguém a votar, ou não votar, em determinado candidato ou partido.

A infração está prevista no Código Eleitoral, Artigo 301. A pena sugerida é de reclusão de até quatro anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa.

"Nesses casos estamos falando de um crime. Um líder religioso que ameaça expulsar um fiel da igreja ou ameaça aplicar um corretivo em quem votar em determinado candidato, por exemplo", diz Alberto Rollo.

Image

 TSE cogitou incluir 'abuso de poder religioso' entre crimes eleitorais, mas ideia acabou rejeitada
 

 

O Artigo 299 do Código fala ainda na proibição de "dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva, ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto".

Nenhum dos dois artigos menciona nominalmente líderes ou templos religiosos, mas as normas se aplicam também nesse contexto, segundo os advogados.

Redes sociais

Os especialistas consultados pela BBC News Brasil explicam, porém, que líderes religiosos são livres para manifestar sua opinião política ou pedir votos para candidatos em suas redes sociais ou relações pessoais.

"O debate público sobre política é normal e a população deve ter liberdade para discutir esses temas", diz Marcelo Ribeiro.

O advogado lembra, porém, que mesmo para as redes sociais há regras. O TSE estabelece que a propaganda eleitoral paga na internet deve ser feita somente por candidatos e partidos, e precisa ser identificada como tal onde for exibida.

www.brasil247.com - { imgCaption }}

 

Líderes religiosos são livres para manifestar sua opinião política ou pedir votos para candidatos em suas redes sociais ou relações pessoais

 

O tribunal não considera propaganda eleitoral publicações com elogios ou críticas a candidatos feitas por eleitores em suas páginas pessoais.

Mas os apoiadores não devem recorrer ao impulsionamento pago para alcançar maior engajamento. Também é proibido contratar pessoas físicas ou jurídicas para fazer posts de cunho político-eleitoral.

"Os pastores são cidadãos e pessoas físicas, não jurídicas, portanto aquilo que dizem em suas redes sociais pessoais não está sujeito a essa lei. Mas essas declarações não podem acontecer nas redes sociais da própria igreja, por exemplo", complementa Alberto Rollo.

www.brasil247.com - { imgCaption }}

13
Out22

Mulheres denunciam “loucura” de Damares como método: crucifixo na vagina a serviço do fascismo

Talis Andrade

Image

Transcreve 247: A ministra Damares Alves quebrou o silêncio e produziu mais uma coletânea de frases risíveis. O perfil "Partido Jairmearrependi" tuitou: "Saindo de sua pausa na carreira, Damares volta a falar besteira ao afirmar que nenhum jovem de direita lhe ofereceu cigarro de maconha e nenhuma meninA enfiou crucifixo na vagina. A ênfase no menina nos fez concluir que os meninOs tiveram a ousadia."

[Nas estórias de sexo de Damares, as personas sempre são meninas, inclusive bebês]

 

Damares Alves fala de relações sexuais com crianças diante de público infantil

Damares Alves (Republicanos) disse em uma Assembleia de Deus em Goiânia, que o atual governo resgatou crianças vitimas de trafico humano

 

por Jamildo Melo/Jornal do Commercio

- - -

A ex-ministra do governo Bolsonaro e senadora eleita pelo Distrito Federal, Damares Alves (Republicanos), disse em uma Assembleia de Deus em Goiânia, que o atual governo supostamente resgatou crianças vitimas de trafico humano.

Damares detalhou o caso, afirmando ter imagens que comprovam o estado em que as crianças chegavam do resgate. "Nós temos imagens de crianças de 4 anos, 3 anos que, quando cruzam as fronteiras, tem seus dentes arrancados para não morderem na hora do sexo oral. (...) Nós descobrimos que essas crianças comem comida pastosa para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal", disse.

A plateia para qual a ex-ministra falou estava repleta de crianças. 

A deputada estadual, Elika Takimoto (PT-RJ), criticou através de suas redes sociais a ação de Damares Alves, afirmando que a atitude da senadora eleita se configura como crime. 

Damares que é CONTRA educação sexual em escolas falou em um (aparente) culto que são arrancados dentes de crianças para elas fazerem sexo oral sem morder e que criança é obrigada a comer comida pastosa para fazer sexo anal. Tinha CRIANÇAS na plateia. Isso é crime, senadora!

[Por falar em tráfico humano, Damares foi acusada de sequestrar uma criança indígena, de 6 anos, coincidentemente para tratar dos dentes. Esta criança, hoje adulta, jamais foi adotada por Damares. 

As relações de Damares com essa indígena deveriam ser investigadas sim. É uma "filha de criação" escrava doméstica? ]

 

Deputada defende Damares, ataca Xuxa e relembra filme polêmico

Após oferecer aos seguidores versão completa de filme da década de 1980 gravado por Xuxa, deputada distrital Júlia Lucy apagou comentário

Mulher segura microfone com a mão direita

 
- - -
A deputada distrital Júlia Lucy (União Brasil) usou o perfil pessoal do Instagram, nessa quarta-feira (12/10), para criticar a apresentadora Xuxa Meneghel. Por meio de um abaixo-assinado, a apresentadora pede a cassação de Damares Alves (Republicanos), ex-ministra de Jair Bolsonaro (PL) e recém-eleita senadora pelo Distrito Federal.
 

Na publicação, a deputada recorda um filme gravado por Xuxa na década de 1980. No longa-metragem, em que interpreta uma prostituta de 16 anos, a apresentadora aparece em uma cena de nudez com um ator de 12 anos. À época, Xuxa tinha 18.

“Agora, a ‘rainha dos baixinhos’ tenta criar uma onda contra a nossa senadora Damares Alves porque se pronunciou quanto ao abuso sexual das crianças da Ilha de Marajó. Faz sentido pra vc?”, questiona a deputada distrital, que incluiu a hashtag “xuxahipocrita” no post.

Em seguida, Júlia Lucy escreveu que poderia compartilhar a íntegra do vídeo com quem enviasse mensagens a ela no privado. No entanto, usuários do Instagram criticaram a postura da deputada. “@julialucydf armazenar e compartilhar conteúdo pornográfico é crime”, escreveu uma seguidora. “Estou sem acreditar”, comentou outra pessoa.

Após a repercussão, a parlamentar excluiu o comentário da publicação. Questionada pelo Metrópoles sobre o caso, Júlia Lucy afirmou que “pensando em evitar a propagação desse tipo de conteúdo”, decidiu apagar a mensagem “para não incentivar essa prática nefasta”.

Veja a publicação:A deputada distrital Júlia Lucy posta frame de filme estrelado por Xuxa,

 

[Julia Lucy exagera ao classificar o filme de pornô. Eu assisti o filme no lançamento e não fiquei com tesão. Parece que o filme deixa Lucy excitada para ela guardar. O filme é de 1982. 

A masturbação com crucifíxo é cena de outro filme que deve ter tocado a libido de Damares]

 

Mulheres denunciam “loucura” de Damares como método: crucifixo na vagina a serviço do fascismo

Paradise: Faith

 

Comentários publicados pelo Vio Mundo

Damares é uma atormentada pelo q sofreu, tem alucinações, persegue, oprime, estigmatiza, delira; nos exemplos q dá, as fantasias eróticas, sádicas e cruéis pontificam, c/o uma orgia de suplícios sexo-religiosos só concebidos por uma mente insana. Marcia Denser, escritora, no twitter.

Eu na minha vida JAMAIS soube de uma menina enfiando um crucifixo na vagina. As fantasias sexuais da ministra Damares são porcas demais. Eu não deixaria uma filha minha perto dessa gente. Cynara Menezes, jornalista.

O discurso de Damares Alves é um astucioso exemplo de tecnologia política que usa “sexo” como fator de mistificação. Na perversa Sexologia Política do choque, sexo é arma. Sexo passou a ser tecnologia do poder obscurantista contra o Gênero como fator de esclarecimento. Marcia Tiburi, filósofa.

Damares não é louca muito pelo contrario. É uma mulher extremamente fria, perigosa , capaz de qualquer coisa para alcançar seus objetivos.
Usa a fé das pessoas para convencê-las de suas ideias conservadores e sem ética. Uma sociopata. Biazita Gomes, professora de Filosofia.

Damares Alves: “Estou há quase 24 horas com este público, a maioria jovem, e ninguém me ofereceu um cigarro de maconha e nenhuma menina enfiou um crucifixo na vagina”, ela só esqueceu que essa galera não curte maconha por preferir cocaína, a parte do crucifixo é loucura mesmo. Patrícia Lélis.

A tensão sexual é um dos pilares de uma técnica para obter e manter poder chamada fascismo. Ao dizer que a esquerda introduz crucifixos em vaginas, Damares ensina seu público a temer e a odiar o “outro lado”. Meteoro BR.

 

Cena de masturbação com crucifixo causou escândalo no Festival de VenezaParadise: Faith (2012) - IMDb

 

Por Thiago Dearo 

A comunidade católica está indignada com uma cena do filme do irreverente cineasta Ulrich Seidl, “Paradise: Faith”, apresentado no 69 edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza.

O escândalo no Festival de Veneza veio três dias após a exibição do filme “Paradise: Faith” (‘ Paraíso: Fé ‘) de Ulrich Seidl, um filme que concorre pelo Leão de Ouro, juntamente com 17 outros filmes.

A cena em que Anna Maria, uma devota católica, chega a se masturbar com um crucifixo, que  ela pega na parede de seu quarto, o carícias, beija com grande intensidade , até que finalmente ela se masturba com o objeto sagrado, já foi qualificado como um dos mais provocantes do cinema contemporâneo.

“A protagonista não entende que a adoração cega por Cristo torna-se um ser desumano, incapaz de sentir amor e comunicar a virtude mais importante cristã: amar o próximo”, disse o diretor.

O filme conta a história de uma mulher totalmente dedicada ao catolicismo, que decide ir de porta em porta em toda Veneza para tentar convencer as pessoas a aderir cristianismo.

A Película de Seidl, segundo os especialistas em cinema, denuncia com uma linguagem irônica o fanatismo religioso, no entanto para alguns católicos, é uma ofensa gratuita contra a comunidade religiosa na Itália, que é um dos países mais católicos do mundo.

O advogado Pietro Guerini, que dirige uma associação de radical católica na Itália, entrou com uma ação contra o diretor do filme, Seidl, a atriz Maria Hofstätter e contra os seus produtores e organizadores da edição 69 do Festival de Cinema de Veneza.

Todos eles “por meio de uma manifestação de uma das cenas blasfemas e ultrajante”, que violou os artigos 403 e 404 do Código Penal da Republica Italiana (“crimes a uma confissão religiosa por degrinir as pessoas e através do desprezo”), diz a ação judicial.

Enquanto isso, Seidl afirmou que não vai pedir desculpas aos católicos. “Eu não tenho nenhuma razão para pedir perdão. Ao invés disso, eu estou feliz. Se por alguma cena mostrada no meu filme é um tabu, isso não significa que não tenho o direito de incluir esta cena no filme”, disse o diretor do polêmico filme, em entrevista, publicada na terça-feira ao jornal ‘The Hollywood Reporter’.

 

Filme com cena de masturbação com crucifixo causa polêmica em Veneza

Image

 

 

O irreverente filme do austríaco Ulrich Seidl, "Paradise faith", que compete pelo Leão de Ouro na Mostra de Veneza, junto com outros 17 filmes, escandalizou nesta sexta-feira (31) com uma cena de sexo com um crucifixo.

"Faith provoca escândalo", afirma o jornal italiano "Coriere della Sera" ao resenhar o filme decididamente anticlerical, protagonizado por uma fervorosa católica que se flagela, usa o cilício, caminha pela casa de joelhos, impreca os pecadores e chega a se masturbar com um crucifixo.

A cena, na qual a católica Anna Maria, uma auxiliar de raio-x, lentamente tira o crucifixo da parede de seu quarto, o acaricia, o beija, torna a beijá-lo cada vez mais intensamente, até que finalmente se masturba com ele sob as cobertas, é certamente uma das mais impressionantes do cinema contemporâneo.

O filme, uma história de excessos místicos na qual inclusive a fotografia do papa Bento XVI é difamada, arrancou risos e foi aplaudido durante a primeira projeção à imprensa especializada e provavelmente gerará reações na Itália, um dos países mais católicos do planeta, e no Vaticano.

Para Anna Maria, o caminho que a levará ao paraíso reside em Jesus, e por isso decide percorrer toda a cidade de Viena com uma imagem da Virgem Maria de cerca de quarenta centímetros nas mãos batendo de porta em porta para convencer as pessoas a se unirem ao cristianismo.

O retorno inesperado após anos de ausência de seu marido, um muçulmano egípcio prostrado em uma cadeira de rodas, termina por reforçar sua fé. "A protagonista não entende que a adoração cega pro Cristo a converte em um ser inumano, incapaz de sentir amor e de comunicar a mais importante virtude cristã: amar ao próximo", comentou o diretor.

O filme, que faz parte da trilogia Paradise (os outros dois são "Paradise: love" e "Paradise: hope"), do diretor Seidl, produzido por França, Áustria e Alemanha, denuncia com uma linguagem irônica o fanatismo religioso.

"Somos as tropas de assalto da Igreja" é o lema da comunidade religiosa a qual a protagonista pertence, que encarna a paixão tanto espiritual quanto carnal por Cristo.

O diretor, renomado documentarista, premiado em 2001 em Veneza por seu primeiro longa-metragem "Hundstage", disse ter se inspirado nas peregrinações religiosas para convencer adeptos. "Ela é uma mulher decepcionada com o amor, com os homens e frustrada sexualmente. Sente um vazio interior", explicou.

22
Set22

ÀS VÉSPERAS DA ELEIÇÃO, ASSEMBLEIA DE DEUS USA CARTILHA DE ÓDIO PARA DOUTRINAR FIÉIS CONTRA LULA, FEMINISTAS E LGBTS

Talis Andrade

Humor Político on Twitter: "O cosmonoteísmo por Marcio Vaccari  #Comportamento #Religião #cartoon #charge #HumorPolítico #Violência  https://t.co/JrzmHrbWJl" / Twitter

 

Material didático associa o feminismo à zoofilia e incesto e o diabo à esquerda. Defende o machismo, o racismo e o apedrejamento da mulher que Jesus perdoou. E esquece a fome de 33 milhões de brasileiros, as 500 mil crianças prostitutas, a fila da morte nos corredores dos hospitais 

 

A ASSEMBLEIA DE DEUS DE SANTA CATARINA está usando desde julho – período pré-eleitoral – uma cartilha anti-esquerda para doutrinação de fiéis. O material, enviado ao Intercept, menciona nominalmente Luiz Inácio Lula da Silva como defensor da chamada “ideologia de gênero”, termo que conservadores usam para atacar os movimentos LGBTQI+ e feminista, e espalha pânico moral ao associar o feminismo à pedofilia, zoofilia e outras “perversidades”.

“O feminismo representa uma das maiores armadilhas do mundo contemporâneo, levando a sociedade a um nível de depravação e perdição inimaginável. Como toda ideologia mundana, tomou proporções inimagináveis, financiando coisas sórdidas como: pedofilia, zoofilia, sexo desregrado, homossexualidade e diversas outras perversidades. O feminismo é uma aberração nascida no mais profundo inferno, produzindo divisão, briga, promiscuidade, homossexualidade e todo tipo de sordidez”.

Parece um fórum de internet dedicado à misoginia, mas trata-se de uma transcrição literal da cartilha para jovens e adultos “Revista EBD – O cristão e os desafios do nosso tempo: entendendo as ideologias, póliticas [sic] e pensamentos da atualidade”, versão do professor. Essas frases saíram mais precisamente da “Lição 12 — Feminismo e a distorção de papéis”.

 

PAG112-113

‘Pedofilia’, ‘depravação moral’ e destruição do casamento': cartilha deturpa conceitos do feminismo.

 

Esse material – uma legítima cartilha do ódio e intolerância – foi distribuído nos templos da Assembleia de Deus de Blumenau e por toda a próspera região do Vale do Itajaí de Santa Catarina para ser usado na escola bíblica dominical ao longo do trimestre de julho a setembro. Não por acaso, o teor do conteúdo coincide em muitos pontos com o discurso de Jair Bolsonaro, do PL.

Além das feministas, a obra também ataca toda a esquerda, as correntes cristãs vistas como liberais, os evangélicos que não querem misturar igreja com política, o estado democrático de direito, todo o arcabouço legal que garante direitos aos cidadãos não-heteronormativos, o sistema de ensino público e privado e muito mais. Nem a lei do divórcio de 1977, que assegura o direito dos casais a se separarem, escapa da raiva santa exposta no livro.

Ao longo de 124 páginas divididas em 13 lições, é descrito um cenário de medo e horror para o cristão moderno e sua família. Ele passa por toda a realidade paralela erigida em cima de teorias da conspiração e quimeras da extrema direita: globalismo, ideologia de gênero, fim da família tradicional, perseguição aos cristãos, marxismo cultural, ditadura estatal na forma de viver e criar os filhos, “abortismo”, Paulo Freire e por aí vai.

De maneira explícita, o ex-presidente Lula é lembrado nominalmente na obra como um incentivador do que é chamado de ideologia de gênero. Em um quadro amarelo no capítulo dedicado ao tema, a cartilha lembra que ocorreu em seu governo a implementação do Programa Nacional de Desenvolvimento Humano, que estabeleceu direitos básicos hoje desfrutados pela a população LGBTQI+, como união civil, adoção de crianças e reconhecimento do nome social em documentos oficiais, além de políticas afirmativas. Para os autores da cartilha, algo imperdoável.

 

Trecho da cartilha que menciona nominalmente o ex-presidente e candidato Lula.

 

“Durante o governo do presidente Luís [sic] Inácio Lula da Silva o movimento LGBT e os ideólogos de gênero conquistaram garantias significativas”, lamentam. Eles escrevem que, se as definições de homem e mulher não são mais absolutas, cada um se torna o que bem entender. Assim, “isso é apenas o começo da catástrofe, pois quando a relativização domina, já não tem critérios para nada, e normalizar a pedofilia e o incesto é questão de tempo”, profetiza o texto. E nada de cair “na conversa de que os cristãos estão se intrometendo na vida dos outros que desejam ser diferentes”. Afinal, “eles não querem apenas um direito para ser quem desejam, querem implantar uma ditadura que afeta a nós e nossos filhos”.

 

O que é dito e ensinado na escola dominical é entendido como 100% verdade pelo povo fiel.
Eleições 2018 - Lúcifer Contra o Diabo na Terra do Sol ? -  caminhandojornal.com
 
 

A cartilha não tem um autor claro, mas traz um prefácio escrito pelo pastor Lediel dos Santos, vice-presidente da Assembleia de Deus em Blumenau. “É impossível não enxergar que estamos em uma grande e intensa batalha”, diz o texto de abertura. “Mais do que nunca precisamos nos posicionar também no campo ideológico e político se queremos de fato edificar. Se o povo de Deus não buscar governar de acordo com os princípios bíblicos, alguém irá nos desgovernar. Esta é a hora de combater o bom combate!”.

Santos é um dos donos da editora Kaleo, que publicou a cartilha raivosa. O outro sócio, Alexandre de Almeida, também é pastor da Assembleia de Deus em Blumenau, segundo dados da Receita Federal. Fundada em 2019, a editora surgiu “com a intenção de difundir conteúdos de qualidade de escritores que ainda não são grandemente conhecidos no mercado publicitário mas cujo pensamentos e ideias merecem ser compartilhados”, diz seu site.

O material, aliás, é oferecido na plataforma para uso em escolas dominicais de todo o Brasil. Cada exemplar custa R$ 13,90 mais a taxa de envio.

Cartilha é utilizada na escola bíblica dominical, uma das instituições mais tradicionais da Assembleia de Deus e de igrejas cristãs no geral.

 

Apocalipse cristão

 

A cartilha começa delineando o “apocalipse cristão contemporâneo”. Duas lições inteiras justificam com trechos da bíblia a promiscuidade entre política e religião. Com essas bases lançadas, os capítulos seguintes partem para cima da esquerda e tudo que consideram ser sua obra, sempre a serviço do demônio.

Além do capítulo sobre feminismo, “Educação – um desafio para a igreja brasileira”, “Marxismo cultural e seus impactos”, “Grupos minoritários”, “Ideologia de gênero”, “Machismo: masculinidade deformada” e, por fim, “Sexualidade distorcida em uma cultura erotizada” completam o extenso material. Cada capítulo ou lição equivale a um domingo de aula na escola dominical.

O argumento principal que permeia todo material é o de que não há hipótese de um evangélico ser de esquerda. “Um cristão genuíno é por definição um conservador”, afirma o texto na terceira lição, chamada “Sendo um conservador em um mundo corrompido”. No capítulo “O que o cristão precisa saber sobre direita e esquerda”, o material reafirma que a esquerda só serve para dividir a miséria. Mais adiante, na mesma seção, reforça que “algumas ideologias, como as de esquerda, são fundamentalmente contra o cristianismo”.

 

Cartilha diz que a esquerda quer 'controlar todos os aspectos da vida social. Sobrou até para Paulo Freire, criticado por ser um 'libertador'.

 

O pedagogo Paulo Freire é lembrado com destaque na lição sobre os desafios da educação e merece um intertítulo próprio, “O desserviço da pedagogia de Paulo Freire”.

Já na lição sobre o marxismo cultural, o texto questiona: “Quantas meninas não querem se casar mesmo tendo mais de 25 anos?”. A culpa seria do fim da moral e do incentivo à promiscuidade dos esquerdistas que dominam a indústria cultural, principalmente o jornalismo da grande mídia. E arremata: “a bíblia e o marxismo são incompatíveis.”

 

Trecho da cartilha sobre ‘marxismo cultural’ usa o Brasil Paralelo como referência teórica.

 

Como apoio aos professores, a editora oferece ainda vídeos no YouTube em que explica os principais pontos das aulas. Ali, o tom é menos explícito que na cartilha, mas a intenção segue clara. Na lição 6, por exemplo, “O que um cristão precisa saber sobre esquerda e direita”, publicado em 5 de agosto no canal da Kaleo, um “professor” não identificado repassa o que é mais importante: “é impossível você ser de esquerda e ser cristão”.

O Intercept tentou falar com Lediel dos Santos e Alexandre de Almeida, donos da editora, e pediu um posicionamento para a Assembleia de Deus de Blumenau sobre o material e a campanha política implícita. Não houve resposta.

 

Ataque sensível

 

Boquirroto e Capiroto! | Humor Político – Rir pra não chorar

 

A escola bíblica dominical é uma das instituições mais tradicionais da Assembleia de Deus e de igrejas cristãs no geral. É a interface da vida real com o que é ensinado e refletido dentro do templo. Nela, boa parte dos fiéis estuda a bíblia em grupo e busca uma bússola moral e exemplos práticos para guiar seu cotidiano de acordo com os ensinamentos da igreja.

“Estão atacando por um lado que é muito sensível na comunidade”, afirmou o advogado Artur Antunes. Criado dentro da Assembleia de Deus de Santa Catarina, o advogado indignou-se ao tomar conhecimento do material didático para doutrinação político-eleitoral e procurou o Intercept para denunciar o caso.

“O que é dito e ensinado na escola dominical é entendido como 100% verdade pelo povo fiel que frequenta a instituição. E não é pouca gente, boa parte dos fiéis que vai ao culto aos domingos fica para a escola dominical depois”, explicou. “O objetivo disso, junto com o que é dito durante os cultos, é consolidar a imagem de Bolsonaro junto aos fiéis como o único candidato possível para os cristãos. Ao mesmo tempo, associa o Lula a todas essas fake news e a assuntos que preocupam muito os religiosos”.

 

Eleições 2022The Intercept. Leia Nossa Cobertura Completa Eleições 2022

 

Na escola da igreja, as turmas são divididas entre crianças e jovens de até 14 anos, que recebem aulas e materiais didáticos diferentes, e jovens e adultos a partir dos 15 anos de idade —submetidos à cartilha do horror deste trimestre. Os professores geralmente são voluntários da própria comunidade religiosa, o que aumenta o grau de confiança nas informações que são passadas nessas reuniões.

Na opinião de Antunes, o efeito eleitoral disso é poderoso. “Coloca-se quase como se o fiel tivesse que escolher entre votar em um candidato de esquerda e a própria religião, sua participação naquela comunidade. É uma coação mesmo. A conotação disso é óbvia quando pensamos na eleição presidencial, mas espraia-se por todas as candidaturas, que passam a ser consideradas com essa lupa hedionda”.

 

15
Ago22

Mentiroso, Feliciano admite espalhar informação falsa contra o PT sobre fechamento de igrejas evangélicas

Talis Andrade

Pastor Feliciano vira alvo na Malhação de Judas em Brasília - Jornal O Globo

Boneco de Marco Feliciano. Judas na visão do povo. Espalha o boato de confesso cabra-safado: que Lula presidente vai fechar as igrejas evangélicas

 

 

O boato de Feliciano é fácil de derrubar: Lula presidente sancionou a Lei de Liberdade Religiosa no Brasil 

 

O deputado Marco Feliciano (PL-SP), que também é pastor evangélico, admitiu o crime, em entrevista ao jornal O Globo: está espalhando a escandolosa ignomínia, que o PT pretende fechar igrejas evangélicas, caso volte ao poder – o que é um boato, uma mentira safada de politiqueiro, uma notícia falsa, uma fake news. "Não há, nos planos de governo dos candidatos majoritários, incluindo os de esquerda, como os presidenciáveis Lula (PT) e Ciro Gomes (PDT), qualquer ataque à liberdade religiosa ou indicação de fechamento de igrejas, o que seria inconstitucional", destaca a jornalista Victoria Abel.

Veja que inverdade, que boatice pavorosa espalhada por um deputado que dá falso testemunho: "Conversamos sobre o risco de perseguição, que pode culminar no fechamento de igrejas. Tenho que alertar meu rebanho de que há um lobo nos rondando, que quer tragar nossas ovelhas através da enganação e da sutileza. A esmagadora maioria das igrejas está anunciando a seus fiéis: ‘tomemos cuidado’", disse Feliciano, que é pastor da Assembleia de Deus Ministério Catedral do Avivamento.

"A notícia, além de falsa, é absurda. Foi Lula quem regulamentou, em 2003, a liberdade de constituição de igrejas no país. Se tem alguém que governou respeitando a religiosidade, em especial a evangélica, foi ele", diz o coordenador de comunicação da campanha de Lula, Edinho Silva.

 

 

Deputado Feliciano boneco da malhação de Judas

 

Em Brasília, Feliciano é lembrado na Malhação de Judas - Politica - Estado  de Minas

Malhação de Judas põe Feliciano e mensaleiros no alvo | VEJAJudas Feliciano? - 30/03/2013 - Política - Fotografia - Folha de S.Paulo

Costume trazido pelos portugueses e espanhóis para toda a América Latina, desde os primeiros séculos da colonização européia, a malhação ou queimação do Judas, para alguns pesquisadores, seria um resíduo folclórico transfigurado das perseguições aos judeus que se desencadeou na Idade Média, na época da Inquisição.

Para outros, o Judas queimado seria uma personalização das forças do mal, vestígio de cultos para obter bom resultados, no início e no fim das colheitas, realizados em várias partes do mundo. Há ainda alguns historiadores que afirmam ser o costume remanescente da festa pagã dos romanos.

A brincadeira acontece na Semana Santa, especificamente no sábado de Aleluia. Bonecos de palha ou de pano, pendurados em postes de iluminação pública, galhos de árvores, porteiras, currais, são rasgados e queimados.

No Nordeste, é também conhecida como enforcamento do Judas. A cidade amanhece com postes enfeitados com diversos judas: bonecos feitos com  um paletó velho, camisa, calça, meias, sapatos, meias colocadas nas mãos, gravata, cujo corpo é enchido com trapos, panos velhos, raspas de madeira e jornais.

Em Brasília, o Judas tem sido Marco Feliciano, pela permanência do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, e preconceitos, notadamente o racismo religioso.

A assessora parlamentar do Senado, Leiliane Rebouças, organizadora do ato na Vila Planalto, bairro de Brasília próximo à Esplanada dos Ministérios, contou que o evento já é tradicional na região – o pai dela, “seu” Francisco, chegou em Brasília em 1968 e instituiu a malhação de Judas no bairro. A manifestação traz um protesto político a cada edição.

“Não poderíamos falar de outro Judas”, disse Leiliane. “Pensamos que ele (Feliciano) não é a pessoa adequada para estar na comissão. Boa parte da minha família é evangélica, mas não concordamos com a intolerância dele em relação à religiosidade. Também achamos absurdas suas posturas homofóbicas e racistas.”

O boneco de 1,55 metro, composto de ferro, papel reciclado, e vestido com roupas de brechó – camisa xadrez, calça e gravata verdes – foi amarrado a um poste da Praça Zé Ramalho, na Vila Planalto. Na fisionomia, uma foto impressa do rosto de Feliciano. Os manifestantes bateram com pedaços de madeira nele, como manda a tradição.

Além do boneco, também havia cartazes com os dizeres “Amaldiçoado é o seu preconceito”; “O deputado Marco Feliciano não representa do eleitores brasileiros; O Brasil é o país da diversidade. Respeite."

 

Deputado pastor Marco Feliciano é alvo de "malhação do Judas" em Brasília

 

Manifestantes penduraram em frente ao Congresso Nacional, um boneco do deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, representando a tradicional malhação de Judas.

Nada mais merecido. Quem mente dentro da igreja mente a Deus. 

"Basta; é chegada a hora. Eis que o Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores.

Levantai-vos, vamos; eis que está perto o que me trai.” Marcos 14:41-42

O boneco continha placa acusando Feliciano de racismo religioso, e foi confeccionado por moradores da maior favela da América Latina, Sol Ponte, onde reside a mãe, e a avó de Michelle Bolsonaro viveu seus últimos dias como miserável favelada.

 

O destino da avó de Michelle - Extra ClasseExtrema pobreza. Dona Maria Aparecida Firmo Ferreira, de 80 anos, avó de Michelle Bolsonaro, na porta do seu barraco, dias antes de morrer de covid

 

Image

 

O boneco carregava cartazes com dizeres contra a "intolerância religiosa, racial e sexista", além de cópias de cédulas de real e de cartões de crédito nas mãos. 

Em seu perfil em uma rede social, Luiz Alves, um dos organizadores do protesto, disse que a malhação de Judas é manifestação cultural brasileira e que também é usada para “mostrar o descontentamento com os políticos”.

Image

Sérgio A J Barretto
@SergioAJBarrett
Então a Câmara Federal pagou R$ 157 mil para um tratamento dentário do Marco Feliciano? A ideia é pregar com um belo sorriso aos fiéis desdentados?Image
 
01
Mai22

Maioria dos deputados da Frente Parlamentar Evangélica apoia pautas antiambientais

Talis Andrade

banco bala biblia por aroeira.jpg

 

Levantamento da Agência Pública mostra que a maior parte dos parlamentares foi favorável aos ‘PLs da Morte’, apontados como ameaças ao meio ambiente e aos povos tradicionais

 

 

 

por Bárbara Poerner /Agência Pública

 

  • Liderança evangélica no Congresso confirma alinhamento e troca de favores entre as bancadas do boi e da Bíblia

 

  • Atuação da frente destoa da opinião de 85% dos evangélicos brasileiros, que consideram pecado não proteger o meio ambiente, segundo pesquisa

 

Entre falas e textos fervorosos contra a legalização do aborto no perfil do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), um vídeo publicado na última quarta-feira (6) pode até passar despercebido. Ele mostra o encontro do atual líder da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) com presidentes de cooperativas indígenas para falar sobre o Projeto de Lei (PL) 191/2020, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Na postagem, os presentes encerram a conversa com uma oração, ao mesmo tempo em que mais de sete mil indígenas, de diferentes etnias, protestavam no Acampamento Terra Livre (ATL) contra o PL, que abre as porteiras para exploração de mineração e geração de energia em territórios indígenas. Sóstenes foi favorável ao caráter de urgência para apreciação do projeto, ainda em tramitação.

A Agência Pública analisou os votos dos deputados da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) em pautas antiambientais que tiveram discussão recente no Congresso Nacional, nesta legislatura. A maioria dos deputados da FPE votou a favor da aprovação dos chamados ‘PLs da Morte’, um combo de cinco projetos que têm sido apontados como ameaças ao meio ambiente e a povos tradicionais. Além do PL 191, essa lista de projetos inclui o PL 3729/2004, que trata sobre licenciamento ambiental; o PL 6299/2002, conhecido como o Pacote do Veneno; o PL 2633/2020, conhecido como o PL da Grilagem; e o PL 490/2007, que altera o Estatuto do Índio e defende a tese do Marco Temporal, que limita o reconhecimento de territórios tradicionais.

Dentre os 196 deputados signatários da FPE, segundo a Câmara dos Deputados, 131 (66%) foram favoráveis ao caráter de urgência do PL 191/2020. Outro PL, o 3729/2004, aprovado no dia  13 de maio de 2021 na Câmara e em tramitação no Senado, flexibiliza as regras para o licenciamento ambiental no Brasil. Novamente a maioria dos deputados signatários da FPE – 131 (66%) dos 196 – foram favoráveis ao projeto.

Aprovado recentemente na Câmara, o PL 6299/2002, conhecido como Pacote do Veneno, flexibiliza a liberação de agrotóxicos no país, entre outras alterações. Aguardando apreciação no Senado, o projeto contou com apoio de 135 (68,8%) deputados federais signatários da Frente Parlamentar Evangélica. Também está no Senado o PL 2633/2020, projeto que possibilita a regularização fundiária de terras da União por autodeclaração. A aprovação na Câmara, no dia 3 de agosto de 2021, contou com apoio de 136 (69%) deputados signatários da FPE.

O quinto projeto do pacote chamado de “PLs da Morte” foi aprovado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e aguarda votação na Câmara. O PL 490/2007 pretende alterar o Estatuto do Índio, e com isso validar a tese do Marco Temporal. Dentre os 40 votos totais favoráveis ao projeto na CCJ no dia 23 de junho do último ano, 17 foram de deputados signatários da FPE. Nos 21 votos totais contrários, apenas um foi de um deputado signatário da FPE.

infografico-votoevangelico.jpg

 

A Frente Parlamentar Evangélica (FPE) é composta por 196 deputados (14 estão fora do exercício) e sete senadores signatários, conforme o site da Câmara dos Deputados. Embora chamada de evangélica, ela inclui parlamentares que professam a fé católica, espírita ou ainda quem não assume nenhuma religião. O grupo reúne 19 partidos. O Partido Liberal (PL), partido atual do presidente Jair Bolsonaro, tem a maior representatividade, com 42 parlamentares. O Republicanos, vinculado a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e que tem como presidente o bispo e deputado Marcos Pereira, e o Partido Social Democrático (PSD), vêm em sequência, com 29 e 28 signatários, respectivamente. Tanto o PL, quanto o Republicanos e o PSD orientaram voto afirmativo para os cinco PLs antiambientais citados na reportagem.

A Frente Parlamentar Evangélica não é, necessariamente, um sinônimo da bancada evangélica. “Enquanto a FPE é uma entidade formal, balizada pelo regime estatutário do Congresso Nacional, a bancada reúne deputados e senadores que têm uma articulação mais sólida em torno de pautas em comum”, explica Lívia Reis, coordenadora de Religião e Política do Instituto de Estudos da Religião (ISER). Atualmente, a bancada evangélica congrega 121 parlamentares (110 deputados e 11 senadores), segundo o gabinete do presidente da FPE, deputado Sóstenes Cavalcante, que também é uma das lideranças.

A reportagem também analisou os votos dos 110 deputados da bancada evangélica em quatro ‘PLs da morte’ que tiveram votação na Câmara dos Deputados. No PL 191, 82 (74,5%) votaram sim e 11 (10%) votaram não. No PL 3729/2004, 82 (74,5%) votaram a favor, e 7 (6,3%) contra. 79 (72%) apoiaram o PL 6199, e 12 (11%) foram contra. No PL 2633, 87 (79%) foram favoráveis e 05 (4,6%) contrários.

Discursos ambientais

Sóstenes Cavalcante assumiu o posto de líder da Frente Parlamentar Evangélica no último dia 16 de fevereiro, sucedendo Cezinha Madureira (PSD-SP). O deputado se posiciona como um “um político conservador, mais à direita” e “liberal na economia e conservador nos costumes“. Em entrevista recente, ele afirmou que a meta do seu mandato é “focar na eleição para ampliar a bancada com o máximo de colegas”. O líder apoiou a eleição de Bolsonaro à presidência em 2018, mas já esboçava proximidade com o chefe de estado há alguns anos. O deputado é apadrinhado por Silas Malafaia, pastor da Assembléia de Deus Vitória em Cristo.

À Pública, Sóstenes disse que não existe uma orientação específica para os membros da FPE em votações que versam temas ambientais. Os votos de apoio a pautas antiambientais, segundo ele, sinalizam uma sinergia entre grande parte da bancada evangélica com o atual governo. “Não tiramos uma decisão da FPE desse assunto, mas pela Frente ter no mínimo 80% de deputados de partidos da base aliada ao governo, temos uma tendência de votar a [favor da] redução dessas demarcações conforme os projetos que tramitam na casa. Não é decisão da bancada ou FPE, mas das bancadas partidárias, e quando é [de interesse] do governo, passa a ser daqueles que compõem [sua] base”, afirma o deputado.

foto1-maioria-dos-deputados-da-frente-parlamentar-

 

Jair Bolsonaro (à direita), Sóstenes Cavalcante (ao fundo), Silas Malafaia (à esquerda) e Magno Malta (ao centro) na Marcha Para Jesus, em 2015

 

O deputado também afirma que as lideranças evangélicas no Congresso são “liberais na economia e progressistas em projetos econômicos”. “Se tivermos que alinhar algum segmento não será com segmentos indígenas que queiram impedir o progresso e prosperidade do seu povo”, diz. Ele também comenta que já realizou reuniões com lideranças indígenas, e que, na sua percepção, “nem sempre a questão da exploração de territórios tradicionais é um ponto pacifico dentro da comunidade indigena”. Também diz que não vê “nenhum dano ambiental, de maneira nenhuma, [com as propostas dos PLs].”

Proteger o meio ambiente é algo que, segundo Sóstenes, faz parte da sua religiosidade, mas ele discorda do que chama “pauta do meio ambiente com viés de esquerda e ideológico”. “Leremos com a responsabilidade que se requer, mas não leremos na mesma cartilha da pauta de esquerda nem de ONGs sustentadas por países estrangeiros, que lamentavelmente é o que aconteceu com a pauta de meio ambiente no Brasil”, completa o deputado.

Dentre os projetos de lei propostos por ele na atual legislatura e analisados pela Pública, apenas um versa sobre temática ambiental. Trata-se do PL 2014/2021, que propõe a garantia de porte de armas aos fiscais ambientais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Sóstenes é o terceiro presidente da atual legislatura da FPE. Silas Câmara (Republicanos-AM) presidiu a Frente até o final de 2020. Pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, ele votou a favor, quando compareceu às votações, de todos os projetos de lei apreciados na Câmara analisados nesta reportagem pela Pública.

Silas Câmara foi eleito pelo estado do Amazonas em 2018 e já se manifestou sobre alguns episódios envolvendo seu estado. Em novembro de 2021, imagens de balsas de garimpeiros na extensão do Rio Madeira, que corta o Amazonas e Rondônia, chamaram a atenção da imprensa, sociedade civil e ativistas. O episódio mobilizou uma ação do Ibama e da Polícia Federal, que queimou e dispersou a maioria das embarcações. Na época, Câmara se posicionou a favor do garimpo ilegal na região e pela legalização da prática. Em discurso no plenário, o deputado disse que “o extrativista mineral familiar não é bandido”. “São homens e mulheres responsáveis, que conhecem a região, que zelam pelo meio ambiente, que amam o próximo e que precisam sobreviver desta atividade”, afirmou, clamando até ao presidente: “eu peço ao Presidente Jair Messias Bolsonaro, que tem compromisso com o meio ambiente e tem compromisso também com as pessoas, com as vidas, com as famílias, que pare esta ação e tome uma atitude coerente, racional e responsável para que essas famílias possam ser abordadas pelo Governo Federal”.

A narrativa favorável ao garimpo apareceu novamente em sua votação no PL 2633. Câmara afirmou em discurso que “esse projeto de lei atende a necessidade de muitos, como disse ainda há pouco o companheiro que me antecedeu, proprietários legítimos das terras que supostamente pela esquerda estão sendo tituladas como terras públicas. Na verdade, esse projeto dá um norte ao monitoramento para que, por exemplo, a preservação ambiental seja realmente eficiente, através do mapeamento de quem se torna de fato proprietário”.

Durante sua presidência na FPE, Câmara foi autor do PL 4447/2019, apensado ao PL 1610/1996, que “permite exploração sustentável em terras indígenas”; do PL 2348/2019, que altera lei de distribuição de terras no país e permite a regularização daquelas que estão em uso indevido; e do PL 5829/2019, que versa sobre energia solar e estabelece o marco da geração distribuída no país. Ainda, em 2019, presidiu a Comissão de Minas e Energia na Câmara dos Deputados.

foto2-maioria-dos-deputados-da-frente-parlamentar-

Sóstenes (no centro da mesa) em reunião com lideranças indígenas

 

Alinhamento entre as bancadas do boi e da Bíblia

A Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) é uma das maiores do Congresso Nacional, e seu desdobramento, a bancada ruralista, é apontada por organizações socioambientais como o núcleo estruturante de várias pautas que ferem direitos de povos originários e de proteção à natureza. O pesquisador em sociologia da religião e ecologia na USP, Renan Willian dos Santos vê pontos múltiplos de articulação entre as bancadas ruralista e evangélica, “não só morais, mas econômicos, já que a união de ambas se dá prioritariamente pela troca de favores”. “Eles [FPE] são uma espécie de centrão, fisiologismo puro, e podem fazer acordos para votar em outros assuntos que não os interessem”, argumenta.

O presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Sóstenes Cavalcante, confirma o alinhamento e a troca de favores entre as frentes evangélica e do agronegócio. “Normalmente a gente trabalha com a frente do agronegócio. Temos uma tendência a se alinhar com essa frente, nos nossos temas que são prioritários [para nós], mais ligados a costumes, a gente também conta com a ajuda da frente do agronegócio. Nesses assuntos a nossa tendência será também alinharmos, dentro da responsabilidade necessária, com a [FPA]”.

Entre os 196 deputados signatários da FPE, 99 fazem parte também da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Zequinha Marinho (PL-PA) é um deles. O senador integra a mesa diretora da atual legislatura da FPE, e é também vice-presidente da frente do agronegócio. Zequinha foi apontado como um dos agentes favorecedores do garimpo ilegal no Pará, estado onde foi eleito. Segundo a Repórter Brasil, o senador “pressiona os diretores da Agência Nacional de Mineração (ANM) para que as lavras garimpeiras sejam autorizadas com mais rapidez”.

Outro ponto de convergência entre as bancadas pode estar relacionado à uma prática histórica de igrejas evangélicas no Brasil: as missões evangelizadoras em terras indígenas, que promovem pregações e ações para pessoas não convertidas à fé cristã. O pesquisador Renan diz que existe uma “vantagem colateral [da aliança entre as frentes parlamentares], que é o financiamento da construção de templos nas bordas das reservas indígenas, com obras de missionários. Por isso, os evangélicos vão votar a favor de maior demarcação em TI ou para flexibilização? Para flexibilizar”, elucida ele.

Sóstenes Cavalcante nega a relação entre a votação dos parlamentares da FPE em pautas antiambientais e as práticas missionárias em territórios indígenas. Ele reforça que os votos refletem alinhamentos com a base do governo, e critica a decisão, em setembro de 2021, do ministro do STF Luís Roberto Barroso, que proibiu a entrada de missões religiosas em terras de povos originários isolados. “Por princípio constitucional, existe liberdade religiosa, em todos os territórios, inclusive os indígenas, mas o STF insiste em ferir o próprio texto constitucional”, diz o deputado.

O deputado Silas Câmara também já defendeu as missões da Assembléia de Deus, afirmando que a prática é importante para reduzir as desigualdades sociais. “Todos sabem que os missionários, principalmente os cristãos evangélicos e católicos, prestam um grande serviço aos indígenas do Brasil, aliás serviço esses que o Estado brasileiro não presta”, disse Câmara ao site Direto ao Ponto.

Bruna Galvão, diretora executiva da Casa Galileia, organização que busca fortalecer o campo da democracia e da justiça socioambiental com foco em públicos cristãos, acredita que a “convergência de interesses [entre as bancadas ruralista e evangélica] não são trabalhadas de maneira óbvia”. Ela afirma que a tentativa de barrar a tese do Marco Temporal, que compromete demarcações de territórios tradicionais, incomoda líderes evangélicos “não só porque afeta os projetos missionários ideológicos, mas também interesses econômicos” em terras indígenas.

Além disso, o pesquisador Renan acrescenta que o agronegócio tende, hoje, a se aproximar especificamente dos evangélicos por desentendimentos históricos com parte da igreja católica. “Existe o CIMI [Conselho Indigenista Missionário] e a teologia da libertação, então uma parcela do catolicismo já foi uma pedra no sapato do agro”, explica. “Do ponto de vista desse setor, os evangélicos têm uma vantagem, por ser uma religião mais solvente”, completa, ao se referir a um tipo de discurso religioso de algumas igrejas evangélicas que induzem o rompimento de laços dos recém convertidos com seu território, origem e crenças anteriores.

Maioria dos evangélicos é contra degradação ambiental, diz pesquisa

Os posicionamentos e votos antiambientais de lideranças evangélicas no Congresso Nacional não condizem com o que pensam a maioria dos evangélicos brasileiros. A constatação é da pesquisa realizada, em 2020, pelo Evangélicos Pelo Clima (coalizão co-fundada por Bruna, Flávio Conrado e Camila Mantovani), em parceria com a Purpose. Por meio de entrevistas com duas mil pessoas que professam a fé evangélica, a coalizão descobriu que 67% dos fiéis dizem que o candidato defender pautas de preservação ambiental influencia na hora do voto; 85% acham que é pecado o ser humano atacar o meio ambiente; e 82% acham que um crime contra a natureza é um pecado contra Deus.

Na análise da diretora de campanhas da organização Casa Galileia, Camila Mantovani, a bancada evangélica não espelha a população evangélica brasileira. “Enquanto a primeira é majoritariamente composta de homens brancos e de alto poder aquisitivo, a segunda integra uma maioria de mulheres, pessoas negras e pobres”. Ela também acredita que o posicionamento da frente em pautas ambientais muitas vezes passa despercebido, e que isso não acontece por acaso. “Tem uma certa sabedoria na maneira que utilizam da não polarização [da pauta ambiental]. Enquanto você tem um alarde sobre gênero, justiça reprodutiva etc., você está blindado, porque as pessoas estão preocupadas em olhar para isso. Então, se você acha que ninguém está fiscalizando seus votos na pauta ambiental, você pode passar a boiada o quanto quiser. Tem uma certa sagacidade para isso não ser usado”, completa.

A simpatia com a preservação ambiental dos evangélicos, constatada na pesquisa do Evangélicos Pelo Clima, acompanha a média geral dos brasileiros. Contudo, conforme a análise, não há tanto engajamento. Dados do documento apontam que 60% dos entrevistados não têm acessos ou não recebem informações sobre a preservação do meio ambiente em suas igrejas, mas 77% acham importante que elas apoiem atividades de preservação ambiental.

Para o pesquisador da USP Renan, a temática não é central para as lideranças evangélicas, mas isso não significa um antiambientalismo ou negacionismo das igrejas em relação ao apocalipse climático. Ele lembra falas de pastores conservadores como Silas Malafaia, que já afirmou que “o maior responsável pelo desequilíbrio ambiental é o ser humano.” Ainda, Flávio Conrado citou Abner Ferreira, líder da Assembléia de Deus de Madureira e próximo do deputado Cezinha de Madureira. O bispo participou, em outubro, do encontro Fé e Ciência: rumo à COP26, no Vaticano, quando reforçou a importância de cuidar do meio ambiente citando a Bíblia: “Foi Deus quem responsabilizou os homens sobre esta tarefa. Gênesis 2:15 está escrito: ‘Tomou pois o Senhor Deus o homem e o pôs no Jardim do Éden, para o lavrar e o guardar’. Trabalhar e proteger, proteger e trabalhar. O cristão não deve violar os mandamentos de Deus quanto à preservação das espécies por causa do progresso”.

meio ambiente florestra desmatamento.jpg

15
Jan22

Pastor tarado que oferecia “abraço terapêutico” tem prisão decretada por estupro de oito fiéis

Talis Andrade

pastro oito estupros.png

 

O 'processo terapêutico' do safado incluía o pedido para que as mulheres levassem fotos íntimas ou até uma lingerie 

 

Revista Fórum - O pastor Sérgio Amaral Brito, de 49 anos, teve a prisão preventiva decretada nesta sexta-feira (14) pela Justiça do Rio de Janeiro. Presidente de duas unidades da Assembleia de Deus, o pastor é acusado do estupro de pelo menos oito mulheres.

Os depoimentos de mulheres que contam ter sido abusadas pelo pastor revelam que o religioso oferecia um “abraço terapêutico” e, sob esse pretexto, esfregava o próprio corpo nas vítimas.

“Na relação de pastor, de terapeuta, ele ganhava a confiança, dava aqueles abraços, e ia evoluindo até chegar ao abuso”, afirmou ao jornal O Globo o delegado Angelo Lages, titular da 66ª DP (Piabetá), responsável pelas investigações.

Segundo as investigações, o pastor ainda orientava as fiéis a dizerem que eram “gostosas” para melhorar a autoestima.

Leia a reportagem completa na Revista Fórum.

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub