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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

03
Set23

O chororô dos super-ricos e seus sabujos

Talis Andrade

Para taxar o 0,001% dos brasileiros que acumulam centenas de bilhões em fundos e paraísos fiscais… quanta comoção! Dinheiro sai da economia e não gera empregos, só endividamento. Mas a reação quer imputar aos pequenos a culpa dos tubarões

03
Set23

Em que país vive Arthur Lira?

Talis Andrade

 

De qual país ele está falando? Dos que sustentam a sua vida de luxo, pagando 26,4% de impostos, ou dos que o recebem com banquetes fabulosos?

 

por Denise Assis

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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), vive em um país cercado de esgoto a céu aberto. De acordo com dados do Observatório Brasileiro das Desigualdades, 96 milhões de pessoas no Brasil não têm acesso à rede de saneamento básico. No país onde nasceu o presidente da Câmara, 0,01% possuem riqueza acumulada de R$ 151 milhões em média.

Quando Lira transita por salões floridos e atapetados, costuma dialogar com os 10% mais ricos, os que obtêm rendimento médio mensal per capita 14,4% vezes maior que os 40% mais pobres do país. Entre eles, os 40% mais pobres, o político costuma usar camisa polo escura, talvez para se livrar das marcas de mão da criançada carente, que na falta de brinquedos industrializados brincam com a terra. Há quem diga que é para diferenciar-se do seu adversário, o senador Renan Calheiros (MDB), que as prefere brancas.

Essas pessoas para as quais Lira separa os finais de semana fazem parte de um total de 7,6 milhões de brasileiros com renda mensal de R$ 150,00. Para ele, uma quantia irrisória, que provavelmente ele destina para o sal com que tempera as carnes para o churrasco de domingo. Se é que ele ainda se passa para a iguaria popular demais, em tempos de governo Lula.

A distância entre os salões do mercado financeiro onde Arthur Lira bate ponto em praticamente todos os seminários, com o propósito de discutir o futuro econômico do Brasil (à luz do liberalismo, é claro), não o deixa ver o abismo entre os seus costumeiros anfitriões e os 10% mais pobres. Esses, do povão, são incumbidos de pagar 26,4% da parca renda de classe média baixa, em tributos. Enquanto aqueles, as estrelas dos seminários e sua turma, pagam 19,2%.

Os filhos dos que o recebem em rapapés, estudam em escolas com nomes pomposos, como “Dante Alighieri”, mas as crianças que costumam rodear o presidente da Câmara em suas andanças pela terra natal, recebem aulas em cubículos sem água, sem banheiro, mas com kits de robótica de última geração. Lá isso é verdade. Sejamos justos.

Lira tem na página da Câmara um registro do seu perfil com os seguintes afazeres: é advogado de formação, agropecuarista e empresário. E político, nas horas vagas. Ou é o contrário? Sabe-se lá. Vive cercado de luxo, apesar de ter nascido e manter o seu reduto no local que a Revista Piauí, pelos idos de 2022, descreveu assim: o “minúsculo centro histórico da cidade de Penedo, a 146 km de Maceió, é uma belezinha. Tem três igrejas barrocas. O horizonte, formado por um casario neoclássico cuja harmonia só é quebrada pelo prédio feioso do maior hotel da redondeza, está gloriosamente construído em um rochedo banhado pela margem esquerda do Rio São Francisco”.

Mesmo com esse desvão que marca as suas idas e vindas como político, o majestoso imperador das Alagoas não o vê e tampouco se sente na obrigação de distinguir entre os 96 milhões que não têm esgoto, dos que o buscam de jatinho para discussões sobre o cenário econômico. Embora não seja nem de longe um orador desenvolto ou um teórico da matéria. Lira enxerga nos pobres que o rodeiam, meros apertadores de botões das urnas, que ao tilintarem o conduzem desde 1992 a Brasília.

Seu discurso é demagógico. Repete sempre que fará isto ou aquilo “para o bem do país”. Porém, é incapaz de encarar o arcabouço fiscal como sendo um fator de equilíbrio social e, muito menos, a taxação dos amigos ricos como atenuante da miséria do torrão que diz querer bem.

Lira usa o poder para acossar o governo, para tirar vantagens e beneficiar “os seus”. Em painel realizado pela Expert XP 2023, na sexta-feira (dia 01/09) declarou: “Lógico que nós não temos nenhum compromisso com o mérito, como ele saiu. Haja vista os problemas que existiram na tramitação da medida provisória que tratava da taxação de offshores, agora de onshores, de fundos exclusivos”, disse, referindo-se ao arcabouço fiscal trabalhado pelo ministro Fernando Haddad.

Mas ao mesmo tempo, advertiu: “É importante que o governo mantenha um sarrafo alto e é importante que todos nós tenhamos isso como meta para atingir. O Congresso Nacional vem dando demonstrações inequívocas de que quer colaborar, que está muito atento a qualquer medida predatória, arrecadatória, que não seja compatível com o melhor rumo da economia para o país”, afirmou, subtraindo a chantagem contida no comentário.

A esta altura é forçoso perguntar: de qual país ele está falando? Dos que sustentam a sua vida de luxo, pagando 26,4% de impostos, ou dos que o recebem com banquetes fabulosos e pagam 19,2%? Quando pagam, porque ao que se sabe, essa turma vive de dividendos – isentos – e veleja em iates que não desembolsam um tostão de IPVA, enquanto os entregadores de comida pagam em dia, para se arriscarem no trânsito com suas motos, pagas a prestação.

O cientista político Fernando Abrucio comentou o caso Arthur Lira e as investigações da Polícia Federal sobre o dinheiro desviado de contratos para compra de kit de robótica.

O presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL) defendeu, na Associação Brasileira de Atacadistas (Abad), a permanência do orçamento secreto, afirmando que ele é “amplo e democrático”.

Arthur Lira que sequestrou o orçamento do Brasil, no governo Bolsonaro,  comentou que Lula, que "nenhum presidente pode acabar com isso", com o orçamento secreto

02
Set23

Lira sinaliza que Congresso não vai aprovar taxação de ricos e bilionários

Talis Andrade
Robótico

Presidente da Câmara e primeiro-ministro, que virou rico, pra lá de rico com o orçamento secreto e pecs bolsonaristas, é contra cobrar impostos de bilionários e proprietários de empresas em paraísos fiscais

 

Marcos Mortari, Infomoney,

247 - O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou, nesta sexta-feira (1), que a decisão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de manter em déficit zero a meta de resultado primário encaminhada no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2024 é “importante”.

Em painel realizado pela Expert XP 2023, o parlamentar disse que as previsões que indicam a possibilidade de o resultado buscado não ser cumprido pelo governo “assustam”, mas que o Congresso Nacional estaria disposto a colaborar com a aprovação de medidas que auxiliem neste esforço.

Ele indicou, no entanto, não haver qualquer disposição do parlamento em aprovar ações que impliquem em aumento de impostos, independentemente das movimentações do Palácio do Planalto em busca da construção de uma base de apoio mais sólida nas duas casas legislativas.

“É importante que o governo mantenha um sarrafo alto e é importante que todos nós tenhamos isso como meta para atingir. O Congresso Nacional vem dando demonstrações inequívocas de que quer colaborar, que está muito atento a qualquer medida predatória, arrecadatória, que não seja compatível com o melhor rumo da economia para o país”, afirmou.

“Todas as medidas necessárias ao longo deste ano de 2023 e as que possivelmente precisem que tenha uma intervenção legislativa, nós estaremos à disposição para fazer um debate franco, aberto, para que no ano que vem tenhamos o objetivo de alcançar esse [déficit] zero”, continuou.

Durante o evento, Lira disse que há um “bom relacionamento” entre o governo Lula e o Congresso Nacional, que as conversas com integrantes do Poder Executivo “são frequentes”, mas não representam uma interferência do parlamento no desenho de matérias encaminhadas para a deliberação dos deputados e senadores.

Ele citou como exemplo a medida provisória para disciplinar o crédito fiscal decorrente de subvenção para a implantação ou a expansão de empreendimento econômico (MPV 1185/2023), editada sob alegação de regulamentar decisão favorável ao governo tomada por unanimidade pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

“Lógico que nós não temos nenhum compromisso nenhum com o mérito, como ele saiu. Haja vista os problemas que existiram na tramitação da medida provisória que tratava da taxação de offshores, agora de onshores, de fundos exclusivos”, observou.

As três medidas fazem parte do conjunto de ações planejadas pelo governo para cumprir a promessa de zerar o déficit primário em 2024 ‒ as estimativas da equipe econômica apontam para uma necessidade de arrecadação adicional da ordem de R$ 168,5 bilhões.

Arthur Lira, no entanto, fez um desagravo ao discurso de combate a distorções adotados pelo governo, que muitas vezes é usado por aliados políticos para dividir a população entre grupos de renda. “Nós não precisamos deste discurso de rico contra pobre neste país, todos precisam estar juntos, defendendo posições uníssonas, de medidas que sejam corretas, no tamanho certo”, disse.

E defendeu cautela em medidas que possam representar mudanças muito significativas nas regras do jogo em termos de tributação, como nos casos das “offshores” e dos fundos exclusivos (também chamados de fundos fechados ou “onshore”).

“No caso da PL das offshores e na medida provisória, nós temos que passar segurança jurídica, nós não podemos contribuir para a erosão da base [tributária]. Sabemos que o dinheiro não tem domicílio. Hoje ele está aqui, amanhã ele pode estar em Portugal, na Espanha, na Inglaterra, no Uruguai. Precisamos fazer as coisas com comedimento para apurar alternativas executivas e legislativas para equilibrar as contas e alcançar a meta que queremos alcançar”, pontuou.

Um dos alertas feitos por Lira diz respeito às às alíquotas estipuladas pela equipe econômica do governo na redação das matérias encaminhadas ao Congresso Nacional. Ele sugeriu que fosse aplicada uma taxa de 6% sobre estoques de aplicações financeiras sujeitas a mudanças de regras. “Penso que aí o governo vai arrecadar muito mais, vai dar um espaço de negociação entre todos os setores junto com o Congresso Nacional”, argumentou.

“Precisamos de previsibilidade, de consequência, segurança jurídica, para não desestabilizar um país que está na vanguarda de todos os países que nos assemelham nessa retomada de crescimento depois de uma pandemia muito dura”, completou.

Na outra ponta, Lira defendeu a necessidade de haver uma discussão sobre a redução dos gastos públicos, dando destaque à reforma administrativa, que, segundo ele, está “pronta para ir ao plenário”. “É claro que temos que começar a discutir gasto público. É claro que temos que começar a discutir despesas. Se não conseguirmos, na nossa residência aumentarmos a nossa renda, nós vamos primeiro sentar e escutar onde vamos cortar”, afirmou.

Ao defender a reforma administrativa, Lira frisou que não há previsão na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) em tramitação na Câmara dos Deputados de afetar direitos adquiridos por servidores públicos em atividade. Mas disse que os efeitos, apesar de restritos aos novos entrantes do funcionalismo público, seriam importantes para o futuro do país.

“Por mais que eu, esse ou outro pensemos diferente ideologicamente, temos que pensar que, com a contenção de despesas ou com a previsão de uma mudança na trajetória do serviço público e seus gastos, com previsibilidade, fazendo um corte temporal, a gente dá uma sinalização muito grande para quem gera emprego, gera renda e sustenta esse país diuturnamente”, disse.

Para o presidente da Câmara dos Deputados, porém, dificilmente essa agenda avançaria no parlamento sem o apoio explícito do Palácio do Planalto. Ele disse, ainda, que conversou nos últimos dias com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), sobre proposições em tramitação na casa legislativa e que poderiam ajudar no esforço de equilibrar as contas públicas.

“Temos alternativas de matérias legislativas que estão em tramitação e podem ajudar, com justiça social, corrigindo distorções, problemas de arrecadação para o governo que não essa discussão de aumento na arrecadação dos valores dos impostos. Isso dificilmente, com ou sem base, o governo conseguirá impor no Congresso Nacional. Aumento de impostos

Uma operação da Polícia Federal em Alagoas visa desarticular uma organização que fraudou licitação na educação do estado com dinheiro do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). Os prejuízos com o sobrepreço de aparelhos robóticos adquiridos chegam a R$ 8,1 milhões. Em abril do ano passado a Folha publicou uma reportagem sobre as aquisições em municípios de Alagoas, todas assinadas com uma mesma empresa pertencente a aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira. O colunista Aguirre Talento comenta

 

16
Ago23

‘Patrimônio de Arthur Lira deve ter pelo menos quadruplicado desde 2019’

Talis Andrade
Alan dos Santos/PR
Alan dos Santos/PR
Enriquecimento presumido por ex-mulher coincide com governo de Jair Bolsonaro (PL), aliado de Lira

Jullyene Lins, casada com Lira por 10 anos e mãe de dois filhos dele, contou também que chegavam grandes malas de dinheiro em casa

 

Redação RBA: Cida de Oliveira e Clara Assunção

O patrimônio oculto do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deve ter pelo menos quadruplicado desde 2019, segundo sua ex-mulher, Jullyene Lins. Pelas suas contas, naquela época o valor chegava a R$ 40 milhões. Mas a situação mudou. “Acho que esse valor deve ser quadruplicado, porque tem apartamento de R$ 10 milhões. Comprou casa também na faixa de R$ 10 milhões, fazendas, gado. Não falo em números porque fica muito difícil. Como uma pessoa com a origem dele, mãe professora, pai funcionário de colégio, entra na política, vai crescendo e de repente dá esse boom?”

A suposição da ex-mulher do parlamentar foi feito em entrevista ao ICL Notícias. O enriquecimento presumido por Jullyene, que viveu com Lira por mais de dez anos e com ele teve dois filhos, coincide com sua ascensão na Câmara. Integrante do Centrão chefiado por Eduardo Cunha, de quem era um dos principais aliados, o parlamentar chegou à presidência da Câmara no início de 2021. Teve apoio do então presidente Jair Bolsonaro (PL), tornando-se operador do orçamento secreto criado no final de 2020 no gabinete governamental. Entre esses recursos, parte teria ido para o esquema dos kits de robótica, conforme apura a Polícia Federal.

 

Lira apoiou publicamente candidatura de Bolsonaro

O apoio foi retribuído a Bolsonaro. No final de julho de 2022, Lira ignorou a independência entre os poderes. E vestiu a camisa de Bolsonaro na convenção do PL no Rio de Janeiro, que oficializou a candidatura à reeleição.

Na entrevista, Jullyene contou que, enquanto casada – isso durante o período em que ele ainda era deputado estadual em Alagoas, entre 1999 e 2011 – via chegar em casa malotes com dinheiro. “Sabe aqueles ‘malão’ de banco? Chegavam lá. Era sempre alguém que trazia os malotes com dinheiro, aquelas malas de viagem também”, disse, dando a entender se tratar de dinheiro de propina.

Lira tem também um perfil violento, segundo ela, que chegou a ser agredida diversas vezes. “Ele me ameaçou, inclusive, e disse que aonde não há corpo, não há crime”, afirmou. “E ele tenta me silenciar de varias formas e é por isso que eu tenho essa necessidade de está sempre indo de um local pra outro que seja seguro. Eu não fico mais em Maceió porque eu não posso caminhar na praia, porque eu tenho medo.”

Leia também:

 

16
Ago23

Eram os deuses comentaristas de TV?

Talis Andrade

 

“O consílio dos deuses”, de Rafael.

Estava na hora dos grupos de mídia promoverem uma reciclagem, pelo menos para seus comentaristas mais conhecidos

 

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Na CNN, com seus modos nada fidalgos, o apresentador William Waack é peremptório, na entrevista com Alexandre Padilha, da coordenação política do governo. Pergunta – em tom acusatório – se o governo vai repetir os erros do PAC e de outras políticas desenvolvimentistas, que levaram o país ao desastre e produziram desemprego. O fim dos estaleiros, apud Waack, se deveu a erros de política econômica, não ao trabalho devastador da Lava Jato.

Na Globonews, Mônica Waldvogel comenta o PAC e diz que a falta de sustentação fiscal jogou o país na crise.

Provavelmente não leram um livro de economia recente, nem acompanham o tema financeirização x investimento público que domina o debate econômico em todos os países desenvolvidos. O que eles sabem, leram nos jornais, de jornalistas que aprenderam o que leram nos jornais, de outros jornalistas que sabem o que leram nos jornais. E, no fim da linha, operadores de mercado repetindo slogans que leram nos jornais. Papagaios em rede!

Um grande especialista em política internacional, Waack, uma analista ligada a bons princípios civilizatórios, Mônica, de repente passam a pontificar sobre economia, não com o espírito do repórter, querendo aprender, mas do juiz assinando sentenças definitivas sobre temas que desconhecem. Tenho o microfone, logo sou a lei.

Estava na hora dos grupos de mídia promoverem uma reciclagem, pelo menos para seus comentaristas mais conhecidos. Não dói. Basta chamar um bom especialista em ortodoxia e um bom especialista em heterodoxia, e, principalmente, alguém em dia com as discussões econômicas globais. E solicitar a seus comentaristas que retomem a curiosidade dos tempos de repórter e façam perguntas, tenham a humildade de se colocar como repórteres dispostos a aprender, não como amadores pretendendo ensinar,

Se escolherem bem os expositores, haverá um notável avanço na qualidade dos comentários televisivos. Waack não precisará rebaixar seu notório conhecimento em outros temas repisando bordões da imprensa financeira, com a mesma segurança ignorante dos jovens repórteres que cobrem o mercado ouvindo o segundo e terceiro escalões.

Aí, serão capazes de entender que a economia é algo um pouco mais complexo do que o debate rasteiro sobre fiscalismo e desenvolvimentismo. Poderão até se dar o supremo benefício da dúvida, e se indagar porque de Joaquim Levy para cá – quando foi inaugurado o modelo mercadista – não houve desenvolvimento algum. Poderão aprender um pouco sobre as disfuncionalidades da Lei do Teto, sobre as restrições políticas de economia, sobre aspectos centrais do desenvolvimento, sobre o poder multiplicador e os limites dos investimentos públicos.

No mínimo conseguirão se livrar da doença do auto-engano, de supor que comentários, multiplicados por grandes redes, têm o poder da infabilidade.

Lava Jato, o mais degradante episódio da história da mídia nacional, por Luís Nassif

Os diálogos dos procuradores ironizando a morte de Dona Marisa e do neto de Lula, são a exposição nua da banalidade do mal

07
Ago23

Lula planeja limitar poderes dos militares

Talis Andrade
 
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por Altamiro Borges

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Publicada nesta sexta-feira (4), reportagem da Folha garante que “o governo Lula (PT) prepara uma alteração da legislação sobre o emprego das Forças Armadas durante crises de segurança ou de instabilidade institucional. A proposta elimina o atual modelo de operações de garantia da lei e da ordem [GLO]”. O objetivo da medida, segundo o jornal, seria “limitar o poder dos militares em crises domésticas de toda ordem”. 

A mudança legal visa sanar problemas na segurança pública, como nos trágicos episódios dos atos golpistas do 8 de janeiro em Brasília, e superar distorções de viés político do artigo constitucional que trata das atribuições das Forças Armadas na aplicação da GLO. Pela proposta elaborada pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, e pelo titular da Defesa, José Múcio, não haveria mudanças no artigo 142 da Constituição, que trata das competências das Forças Armadas, mas na Lei Complementar que o regulamenta (número 97, de 1999). 

“A intenção é criar no texto a possibilidade de as Forças Armadas cooperarem eventualmente em crises de segurança e ordem pública sem que seja necessário para isso a decretação de GLOs. A princípio, haveria mexidas nos artigos 15 (que trata do emprego das Forças Armadas na defesa da Pátria e na garantia dos poderes constitucionais, da lei e da ordem) e 16 (sobre atribuição subsidiária das Forças Armadas) da Lei Complementar de 1999”, descreve a Folha. 

Governo evita confronto direto

Segundo especula o jornal, o governo Lula teria avaliado que não tem força no Congresso Nacional para alterar o artigo 142 da Constituição, como propõe uma PEC do deputado Carlos Zarattini (PT-SP). “Para aprovar uma emenda constitucional são necessários três quintos dos votos em dois turnos, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado – no caso, uma quimera, num Congresso de extração conservadora, com uma Câmara presidida por Arthur Lira (PP-AL), que foi eleitor de Jair Bolsonaro”. 

Além disso, afirma a Folha, “não há tampouco disposição do governo em comprar uma briga desse porte com os militares, que são frontalmente contra a alteração do artigo 142, em meio a outras prioridades do Planalto, sobretudo a agenda econômica”. Em função desses dois fatores, a proposta do governo optou por desidratar a PEC do deputado Carlos Zarattini, que foi anunciada em fevereiro como resposta aos ataques de 8 de janeiro. 

Como lembra o jornal, “o artigo 142 da Constituição afirma que as Forças Armadas ‘destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem’. A PEC de Zarattini, que condensou proposta convergente do colega Alencar Santana (PT-SP), propõe retirar do texto constitucional essa competência... O entendimento de Zarattini e de boa parte do PT é de que a atual redação – que de resto é parecida com a de todas as Constituições republicanas – abre brechas para a intervenção indevida dos militares em temas civis, algo que se tornou mais palpável com a politização das Forças Armadas promovida no governo Bolsonaro”. 

Iniciativas tímidas para inibir poder dos milicos

A decisão do governo de não mexer no inflamável artigo 142 da Constituição representa, em parte, uma vitória da oficialidade reacionária. É preciso avaliar qual será o preço desse recuo. Outras iniciativas têm tentado inibir o poder das Forças Armadas. Entre elas, está em curso uma medida que obriga militares que se candidatem em eleições a ir automaticamente para a reserva ou inatividade, o mesmo ocorrendo com o oficial que assumir um ministério. Nesses setes meses de governo, o presidente Lula também excluiu os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica das reuniões ministeriais – prática que virou rotina nas trevas bolsonarianas. 

São passos importantes, mas tímidos diante do poder dos milicos de atentarem contra a democracia.

 

Mauro Cid, o militar que vendia relógios

 
 
14
Jul23

Arthur Lira move ação de censura contra o ICL

Talis Andrade

 

por Altamiro Borges

O deputado Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara Federal, não se conforma com a perda do seu poder. No governo passado, ele virou quase um primeiro-ministro, enquanto Jair Bolsonaro passeava de jet-ski e de moto e antecipava criminosamente sua campanha pela reeleição. Através do orçamento secreto, o líder do Centrão conseguiu eleger inúmeros dos seus comparsas, garantindo uma maioria conservadora no Congresso Nacional. 

Com a derrota do fascista, ele também perdeu força e algumas regalias e passou a ser alvo de várias denúncias, como a do desvio de verbas do “kit robótica” e do emprego de parentes em estatais. Incomodado e temendo perder ainda mais poder, o coronelzão parte agora para a retaliação. Na semana passada, Arthur Lira moveu uma ação de censura na 24ª Vara Cível de Brasília para tirar do YouTube vídeos do programa ICL Notícias. 

Conforme denúncia de Chico Alves no site UOL, “o processo se refere principalmente ao conteúdo veiculado no dia 6 de junho, com comentários sobre acusação de suposto recebimento de R$ 106.000,00 em propina por meio de um assessor, denúncias de envolvimento de um auxiliar na aquisição superfaturada de kits robótica para escolas de Alagoas e uma entrevista com sua ex-mulher, Jullyene Lira, que o acusa de vários crimes”. 

"Trata-se de covarde e vergonhosa censura"

Além da retirada do ar de 42 vídeos do ICL Notícias, o presidente da Câmara Federal pede indenização de R$ 300 mil por dano moral. “O juiz negou pedido de Arthur Lira para que a ação corresse em sigilo e também que a retirada dos vídeos do YouTube fosse imediata, já que a decisão sumária poderia consistir, segundo o magistrado, ‘censura à liberdade de imprensa’. O mérito do processo ainda não foi julgado”, relata Chico Alves. 

“Não há dúvidas, trata-se de covarde e vergonhosa censura. É inaceitável o chefe de um dos três poderes de uma República dita democrática tentar calar um canal de informações via pressão política e jurídica”, contesta Eduardo Moreira, responsável pela Editora Conhecimento Liberta, empresa que produz o ICL. Ele lembra ainda que as informações divulgadas no site são públicas: “Tudo o que foi veiculado sobre Lira trazia como fonte os principais veículos de imprensa do país e as declarações de sua ex-esposa por mais de dez anos”. 

A ação autoritária do coronel do Centrão mereceu imediata repulsa. Um abaixo-assinado contra a censura ao ICL Notícias colheu mais de 100 mil adesões em menos de 12 horas. Entidades da sociedade civil também divulgaram notas de repúdio, entre elas a Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Vale conferir a nota: 


ABI repudia processo de Arthur Lira contra ICL Notícias 

A Associação Brasileira de Imprensa repudia com veemência a atitude do presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira, que deveria ser o primeiro a dar o exemplo de zelar pelo respeito à Constituição brasileira, de entrar com uma ação na 24ª Vara Cível de Brasília para remover do YouTube os vídeos do programa ICL Notícias, que contêm reportagens, entrevistas e comentários críticos contra ele. 

Com isso, ele tenta calar a imprensa, na defesa de seus interesses pessoais e privados. 

Como político experiente, Lira sabe que a Liberdade de Imprensa é pedra fundamental do Estado Democrático de Direito. 

Não será calando jornalistas e órgãos de imprensa que ele conseguirá melhorar a sua imagem pública. 

Mais escandaloso ainda é saber que ao deputado foi aberto espaço para exercer a sua defesa, atitude que ele acabou desprezando. 

Ao propor uma ação de indenização no valor de R$ 300 mil contra o ICL Notícias, Lira tenta inviabilizar economicamente um órgão de comunicação, caracterizando uma verdadeira intimidação não apenas ao seu alvo direto, mas a todos os demais meios de comunicação. 

Da mesma forma que condena a iniciativa do presidente de uma das casas legislativas da nossa República, a ABI congratula-se com o Judiciário por ter rejeitado a censura pedida pelo parlamentar, fazendo valer o direito constitucional do povo brasileiro de ter acesso a todas as informações necessárias para que cada eleitor possa depois fazer seu juízo de valores. 

Liberdade de informação sempre! Censura nunca mais.

 

Lira age como coronel contra o ICL Notícias

 
 
25
Jun23

Nota de solidariedade às deputadas federais perseguidas por rechaçar o Marco Temporal

Talis Andrade

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Seis parlamentares enfrentam perseguição machista após se posicionarem contra o Marco Temporal. Misoginia de Arthur Lira e do PL Mulher de Michelle Bolsonaro

 

O SINASEFE registra irrestrita solidariedade às deputadas federais Célia Xakriabá (PSOL-MG), Érika Kokay (PT-DF), Fernanda Melchionna (PSOL-RS), Juliana Cardoso (PT-SP), Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Talíria Petrone (PSOL-RJ). As seis parlamentares enfrentam perseguição machista após se posicionarem contra o Marco Temporal.

O Partido Liberal (PL), partido de Bolsonaro, presidido por Michelle Bolsonaro, apresentou uma representação ao Conselho de Ética da Câmara, atacando simultaneamente as deputadas combativas.

A representação contra as deputadas federais choca, pois foi aceita em 24h após o pedido do partido de oposição. A argumentação da extrema direita é de que as parlamentares ofenderam o deputado Zé Trovão (PL-SC) durante a votação do catastrófico Marco Temporal, que ocorreu na semana passada, e foi aprovado por 283 votos a favor e 155 contrários. O Projeto de Lei (PL nº 490/07) restringe a demarcação de terras indígenas, exigindo a comprovação de que aqueles povos indígenas já habitavam o local para demarcação antes de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição federal atual.

O SINASEFE se solidariza com as companheiras parlamentares, denunciando a sanha machista e misógina do PL. É inaceitável que em pleno ano de 2023 o machismo e a violência política de gênero ainda se manifestem desta maneira no legislativo brasileiro.

Seguimos e seguiremos ostensivamente em defesa dos mandatos populares das mulheres de luta. Estas companheiras são mulheres trabalhadoras (que apoiam o movimento popular, o movimento sindical, o MST e o MTST) e por isso são perseguidas por homens misóginos ligados ao latifúndio e ao agronegócio da morte.

Basta de machismo e violência de gênero!

Direção Nacional do SINASEFE

Clique aqui e confira a nota acima no timbre oficial do SINASEFE.

Petição

As parlamentares organizam uma petição virtual de apoio aos seus mandatos. “Nos ajude a derrotar esse ataque e dar um recado à eles, ASSINE E APOIE A MOBILIZAÇÃO em defesa de nossas lutas e contra os golpistas. Seguiremos firmes, juntas e venceremos” explicam.

Fonte: SINASEFE.

O Conselho de Ética da Câmara instaurou no dia 14 de junho processos para apurar a conduta das deputadas Célia Xakriabá (Psol-MG), Sâmia Bomfim (Psol-SP), Talíria Petrone (Psol-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Fernanda Melchionna (Psol-RS) e Juliana Cardoso (PT-SP). Todas as representações foram apresentadas pelo PL presidido por Michelle Bolsonaro. O partido diz que as deputadas quebraram o decoro parlamentar durante a votação do projeto do marco temporal de terras indígenas (PL 490/07) no Plenário da Câmara no fim de maio.

O processo foi aceito por Arthur Lira, que foi alvo de críticas

21
Jun23

O “partido de Lira”

Talis Andrade

O fim das funções públicas do Estado para transformá-lo numa máquina pura de acumulação privada

 

por Tarso Genro

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A “naturalidade” das nossas alianças é uma conquista importante. Processada num momento de extrema dramaticidade, em que a conspiração golpista corria solta, estas alianças se equilibravam no “fio de uma navalha”. Navalha difícil de ser sentida em sua largura e tendo, em cada lado, um enorme precipício onde os demônios do fascismo e do conservadorismo, sob a batuta do ultraliberalismo com dentes de ouro, cortejavam (e ainda cortejam) a garganta da nação.

O que é ele? Em poucas palavras: fim das funções públicas do Estado para transformá-lo numa máquina pura de acumulação privada, alinhamento com o fascismo emergente nos países mais desenvolvidos e redução dos excluídos, pobres, assalariados de todo os tipos, em zumbis da precariedade, da informalidade ou da simples miséria absoluta.

Essa naturalidade das alianças para “sobreviver” não pode ficar sujeita às leis da natureza, ou seja, ser só aquilo que é permitido pela realidade material e moral da sociedade – como se fosse uma segunda natureza – porque a política democrática não é natureza, mas subjetividade elaborada, um ardil da inteligência dos humanos para construção de sociabilidades adequadas ao convívio entre cidadãos que não desistem de ser iguais.

Digamos que, quanto ao sistema de alianças, temos duas forças em confronto: de um lado, o “partido de Lira” e seus aliados, a maioria deles originários do bolsonarismo orçamentário e, de outro, um conjunto de forças democráticas – mais ou menos conservadoras – que querem um programa mínimo de afirmação da democracia da Carta de 1988.

Se a direção política do governo, dentro ou fora do Planalto, não colocarem uma trava no “partido de Lira”, com uma estratégia delimitada no tempo e não tiver capacidade de explicar à sociedade qual rumo que está sendo buscado, ficaremos subordinados a um “estado de natureza”, ou seja, não criaremos uma “frequência”, para sermos ouvidos e assim ampliarmos as alianças para a base da sociedade, com a dignidade que a política merece.

De uma postagem no Twiter: “com seu canto único” emitido em frequência dupla, a baleia encontrada em 1992 é vigiada até hoje por biólogos poetas e cientistas do som. E ela vaga na infindável saga do oceano chamando por companhia, sem respostas e sem acolhimento: ninguém da espécie se acomoda no seu afeto animal da frequência de 52 hertz. Sua voz é única e dona de um pranto ignorado: não tem família natural e nunca teve um acasalamento, “mas ela segue chamando” – rejeitada tanto nos porões das águas como no vasto céu líquido da espuma luminosa do oceano.

Hannah Arendt poetisa – eu também não sabia! – nos seus curtos versos “Parque junto ao Rio Hudson”, escreveu: “Pescadores pescando em silêncio nos rios do mundo inteiro, condutores conduzindo às cegas por caminhos ao redor do mundo inteiro”. Confesso que vi, na postagem do Twitter e no poema de Hannah, as definições da poesia criada pelos sentidos da solidão inesgotável. Na tragédia que de novo atravessa o mundo, acossado por uma guerra já infindável – dentro e fora de cada indivíduo – nesta época de maneira inovadora e especial, a crise coletiva da solidão em rede já sufoca as utopias.

Quando um homem quer romper com uma solidão que julga especial e pensa, vaidosamente em ser o único, ele pode tornar-se a metáfora de uma cidade na sua geografia de classes. E então partir-se em dois. Um dia, talvez, terá que escolher o seu destino, como fez Freddie Drummond, no conto de Jack London Ao sul da Fenda, naquela parte mais antiga de São Francisco da Califórnia.

Conta Jack London no seu memorável relato que “ao norte da Fenda ficavam os teatros, os hotéis, os grandes armazéns, os bancos e as sólidas casas de negócio. Ao Sul, amontoavam-se as fábricas, as vielas, as lavanderias, as oficinas, as caldeiras de aquecimento e os casebres dos operários”. Freddie Drummond, que “vivia nos dois mundos” e nos dois lados da Fenda “se dava muito bem, tanto num, quanto noutro.”

A vida ambígua do personagem de Jack London, dias de estudo e de escritas intelectuais sobre economia e produção, ao sul da Fenda, como sociólogo e pesquisador dos rompantes de progresso no sonho americano e depois, ao norte da Fenda, convivendo e celebrando a vida com o proletariado lutador e heroico, numa revolução supostamente em processo. Tudo isso pode representar muito o dilema moral e político dos partidos comprometidos com a democracia que não desistiram do socialismo.

Por quê? A vacuidade das nossas conquistas imediatas ainda pode se tornar promessa de forjar uma nova Humanidade, ou esta já chegou ao seu limite quase absoluto, com a mercantilização total da vida, já que os humanos – transformados em objetos do mercado – não mais escolhem a mercadoria, mas são escolhidos por elas, capturados nas suas emoções mais elementares? Suas frustrações viram depressão, subsunção na lógica do capital, que transforma os corpos em animais solitários sem frequência, ou em pescadores e condutores, repetindo os mesmos movimentos, sem opção e sem prazer de viver.

Aproximo-me da conjuntura ou do período histórico em que vivo, através do tema da solidão, porque penso estarmos vivendo época na qual cresce um tipo de indivíduo pretensamente cheio de alternativas, pretensamente livre, pretensamente pacificado na sua individualidade exposta e, ao mesmo tempo, sofrido na sua clandestinidade sórdida – na qual nada está seguro – e assim vê que tudo se dissolve e se descarta, tanto pessoas como mercadorias: sociedade de “somas zero” que não se comunicam, mas que apenas aumentam a sua quantidade de “sozinhos”.

E passo a recordar um pouco de Mario Benedetti, pois lembro já dos seus Andaimes, com uma síntese: – “aí está o risco me parece – diz ele – há seguros de vida, seguros contra incêndio, seguros contra roubos. Mas em política, e muito menos na revolução, não há seguro contra a derrota. Não obstante, há uma dignidade que o vencedor não pode alcançar”. E depois acrescenta: “Apreendemos muito pouco com a direita, mas a direita – por sua vez – aprendeu sim algo com a esquerda”. Por exemplo – “que as massas populares existem, antes simplesmente as apagaram do mapa ideológico. Só valiam como objeto da exploração. Agora, ao contrário, valem ademais como objeto de consumo. E como consumidores, o que não é pouco”. A época atual vai sumir, pela guerra, pelo fim dos tempos ou pela superação dos humanos sobre a mercadoria que hoje os controla.

Numa conversa gravada com Pepe Mujica, que brevemente circulará num documentário que nos faz refletir sobre o fim de época que vivemos – que é sempre um outro recomeçar – ele diz três verdades muito simples, faladas por um homem que ficou mais de 12 anos num calabouço, como refém de um ditadura militar, que hoje adquirem um valor muito especial: (i) a direita se unifica por interesses materiais e concretos e a esquerda se divide pelos seus projetos políticos de generosidade; (ii) nossos pactos frentistas devem ter no máximo cinco anos e devem ser renovados, para que possam funcionar e serem instrumentos da democracia política permanente; e (iii) a democracia política que aí está não é a última forma democrática da humanidade moderna, apenas mais uma delas.

 

18
Jun23

Deputadocracia achaca governo para saquear a República

Talis Andrade
 
 
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Quem decretou a morte do presidencialismo de coalizão foi o deputadocrata Arthur Lira/PP, o chefe da Deputadocracia

 

por Jeferson Miola

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O presidencialismo de coalizão, conceito criado por Sérgio Abranches no final dos anos 1980, já pode ser considerado como “um rio que passou em nossas vidas”, como diz a canção do Paulinho da Viola.

Aquele sistema, por mais questionável que fosse do ponto de vista ético, moral e republicano, pelo menos tinha como premissas a lealdade e a reciprocidade políticas. Tinha, também, uma lógica racional e, por isso, certa previsibilidade.

No presidencialismo de coalizão, o/a presidente eleito/a entregava ministérios a políticos aderentes e, em troca, partidos adversários, ou até mesmo antagônicos, retribuíam com votos para aprovar no Congresso o programa eleito e os projetos de interesse do governo.

Mesmo com sua corrupção intrínseca, o “negócio” tinha funcionalidade e fluía razoavelmente. Isso, no entanto, morreu; não existe mais.

No lugar do finado presidencialismo de coalizão, porém, não voltou a vigorar o sistema presidencialista “original” previsto na Constituição. Tampouco foi adotado o semipresidencialismo. E, menos ainda, o parlamentarismo.

Hoje, o sistema de fato vigente no Brasil é o sistema deputadocrático baseado na extorsão, na chantagem e no achaque.

Esse sistema viola a Constituição, pois usurpa poderes, competências e prerrogativas privativas do Poder Executivo, e sabota a soberania popular, pois impede o governo legitimamente eleito de governar com o programa escolhido nas urnas.

No sistema deputadocrático os deputadocratas sequestram o orçamento da União, os fundos públicos, a administração dos negócios de Estado e as políticas públicas.

Quem decretou a morte do presidencialismo de coalizão foi o deputadocrata Arthur Lira/PP, o chefe da Deputadocracia.

Em março passado, Lira sentenciou que “um governo de coalizão [o presidencialismo de coalizão], com troca de ministérios por apoios, está comprovado que não vai dar certo”.

Na visão dele, “as emendas resolvem isto sem ser necessário um ministério”. A “isto”, Lira está se referindo à estabilidade política, à governabilidade tutelada e, óbvio, à própria sobrevivência do governo Lula – seja da ameaça de morte por impeachment ou por asfixia.

Os deputadocratas são totalmente viciados no orçamento secreto. Eles não conseguem viver sem as emendas parlamentares que manuseiam sem controle público e nenhuma transparência.

Quanto mais consomem verbas públicas de modo corrupto através de emendas parlamentares nas paróquias eleitorais, mais precisam da droga viciante.

No sistema deputadocrático, não importa quem é eleito para a presidência da República e qual programa foi escolhido nas urnas, porque os deputadocratas entendem que são eles, e não o presidente eleito, que devem conduzir o país – sempre, claro, na direção do atraso, do conservadorismo, da preservação das desigualdades, das injustiças sociais e do roubo continuado da riqueza e da renda nacional.

Na votação da Medida Provisória de organização dos ministérios [MP 1154], Lira chantageou derrotar o governo caso o presidente Lula não entrasse de cabeça na articulação política.

O líder chantagista da Deputadocracia disse que “hoje o governo tem contado com a boa vontade [sic] desses partidos que estão votando republicanamente” [sic] para aprovar a MP, mas ameaçou que “esse combustível está acabando”.

Depois, porém, que Lula passou a se envolver diretamente na articulação com as bancadas e partidos, Lira fez o governo saber, por meio de Elmar Nascimento/União Brasil, um dos seus deputadocratas favoritos, que “não há hipótese de apoiarmos formalmente o governo se o presidente Arthur Lira estiver fora da base governista”.

Elmar Nascimento explicou que para o extorsionário Lira aderir à base do governo, seria necessário “um convite formal do presidente Lula”. E complementou: “A partir desse convite, Lula e Lira negociariam os termos do acordo”! Sublinhe-se “os termos do acordo”.

Ou seja, agora Lira exige nada menos que ser sócio forçado do governo “inimigo”, aquele contra o qual ele participou ativa e militantemente da guerra fascista-militar para derrotar na eleição. E a ambição do novo sócio não é trivial: ele quer nada menos que o Ministério da Saúde, com seu orçamento de R$ 180 bilhões capilarizados nos 5.568 municípios brasileiros.

Do mesmo modo que faz o sabotador bolsonarista Roberto Campos Neto no Banco Central, Lira não tira a faca do pescoço do governo Lula. Ele e sua matilha não cessam a guerra contra o resultado da eleição porque querem manter o controle que conquistaram durante o governo fascista-militar sobre o orçamento e os fundos públicos; querem liberdade total para continuar saqueando cada vez mais o país.

Sem correlação de forças no Congresso para se contrapor à Deputadocracia que achaca o governo para saquear a República, Lula está desafiado a construir uma governabilidade popular, ancorada em formas de democracia direta e plebiscitária, para garantir sua sustentação e poder materializar o programa de governo eleito em 30 de outubro.

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