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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

04
Nov23

Cineastas argentinos falam em democracia e respondem a Milei: ‘nunca más’

Talis Andrade

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Rede Brasil Atual - "Cinema e democracia" é o tema da 38ª edição do Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, na Argentina, aberto nesta quinta-feira (2) e que será realizado até o próximo dia 12. O slogan faz referência aos 40 anos seguidos de regime democrático no país, após a última ditadura (1976-1983). E o clima político esteve mais que presente no início do festival, na Sala Astor Piazzolla do Teatro Auditorium. Estava lá, por exemplo, o ministro da Economia, Sergio Massa, candidato a presidente da Argentina. E também, entre vários outros, o presidente do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (Incaa), Nicolás Battle. O Incaa está na mira do outro candidato, o extremista de direita Javier Milei, que durante a campanha disse que irá fechar o instituto.

Isso provocou resposta dos cineastas, que se manifestaram na abertura do evento. Também foi divulgado um vídeo com vários cenas de filmes, em defesa da arte argentina. No final, uma cena de Argentina, 1985, em que o ator Ricardo Darín cita a frase “Nunca más” para se referir à ditadura. O longa trata da condenação de militares. (Assista o vídeo aqui.) O segundo turno entre Massa e Milei será realizado no próximo dia 19.

Quarenta anos sem censura

“Para mim, é muito importante estar em um dos pilares da construção da identidade cultural argentina, a indústria cinematográfica”, afirmou Massa. “O festival, que representa a principal ponte entre nossa cultura fílmica e o mundo, é de todos e todas, e o fazemos em conjunto, articulando esforços. Esta edição está dedicada aos 40 anos de democracia ininterrupta: 40 anos de cinema sem censura”, acrescentou Batlle.

O festival de Mar del Plata é organizado pelo Incaa e pelo Ministério da Cultura, com apoio de outras entidades. O filme de abertura foi Hombre de la esquina rosada (1962), de René Mugica, baseado em conto de Jorge Luis Borges e com versão restaurada. A programação completa pode ser vista por meio deste link: www.mardelplatafilmfest.com.

27
Ago23

O avanço inesperado de Milei e o esvaziamento da vida política

Talis Andrade

por Camila Koenigstein

O fenômeno que marca o avanço dos partidos de ultradireita em diversos países chegou à Argentina. Embora exista uma tendência a vinculá-lo à crise econômica que o país atravessa há décadas – intensificada nos últimos anos com a polarização entre macrismo e kirchinerismo (la grieta), que gerou um cenário de forte hostilidade política entre grupos de oposição –, não podemos deixar de pensar que tal momento é reflexo de um movimento que vem ganhando força em diversas partes do globo, o que insere o país em um contexto mais amplo de mudanças políticas, sociais e no âmbito das mentalidades.

A precarização da vida laboral, a frustração do corpo social, o rechaço dos jovens ao cenário político atual e as desilusões oriundas da pobreza que hoje assola 39,2% da população possibilitaram o surgimento de novas subjetividades que formaram um caldo de cultivo de ideias que para muitos pertenciam ao passado.

Os mais jovens identificam em Milei a rebeldia que quase sempre está presente na juventude, porém, diferentemente de outros momentos, esse setor fez emergir um forte antipopulismo, e o próprio conceito de democracia e liberdade foi interpretado como o reino da individualidade plena, ou seja, o neoliberalismo na sua maior expressão.

No entanto, como afirma Hannah Arendt, em O que é política?:

Caso ocorra a abolição do político, obteríamos uma forma despótica de dominação ampliada e até monstruosa, surgindo um abismo entre dominadores e dominados que não possibilitaria sequer rebeliões, muito menos que dominados controlassem de alguma maneira dominadores. A dominação burocrática, a dominação através do anonimato das oficinas não é menos déspota porque ninguém a exerce. Ao contrário, é ainda mais temível, pois não há ninguém que possa falar com este ninguém nem protestar ante ele.

A postura absoluta contra o Estado defendida por Javier Milei mostra uma face déspota, que é facilmente manipulada através de frases de efeito e gritos de liberdade. Mas a ausência do Estado como mediador das relações de poder expõe os mais frágeis a uma situação de extrema vulnerabilidade. Os cortes em programas sociais, as alterações nas leis trabalhistas e sua defesa do minarquismo colocam em jogo tudo o que foi construído em termos de direitos humanos até o presente momento no país.

Assim como ocorreu no Brasil e alguns países europeus, a Argentina se depara agora com a ascensão de um candidato que desde 2016 vem construindo um discurso antissistêmico e hipercapitalista, muitas vezes de difícil compreensão pela falta de coerência, mas que encontrou no corpo social ressonância.

Muito mais do que a personificação do cansaço social, Javier Milei encarna a figura do pai que resolverá tudo utilizando o autoritarismo autorizado pelos seus eleitores. Esse pai que organiza tudo também tira dos indivíduos suas responsabilidades, afinal o pai cuida, protege, age conforme seus valores e desejos sem consultar os filhos.

A premissa kantiana que anunciava que o estado de dependência oriunda da menoridade (falta de esclarecimento e racionalidade) gera de alguma forma uma satisfação no sujeito, já que ele não faz uso de conceitos éticos para decidir o curso dos problemas sociais, expõe a falta de contato dos jovens com o passado e com os temas vinculados à vida política, uma característica importante quando observamos o esvaziamento da vida social e política na atualidade.

O discurso de Milei desperta certo “comodismo” ao culpabilizar os que dependem de ajuda social pela situação do país hoje, assim como todos os que compõem o quadro político atual. Os bodes expiatórios servem como justificativa rápida para problemas complexos, um mecanismo exitoso quando pensamos na manipulação das massas. Nesse sentido, também podemos utilizar Kant e seu livro Sobre a paz perpétua para entendermos a importância das leis e da moral como condutores da vida em sociedade. Para o autor, não é a economia que deve direcionar a sociedade, já que ela não faz parte da razão. Parafraseando Byung-Chul Han em Capitalismo e impulso de morte, a política teria que se submeter de novo à moralidade e seus valores, tais como a solidariedade, a justiça e a dignidade humana. Para tanto seria necessário frear o “poder do dinheiro” e a hegemonia do capital. Longe desses princípios, vemos a ascensão da irracionalidade de um homem que defende a venda de órgãos como uma prática a ser normalizada, uma mera transação comercial, usando o conceito de liberdade individual de forma rasa, negando o valor da ética e da moral na política, exaltando o capital e a individualidade como as únicas saídas para a crise instalada na sociedade argentina.

27
Ago23

Javier Milei: o poder e a prisão do cringe

Talis Andrade
 
Reprodução/Redes SociaisJavier Milei (E) e Eduardo Bolsonaro, reprodução/redes sociais, fazendo arminha com os dedos, imitando Jair Bolsonaro na campanha eleitoral da extrema direita armada

 

Renato Duarte Caetano

Cult

Cringe talvez seja um dos termos mais adequados para descrever o sentimento de quem assiste às performances do vencedor das primárias argentinas Javier Milei. É impossível não contorcer em total constrangimento ao ver o candidato com maiores chances de virar presidente da Argentina comportando-se de maneira tão desavergonhadamente ridícula.

Como se não bastasse exibir com orgulho um penteado mais caótico do que qualquer moda adolescente dos anos 2000, Milei também ostenta fantasias cosplay de Deus Imperador Ancap e se gaba de ser frequentador assíduo de orgias assim como instrutor de sexo tântrico. Isso sem falar de seus óculos propositalmente tortos e sua pose oficial, cujo olhar é tão intenso que cria uma mistura bizarra de pseudo-serial killer com esoterismo à la Shanti Ananda de Ligue Djá.

Tudo na estética de Milei aponta para o cringe, o ordinário e o grotesco. Todavia, ao contrário do que pensaríamos, é justamente no cringe que se encontra a maior parte de seu poder, de seu apelo e de sua popularidade.

Para os que não estão a par da expressão, cringe é a palavra da moda para descrever o profundo desconforto que sentimos quando vemos alguém se constranger ou se ridicularizar em público. Geralmente o sentimento é ainda mais intenso quando a situação de embaraço envolve uma tentativa objetivamente falha de projetar poder ou carisma.

Para dar um exemplo, é um pouco daquilo que sentimos quando víamos os vídeos do então à época candidato Bolsonaro, fazendo flexões fajutas e desengonçadas em público. Para que o cringe emerja corretamente, todavia, é preciso que o espectador não se identifique com o protagonista da cena. Caso haja qualquer tipo de reconhecimento subjetivo, o sentimento de constrangimento é substituído por afetos de empatia, simpatia e admiração. Um pouco do que aconteceu quando muitos brasileiros se enxergaram na participante Juliette durante a edição do BBB de 2021: quanto mais Juliette era subjugada pelos outros participantes, mais sucesso ela fazia com o público.

Ou seja, há um cálculo muito sensível e complicado no balanceamento entre identificação e desidentificação. Dominar essa matemática, porém, se tornou uma das formas mais eficazes de acelerar o próprio carro na corrida pela popularidade nacional. E não há dúvida de que nessa maratona, os políticos de extrema direita vêm alcançando velocidades nunca antes vistas.

Javier Milei, como sabemos, não é um produto exclusivo argentino, ele é mais um político que adentra o clã das paródias populistas de extrema direita. É preciso compreender também como grande parte do sucesso desses populistas está diretamente relacionado ao fato de que vivemos num contexto social cuja tolerância por hierarquias sociais vem diminuindo exponencialmente.

Há uma tendência generalizada pela valorização da horizontalidade, da desierarquização e da democratização da participação e do poder. Sustentar o peso do lugar de autoridade simbólica nunca foi tão custoso. E isso faz com que se apresentar como uma pessoa digna de ocupar o lugar da presidência seja uma tarefa praticamente impossível. Enxovalhar os diversos locus de poder, incluindo a presidência, aparece então como um atalho mais curto. Avacalhar a seriedade dos ritos, dos elementos simbólicos e de tudo que reveste a política de uma aura transcendental tornou-se uma resposta mais barata para o problema da tensão contemporânea entre sociedade, indivíduos e autoridades.

Dessa maneira, quando Milei dança ao som de “Bomba tântrica”, assim como quando realiza qualquer de suas outras palhaçadas, ele performa uma subversão do status quo que não se dá através de um uso do poder simbólico, mas de sua desconcatenação pela via da estética do ridículo. O mau gosto se torna tanto uma arma a ser usada contra as elites e contra seus adversários políticos, quanto um escudo para se proteger da percepção pública de que o próprio Milei faz parte da elite.

Ao permitir que seus eleitores riam com e dele, o candidato faz com que seus seguidores acessem um lugar de poder que só existe através da ridicularização do próprio. O prazer de debochar das autoridades, das elites das hierarquias, é o que sobra em uma sociedade na qual a mobilidade social e a melhoria material da qualidade de vida parecem simplesmente impossíveis.

O perigo de populistas como Milei não está, assim, apenas em suas políticas econômicas desastrosas, em seu desmonte do Estado e em seus ataques às conquistas de direitos sociais. A ameaça está presente também na difusão de uma fantasia predadora que afirma que hoje em dia só é possível rir da política, sendo considerada ingênua e alienada qualquer atitude que visa tentar levá-la a sério. Ridiculariza-se aquilo que, acredita-se, seja impossível de transformar. É certo que o riso, principalmente aquele advindo da paródia, serviu como ferramenta de emancipação política para muitos grupos historicamente oprimidos e marginalizados; o mais claro exemplo disso é a comunidade queer. Todavia é importante compreender que o prazer derivado do poder que emana do riso da paródia também pode funcionar como um poderosíssimo anestésico.

Um povo que ri de seu aprisionamento pode se tornar demasiadamente afeiçoado à sua condição de subjugamento, correndo o risco de lutar para defender sua própria submissão. Não argumento pela posição de que não deveríamos rir de políticos como Milei. É de suma importância que sejamos capazes de ridicularizá-lo. O importante aqui é compreender que é necessário levar a sério uma certa desidentificação social com a figura do underdog e do perdedor. Para vislumbrar um horizonte no qual o povo não é submisso a figuras abjetas. É preciso voltar a imaginar e principalmente sonhar com a vitória.

26
Ago23

O Brasil de 2023 precisa se tornar a Argentina de 1985. Aqui, pizza, de novo, não!

Talis Andrade

À esquerda, tempos de glória e poder do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid. À direita, cena dos militares no banco dos réus, durante julgamento, no filme Argentina 1985; Foto: Alan Santos/PR Jair divulgação do documentário

 

No quesito julgamento e prisão de golpistas, o Brasil está atrasado quase três décadas

 

por Ângela Carrato

As revelações do hacker Walter Delgatti à CPMI dos atos golpistas aproximaram ainda mais o ex-presidente Jair Bolsonaro do banco dos réus e da prisão.

Delgatti, que possui em seu currículo ter invadido trocas de mensagens entre o ex-procurador federal Deltan Dallagnol e membros da Operação Lava Jato, deixando a nu ilegalidades e sujeiras cometidas por esta turma, contou que antes das eleições teve encontro com o próprio Bolsonaro e que, por determinação dele, se encontrou também com a cúpula das Forças Armadas.

As reuniões aconteceram no Palácio da Alvorada e no Ministério da Defesa e o objetivo era que desmoralizasse as urnas eletrônicas a fim de impedir que as eleições acontecessem.

O encontro de Delgatti com Bolsonaro foi articulado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP) que, apavorada, horas antes do depoimento do hacker, internou-se num hospital “para tratar de diverticulite”.

Já a senadora bolsonarista Damares Alves (Republicanos-DF) ameaçou Delgatti durante o depoimento na CPMI. Muito nervosa, dirigiu-se a ele dizendo que “a vida dá volta e é a tua vida que está em risco”, numa típica fala miliciana.

Se os depoimentos de Delgatti (dois na Polícia Federal e um na CPMI) foram uma bomba para Bolsonaro, seus dissabores nos últimos dias não pararam aí.

A cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal foi presa na última sexta-feira, por deixar de agir para impedir os atos golpistas de 8 de janeiro, devido ao alinhamento ideológico com Bolsonaro.

Também na sexta-feira, a revista Veja divulgou entrevista com o advogado Cezar Bitencourt, que representa o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

Nela, é dito que o militar entregou para Bolsonaro ou para a ex-primeira-dama Michelle, dinheiro referente à venda de um relógio rolex, avaliado em cerca de R$ 253 mil. O relógio é uma das joias que Bolsonaro tentou se apropriar, uma vez que a legislação brasileira é clara sobre o assunto.

Mauro Cid está preso preventivamente em função das falsificações no cartão de vacina do ex-chefe e de sua filha. Desde então ele vinha se mantendo em silêncio, mas, de acordo com seu advogado, agora estaria disposto a falar.

Um ajudante de ordens é simplesmente a memória do que fez aquele para qual prestava serviços. No caso de Cid, a proximidade com Bolsonaro era tamanha, que ele o tratava por “tio”.

Receber indevidamente parte do salário de funcionários (as “rachadinhas”), falsificar cartões de vacinação, negligência durante a pandemia, apropriação indébita de objetos que pertencem ao Estado brasileiro são algumas das acusações que Bolsonaro já enfrenta. Mas nenhuma delas está tão perto de levá-lo ao banco dos réus como as revelações de Delgatti.

Seria difícil até para roteiristas de cinema imaginar crimes com tamanha magnitude.

 

 


Depois das revelações, Bolsonaro e sua turma ficaram sem voz, possivelmente perplexos com o que julgavam que nunca chegaria ao conhecimento público.

Em seguida, o ex-presidente se fez de vítima e até chorou em encontro com apoiadores. Na sequência vieram os desmentidos de praxe e novas ameaças.

Para provar o que disse, Delgatti deu detalhes minuciosos dos encontros e também dos locais onde foram realizados. Disse ainda que para convencê-lo de que poderia atuar sem riscos, Bolsonaro garantiu-lhe que se algum juiz o prendesse, ele prenderia o juiz, numa referência implícita ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, responsável pelo processo das Fake News.

Possivelmente pressionado pelos bolsonaristas, o advogado de Mauro Cid tentou um recuo, acusando a revista Veja de ter distorcido suas declarações. Desde então, vem mudando a versão a cada nova entrevista, especialmente depois que Bolsonaro mandou uma espécie de recado cifrado para Mauro Cid.

Ao definir o comportamento do ex-ajudante de ordens como “kamicaze”, parece ter embutido aí uma ameaça. Um kamicase é aquele que para atingir o alvo também morre.

A etapa seguinte nas investigações cabe à Polícia Federal, que deverá checar tudo o que foi denunciado por Delgatti. Uma vez comprovadas as acusações, o que não parece difícil, o caminho é colocar Bolsonaro e todos os militares e civis que participaram da tentativa de golpe em 8 de janeiro no banco dos réus. (continua)

25
Ago23

BRICS-Plus, a incontornável nova ordem mundial

Talis Andrade
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e presidentes dos países amigos do BRICS, posam para foto oficial após a reunião do grupo, no Sandton Convention Centre. Joanesburgo – África do Sul.
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e presidentes dos países amigos do BRICS, posam para foto oficial após a reunião do grupo, no Sandton Convention Centre. Joanesburgo – África do Sul. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

 

por Carol Proner

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O BRICS ampliado tornou-se realidade. Dos mais de 40 pedidos de ingresso em diferentes níveis de formalização, foram admitidos seis novos membros com mandato a partir de 2024. Com Arabia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Argentina, o grupo de 11 países representará 36% do PIB mundial em paridade de compra e 46% da população do planeta, tornando-se o arranjo econômico mais impactante em produção de petróleo, gás natural e alimentos.

É destaque na imprensa de todo o mundo que o BRICS segue aberto a novas candidaturas desde que sejam cumpridos requisitos de admissibilidade aprovados nesta 15ª Cúpula realizada na África do Sul. Contrariando fortes interesses do mundo unipolar, o Bloco criado em 2011 aparece como resposta aos fracassos e falhas constatadas nas organizações multilaterais de comércio e de finanças associadas ao sistema ONU e sequestradas pelas amarras da dolarização e das sanções econômicas coercitivas unilaterais.  

O Brics é, portanto, uma realidade tendencialmente expansiva e, com a mediação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), certamente vai acelerar o surgimento de uma nova arquitetura financeira mundial.

Não surpreende que a imprensa hegemônica no Brasil noticie a expansão do Bloco com os habituais clichês e preconceitos alinhados ao “atlantismo” ou ao imperialismo. Para entender a importância do que está por vir, é preciso diversificar as fontes de informação. Como ponto de partida, vale ouvir os pronunciamentos dos líderes para entender que o que se pretende tem a ver com a sobrevivência de países em desenvolvimento diante da constatação de que estão em franco encolhimento econômico, social e humano.

Para usar uma régua de medida da própria ONU, dos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) rumo a 2030, metade estão atrasados e a outra metade sofre estagnação ou retrocesso. Esse foi o argumento de Lula no encerramento da Cúpula em Joanesburgo e ele tem absoluta razão. De fato, os medidores de direitos humanos e de democracia regridem de forma generalizada em todo o mundo. Os extremismos e a violência explodem em diversos lugares e mais uma vez estamos sob ameaça de uma guerra nuclear.

De modo geral, a ONU nunca esteve tão questionada quanto aos seus objetivos e métodos de preservação da paz. O sistema de segurança, criado para evitar conflitos armados, já bastante desgastado pelo uso das falsas operações de intervenção humanitária, está atualmente inviabilizado pelo enfrentamento entre membros e pelas amarras de funcionamento que demandariam a refundação do mecanismo. Por outro lado, os propósitos organizativos e universais da Carta de São Francisco sucumbem diante da insistência de alguns em restaurar a lógica da guerra fria e da guerra contra o terror.

É inútil evitar o tema da instrumentalização dos organismos internacionais e suas estruturas financiadas por potências interessadas, castigando sociedades inteiras submetidas a sanções e bloqueios ilegais. Esta já seria uma razão suficiente para que diversos países procurassem outro sistema de organização que lhes fosse mais favorável, aliando emergência de paz à emergência climática.

Tem razão Lula quando diz que o combate à mudança do clima é uma oportunidade de repensar o modelo de financiamento, comércio e desenvolvimento. Tem mais razão ainda quando repete o que disse na Cúpula da Amazônia, realizada em Belém, que a transição energética não pode repetir a relação de exploração colonial.

Segundo a posição brasileira, o mundo precisa de soluções que diversifiquem e agreguem valor à produção econômica com responsabilidade social, ecológica e climática. E esse tema traz para o centro do debate o papel dos grandes produtores de petróleo e gás para viabilizar a inadiável transição energética.

Países em desenvolvimento com biomas florestais abundantes estão prontos para ensinar ao mundo desenvolvido formas sustentáveis de ampliar a produtividade agrícola, gerar renda e oferecer proteção social, e essa é a proposta que será desenvolvida a partir da gestão estratégica das bacias da Amazônia, do Congo e do Borneo-Mekong mencionadas no discurso brasileiro.

Como se vê, as críticas generalizadas à expansão do BRICS, além de distorcidas, perdem a chance de reconhecer o papel do Brasil na liderança internacional. A começar pela Presidência do Novo Banco de Desenvolvimento, a cargo de Dilma Rousseff, deveríamos ser capazes de reconhecer que, por onde passa, Lula e sua equipe contaminam de otimismo e esperança os fóruns e as agendas internacionais.

O Brasil vai assumir a presidência do G20 e já anuncia que vai recolocar a redução das desigualdades no centro da agenda internacional, bem como o tema dos bancos públicos e fundos públicos para o fortalecimento da democracia.

Tendo sido realizado na África, o encontro dos BRICS foi a oportunidade para o Brasil anunciar a retomada das parcerias com o Sul Global e os projetos com o continente africano e uma nova agenda de cooperação entre os países que têm vínculo histórico e raízes comuns.

É nesse sentido que a expansão do BRICS é inevitável e, apesar da diversidade política e cultural na gestão de direitos e da democracia nos diversos países e continentes, pode representar um ajuste inovador e de futuro diante de uma ordem internacional desgastada e em franco declínio.

29
Mai23

Zé Trovão, que já foi flagrado usando cocaína, pede aos EUA que invadam o Brasil para prender Maduro por narcotráfico

Talis Andrade

 

Que papelão do Zé Trovão
 
 

O deputado extremista, que enviou ofício à Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, precisa ser cassado e preso por trair o Brasil e tentar impedir reunião dos presidentes da América do Sul 

 

O deputado federal Zé Trovão enviou ofício à Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, nesta segunda-feira (29), no qual informa a presença do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em terras brasileiras, e pede informações sobre “quais medidas podem ser adotadas pelo governo americano para captura deste criminoso”.

De acordo com o Metrópoles, no ofício, Zé Trovão cita que o presidente venezuelano consta no site do Drug Enforcement Administration (DEA), como “procurado por autoridades norte-americanas, acusado pelo procurador-geral dos Estados Unidos, sr. Willian Barr, dos crimes de narcotráfico, terrorismo internacional e corrupção”. 

No entanto, “Trovão” omite que já teve experiências com a cocaína. O envolvimento dele com a droga veio à tona após uma foto que vazou nas redes. 

Zé Trovão esoera que o Brasil seja invadido pelas forças armadas do Tio Sam, e humilhados os  presidentes dos demais países da América do Sul, convidados por Lula para uma reunião amanhã no Palácio do Itamaraty, em Brasília.

Os chefes de Estado de Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Suriname e Uruguai confirmaram presença.

A única ausência em nível presidencial é o Peru, cuja presidente, Dina Boluarte, não poderá vir ao encontro em função impedimentos legais internos do país. O Peru vive uma grave crise política desde a destituição do agora ex-presidente Pedro Castillo, no fim do ano passado. Em seu lugar, virá o presidente do conselho de ministros do país, Alberto Otárola, uma espécie de primeiro-ministro. A Guiana Francesa não participa porque é um território ultramarino da França.

A reunião já havia sido anunciada no início do mês pelo governo. Um encontro desse porte não ocorre há, pelo menos, sete anos. “O principal objetivo desse encontro é retomar o diálogo com os países sul-americanos, que ficou muito truncado nos últimos anos, e é uma prioridade do governo Lula. Temos consciência que há diferença de visão e diferenças ideológicas entre os países, mas ele [Lula] quer reativar esse diálogo a partir de denominadores comuns com os países”, explicou a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores (MRE). Gisela conversou com a imprensa durante coletiva nesta sexta-feira (26), quando apresentou considerações gerais sobre a cúpula.

Embora o governo brasileiro evite apontar uma proposta específica, há a expectativa de que os presidentes discutam formas mais concretas de ampliar a integração, incluindo a possibilidade de criação ou reestruturação de um mecanismo sul-americano de cooperação, que reúna todas as nações da região. Atualmente, não existe nenhum bloco com essas características.

A União das Nações Sul-americanas (Unasul), criada em 2008, no segundo mandato do presidente Lula, foi se desintegrando ao longo do tempo, em meio a mudanças de governos em diversos países, e agora reúne apenas sete deles: Venezuela, Bolívia, Guiana, Suriname, Peru, além de Argentina e Brasil], que voltaram ao grupo recentemente. O Brasil também voltou a integrar a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) este ano, mas o bloco é mais amplo que as fronteiras sul-americanas.

“Como vocês sabem, nos últimos anos, houve uma espécie de fragmentação nessa concertação puramente sul-americana. O propósito dessa iniciativa é unir, de novo, a região com a totalidade de seus países”, enfatizou a embaixadora. Segundo ela, temas como saúde, mudanças climáticas, inflação alta e preço dos alimentos, volta da pobreza e da fome tornam ainda mais relevante uma ação mais coordenada entre os países da América do Sul.

"Retiro" informal

A metodologia da reunião prevê, em primeiro lugar, o encontro de pontos comuns a partir das posições presidenciais, bem como a condução de uma agenda que já poderia ser iniciada mais rapidamente. Nessa agenda está, por exemplo, o combate ao crime organizado, projetos de infraestrutura, meio ambiente e mudanças climáticas, entre outros. Por causa disso, o formato da cúpula será o menos protocolar possível.

O convite enviado aos países vizinhos chegou a falar em uma espécie de “retiro” de presidentes para aprofundar o diálogo. Serão duas sessões. Na manhã de terça, cada chefe de Estado fará um pronunciamento, com tema livre. Depois disso, eles almoçam. À tarde, eles retomam a conversa para um diálogo informal, “numa sessão de trabalho mais livre e descontraída”, segundo descreveu Gisela.

Os presidentes que permanecerem em Brasília na noite de terça participarão de um jantar oferecido por Lula no Palácio da Alvorada, residência oficial. Nem sequer uma declaração final do encontro está prevista, de acordo com o Ministério das Relações Exteriores.

O Palácio do Itamaraty ainda não confirmou as prováveis reuniões bilaterais que o presidente Lula terá com alguns dos seus homólogos presentes na cúpula, mas elas podem ocorrer já na segunda-feira (29), quando as delegações começam a chegar em Brasília.

24
Mar23

Bolívia completa um mês de uma corrida bancária e cambial que ameaça desestabilizar o país

Talis Andrade
 
 
 
5. Observe esta charge e explique o que é um "paraíso fiscal.​ -  Brainly.com.br
 
 
 
 

Pode acontecer no Brasil com a política herdada de Paulo Guedes e imposta por Roberto Campos Neto de juros nas alturas inclusive em proveito próprio. Os dois bolsonaristas são donos de empresas offshore jamais investigadas nos paraísos fiscais dos traficantes de moedas

Márcio Resende /RFI 

A ameaça de uma desvalorização do peso boliviano, com efeitos devastadores para o governo, levou milhares de pessoas a formar extensas filas diárias na tentativa de conseguir dólares. Enquanto isso, o ex-presidente Evo Morales e o atual presidente Luis Arce, antes aliados, entraram numa feroz briga política que gera ainda mais estresse financeiro.

Todos os dias, em frente ao Banco Central, em La Paz, forma-se uma extensa fila em torno de quatro quarteirões de pessoas em busca de dólares, um bem em falta no sistema bancário. Cerca de 200 pessoas serão contempladas com senhas. As demais deverão tentar a sorte no dia seguinte.

Diante da escassez de dólares nos bancos, o Banco Central resolveu canalizar todas as operações de venda da moeda norte-americana diretamente ao público. Outro banco, o estatal Unión, vende dólares nas demais cidades importantes do país como Cochabamba e Santa Cruz.

Se antes, quem desejasse comprava dólares sem requisitos, agora é preciso declarar a origem e o destino do dinheiro. Para quem quiser mais do que cinco mil dólares, a declaração juramentada é ainda mais rigorosa.

Sem fundos

No dia 24 de janeiro, as reservas do Banco Central de livre disponibilidade eram de US$ 620 milhões. Duas semanas depois, no dia 8 de fevereiro, esses US$ 620 milhões tinham caído 40%, para US$ 372 milhões. As reservas totais estavam em US$ 3,5 bilhões, mas em dinheiro vivo mesmo, só esses US$ 372 milhões.

Pela progressão matemática, esse dinheiro não duraria até o final do mês. Começava uma corrida bancária para retirar depósitos em dólares ou para comprar dólares antes que acabasse.

Quando o dinheiro acabou nas entidades financeiras, o Banco Central resolveu vender diretamente ao público, temeroso de uma desvalorização do peso boliviano.

Uma camisa-de-força de 11 anos

Na semana passada, uma cambista foi presa, quando vendia dólares por 7,40 pesos. Eram 44 centavos a mais do que a cotação oficial.

A moeda boliviana está numa camisa-de-força há mais de 11 anos. O governo congelou o valor do dólar em 6,96 pesos em 2 novembro de 2011, tornando o câmbio fixo, apesar de todas as mudanças na economia.

O fim dos altos preços das matérias-primas em 2014, a pandemia, as desvalorizações das moedas dos países vizinhos, a invasão russa na Ucrânia. Nada foi suficiente para o governo ousar tocar no valor do dólar.

“Até quando a situação pode aguentar? Essa é pergunta que nos fazemos”, explica à RFI o analista político boliviano, Raúl Peñaranda, para quem a governabilidade está associada à estabilidade do câmbio.

“Em algum momento, deve haver uma desvalorização. Se houver uma desvalorização, o governo acaba porque o boliviano vê no preço do dólar a estabilidade do país. É como um dique de contenção que puseram em 2011. Depois de tantos anos, esse dique pode se romper. Se se romper, a enxurrada vai levar o governo”, prevê Peñaranda.

Ponto crítico

Para o governo, a situação é transitória e os dólares vão aparecer assim que o país tornar efetivos os créditos de organismos multilaterais, aprovar uma lei que permita ao Estado comprar o ouro que hoje cooperativas e empresas chinesas exportam, deixando ínfimas regalias.

Enquanto isso, o governo conseguiu liberar US$ 540 milhões para a venda através de dois instrumentos financeiros: liberou por completo a necessidade de compulsórios sobre os depósitos em dólar, obtendo US$ 40 milhões, e monetizou os Direitos Especiais de Giro, a moeda transacional do FMI, obtendo outros US$ 300 milhões.

Para a economia boliviana, esses montantes permitem aguentar algumas semanas.

Os compulsórios bancários eram de 46,5% em 2019. Estavam em 10% em fevereiro. Agora estão, temporariamente, em zero. A medida era para durar 10 dias, até 6 de março, mas tem sido estendida, indicando que a falta de dólares continua.

Ao contrário da conversibilidade argentina de câmbio fixo que durou quase 11 anos até estourar em janeiro de 2002, na Bolívia a maioria dos depósitos bancários (86%) e dos créditos (99%) estão em moeda local. Caso contrário, como aconteceu na Argentina, o país estaria agora diante de restrições ao saque bancário.

“A corrida por dólares não é porque as pessoas precisem da moeda norte-americana para viver, mas porque desconfiam do governo. E a desconfiança vai perdurar no tempo”, indica à RFI o economista Carlos Toranzo, uma referência na Bolívia.

Desenlace anunciado

Assim como aconteceu com a Argentina entre 1991 e 2002, o câmbio fixo combinado com déficit fiscal implica alto custo para produzir e perda de competitividade.

Em junho de 2015, as reservas do Banco Central Boliviano (BCB) eram de US$ 14,7 bilhões . Hoje, são inferiores a US$ 3,5 bilhões. Desde 8 de fevereiro, o BCB não divulga quanto dinheiro tem em caixa, aumentando a desconfiança.

O modelo econômico implementado pelo ex-presidente Evo Morales e criado pelo seu ex-ministro da Economia e atual presidente Luis Arce baseia-se no gasto público como motor da economia.

Quando foi criado, o país surfava no “boom das commodities”, especialmente de petróleo e gás, tendo o Brasil e a Argentina como principais clientes.

O Estado inchou-se e, para evitar aumento de preços, passou a subsidiar combustíveis e alimentos, principalmente.

O “boom” acabou em 2014. O gasto público tornou-se déficit fiscal elevado (entre 7% e 10% todos os anos). A conta deficitária foi financiada com endividamento e com as reservas do Banco Central.

“O aumento das exportações que permitiu acumular reservas rapidamente não foi por aumento do volume, mas por efeito do preço das matérias primas. O boom acabou em 2014, mas os governos de Morales e de Arce continuaram a usar o investimento público como variável de ajuste. E como a mercadoria mais barata na Bolívia é o dólar, tem mais sentido importar qualquer coisa do que produzi-la internamente”, aponta Carlos Toranzo.

Situação vulnerável

A agência classificadora Fitch rebaixou a nota do país, destacando que “a contínua queda das reservas internacionais a níveis tão baixos tornou a situação vulnerável à falta de confiança que se materializou nas últimas semanas”.

O rebaixamento “reflete o esgotamento das reservas de liquidez externa que aumentou a incerteza no curto prazo e os riscos macroeconômicos”, indicou a Fitch, em referência ao risco de uma desvalorização.

Para o analista econômico Carlos Toranzo, o choque de confiança chama-se reduzir o déficit fiscal, um ponto que o governo não quer tocar por razões políticas.

“Um dos elementos para recuperar a confiança é um ajuste, mas um ajuste não está aprovado pelo governo porque estão em campanha eleitoral. A situação é claramente frágil”, adverte.

Segundo Toranzo, a campanha eleitoral para 2025 impede que Luis Arce desvalorize a moeda, aumente o preço dos combustíveis e diminua o aparelho da burocracia pública.

“A disputa política é tão feroz que nos podem levar ao abismo”, lamenta, sublinhando que “quando Evo Morales chegou ao poder em janeiro de 2006, o gasto público era de US$ 1,7 bilhão e que hoje chega a US$ 13 bilhões”.

O gás ao Brasil e à Argentina

A política econômica afugenta os investimentos privados. Sem investimento, a produção de gás não aumenta. Pelo contrário, diminui porque não são descobertos novos poços que substituam aqueles que acabam.

“O investimento direto externo há dois anos foi de US$ 400 milhões; no ano passado, US$ 200 milhões. Na verdade, estamos num processo de desinvestimento”, observa Carlos Toranzo.

Em 2014, a Bolivia produzia 61 milhões de metros cúbicos diários de gás; hoje, produz 40% a menos, em torno de 37 milhões. A produção diminui 3,5% todos os anos.

O parque automotor aumentou, mas para não haver aumento nos combustíveis, em boa parte importados, há subsídios à gasolina e ao óleo diesel.

Com isso, de exportadora de energia, a Bolívia se tornou, desde abril de 2022, em importadora de energia. A balança energética é deficitária em US$ 1,1 bilhão. Há dez anos, era superavitária em US$ 4 bilhões.

“E a tendência é que diminua ainda mais porque tanto o Brasil quanto a Argentina terão outras fontes de fornecimentos próprios de gás”, compara Toranzo.

Disputa de poder

O presidente Luis Arce foi ministro da Economia do ex-presidente Evo Morales. Arce foi eleito em 2020 sob a aprovação do seu padrinho político. E o seu padrinho político, Evo Morales, construiu o seu modelo de poder baseado no modelo econômico construído por Luis Arce.

Apesar dessa sinergia, os dois entraram em rota de colisão política porque querem liderar o partido e porque querem ser o candidato governista nas eleições de 2025.

“Essa briga não faz bem à economia neste momento de estresse financeiro por falta de liquidez”, critica Raúl Peñaranda.

Evo Morales diz que a economia não está bem, que o filho de Arce é corrupto, que Arce protege o tráfico de drogas.

“São ataques de grosso calibre. Nem mesmo a oposição faz acusações tão fortes”, destaca Peñaranda.

Luis Arce não responde diretamente, mas manda deputados dizerem que Evo Morales é corrupto, que a sua filha é corrupta, que Evo Morales comanda o tráfico de drogas, que é um ditador, um líder mafioso.

“Essa briga começou quando Arce percebeu que podia ser candidato, mas Evo Morales é um doente de poder. A economia boliviana é hoje refém de uma disputa eleitoral, cega de poder”, conclui Carlos Toranzo.

 
Paraíso fiscal e manifestações contra nas charges dos jornais de  terça-feira - Região - Correio de Gravataí
 
 
 
23
Jan23

Lula inicia a volta do Brasil ao cenário internacional a partir da Argentina

Talis Andrade

Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva acompanhado pelo Ministro das Relações Exteriores da Argentina Santiago Cafiero na sua chegada em Buenos Aires, em 22 de janeiro de 2023.
Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva acompanhado pelo Ministro das Relações Exteriores da Argentina Santiago Cafiero na sua chegada em Buenos Aires, em 22 de janeiro de 2023. AFP - IRINA DAMBRAUSKAS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começa nesta segunda-feira (23) na Argentina uma visita oficial durante a qual vai relançar o vínculo estratégico com a Argentina, ponto de partida para a reinserção do Brasil como ator global. O novo governo procura recuperar o terreno perdido durante a gestão anterior com vários projetos entre os quais um gasoduto que transporte gás da Argentina ao Brasil, dinamizando as duas economias. Lula pode também ter reunião com o venezuelano Nicolás Maduro.

A viagem do presidente Lula à Argentina marca o retorno do Brasil à tradição bilateral de que o novo presidente de um país tenha o vizinho como primeira escala internacional, uma tradição iniciada em meados de 1980, quando Brasil e Argentina se tornaram o eixo da integração regional.

Esse vínculo estratégico foi interrompido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2019, quem também deu as costas aos demais países vizinhos, isolando o Brasil na região.

Durante os últimos três anos, desde que Alberto Fernández assumiu o poder, Bolsonaro não visitou a Argentina por razões ideológicas, irritado desde que Alberto Fernández visitou o amigo Lula na prisão em Curitiba em 2019.

Para o Brasil, a inserção internacional brasileira ganha projeção ao ter integrado um sócio relevante como a Argentina. Por sua vez, a inserção internacional da Argentina passa pela aliança estratégica com o Brasil. A visita de Lula restabelece o vínculo bilateral mais importante para o Brasil, aquele que lhe permite liderar uma região.

“A visita de Lula implica um restabelecimento do vínculo bilateral e um papel de liderança do Brasil. Lula representa a normalização dos vínculos bilaterais entre os dois sócios estratégicos, depois do rompimento por parte da gestão de Jair Bolsonaro dessa tradição da política externa brasileira”, avalia à RFI o cientista político, Sergio Berensztein, uma referência na Argentina.

 

Soberania energética

 

Os dois países vão assinar entendimentos em matéria de soberania energética, integração financeira, defesa, saúde, ciência, tecnologia e inovação, além de um acordo de cooperação Antártico.

O mais estratégico a médio prazo é o de soberania energética que prevê a construção de um gasoduto entre a reserva patagônica de Vaca Muerta, a segunda maior jazida de gás de xisto e a quarta de petróleo não-convencional do mundo, até o Sul do Brasil.

A guerra na Ucrânia gerou oportunidades e urgências em matéria energética. Em Vaca Muerta, há suficiente gás para abastecer toda a Europa. Porém, faltam à Argentina recursos financeiros para construir um gasoduto e uma planta que permita exportar essa energia.

A Argentina também se entusiasma com o mercado brasileiro, enquanto o Brasil tem interesse em garantir a sua segurança energética, diminuindo a dependência do gás boliviano.

Para isso, a Argentina quer que o Brasil financie, através do BNDES, a construção do gasoduto. O que mais aparece avançado, no entanto, é o papel do BNDES como financiador dos canos de aço para o gasoduto. Esses canos são produzidos no Brasil pela empresa argentina Techint. O Brasil financiaria essas exportações à Argentina.

Essa obra estratégica dinamiza a economia dos dois países e gera um grande interesse entre os empresários.

“Interessa ao Brasil o gasoduto de Vaca Muerta até o Sul do Brasil, criando uma alternativa ao gás da Bolívia e barateando custos. Há muitos negócios que surgem a partir disso. Esse abastecimento tem potencial para ser um dos eixos estratégicos da relação bilateral”, indica Sergio Berensztein.

Lula chegou a Buenos Aires no domingo, 22 de janeiro de 2023, para se reunir com o presidente argentino Alberto Fernández e participar da Cúpula da Celac. Na foto, com sua mulher Rosangela "Janja" da Silva e o chanceler argentino, Santiago Cafiero.
Lula chegou a Buenos Aires no domingo, 22 de janeiro de 2023, para se reunir com o presidente argentino Alberto Fernández e participar da Cúpula da Celac. Na foto, com sua mulher Rosangela "Janja" da Silva e o chanceler argentino, Santiago Cafiero.AFP - IRINA DAMBRAUSKAS

Moeda comum

O capítulo mais polêmico se relaciona à chamada integração financeira. Haverá um memorando de entendimento para começar a estudar a possibilidade de uma moeda em comum, além de outros instrumentos financeiros compartilhados.

O lado polêmico está na confusão entre moeda em comum e moeda única. Uma moeda única significaria substituir o real brasileiro ou o peso argentino por outra moeda, a exemplo do euro na União Europeia. Esse projeto não aparece no horizonte.

No caso de uma moeda em comum, a ideia passa por uma unidade virtual de valor que diminua o uso e a dependência do dólar. Essa unidade seria uma referência para operações de importação e de exportação no comércio bilateral. Uma unidade que surgiria na hora de fazer a compensação comercial. O projeto é ainda embrionário.

As reservas do Banco Central argentino são escassas. Diante da falta de dólares, a Argentina tenta avançar com qualquer projeto que traga alívio. Um deles remete à possibilidade de um mecanismo de “swap”, um intercâmbio de moedas, entre peso e real, nas operações comerciais com o Brasil. É um mecanismo entre Bancos Centrais ao que a Argentina poderia recorrer se ficasse sem dólares para as importações vindas do Brasil.

“Trata-se de uma moeda essencialmente contábil e aplicável ao comércio bilateral Brasil-Argentina, afastando a necessidade de usar dólares americanos que, para a Argentina sobretudo, é crucial, devido à carência de reservas internacionais no Banco Central. Os acordos financeiros e econômicos realizados entre os dois países e pactados em dólares passariam a essa moeda virtual”, explica à RFI o analista internacional argentino, Jorge Castro.

“Na Argentina, existe uma expectativa de que com a chegada de Lula ao poder, existem chances concretas de uma dinâmica de cooperação para melhorar a situação das reservas, mas tanto o ‘swap’ quanto a ‘moeda comum’ não parecem realizáveis a curto prazo”, observa Berensztein.

 

Agenda pode incluir Nicolás Maduro

 

O presidente Lula estará na Casa Rosada com o presidente Alberto Fernández no final da manhã desta segunda-feira, onde vão assinar todos esses entendimentos e explicá-los à imprensa.

Na parte da tarde, ainda na Casa Rosada, haverá um encontro com referentes de organismos de Direitos Humanos na Argentina e uma reunião com cerca de 300 empresários, sendo 50 deles brasileiros.

Essa elevada quantidade de empresários indica a expectativa de retomada de negócios entre os dois países, a partir da maior sintonia entre os presidentes Lula e Alberto Fernández.

Lula deve ter uma reunião com a vice-presidente Cristina Kirchner, antes de um evento à noite cultural com artistas argentinos e brasileiros.

É possível que Lula se reúna ainda nesta segunda-feira (23) com o venezuelano Nicolás Maduro, mas o mais provável é que a reunião aconteça nesta terça-feira (24) no final da reunião de Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC). Também haverá uma bilateral com o cubano Miguel Díaz-Cané.

Brasil e Venezuela estão próximos de restabelecerem relações diplomáticas com a reabertura da Embaixada do Brasil em Caracas, depois da ruptura durante o governo Bolsonaro.

11
Nov22

Bolsonaro: “Nunca más!”

Talis Andrade

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por Cristina Serra

- - -

Foi Arthur Lira, jagunço de Bolsonaro na Câmara, quem deu a senha. Ao reconhecer a eleição de Lula, disse que não aceita “revanchismo ou perseguições, seja de que lado for” e que “agora, é olhar adiante”. Traduzindo, vamos passar uma borracha em todos os crimes cometidos por Bolsonaro e a gente (o centrão) não inferniza o governo Lula como Eduardo Cunha fez com Dilma.

Nada mais brasileiro na política, no pior sentido: o acordão, o conchavo, os panos quentes que livram a cara da bandidagem de terno e gravata. Bolsonaro deixará o governo arrastando a mais extensa “capivara” de que se tem notícia no Brasil democrático. De delitos eleitorais a crimes contra a democracia e a saúde pública, como charlatanismo e epidemia com resultado de morte.

Qualquer tentativa de perdão a Bolsonaro é apostar no fracasso da democracia, na falência das instituições e na frustração das expectativas de que o país consiga se reerguer. Justiça não é vingança ou revanchismo. É o alicerce que reforça a crença do cidadão na democracia. Sem ela, o que sobra é impunidade e o encorajamento ao vale-tudo, exatamente o que se vê nas estradas e portas de quartéis com legiões fanatizadas.

No Brasil, a perversa tradição dos arranjos espúrios tem seu exemplo máximo na Lei de Anistia que, até hoje, protege assassinos e torturadores da ditadura. Nisso, temos muito a aprender com a Argentina, que soube levar ao banco dos réus e à prisão os responsáveis pela barbárie do regime militar que lá vigorou de 1976 a 1983.

Na belíssima peça de acusação, o promotor Julio César Strassera, referindo-se aos crimes dos ditadores, traça as linhas divisórias da civilização: “O sadismo não é uma ideologia política nem uma estratégia bélica. É uma perversão moral”. É disso que se trata: a consciência moral de um país é inegociável. Deveria valer para os crimes da ditadura e para os crimes de Bolsonaro. Falta dizer aqui o que os argentinos disseram lá: “Nunca más!”.

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04
Out22

Líderes e chefes de Estado parabenizam Lula pela vitória no 1º turno

Talis Andrade

Charge publicada no jornal argentino La Nación

 

por Bárbara Luz /Vermelho

Diversos líderes e chefes de Estado da América Latina comemoraram a vitória de Lula (PT), candidato da coligação Brasil da Esperança, por terminar o primeiro turno das eleições presidenciais, neste domingo (2), à frente de Jair Bolsonaro (PL). Lula teve 48,43% (57 milhões) dos votos válidos.

O presidente do México Andrés López Obrador, o AMLO, foi um dos primeiros a parabenizá-lo. “Parabéns, irmão e companheiro Lula. O povo do Brasil demonstrou mais uma vez sua vocação democrática e, principalmente, sua inclinação para a igualdade e a justiça”.

Felicidades, hermano y compañero Lula. El pueblo de Brasil demostró una vez más su vocación democrática y, en especial, su inclinación por la igualdad y la justicia.

— Andrés Manuel (@lopezobrador_) October 3, 2022

 

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também felicitou Lula. “Parabenizo Lula pela vitória no primeiro turno. Felicito o povo brasileiro por sua enorme participação eleitoral”, escreveu em seu Twitter.

Felicito a Lula por su victoria en primera vuelta. Felicito al pueblo brasileño por su enorme participación electoral https://t.co/RiCnpW2lyh

— Gustavo Petro (@petrogustavo) October 3, 2022

 

Luis Arce, presidente da Bolívia, sublinhou que a democracia é o único caminho para o progresso e a paz social e reconheceu o esforço político que o povo brasileiro fez durante as eleições. “Parabenizamos o irmão Lula que venceu o primeiro turno das Eleições no Brasil e saudamos o povo brasileiro que demonstrou que a democracia é a única forma de construir sociedades justas, inclusivas e com paz social. #Força Lula”.

 

Felicitamos al hermano @LulaOficial que ganó la primera vuelta de las Elecciones en #Brasil y saludamos al pueblo brasileño que demostró que la democracia es el único camino para construir sociedades justas, inclusivas y con paz social. #FuerzaLula pic.twitter.com/psibBdwyE1

— Luis Alberto Arce Catacora (Lucho Arce) (@LuchoXBolivia) October 3, 2022

 

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, também compartilhou mensagem de felicitações. “Parabenizo meu querido Lula por sua vitória no primeiro turno e estendo meu sincero respeito ao povo do Brasil por sua profunda expressão democrática”, disse.

Felicito a mi querido @LulaOficial por su triunfo en primera vuelta y hago llegar mi sincero respeto al pueblo de Brasil por su profunda expresión democrática. pic.twitter.com/wZTBXvt99B

— Alberto Fernández (@alferdez) October 3, 2022

 

Pedro Castillo, presidente do Peru, saudou nesta segunda-feira as eleições gerais “exemplares” realizadas neste domingo no Brasil. “Saudamos o povo brasileiro por sua vocação democrática e suas instituições eleitorais pela condução exemplar das eleições gerais.”, escreveu o líder peruano.

 

O Grupo Puebla comemorou os resultados obtidos por Lula no primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras e exortou o povo a consolidar a justiça e a unidade.

“Com profunda alegria e esperança, o Grupo Puebla comemora o resultado eleitoral de Luís Ignácio Lula da Silva no primeiro turno das eleições brasileiras. Depois de ter sido vítima de uma das mais aberrantes operações de guerra jurídica que conhecemos, hoje Lula recebeu o reconhecimento de seu povo, renovando seu apoio e confiança em grande parte.”, dizia a nota.

“Conclamamos as forças democráticas e cidadãs a trabalharem juntas para que, no segundo turno, consolide-se o triunfo da esperança pelo qual a maioria dos brasileiros votou”, acrescentou o grupo político e acadêmico latino-americano que conta com a participação de 49 líderes políticos progressistas de 15 países.

O documento indicou ainda que, no dia 30, a decisão será “entre o futuro e o retorno ao passado; justiça social e império dos privilégios; entre um país respeitado internacionalmente, que lidera a integração latino-americana, e um concentrado em um falso nacionalismo, que não defende a pátria, mas a arruína”.

“Estamos certos de que, com Lula, triunfarão a esperança, a justiça e a unidade regional defendida pelo Grupo Puebla. Viva Lula! Superar!” conclui a declaração.

 

A eurodeputada da Alemanha, Anna Cavazzini, do Partido Verde, também parabenizou Lula e afirmou que é o momento de alcançar os não-votantes e eleitores de outros candidatos, para que o ex-presidente amplie sua liderança contra Jair Bolsonaro.

“Parabéns a @LulaOficial por ganhar de longe o maior número de votos nas #brasileleições! Isso dá esperança para a 2ª rodada em 30 de outubro. No entanto, mais de 43% dos brasileiros votaram em Bolsonaro, apesar de seu histórico devastador de políticas e seu fascismo aberto. Isso é preocupante.”, escreveu no Twitter.  

Congratulations to @LulaOficial for winning by far the most votes in #brazilelections !

This gives hope for the 2nd round on October 30th.

Yet more than 43% of Brazilians voted for Bolsonaro despite his devastating policy track record and his open fascism. This is worrisome.

— Anna Cavazzini (@anna_cavazzini) October 3, 2022

Anna Cavazzini também se mostrou preocupada com o avanço do bolsonarismo no Brasil. “É preocupante que mais de 43% dos eleitores tenham votado em Bolsonaro, apesar de sua política de coroa e seu fascismo exibido abertamente. Isso mostra que o bolsonarismo agora está firmemente ancorado na sociedade brasileira.”

Besorgniserregend ist, dass mehr als 43 % der Wähler*innen für Bolsonaro gestimmt haben, trotz seiner Corona-Politik & seines offen zur Schau gestellten Faschismus. Das zeigt, dass der Bolsonarismo jetzt fest in der bras. Gesellschaft verankert ist.“ https://t.co/cujl0b9Qsz

— Anna Cavazzini (@anna_cavazzini) October 4, 2022

 

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