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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

21
Mar23

Deputada que ameaçou Lula pode sofrer devassa do STF em seus registros de armas e até ser presa

Talis Andrade
 
 
Preconceito contra armas. Por que uma mulher com uma arma na mão e uma  tiara na cabeça apavorou dois homens? Porque um cidadão de bem armado... |  By Júlia Zanatta | Facebook
 
 

Bolsonarista Júlia Zanatta (PL-SC) é alvo de ações no Supremo após fazer postagem em que aparece segurando uma metralhadora e vestindo uma camiseta que faz referência ao presidente da República

 

por Ivan Longo / Revista Fórum 

 

A deputada federal bolsonarista Júlia Zanatta (PL), de Santa Catarina, deve se tornar alvo de investigações do Supremo Tribunal Federal (STF) após postagem nas redes sociais em que incentiva a violência contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Na última sexta-feira (17), a parlamentar publicou uma foto em que aparece segurando uma metralhadora e vestindo uma camiseta com a imagem de uma mão com quatro dedos, em referência a Lula, perfurada por três tiros.

“Não podemos baixar a guarda. Infelizmente a situação não é fácil. Com Lula no poder, deixamos um sonho de liberdade para passar para uma defesa única e exclusiva dos empregos, do pessoal que investiu no setor de armas. Estamos agora falando em socorrer empregos”, escreveu ela, junto à foto.

Para o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), a postagem de Júlia Zanatta é "apologia ao assassinato" de Lula. O parlamentar, através das redes sociais, anunciou que protocolou notícia-crime no STF contra a bolsonarista. "Fascismo precisa ser contido. Basta de violência", escreveu Valente. 

"A liberdade de expressão e manifestação tem limites constitucionais, inclusive na imunidade parlamentar. Então, se você faz apologia ao crime ou a um ato criminoso, precisa ser investigado", declarou ainda o psolista. 

O deputado federal Alencar Santana Braga (PT-SP) e o líder da bancada petista na Câmara, Zeca Dirceu (PR), também acionaram o STF contra Júlia Zanatta. Na representação, os parlamentares apontam que a publicação da bolsonarista configura "uma conduta que para além da prática criminosa de per si, reafirma, infelizmente, uma visão de mundo permeada pelo ódio e desinteligência democrática, que tragicamente tentou se implementar na sociedade brasileira no período de 2019/2022 e cujas raízes tóxicas ainda não foram totalmente extirpadas". 

A Representada, com as ameaças perpetradas, busca a todo custo manter viva uma cultura armamentista já repudiada pela sociedade brasileira, estimula, sob um falso discurso de liberdade, a divisão maniqueísta da sociedade, fomentando, com o uso de armas de fogo, o ódio e a intimidação como instrumentos disputas democráticas", escrevem os parlamentares. 

Além de pedirem para que o STF investigue a conduta de Júlia Zanatta, que segundo eles pode ser enquadrada nos crimes de ameaça, incitação e apologia ao crime, passíveis de pena de prisão, os deputados do PT solicitam, ainda, que a Corte adote "medidas legais pertinentes para se verificar as licenças que permitem à Representada a posse, porte ou utilização de armas de fogo, verificação da 9 regularidade das armas que detém e regularidade do clube de tiro que frequenta"

A deputada Júlia Zanatta mandou uma nota através de sua assessoria afirmando que “os ataques que tenho sofrido não se justificam. Não é razoável que minha honra e meu mandato sejam questionados pela interpretação de uma imagem. O correto é se ater aos fatos e o fato é que, na ânsia de me desqualificar, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, evocou algo muito grave ao me chamar de nazista. Isso reflete não só em mim, mas no estado que me elegeu.”

A Fórum, no entanto, reitera que a mensagem da camiseta da deputada é clara e sua justificativa para um erro na interpretação da imagem não faz o menor sentido. Ela está, sim, promovendo a violência contra Lula ao divulgar uma foto armada e com a camiseta fazendo alusão a tiros no presidente.

 
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20
Mar23

Deputada Júlia Zanatta fez apologia ao crime, mas chance de punição é mínima, diz Josias (vídeo)

Talis Andrade
 

 

Júlia Zanatta
 
Júlia Zanatta condena o fim das Escolas militares | ND Mais
As Primeiras Três Emendas Da Deputada Júlia Zanatta - Blog Do Prisco

A deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC) publicou nesta sexta (17), no Twitter, a imagem em que aparece segurando uma arma. A deputada aparece na foto vestindo uma camiseta estampada uma mão com quatro dedos alvejada por três tiros, em uma referência ao presidente Lula

 
Deputada de SC Júlia Zanatta, que insinuou morte de Lula em estampa de  camisa, agora se vitimiza: “sofro ameaças” - Brasil 247
 
 

 

19
Mar23

Deputada bolsonarista - a falsa Maria Bonita do cangaço - posta foto com arma 

Talis Andrade
Presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann acusou Julia de ter uma atitude nazista
Presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, acusou Julia, levada da breca, de ter uma atitude nazista e machista, pela mão de Lula cravada de balas pintadas na blusa 
 
 

Julia Zanatta dona do perfil "Casa Opressora”, que costuma hostilizar feministas, ameaça metralhar lula

A deputada federal Julia Zanatta (PL-SC) publicou uma foto nas redes sociais em que aparece segurando uma metralhadora e usando uma camisa com o desenho de uma mão com quatro dedos alvejada por três tiros.

Júlia Zanatta
 

“Não podemos baixar a guarda. Infelizmente a situação não é fácil. Com Lula no poder, deixamos um sonho de liberdade para passar para uma defesa única e exclusiva dos empregos, do pessoal que investiu no setor de armas. Estamos agora falando em socorrer empregos e lutar por segurança jurídica”, escreveu nas suas redes sociais.

Zanatta é amiga do filho 03 (Eduardo Bolsonaro), do ex-presidente golpista Jair Bolsonaro e também dona do perfil “Casa Opressora”, que costuma hostilizar feministas. A parlamentar foi a sexta deputada federal mais votada pelo Estado de Santa Catarina. Defende os armados bandidos amigos: os empresários grileiros de terra na Amazônia, as mineradoras desmatando florestas, a contamiação dos rios com mercúrio, o genocídio dos povos indígenas, a morte dos quilombolas, os assassinos do reitor Cancellier, as chacinas das polícias nas invasões das favelas, principalmente, no Rio de Janeiro e São Paulo, a destruição e o entreguismo da dupla Paulo Guedes e Sergio Moro, e os altos juros de Roberto Campos. 

Depois da postagem de Zanatta, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que a PL teve um “comportamento nazista” e que estuda medidas contra a deputada catarinese.

“Comportamento nazista da deputada de SC, de apologia à violência contra Lula. Quem não pode baixar a guarda é a sociedade brasileira e nossas instituições com quem insiste incitar a violência e semear o ódio. Estamos estudando medidas contra esse ato criminoso”, escreveu.

 

05
Fev23

Senado pede à PF para investigar ameaças contra vereadora de SC que se posicionou contra saudação nazista

Talis Andrade

Vídeo mostra gesto suspeito de ser saudação nazista em ato em São Miguel do Oeste (SC) em 2 de novembro — Foto: Reprodução

Vídeo mostra na porta de quartel a saudação nazista em ato golpista bolsonarista em São Miguel do Oeste (SC) em 2 de novembro 

Por Joana Caldas e John Pacheco, g1 SC

A Comissão dos Direitos Humanos do Senado Federal enviou um ofício ao diretor-geral da Polícia Federal, Márcio Nunes de Oliveira, pedindo que a corporação responsabilize os autores de ameaças a vereadora Maria Tereza Capra (PT), que atua em São Miguel do Oeste, no Oeste catarinense. O documento também solicita à PF "providências para assegurar a integridade física" da parlamentar.

A vereadora começou a ser ameaçada após se posicionar contra um ato antidemocrático na cidade, ocorrido em 2 de novembro, em que manifestantes questionaram o resultado do segundo turno das eleições, bloquearam uma rodovia e fizeram um gesto suspeito de ser uma saudação nazista. O gesto é alvo de investigação pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC).

O ofício foi enviado à PF na quarta-feira (9). O g1 entrou em contato com a Polícia Federal em Santa Catarina e não havia obtido retorno até a última atualização desta reportagem.

No mesmo dia, o Senado enviou um documento com os mesmos pedidos ao Subprocurador-Geral da República dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena. A Subprocuradoria informou em 18 de novembro que o ofício está sob análise.

Os documentos são assinados pelo presidente da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, senador Humberto Costa (PT).

A 40ª Promotoria de Justiça da Capital, que trata dos crimes de ódio em Santa Catarina, informou que recebeu cópia do boletim de ocorrência registrado pela vereadora. Também disse que o caso é investigado pela Polícia Civil.

O Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) também informou que a vereadora será ouvida no procedimento investigatório criminal que apura a suspeita de atos de apologia ao nazismo ocorridos em um ato em São Miguel do Oeste em 2 de novembro (veja mais informações abaixo).

 

O que diz a vereadora

 

Maria Capra contou que, após o ato de 2 de novembro, fez um vídeo e o publicou em uma rede social. Depois, começou a receber ameaças e tirou o post do ar.

"Insurgi-me contra aquela situação na frente do quartel", afirmou a vereadora. Capra disse se preocupar, já que um homem foi preso em São Miguel do Oeste com bandeiras neonazistas. "Indignei-me e pedi que as autoridades tomassem providências", declarou.

Capra afirmou que foi atacada nas redes sociais. No dia seguinte ao ato em São Miguel do Oeste, a Câmara de Vereadores apresentou uma moção de repúdio contra ela. Além disso, uma pessoa entrou com um pedido de cassação do mandato dela. O g1 não conseguiu contato com a Câmara de Vereadores de São Miguel do Oeste.

"Pediam minha retratação, que eu pedisse desculpas. Como não falei nada, começaram as ameaças na rede social e também nos grupos bolsonaristas, fizemos print, e no meu carro". No veículo da parlamentar, foram escritos xingamentos.

Capra decidiu sair da cidade após as ameaças. "Tem todo um contexto. Além dessas ameaças nas redes sociais, falavam [nos grupos bolsonaristas] 'eu vi ela na padaria'. Eles queriam me pegar na Câmara. Disseram 'não basta cassação, tem que ter eliminação'", relatou a vereadora.

Ela afirmou que fez um boletim de ocorrência (B.O.) na Delegacia de Polícia de São Miguel do Oeste.

 

Ato em 2 de novembro

 

O ato ocorreu em frente ao 14º Regimento de Cavalaria Mecanizado, base do Exército na cidade. Em investigação preliminar, o MPSC apontou que não houve intenção de apologia ao nazismo no gesto e que não há evidências de prática de crime.

 
MP apura gesto semelhante ao nazista feito por bolsonaristas em ato em Santa Catarina

MP apura gesto semelhante ao nazista feito por bolsonaristas em ato em Santa Catarina

 

O relatório com a apuração preliminar sobre o gesto chegou à 40ª Promotoria de Justiça de Florianópolis no dia seguinte. Essa promotoria é especializada no combate aos crimes de racismo, ódio, intolerância, preconceito e discriminação, com atribuição estadual, e vai continuar a investigação.

Nesta sexta (11), o MPSC informou que a 40ª Promotoria de Justiça pediu uma série de diligências relacionadas ao caso, entre elas, a busca de imagens e tomada de depoimentos de pessoas que estavam no ato.

Nas redes sociais, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) reproduziu nota oficial repudiando os atos nazistas em São Miguel do Oeste e pedindo investigação sobre o caso.

"A sociedade brasileira não pode tolerar posturas como essa. Fazer esse gesto vestindo camisa da seleção brasileira é também uma ofensa às nossas Forças Armadas, que lutaram bravamente contra as forças nazistas na Europa durante a Segunda Guerra Mundial", diz o comunicado.

 

O governo da Alemanha emitiu uma declaração de repúdio diante das cenas de gestos nazistas por parte de manifestantes bolsonaristas. A suposta saudação foi identificada em um ato em São Miguel do Oeste, contra a derrota de Jair Bolsonaro

21
Set22

Conheça a verdade sobre Bolsonaro

Talis Andrade

Charge do dia - Jornal de Brasília

 

Bolsonaro não fez nada fez por

Ceilândia ceilândia

Ceilândia ceilândia

Respeito todas as quebradas becos e vielas

Quebras cabulosas satélites e qualquer favela

Todas se parecem muito só que a cei é diferente

Na nossa quebrada a parada é mais quente

Mais de 500 mil e pra eles somos lixo

Lutando pra sobreviver tratados como bichos

Escrotos ratos de esgotos vermes rastejantes

Cobras bichos peçonhentos monstros repugnantes

Terra sem lei nova babel casa do caralho

Cu do mundo baixa da égua 

(Começo da letra de "Ceilândia Revanche do Gueto", de Câmbio Negro. Leia mais e conheça a músicaque descreve a maior favela da América Latina, onde nasceu a primeira-dama Michelle Bolsonaro, neta da Rainha do Sol Poente. Terra sem governador, terra dos marechais de contracheques, das Marias Candelária, dos marajás, das princesas que herdam, pra toda vida, ricas pensões pra não casar, pra não trabalhar, pra uma vida de gozos, sombra e água fresca. E o povo com fome, e o favelado na fila do osso, na fila da fome, na fila da morte)

chacina do Cabula – andradetalis

Bolsonaro nada fez pelo Rio de Janeiro, e aprova o Rio de Sangue de Cláudio Castro, que já pode - escreve a jornalista Cristina Serra = "ostentar os títulos de rei das chacinas, campeão dos banhos de sangue e governador mais letal da história do Rio de Janeiro. Três dos maiores massacres cometidos por forças policiais no estado ocorreram sob seu comando. O do Jacarezinho, em maio do ano passado, com 28 pessoas assassinadas; o da Vila Cruzeiro, em maio deste ano, com 25 mortos, e agora o do Complexo do Alemão, com 19 vítimas. Castro transformou a carnificina em espetáculo midiático-eleitoral". Mandou dar uma arma para os policiais aposentados, convocou vários deles para receber mensalmente grana do orçamento secreto que banca funcionários fantasmas das milícias eleitorais armadas defendidas por Bolsonaro para garantir o golpe anunciado, o Bolsonaro que proclamou fraude nas eleições que ainda vão acontecer, que proclamou o golpe branco ou sangrento, a guerra civil 

E proclamou : “Policial tem que matar,

Tem que matar, senão não é policial.

Matar com dez ou trinta tiros o bandido,

Pois criminoso é um ser humano anormal.

Matar uns quinze ou vinte e ser condecorado,

Não processado” e condenado no país.

Por essa fala inflexível, inflamável,

Que só a morte, a violência e o mal bendiz,

Por tal discurso de ódio, odiável,

O que resolve são canhões, revólveres.

“A minha especialidade é matar,

Sou capitão do exército”, assim grunhiu.

E induziu o brasileiro a se armar,

Que “todo mundo, pô, tem que comprar fuzil”,

Pois “povo armado não será escravizado”,

Numa cruzada pela morte no país

E num desprezo pela vida inolvidável,

Que nem quando lotavam UTIs

E o número de mortos era inumerável,

Disse “E daí? Não sou coveiro”. “E daí?”

Cante o "Hino ao Inominável", de Carlos Rennó, musicado por Chico Brown e Pedro Luís.

 

 

 

09
Ago22

Tradição, Família e Propriedade: TFP está em alta e exporta ultraconservadorismo, diz analista

Talis Andrade

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O poder do dinheiro e da religião: Bolsonaro tem o apoio dos evangélicos e católicos da extrema direita para uma possível intervenção militar nazi-fascista 

 

 

por Ana Livia Esteves /Sputnik

 

Muitos brasileiros acreditam que a organização ultraconservadora Tradição, Família e Propriedade (TFP), que teve papel relevante na década de 60, está morta. Mas especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil revelam que o grupo continua firme e atua não só no Brasil, mas também no exterior.

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A organização ultraconservadora católica Tradição, Família e Propriedade (TFP) é conhecida pelos brasileiros através dos livros didáticos, que apontam o grupo como apoiador da implementação da ditadura militar no país, nos idos da década de 60.

Mas o que muitos brasileiros não sabem é que a organização continua bastante ativa na política nacional e internacional, mas sob outro nome: Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (IPCO).

"A organização vive o que deve ser um dos seus melhores momentos dos últimos 30 anos", disse o mestre em Ciência Política pela UFSCar Moacir Pereira Alencar Júnior à Sputnik Brasil. "Basta ver a agenda de palestras e eventos que promovem, inclusive em prefeituras."

A professora da Universidade de Passo Fundo (UPF) e coorganizadora do livro "O pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira e a atuação transnacional da TFP" Gizele Zanotto explica que, após o fim do regime militar, a organização se reestruturou.

"Embora hoje a TFP ainda exista no país, desde a morte do fundador nos anos 1990, outro grupo a controla e as antigas bandeiras de luta foram então assumidas pelo Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (IPCO)", revelou Zanotto à Sputnik Brasil.

Segundo ela, o grupo, alinhado ao movimento chamado integrismo católico, foca suas atividades na "formação de elites e de mobilização dessas para atuação no campo político-partidário e social".

"Os membros em si não operam diretamente no âmbito político, exceto com ações de pressão e lobby, sobretudo quanto ao aborto, defesa do armamentismo, defesa do agronegócio, contrariedade a movimentos sociais com destaque aos sem-teto e sem-terra, enfim, pautas conservadoras relidas com a base doutrinária católica", disse a especialista.

 

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O grupo investe na realização de eventos para promover as suas pautas, sem focar necessariamente no aumento do número de seus membros diretos.

"É um grupo restrito em relação a número de filiados, que não tem necessariamente a intenção de crescer", disse Alencar Júnior.

Zanotto nota que "não é fácil encontrar uma lista pública com a nominata e cargos dos membros, então qualquer lista é parcial, construída com vestígios de informações que nos são possíveis de acessar via Internet".

A pesquisadora, no entanto, lista alguns nomes da cúpula da organização, como Mario Navarro da Costa, Léo Danielli, Luiz Moreira Duncan, Paulo Brito, Luiz Gonzada, Sérgio Brotero e Antonio Marcelino Pereira de Almeida.

Apesar da organização continuar enxuta, as pautas defendidas pela antiga TFP, atual IPCO, voltaram com força ao debate público brasileiro.

"As ideias da TFP estão mais difundidas, sim", disse Alencar Júnior. "Agendas [da organização] que há alguns anos eram consideradas marginais foram normalizadas com a chegada de Bolsonaro ao poder."Image

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Quem financia?

 

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As fontes de financiamento do grupo são tão obscuras quanto a sua lista de membros efetivos. Porém, através dos anos a organização encontrou diversas maneiras heterodoxas de manter o seu fluxo de caixa.

"Desde os tempos da TFP antiga, o financiamento se dá por diferentes meios como doações de membros e simpatizantes, venda de materiais doutrinários (livros, revistas, objetos votivos), repasses de entidades afins do exterior, arrecadações para campanhas fatimistas, entre outras ações", disse Zanotto.

A pesquisadora enfatiza as campanhas vinculadas à divulgação da Mensagem de Nossa Senhora de Fátima, que financiaram o grupo por muitos anos.

Segundo Alencar Júnior, "promoção de eventos, campanhas, venda de terços, calendários e livros" relacionados à Nossa Senhora de Fátima "angariavam um bom capital em um país com forte presença católica como Brasil".

Mas as fontes de financiamento se expandiram, e atualmente a organização também conta com o apoio de grupos alinhados às suas pautas.

"A partir da Constituinte, a TFP passa a defender agendas afeitas a fazendeiros mais conservadores, como o direito à posse de armas no campo e o combate contundente ao Movimento Sem-Terra (MST)", disse Alencar Júnior.

Mais recentemente, a associação nutre laços com grupos que promovem a agenda armamentista, inclusive com militares ligados ao governo Bolsonaro.

"Antes mesmo de Bolsonaro se eleger, a TFP promovia eventos com a participação dos filhos do presidente, principalmente para defender pautas como a do armamentismo e contra as causas LGBTQI+", revelou o especialista.

 

Ligações com Bolsonaro

 

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As pautas ultraconservadoras defendidas pelo grupo, como o armamento de civis, combate ao ambientalismo, à ideologia de gênero e ao aborto, são muitas vezes associadas às de grupos bolsonaristas.

"Não tem figura mais convergente com a TFP do que Bolsonaro, que concorda com a organização em questões que vão desde o tratamento conferido a indígenas e quilombolas até a agenda armamentista", argumentou Alencar Júnior.

Apesar da convergência com pautas bolsonaristas, Zanotto nota que "a entidade em si não se manifesta publicamente em prol de algum candidato, prefere fazer análises panorâmicas da situação apontando quem são os 'perigos' para sua concepção de país".

Segundo ela, evitar alianças político-partidárias claras "se traduz numa eficiente estratégia de proteção da antes TFP, hoje IPCO, de vinculações que podem trazer mais prejuízos do que ganhos à causa político-cultural que defendem".

"O IPCO atua independente de partidos e coligações partidárias, e se aproxima de quem defende bandeiras comuns às suas propostas e campanhas. São afinidades pontuais e não formalizadas como aliança", disse Zanotto. "Neste sentido, é precipitado pensar que o IPCO se alinha com o governo."

A especialista alerta que, como a associação não atua de forma direta nas estruturas partidárias, não é possível identificar uma suposta "bancada tefepista" no Congresso Nacional.

"O IPCO tem afinidades com políticos conservadores, lhes dá espaço para manifestar suas ideias, e muitas vezes usam de seus cargos, quando eleitos, para defender a entidade e suas causas nos plenários em que atuam", disse Zanotto. "Essa proximidade não é partidária em si, é muito mais pessoal, por questões doutrinárias e político-culturais."

 

Alcance internacional

 

A TFP aposta na sua projeção internacional desde a sua origem, na década de 60. Após apoiar ativamente o golpe militar de 1964, a instituição exportou sua agenda e experiência para países sul-americanos.

"A organização não se restringiu ao apoio à ditadura militar brasileira, mas também apoiou movimentos similares em países como a Argentina, o Chile e Uruguai", disse Alencar Júnior. "A organização começa a criar raízes e associações coirmãs, que não necessariamente levavam o mesmo nome, mas defendiam a agenda tefepista."

No Chile, a organização combateu lideranças católicas que questionavam a ditadura de Pinochet, como o cardeal Raúl Henríquez. Na Argentina, a TFP atuou para marginalizar membros da Igreja Católica que considerava ligados à esquerda.

A organização também possui forte presença na Europa, considerada um bastião para a promoção da agenda monárquica. Um dos principais líderes da organização é Dom Bertrand de Orleans e Bragança, que se considera o herdeiro legítimo da Casa Imperial brasileira.

"A TFP é uma das principais mantenedoras do movimento monarquista brasileiro e o elo com a Europa é considerado fundamental para essa bandeira", explicou Alencar Júnior.

Atualmente, a agenda da TFP e organizações coirmãs no velho continente abarca não só a defesa da monarquia, mas também a promoção do liberalismo econômico e conservadorismo nos costumes.

"A organização tem afiliações muito fortes na Polônia, onde promove uma agenda conservadora no costume e contrária à ideologia de gênero", revelou Alencar Júnior. "São associações que argumentam contra a igualdade entre os sexos, e mesmo contra instituições como a união estável entre homens e mulheres."

No dia 30 de julho, o jornal polonês Gazeta Wyborcza expôs as ligações entre a TFP brasileira e a organização ultraconservadora local Ordo Iuris. Segundo a reportagem, a Ordo Iuris "deriva diretamente de uma organização brasileira de extrema direita [...] chamada TFP".

O jornal ainda nota que, "curiosamente, um fragmento do logotipo da TFP (cabeça de leão com a língua de fora) também pode ser encontrado no logotipo da Ordo Iuris".

Ao contrário do que muitos pensam, a organização brasileira não é um membro passivo do movimento internacional ultraconservador, mas sim ativo, que organiza e apoia movimentos no exterior.

"A TFP não é objeto do movimento transnacional, mas ela é quem o leva adiante. A organização tem uma agenda bem delimitada e não hesita em promovê-la internacionalmente", concluiu Alencar Júnior.

A organização Tradição, Família e Propriedade (TFP) foi criada em 1960 no Brasil pelo professor e militante católico Plínio Corrêa de Oliveira. Após a sua morte, em 1995, a organização se reestruturou, dividindo-se em diversos grupos, entre eles o Arauto do Evangelho e o Instituto Plínio Corrêa de Oliveira (IPCO), fundado em 2006.

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25
Jul22

O bolo da matança

Talis Andrade

O bolo da matançaFoto: Reprodução/Redes Sociais

 

por Moisés Mendes /Extra Classe

O gesto mais forte, mais incisivo, mais afirmativo de uma posição, depois do assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu, não veio de instituições, da OAB, da Igreja, de políticos ou de celebridades que dizem frases de combate à brutalização do país.

O gesto de maior impacto, que mereceu as capas dos jornais, veio de onde sempre vem a reação a esse tipo de episódio. Partiu da própria extrema direita.

Foi o gesto de Eduardo Bolsonaro ao apresentar um bolo com uma arma dentro, no dia do seu aniversário. Uma ideia pronta para quem fez 38 anos: é só mostrar um revólver calibre 38 como decoração.

Um gesto simbólico que os democratas não conseguem ter, mas a extrema direita sempre apresenta nos momentos em que parece acuada.

Depois da festa de aniversário interrompida por um extremista com uma arma, outra festa de aniversário com um bolo e uma arma.

A alegoria do garoto quase quarentão é a resposta do fascismo ao crime em Foz. Com mais deboche, agressividade, mais armas e mais incitação à matança.

Não há nada equivalente do lado dos democratas ou dos chamados genericamente de progressistas e/ou de esquerda.

Eduardo Bolsonaro produziu o gesto de impacto que sempre falta aos que tentam conter a fúria da extrema direita. E sem muito esforço.

O fascismo transmite mensagens que alcançam o seu público sem volteios. É tudo direto, sem a necessidade de frases explicativas.

A extrema direita passa hoje, com meia dúzia de palavras e alguns objetos, principalmente armas, recados destruidores dos esforços humanistas.

E as esquerdas brasileiras há muito tempo não têm como passar nenhuma síntese do que desejam e do que combatem, mesmo que tenham sido vitoriosas em eleições em países da vizinhança.

Perderam força os slogans libertários que vieram dos anos 60 e as mensagens do século passado com pombas da paz.

Uma pomba da paz hoje não significa nada mais para os que vieram do século 20 e tampouco para os jovens do século 21.

Nenhuma palavra de ordem das esquerdas funciona mais ou funciona pouco. É proibido proibir. Abaixo a ditadura. Tortura nunca mais. Sejam realistas, exijam o impossível. A política está nas ruas, não nas urnas. Democracia já.

Democracia, diferenças, liberdades, direitos humanos. Quase nada funciona. Nem as ruas funcionam mais no Brasil. Nem o apelo ambientalista sensibiliza, mesmo que a Amazônia seja nossa.

Enquanto isso, a extrema direita vai se divertindo com a descoberta de que as pessoas assimilam com mais facilidade mensagens que transmitam ódio, violência, desavença, ruptura e morte.

Um dia depois do assassinato em Foz do Iguaçu, quem conseguiu produzir a mensagem mais poderosa foi o filho mais bélico de Bolsonaro, porque tem poder de síntese para falar com os 30% que apoiam seu pai e o fascismo.

Ninguém sabe o que disseram a Igreja, a OAB, as autoridades, os líderes da oposição, nem mesmo o que Lula disse. As mensagens de condenação do assassinato são levadas por qualquer vento.

O que fica é o bolo do sujeito que já havia produzido a mais lembrada imagem do golpe, a de que um cabo e um soldado, mesmo sem jipe, podem fechar o Supremo.

É a realidade. A democracia não tem força para criar algo com o impacto de um bolo com uma arma e com uma vela sendo assoprada por uma criança.

É aterrador, mas é o que temos para o momento. E com o apoio de um terço da população brasileira. A mensagem da matança está vencendo.

Editorial - Bangue-Bangue bolsonarista: indicações e primeiras baixas -  Jovens Cronistas

23
Jul22

Morte de PM indica ação de vingança que deixou 20 mortos no Complexo do Alemão

Talis Andrade

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A chacina uma operação militar de vingança pela morte do cabo da PM Bruno de Paula Costa. À vendeta nazista estipula um soldado vale dez civis, um cabo vinte... A polícia do governador Cláudio Castro lidera o número de massacres no governo bolsonarista que aprova a sangreira 

 

As 20 mortes que aconteceram nessa quinta-feira (21) no Complexo do Alemão, zona norte da cidade do Rio de Janeiro (RJ) foram consequência de uma vingança de policiais pela morte do cabo da Polícia Militar (PM) Bruno de Paula Costa. Vinte pessoas morreram, inclusive duas mulheres: Letícia Marinho de Salles e Solange Mendes.

De acordo com informações publicadas nesta quinta-feira (21) pelo portal Uol, o policial chegou ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, às 6h. Uma hora depois, o ativista Raull Santiago, do Coletivo Papo Reto, relatou que policiais começaram a invadir casas de moradores para utilizarem como plataforma de tiros.

Por volta das 10h, com as notícias sobre o número de mortos desconhecidas, dezenas de mototaxistas protestaram nos acessos ao Complexo do Alemão. 

20
Jul22

O valor da vida

Talis Andrade

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Sustentar politicamente quem faz apologia da morte e da tortura não é compatível com a doutrina cristã

 

por Lorenzo Vitral /A Terra É Redonda 

É um truísmo admitir que o fascismo cultua a morte. Desde o grito do general franquista Millán-Astray (“Abajo la inteligencia, viva la muerte!”), passando pelo papel desempenhado pelo nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial, intriga-nos a aparente fuga do escopo da razão desse traço fundamental do fascismo.

No nosso país, nunca houve dúvidas da compatibilidade desse fenômeno com o “ideário” do atual governo. Desde o “fuzilar a petralhada” em 2018, o desprezo pela mortandade causada pela epidemia do Covid-19, o armamento da população civil até a consecução de assassinatos políticos, encontramo-nos num registro social-político que podemos classificar como fascista; além do traço comentado, o “espírito” atual do país encaixa-se bastante bem nos 14 (quatorze) critérios propostos por Umberto Eco para classificar esse tipo de regime político.[1]

Por outro lado, somos tomados por sentimento de estranhamento quando constatamos que muitas das pessoas que compartilham a fé cristã, seja ela protestante, neopentecostal ou católica, consentem esse estado de fatos ou, pelo menos, não se vê sua reprovação de maneira inequívoca. A primeira explicação que nos vem à mente é admitir que há interesses escusos ou inconfessáveis no apoio ao atual governo por parte de parte da cristandade, como pode ter sido o caso com a aparente corrupção no MEC na gestão Milton Ribeiro. Afinal, sustentar politicamente quem faz apologia da morte e da tortura não é compatível com a doutrina cristã, o que nos leva a pensar que o apoio cristão ao que se abateu sobre nosso país só encontra motivos na excepcionalidade, com justificativas de outras naturezas.

No entanto, a razão alegada não nos parece suficiente. Pensemos assim em como a morte e o assassinato são de fato concebidos na doutrina cristã, tomando a Bíblia Sagrada como referência.

Existe, é claro, o mandamento “Não matarás” e a condenação do primeiro homicídio que foi a morte de Abel por Caim (Gênesis:4:3-8); Caim recebe uma marca ou sinal (“owth”) do seu crime, mas não é condenado à morte. Em outros trechos veterotestamentários, no entanto, sobretudo nos campos de batalha, o assassinato não sofre repúdio. Há, dentre outras, passagens como as seguintes: “Com aprovação divina, Josué destrói todo o povo de Ai, matando 12.000 homens e mulheres, sem que nenhum escapasse (Josué 8: 22-25); “Das cidades destas nações, que o Senhor teu Deus te dá em herança, nenhuma coisa que tem fôlego deixarás com vida” (Deuteronômio20: 16). Como entender o aparente antagonismo desses trechos bíblicos? Ao que tudo indica, o assassinato se constituía como pecado apenas quando se matassem membros de seu próprio povo, seus iguais, mas não se o alvo fossem inimigos de seu povo, incluindo nesse rol mulheres e crianças.[2]

A relativização do valor da vida em todas as suas manifestações e a apologia ao assassinato, que lançou seu manto sobre nós, parece, assim, encontrar guarida na recusa da legitimidade da alteridade a qual, longe de poder participar de um processo de inclusão pela via republicana, pode e deve ser eliminada; afinal, já que diferentes, trata-se de inimigos. Dito de outro modo, não podendo a razão manifestar-se – como no grito do general fascista – o que impede o pensamento dialético, não há inclusão do antagonismo; o diferente é o inimigo já que, nesse confronto, o último deve ser concebido como fraco, castrado, o que torna inteligível o porquê da misoginia, da homofobia e do racismo fascistas.

Os cristãos nacionais que se omitem ou compactuam com esse estado de fatos não lograram alcançar a versão síntese neotestamentária dos mandamentos, ou seja, “Ame o seu próximo com a si mesmo”, da epístola paulina (Romanos 13:9). Para esses agrupamentos religiosos, no entanto, que não ao acaso se aproximam, com mais ênfase, da palavra veterotestamentária, mimetizando elementos do judaísmo, é reforçado, por outro lado, um bem tido como supremo, o qual não admite relativização, e parece, assim, hierarquicamente superior ao valor da vida: trata-se da propriedade privada que vem de par com sua transmissão hereditária.

Lembremo-nos que a primeira conceptualização cultural coletiva que justificava a adesão ao armamentismo civil foi a defesa do patrimônio privado. O temor lunático do “comunismo” num mundo sem comunismo ganha, nesse contexto, sua justificativa: ora, como mostra o clássico de Friedrich Engels sobre a propriedade privada, a formação da família monogâmica tem, dentre suas bases, a conservação e a transmissão da propriedade, o que abole uma configuração de “comunismo primitivo”. Com o advento da história, para garanti-la ou obtê-la, tudo é permitido, a depender, é claro, da origem étnico-social e da compactuação entre iguais.

Não é à toa também que, dentre as diversas mortes e assassinatos recentes, o falecimento de Dom Luiz de Orleans e Bragança, descendente da família real brasileira, ligado à TFP (Tradição, Família, Propriedade), tenha merecido luto oficial.Image

Notas


[1] https://homoliteratus.com/14-caracteristicas-do-fascismo-segundo-eco/

[2] (http://www.justificando.com/2015/07/27/o-homicidio-e-suas-razoes-numa-perspectiva-historica-social/

inimigo Saad Murtadha.jpg

 

30 charges de Benett para os 100 dias de Bolsonaro - Jornal PluralTRIBUNA DA INTERNET

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Bolsonaro se arma - Renato Aroeira - Brasil 247

16
Jul22

A guerra como continuação da política

Talis Andrade

 

 

 

 

O terrível assassinato de Marcelo Arruda em sua própria festa de aniversário provavelmente não será o último

 

 
 

por VLADIMIR SAFATLE /A Terra É Redonda

Infelizmente, há de se reconhecer que algo como o assassinato de Marcelo Arruda por um homem armado que entrou em sua festa de aniversário gritando “aqui é Bolsonaro” já era esperado. Esse caráter de algo já anunciado aumenta ainda mais o assombro e a amargura pelo ocorrido. Pois tal ausência de surpresa mostra de forma clara onde estamos, ou ainda o tipo de projeto de engenharia social ao qual estamos submetidos.

Já na eleição passada, o Brasil havia se deparado com pessoas mortas por apoiadores de Jair Bolsonaro, como o caso de Mestre Môa. Na ocasião, há de se lembrar qual foi a reação do senhor que ocupa atualmente a presidência da República. Nenhuma declaração pública de consternação e luto, apenas a afirmação de: “Mas quem levou uma facada fui eu”. Agora, o padrão é o mesmo: ausência completa de consideração a respeito da morte, apenas a reclamação de que o caso estaria sendo tratado de forma distinta da maneira com que fora tratado seu próprio incidente que redundou na famosa facada.

Esse padrão do governo não é estranho. Infelizmente, sua racionalidade é bastante evidente. Trata-se de naturalizar a lógica da guerra como forma de relação entre grupos sociais. Em uma guerra, não haveria razão alguma para demonstrar consternação pela morte de inimigos. Na verdade, em uma guerra é fundamental que tais mortes ocorram, pois elas podem produzir uma espiral de violência cuja verdadeira função é empurrar o país inteiro para uma tensão armada, consolidando as posições antagônicas. Daí a necessidade de minimizar tais assassinatos como “incidentes” não muito distintos de uma “briga de trânsito”, como insinuou o líder do governo na Câmara.

Essa generalização da guerra seria a situação ideal para o governo do sr. Jair Bolsonaro. Pois isso lhe permitiria afirmar que o país se encontra em uma situação de caos, abrindo espaço assim para um jogo duplo, a saber, tanto procurar criar as condições para uma saída golpista (ou algo parecido) quanto crescer no medo, recuperando setores conservadores que saíram de sua órbita, mas que podem sempre voltar se a lógica da guerra imperar. Ou seja, tudo isso nos lembra que o terrível assassinato de Marcelo Arruda em sua própria festa de aniversário provavelmente não será o último.

Alguns podem se perguntar como chegamos até aqui. E é sempre bom lembrar nesse contexto que o Brasil conheceu 13 anos de governo de esquerda sem nenhum caso de violência eleitoral que tenha terminado em assassinato perpetrado por apoiadores ou apoiadoras do antigo governo. Não há possibilidade alguma de falar em alguma forma de acirramento mútuo. Se mesmo diante da violência simbólica normal dos embates políticos nunca houve casos reversos é porque não há linha direta entre violência simbólica e violência real. Muitas vezes, a violência simbólica é, na verdade, um anteparo contra a violência real, pois ela desloca a violência para uma outra cena, com dinâmicas próprias.

Há de se insistir nesse ponto não para apagar a responsabilidade desse governo em atos dessa natureza. Ao contrário, trata-se de mostrar onde exatamente está tal responsabilidade. Pois se estamos em uma situação como essa agora, devemos procurar uma de suas causas principais na generalização da lógica de milícias que marca o fascismo popular de Jair Bolsonaro. O bolsonarismo provoca uma reordenação social cujo eixo central é a “quebra de monopólio” no uso estatal da violência. É essa reordenação a verdadeira responsável por assassinatos brutais como esse.

Já se notou que a base fundamental desse governo não é apenas as forças armadas, mas principalmente as forças policiais. A lógica de extermínio, desaparecimento e assassinato que compõe a espinha dorsal da polícia brasileira ganhou um elemento suplementar quando tais ações passaram a serem feitas sem necessidade de sombras, sem precisar se deslocar dos holofotes, como aconteceu nesse governo.

Algo de fundamental ocorre quando a mesma coisa é feita, mas sem a necessidade de mascaramento, com a certeza absoluta da impunidade e com aplausos do Palácio do Planalto. Nesse caso, o fundo miliciano da polícia brasileira aparece de forma completamente desrecalcada, podendo produzir uma dinâmica irresistível de contágio social. Ou seja, outros grupos sociais, ou mesmo indivíduos isolados, se vem cada vez mais autorizados a agirem como se estivessem em uma situação de guerra.

De fato, como em movimentos fascistas históricos, a base armada desse projeto político não vem exatamente das forças militares tradicionais, mas da organização da sociedade a partir da lógica de milícias. A milícia se torna então o modelo fundamental de organização social. Isso significa que o exercício da violência aparece como atributo fundamental do exercício da cidadania, por mais estranho que isso possa inicialmente aparecer. Ser cidadão, ser cidadã é, nessa lógica, poder usar a violência para se “autodefender”, sendo que sempre é bom lembrar (e isso a experiência colonial nos mostra claramente) que nem todos tem o pretenso “direito de autodefesa”. Alguns tem apenas a condição de corpos a serem alvejados.

Assim, não erra quem afirma que o objetivo maior desse governo é fazer de todo brasileiro e brasileira um miliciano potencial. Ou seja, fazer de todos os que se identificam com esse “Brasil”, com suas cores nacionais, sua história de apagamentos e genocídios, com seu agronegócio depredador, um miliciano reconciliado consigo mesmo.

Alguém indiferente a morte de “inimigos”, solidário a corrupção vinda dos seus, identificado a figuras brutalizadas de poder e força, ao mesmo tempo que se vê como o defensor armado do ocidente e seus valores. Esse não é apenas um projeto de poder, mas efetivamente um projeto de sociedade. Contra isso, precisaremos de algo do tamanho da força de outra imagem de sociedade.

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