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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

12
Abr22

A contrarrevolução fascista do bolsonarismo

Talis Andrade

Foto: Alass Derivas, de manifestação antifascista em Porto Alegre, 24/5/2020.

por Jeferson Miola

Medieval, reacionário, genocida, anticivilizacional, fascista, extremista etc – são alguns dos adjetivos comumente empregados para definir o significado do governo Bolsonaro e do “movimento bolsonarista”.

Todos esses adjetivos servem sob medida para caracterizar a natureza deste fenômeno radical que está subvertendo completamente a ordem política e social deste ciclo pós-ditadura que durou pouco mais de 30 anos.

Mais além de adjetivar Bolsonaro e o bolsonarismo, no entanto, é preciso identificar o significado substantivo do processo que está em curso, de uma genuína contrarrevolução fascista. Nesta perspectiva, o bolsonarismo tem de ser considerado como um movimento de caráter revolucionário, ainda que de sentido regressivo, do ponto de vista civilizatório.

O professor Francisco Carlos Teixeira/UFRJ [em comunicação pessoal] entende que o processo de mobilização das massas bolsonaristas é fator chave da construção do que ele considera a modernidade reacionária fascista.

Sob este ângulo, portanto, a contrarrevolução fascista do bolsonarismotambém assume um caráter renascentista. Uma espécie, porém, de Renascentismo de seta invertida, com retrocessos medievais e anticivilizacionais e, do ponto de vista democrático, gravemente ameaçador à pluralidade e à diversidade.

Neste renascentismo bolsonarista, do mesmo modo como aconteceu no nazismo, a sociedade tem de ser depurada; é preciso purificá-la, livrar-se dos inimigos internos.

Como anotou o professor Juarez Guimarães/UFMG em resenha a respeito da obra do historiador inglês Roger Griffin sobre o fascismo, “Auschwitz, símbolo maior do extermínio de seis milhões de judeus pelo nazismo, seria o ‘ânus da Europa’, na linguagem hitleriana documentada” [aqui e aqui].

As ideias absurdas e horrorosas, assim como a escatologia político-ideológica do Bolsonaro e da matilha fascista encontram, entretanto, espantosa ressonância em amplos setores da sociedade brasileira. E não somente junto às classes ricas e médias, mas também nas camadas pobres e populares.

Bolsonaro matreiramente se vende como antissistema. Mas, na realidade, ele é a resposta mais funcional do próprio sistema para a atual crise estrutural do capitalismo num país periférico como o Brasil. A funcionalidade dele à reestruturação ultraliberal e reacionária é fartamente evidenciada nas políticas destrutivas desenvolvidas em tão curto período de tempo pelo governo militar que ele preside.

Não é nada trivial que a despeito de toda barbárie, descalabro econômico, corrupção descarada, devastação nacional e desprestígio internacional, Bolsonaro ainda siga sendo a opção mais competitiva das classes dominantes para enfrentar Lula nas urnas.

O motivo para isso é que a contrarrevolução fascista do bolsonarimo conta com enorme adesão social de massas. Na órbita do bolsonarismo gravitam movimentos de massas hiperativos, engajados e, inclusive, armados.

Isso explica a relativa estabilidade do Bolsonaro nas pesquisas, entre 25% e 30% das intenções de votos. Este desempenho também está relacionado, em grande medida, à capacidade que ele tem de encarnar o “espírito dos tempos” e de ser uma solução orgânica do sistema.

Contraditoriamente, Bolsonaro [i] consegue conter e, ao mesmo tempo, canalizar para dentro da própria ordem capitalista e neoliberal a revolta e o mal-estar da população com o fracasso de décadas do neoliberalismo e, ainda assim, [ii] ele ainda consegue se apresentar como antissistema, num processo que bloqueia a viabilização de alternativas antineoliberais e aprofunda a ditadura do capital financeiro.

A receita para isso, segundo o próprio Bolsonaro, é a destruição. “Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer. Que eu sirva para que, pelo menos, eu possa ser um ponto de inflexão”, ele declarou no início do mandato [18/3/2019].

Nesta cruzada ultraliberal de destruição, Bolsonaro explora com sucesso a subjetividade da cidadania abduzida por valores neoliberais, como o anti-Estado, o individualismo empreendedor, a meritocracia, a desregulamentação total e o libertarianismo, por exemplo. Com a “teologia da prosperidade”, o fundamentalismo religioso de extrema-direita irradia, incute e reforça tais valores.

Para que, afinal, estabelecer limite de velocidade nas rodovias, ou a obrigatoriedade de vacinação ou o uso obrigatório de cadeirinhas para crianças nos veículos se, no fim, cada pessoa é responsável pelo risco que decide correr?

De acordo com a versão laissez-faire bolsonarista, as normas ambientais que impediriam saqueadores, garimpeiros, grileiros, produtores rurais e crime organizado de devastarem a Amazônia e as áreas indígenas, servem apenas para abastecer a indústria da multa e da arrecadação.

Qual o problema em permitir que toda “pessoa de bem” tenha direito a possuir armas e munições à vontade para defender a si mesmo, à sua família e à sua propriedade? Por outro lado, quem se opõe a esta “liberdade fundamental” de fazer justiça com as próprias mãos, é defensor de direitos humanos para bandidos.

Reivindicar direitos sociais, trabalhistas e previdenciários é coisa de vagabundo que não quer trabalhar porque não sabe viver sem o Estado, raciocinam até mesmo muitos trabalhadores precarizados e uberizados obrigados a trabalhar entre 12 e 16 horas por dia e que, mesmo assim, mal conseguem sobreviver, mas se consideram empreendedores.

carteiratrabalho reforma trabalhista emprego apose

A propaganda ideológica do Ifood para combater a organização sindical dos entregadores de aplicativos associa o trabalho até a morte como um martírio natural, como uma realidade inerente à existência humana: “Não pare quando estiver cansado. Pare quando estiver tudo feito” – “Breque dos APP é só pra quem já tá com a vida ganha” [imagem].

trabalhadores ifood

A contrarrevolução bolsonarista promove com grande eficácia a associação simbólica do martírio do trabalhador de mentalidade colonizada e sujeitado a formas de trabalho que remontam à escravidão, com o martírio do “Messias”, o “Mito”, que sofreu a suposta facada e se ergueu para continuar a caminhada para livrar o povo brasileiro da ameaça comunista [sic].Na Câmara, Sindicato defende indústria nacional e empregos - Sindicato dos  Metalúrgicos do ABC

Menos de um mês depois da eleição do Bolsonaro, o professor Paulo Arantes/USP fez um prognóstico sombrio, mas que o tempo se encarregou de confirmar o quão certo estava. Em entrevista ao Brasil de Fato [13/11/2018], Arantes disse:

A encrenca brasileira é essa: abriu-se a porteira da absoluta ingovernabilidade no Brasil. O que nós temos agora é um comportamento destrutivo da classe dominante brasileira que está apostando todas as fichas em tirar sua castanha do fogo com o braço da delinquência fascista. Ferre-se o resto. E isso é realmente o inacreditável. Houve várias chances de acordo desde que se instaurou a crise na Era Lulista. Mas eles resolveram puxar o tapete, fazer o impeachment e abrir a porteira do inferno. Um caos político e social”.

A eventual continuidade do governo Bolsonaro, longe de representar a normalidade da rotina democrática e eleitoral, significará o aprofundamento da contrarrevolução fascista e o encaminhamento do país para um precipício ainda mais inimaginável e seguramente mais tenebroso.

Derrotar Bolsonaro para deter o fascismo é, certamente, o maior e mais complexo desafio que a atual geração de brasileiros e brasileiras terá em toda sua existência.Uberização e a precarização das relações de trabalho

 

26
Set21

Bolsonaro, com todos os defeitos, tem a aprovação de metade do patronato

Talis Andrade

DISCURSO: UMA DOSE CAVALAR DE INDIGÊNCIA INTELECTUAL - Bora Pensar

 

O ESCÂNDALO BOLSONOIDE

O meio bilhão a ser gasto com propaganda é um projeto de crime eleitoral

 

por Janio de Freitas /Folha

De volta ao personagem criado pela escrita cínica de Michel Temer —cumprido o breve intervalo de autenticidade na ONU—, Jair Bolsonaro sugere estar agora dedicado ao papel de cômico. Palhaço, mesmo. Cambalhotas verbais de um lado a outro. Mas, sem sair do roteiro de falsidades manjadas, não escapa da vaia. O deprimente, para a arquibancada, é que o Bolsonaro em exibição não é apenas o falacioso visto no comentarismo político. Tem mais e maior significação.

E aí está o escândalo que não faz escândalo: o Bolsonaro tal qual é, com todos os defeitos pessoais, a destrutividade e as anticivilidades que nenhum país pode suportar, tem a aprovação e o apoio de um em cada dois integrantes do patronato (retomo a nomenclatura abolida já no começo da ditadura, por iniciativa do dúbio Jornal do Brasil). Os integrantes desse segmento bolsonoide perfazem 47% da classe, quando, entre os brasileiros maiores de 16 anos, só 22% de fato batem palmas a Bolsonaro. Ou uma em cada cinco pessoas.

Bolsonaro não representou na ONU, nem o faz em outro lugar, a população brasileira. Se, como quer a interpretação divulgada, discursou para os seus apoiadores, sobretudo falou por metade do numeroso patronato. Foi ali a voz dos objetivos e dos modos a que esse segmento aplaude pelo que fazem no e com o país.

Só há desvantagens em atribuir irrepresentatividade a Bolsonaro. Não é verdade, não ajuda a tentar compreender as realidades e o necessário para o presente e o amanhã, e emburrece. Bolsonaro e o Brasil por ele descrito são reconhecidos no restante do mundo como fraudes grotescas. Aqui, porém, o fraudulento e a própria fraude são realidades aprovadas e apoiadas por metade da força socioeconômica, e portanto política, que mais tem influído no destino do país.

Dois títulos do noticiário recente bastam para configurar o presente e sua promessa de futuro. Um, “46 milhões vivem em lares sem renda do trabalho, diz Ipea” (remuneração de trabalho não é renda, mas vá lá). O outro, “Está faltando comida na mesa de novo, diz Luiza Trajano”, esse monumento feminino que emerge do melhor patronato.

OS DE LÁ

O governo Joe Biden tem pressa. A cada semana, uma negação das expectativas pessoais e políticas que lhe entregaram a presidência. Mentiras em inglês, no entanto, são mais digeríveis.

A chamada Crise dos Foguetes, que levou o mundo à beira da guerra nuclear, foi evitada pela admissão do governo Kennedy de retirar bases de mísseis que circundavam a União Soviética. Em troca, os soviéticos retiravam seus mísseis plantados em Cuba. A aliança militar com que Joe Biden avança em novo cerco, dessa vez à China, recriam a Guerra Fria que ele nega —sabe-se o que esperar daí.

Kamala Harris, vista pelo mundo como um anteparo de inteligência e humanismo a eventuais deslizes do governo, fez um tour nas vizinhanças da China com explícita incitação antichinesa. Encarregada do problema da imigração ilegal, não deu resposta à violência cavalariana para bloquear ou prender os haitianos que, desarvorados pela miséria, tentaram entrar nos Estados Unidos. Por certo, ao menos leu o pedido de demissão do enviado especial de Biden ao Haiti, Daniel Foote, recusando-se a “compactuar com a política desumana da Casa Branca” para o mais pobre país das Américas.

SEMPRE MAIS

O meio bilhão a ser gasto com propaganda das “realizações do governo” e diferentes pesquisas, já agendada para novembro a concorrência publicitária, na verdade é um projeto de crime eleitoral. E ainda desvio criminoso de dinheiro público. Ou rachadinha com o Tesouro Nacional.

Marcio Vaccari | Humor Político – Rir pra não chorar

05
Ago21

A cruzada de um golpe anunciado

Talis Andrade

cruzado nazista.jpeg

 

 

Como conviver numa pátria que dia-a-dia se decompõe, deserta das garantias democráticas, descampada de princípios elementares de justiça e liberdade, lançada no vão raso do autoritarismo fascista, anticivilizatório, negacionista de uma súcia de milicianato cívico-militar?

 

por Marcelo Mattos

O magnífico físico britânico Stephen Hawking, certa feita, constatou que “a inteligência artificial pode se mostrar a maior invenção da história da civilização ou a pior“, mas “ainda não sabemos se seremos beneficiados ou destruídos por ela“. Talvez a insanidade idolatrada pelo tormento ou a mediocridade desmedida nos dê a dimensão mais clara do que se transformou um país desgovernado, conduzido pela imbecilidade plena e incapacidade pública de um cidadão tornado presidente da República por capricho e ranço de uma elite rancorosa.

Como conviver numa pátria que dia-a-dia se decompõe, deserta das garantias democráticas, descampada de princípios elementares de justiça e liberdade, lançada no vão raso do autoritarismo fascista, anticivilizatório, negacionista de uma súcia de milicianato cívico-militar?

Os ataques do então presidente da República ao sistema eletrônico de votação e defesa do voto impresso reiteram o crime de denunciação caluniosa com finalidade eleitoral, se utilizando de uma intensa rede de mentiras e falsas informações, como plataforma para arregimentação e impulso de uma horda bolsonarista, buscando viabilizar um projeto de golpe à ordem constitucional e democrática, bem como inviabilizar a realização das próximas eleições de 2022.

Esses constantes assaques ao STF e TSE, em particular, ao Ministro Roberto Barroso, com investidas e ofensas de ordem pessoal, demonstram o confronto tramado por instâncias do Poder Executivo para desagregar, turbar as instituições judiciárias através da arregimentação política para uma intervenção e investida criminosa ao Supremo Tribunal Federal, a exemplo do que aconteceu na invasão ao Capitólio americano por grupos extremistas e supremacistas.   

Tal intromissão também se estabelece com a indicação para a vaga no STF, do chefe da Advocacia Geral da União (AGU), André Mendonça, alardeado como um futuro Ministro terrivelmente bolsonarista, digo, evangélico, messiânico-fundamentalista.

Em importante iniciativa do Ministro Barroso na noite de ontem, o plenário do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) abriu inquérito para investigar os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral de votação eletrônica. Para o nosso alívio e sorte, ainda que tardiamente, alguma boa pimenta da indignação veio a refrescar os olhos do Ministro, o mesmo Barroso que se manteve inerte e omisso diante da fraudulenta campanha presidencial de Bolsonaro fundada na manipulação de “dominância informativa”, numa guerra digital onde milhares de informações foram propagadas por pessoas e também por robôs/bots, na coleta de dados de contas do Facebook, na criação e difusão de conteúdos falsos via Whatsapp, através das chamadas feke news, burlando as eleições de 2018.

Mas ao contrário desta sorte, a justiça que tarda, falha. Os reiterados crimes praticados pelo desgoverno do então presidente da República, sob auspício da caserna de militares subservientes ao descalabro criminoso da saúde, ao morticínio responsável por mais de 557 mil mortes e milhões de cidadãos sequelados pela Covid-19, o aniquilamento dos direitos e garantias dos trabalhadores, enfim, a barbárie institucional de um desgoverno antidemocrático e fascista precisam ser imediatamente paralisados, antes que o país pereça e se desagregue.Image

 

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