Em carta, 46 congressistas pedem ao líder americano que revogue permissão de permanência do ex-presidente brasileiro. Texto também exige investigação de possíveis ações tomadas nos EUA em apoio aos ataques em Brasília.
Cresce a pressão nos Estados Unidos para que o presidente do país, Joe Biden, force Jair Bolsonaro a deixar o território americano, na esteira dos ataques perpetrados por apoiadores extremistas do ex-presidente na Praça dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro.
Um grupo de 46 congressistas do Partido Democrata enviou uma carta a Biden pedindo que ele revogue o visto diplomático ou qualquer permissão que Bolsonaro tenha para permanecer nos EUA.
No documento, os parlamentares também exigem que o governo "investigue qualquer ação tomada em solo americano para ajudar a insurreição" ocorrida em Brasília, seja apoiando, coordenando ou financiando os atos golpistas e violentos.
"Não devemos permitir que Bolsonaro ou qualquer outro ex-funcionário do governo brasileiro se refugie nos Estados Unidos para escapar da justiça por crimes que possam ter cometido durante seu mandato, e devemos cooperar plenamente com qualquer investigação do governo brasileiro sobre suas ações, se solicitado", escreveram os congressistas na carta.
Visto de autoridade
O ex-presidente de extrema direita está na Flórida desde o fim de dezembro, quando abandonou a Presidência da República dois dias antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Na carta, os democratas observam que Bolsonaro entrou nos EUA ainda como chefe de Estado brasileiro, portando então um visto A-1, concedido a diplomatas ou funcionários de governos.
"Como ele não é mais o presidente do Brasil, nem está servindo atualmente como funcionário do governo brasileiro, solicitamos que se reavalie o status dele no país para determinar se existe uma base legal para sua estada e se revogue qualquer visto diplomático que possa ter", afirmam.
O governo americano ainda não se manifestou sobre o status legal que Bolsonaro mantém nos Estados Unidos.
Contudo, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, afirmou na segunda-feira que estrangeiros que entram nos EUA com um visto A-1 têm 30 dias para deixar o país se não fizerem mais parte de um governo.
"Ameaça às instituições democráticas"
Na carta, os congressistas também dizem que Bolsonaro, durante seu governo, ameaçou as instituições democráticas e que suas ações incitaram apoiadores radicais a cometerem atos de violência.
"Sua disseminação de desinformação, sua recusa em pedir a seus apoiadores que aceitassem os resultados das eleições e seus apelos ativos para se mobilizar contra as instituições democráticas incitaram milhares de manifestantes a invadirem prédios do governo e se envolverem em atos violentos", afirma o texto.
Após os ataques golpistas de 8 de janeiro, Biden conversou por telefone com o presidente Lula e expressou "o apoio inabalável dos Estados Unidos à democracia no Brasil".
A condenação entre congressistas americanos também foi rápida, bem como o apoio à expulsão de Bolsonaro do país. Ainda no dia 8, o deputado democrata Joaquín Castro, do Texas, pediu a extradição do ex-presidente brasileiro.
"Ele é um homem perigoso. Deveriam mandá-lo de volta para seu país natal, o Brasil", disse o deputado. "Apoio o presidente Lula e o governo democraticamente eleito no país", completou o democrata, que também relacionou a invasão em Brasília com o ataque ao Capitólio americano em 2021. "Terroristas domésticos e fascistas não podem usar a cartilha de Trump para minar a democracia."
A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, de Nova York, também relacionou os eventos em Brasília com o Capitólio: "Vemos fascistas tentando fazer o mesmo no Brasil." Na mesma mensagem, ela manifestou solidariedade a Lula e apoiou o fim do "refúgio" de Bolsonaro nos EUA.
Inaceitável. Não há outro termo para qualificar a ultrajante ação terrorista que aconteceu ontem na capital da República. Aproveitando-se da omissão criminosa na segurança do Distrito Federal, uma horda de arruaceiros destruiu as sedes dos Poderes da República. Os extremistas depredaram patrimônio público, afrontaram a democracia, achincalharam as instituições, puseram em xeque o Estado Democrático de Direito.
Sem qualquer respeito aos símbolos nacionais, à lei e às noções elementares de civilidade, os terroristas disfarçados de patriotas quebraram vidros, móveis, equipamentos, obras de arte. Destruíram tudo o que viam pela frente nos três prédios monumentais que formam a Praça dos Três Poderes. No Congresso Nacional, primeiro alvo da sanha bolsonarista, invadiram o plenário do Senado Federal. Em seguida, dirigiram-se ao Palácio do Planalto, onde, mais uma vez, protagonizaram cenas de selvageria. Por fim, avançaram sobre o Supremo Tribunal Federal. Atracaram-se à estátua da Justiça, obra icônica de Alfredo Ceschiatti, para encobri-la de ódio e vergonha. Em seguida, irromperam no prédio da Suprema Corte. Arrancaram o brasão da República Federativa do Brasil. Destruíram o plenário onde os 11 ministros cumprem o juramento de defender a Lei Maior do país, a Constituição Federal.
Foram cenas deploráveis, lamentáveis, criminosas. Não há um resquício sequer de liberdade de expressão, de manifestação democrática, de patriotismo. O que se viu na capital da República é um grave atentado à soberania nacional. Não se pode aceitar, ainda, o argumento vil de que são manifestações espontâneas. Está evidente que Brasília foi, mais uma vez, vilipendiada por um movimento pernicioso, tramado e financiado por pessoas com poder econômico.
Mais grave ainda, os arruaceiros de plantão tiveram generoso e condescendente tratamento de autoridades. A começar, pela Secretaria de Segurança do Distrito Federal. Desde 12 de dezembro, quando centenas de criminosos atacaram a sede da Polícia Federal e incendiaram ônibus e veículos, estava evidente que o governo local tinha de tomar medidas severas para garantir a integridade física dos brasilienses e a ordem no Distrito Federal. Os atos mostraram, de maneira eloquente, o despreparo e a leniência das autoridades de Segurança do governo de Ibaneis Rocha com os extremistas. Em reação, o ministro Alexandre de Moraes determinou o afastamento do governador. O pedido de desculpas feito pelo chefe do Buriti não foi suficiente para se redimir com a República. Demitir o secretário e ex-ministro bolsonarista Anderson Torres tampouco serviu para retirar do GDF a pecha de conivência com a escalada antidemocrática.
A responsabilidade pela baderna intolerável que grassa em Brasília não se limita ao governo local. É preciso que o Ministério da Defesa esclareça, de maneira incontestável, a participação das Forças Armadas nesse enredo. Afinal, os bandidos estão há meses acampados em uma área de Segurança Nacional, sob a responsabilidade do Exército. E tiveram tempo suficiente para urdir ações terroristas. No dia 24, um empresário foi preso porque pretendia explodir um caminhão de combustível no Aeroporto Internacional de Brasília. As investigações já demonstraram que ele tinha contato com os "patriotas" acampados no Quartel General do Exército.
A intervenção na Segurança Pública do DF foi a resposta imediata do governo federal à ação terrorista em Brasília. Esperam-se outras medidas institucionais. É preciso investigar e punir, de modo cabal e exemplar, todos os envolvidos nessa odiosa marcha contra a democracia. As punições não podem se limitar aos delinquentes que vandalizaram os Poderes da República. É imperioso investigar e punir aqueles que financiam esses atos criminosos. É preciso mostrar, ainda, que aqueles que, de maneira explícita ou dissimulada, apoiam ações dessa natureza incorrem em crime.
Democracia é inegociável. A integridade de Brasília também. Não há nenhuma concessão a ser dada aos extremistas que cobriram de vergonha a República. Apenas cumpra-se a lei.
Em vários depoimentos à Polícia Federal e à Polícia Civil do Distrito Federal, golpistas presos pelos ataques às sedes dos Três Poderes no domingo (08/01) afirmaram que o agronegócio foi o grande financiador dos atos terroristas. Todo o deslocamento para Brasília foi de graça, alguns ainda receberam ajuda de custos.
Os policiais estão anotando cada detalhe, pois querem cruzar todas as informações para que não haja erros na hora de identificarem os financiadores e os organizadores dos atentados à democracia. Alguns nomes foram falados pelos detidos, mas a ordem é não haver precipitações para que as prisões dessas pessoas possam ocorrer em segurança.
Já havia sérias desconfianças dentro do Supremo Tribunal Federal (STF), que conduz os inquéritos das fake news, e no entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que empresários do agronegócio mais radicais estariam bancando as instalações de golpistas em frente aos QGs do Exército. Agora, têm-se certeza disso.
Também está evidente, nos depoimentos, que militares de altas patentes participaram da organização dos atos terroristas, orientando os golpistas sobre como agir e o que fazer. As identificações deles já começaram e a ordem é punir todos com rigor. É preciso dar exemplo que ninguém está acima da lei, todos devem obediência à Constituição.
A Papuda, por sinal, nunca esteve tão movimentada. Os terroristas presos estão sendo levados para lá — as mulheres, para a Colmeia. Não se sabe se todos os ouvidos pelos policiais serão encaminhados para esses presídios. O sistema de segurança aponta que 260 golpistas foram presos em flagrante no domingo e outros 1.200 detidos no acampamento em Brasília.
Chama a atenção dos policiais o fato de muitos presos serem idosos, que fazem questão, há todo momento, de expressarem o radicalismo no discurso e a inconformidade com os resultados das eleições. Dizem que o presidente deles continua sendo Jair Bolsonaro, a quem defenderão a qualquer custo. Bolsonaro fugiu do Brasil dois dias antes da posse de Lula. Está nos Estados Unidos.
Graciele é a única mulher entre os 15 vereadores eleitos para a Casa em Sinop, onde Jair Bolsonaro (PL) ganhou com 76,59% dos votos
Boato era de que vereadora iria protocolar um projeto para retirar de Sinop os acampamentos pró-golpe de Estado
por CAÊ VASCONCELOS /UOL
Um grupo de manifestantes golpistas ocupou a Câmara Municipal de Sinop (500 km ao Norte de Cuiabá), na manhã de segunda-feira (28), e atacou a vereadora Graciele Marques dos Santos (PT) durante a sessão.
A motivação dos bolsonaristas teria sido uma fake news que circulou nos grupos bolsonaristas de que a vereadora iria protocolar um projeto de lei para retirar na cidade os acampamentos pró-golpe de Estado.
Graciele é a única mulher entre os 15 vereadores eleitos para a Casa na cidade — em que Jair Bolsonaro (PL) ganhou com 76,59% dos votos, na corrida presidencial contra o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O grupo protesta na região desde a vitória do petista sobre sobre o presidente, em 30 de outubro.
Em vídeos obtidos peloUOL Notíciasé possível ouvir os covardes manifestantes hostilizando e xingando a parlamentar de "vagabunda", "ratazana" e "filha da p*".
As gravações também mostram que, durante a fala de Graciele no púlpito, os manifestantes ficam de costas para a parlamentar, mas continuam com as ofensas.
Os demais vereadores, incluindo o presidente da Câmara, Elbio Volkweis (Patriotas), foram registrados em vídeo, rindo da situação.
Elbio já foi filmado em bloqueios nas estradas ao lado de um dos suspeitos de colocar fogo em caminhões durante os protestos golpistas — preso pela Polícia Federal — e da ex-prefeita Rosana Martinelli (PL), suplente do senador Wellington Fagundes (PL).
O presidente da Câmara foi procurado pela reportagem, via email, assim como a Câmara, e não se manifestou.
Em entrevista ao UOL Notícias, a vereadora Graciele disse que a cidade hoje tem um clima de "instabilidade" desde a eleição de Lula.
A vereadora se queixa de não ter obtido apoio das forças de segurança da cidade nem do Legislativo municipal.
"Nós pedimos que a polícia fizesse a segurança e que a Câmara colocasse detector de metais [na Casa] e não fomos atendidos."
Sobre o ataque de terroristas contra ela na Câmara, afirmou que os policiais chamados ao local não tomaram providências contra os manifestantes.
"A polícia ficou pouquíssimo tempo lá, ao contrário do que faz em manifestações mais progressistas. Eles ficaram do lado de fora, entraram por dez minutinhos depois de muita insistência", disse.
A Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública também foram procuradas pela reportagem, mas não houve manifestação.
Graciele também reclama de isolamento político na Câmara (composta além da petista, de 3 vereadores do Republicanos, 3 do PL, 2 do PSDB, 1 do União, 1 do Patriotas, 1 do PSB, 1 do MDB, 1 do Pros, e 1 do Podemos).
O prefeito de Sinop é Roberto Dorner, do Republicanos).
Segundo ela, toda pauta que tenta emplacar causa "polêmica" na Casa e ela não recebe apoio dos colegas de trabalho.
"Não há uma solidariedade e apoio efetivo. Há um discurso, mas na prática nem a minha fala é garantida. Os projetos são sistematicamente reprovados. Ofensas são permitidas para mim, mas não para outros parlamentares", aponta.
A vereadora também afirmou que todo seu mandato vem sendo exercido com tensão, mas que piorou desde as eleições presidenciais.
"É muito difícil. Pelo perfil das pessoas que estão nas manifestações, sabemos que são pessoas capazes de agredir, que eles andam armados", lamenta.
Procuradora da República em Mato Grosso Andrea Costa de Brito encaminhou recomendação ao superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no estado para que aplique multa a todos os proprietários de bens móveis utilizados em bloqueios de rodovias federais ou abandonados após desbloqueio. Também recomendou que designe o maior número possível de policiais para a desobstrução e manutenção dos trechos.
A recomendação foi publicada no Diário Eletrônico do MPF desta terça-feira (29). A procuradora considerou os constantes bloqueios de rodovias ocorridos em Mato Grosso desde o 2º turno das eleições presidencias e o aumento destes atos, com crescente prática de atos criminosos desdem pelo menosm 18 de novembro de 2022.
A representante do MPF também citou que há decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para que a PRF e as polícias militares estaduais tomassem medidas imediatas para impedir os bloqueios.
Ainda segundo a procuradora, o governo de Mato Grosso informou que, no momento, não se faz necessário o apoio da Força Nacional de Segurança no estado, mas sugeriu um reforço no efetivo da PRF. Ela verificou que, até maio de 2022, o órgão possuía 463 agentes policiais, sendo 330 nas unidades operacionais, e que entre 31 de outubro e 18 de novembro atuaram 177 policiais nas desobstruções de rodovias.
Por fim Andrea Costa de Brito considerou o Código de Trânsito Brasileiro e que em 23 de novembro de 2022, durante reunião, membros do Ministério Público de Mato Grosso relataram omissão da PRF em remover bens móveis abandonados nas rodovias federais.
Ela então recomendou ao superintendente da PRF que, “em caráter preventivo e com objetivo de evitar a propositura de demandas judiciais”, aplique multa a todas as pessoas físicas ou jurídicas proprietárias de bens móveis utilizados para obstrução de rodovias federais, ou que foram abandonados após o desbloqueio. Também pediu que seja feita a remoção dos bens abandonados.
“Proceda à devolução dos bens móveis abandonados apenas após a identificação dos proprietários e devida aplicação de multa, na forma prevista no Código de Trânsito Brasileiro e de acordo com suas competências administrativas”, disse.
Também pediu que o superintendente designe o maior número possível de agentes da PRF para realizar a desobstrução e manutenção da desobstrução das rodovias federais no estado. Ela deu prazo de 4 dias para que haja uma resposta.
Ronaldo Ribeiro Travassos é militar da ativa da Marinha e incentiva os atos bolsonaristas antidemocráticos em áudios e vídeos enviados a grupos: "Quem faz o L é terrorista. Tem que morrer mesmo"
247 -O primeiro-sargento da Marinha Ronaldo Ribeiro Travassos aparece em áudios e vídeos enviados em um grupo de mensagens defendendo o assassinato de eleitores do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de afirmar que o petista não tomará posse no dia 1 de janeiro de 2023. Segundo o jornalFolha de S. Paulo, Travassos está lotado na divisão administrativa do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), chefiado pelo general bolsonarista Augusto Heleno.
"Aí pessoal, tá lotado. 24 de novembro de 2022, horário do jogo do Brasil, mas o povo não quer nem saber, o povo está aqui lutando pelo Brasil. Eu tenho certeza que o ladrão não sobe a rampa. Agora, você que tá bonitinho em casa, quando seu filho virar boiolaou uma sapatão esquerdista, não reclame", diz o militar em um vídeo gravado no dia 24 de novembro, data de estreia do Brasil na Copa do Mundo no Catar, de acordo com a reportagem.
“Sobre a hipótese de o presidente eleito Lula não tomar posse, o militar diz em um áudio ter feito a previsão a outro integrante do GSI, o general Joaquim Brandão, que é assessor especial de Heleno. ‘O general Brandão me perguntou lá no gabinete: Marujo, o que você acha? Acho não, tenho certeza, o ladrão [em alusão a Lula] não vai subir a rampa. Por que você diz isso? Porque eu confio no povo que tá lá no QG, em todos quartéis Brasil afora, confio nos caminhoneiros e nos índios. Se as Forças Armadas não fizerem nada, nós vamos fazer’”, diz ele.
Em outras conversas, o miitar fala que o Brasil terá uma "guerra civil” e defende o assassinato de apoiadores e eleitores de Lula. “É isso mesmo, tem um monte de colega omisso. Tem gente aqui nesse grupo, tem grupo de fora, meu prédio tem 17 moradores, dos 17, seis fazem o L. Nós precisamos saber quem é quem, porque a guerra civil vai rolar", afirma.
"Não tô falando isso de brincadeirinha, não, é sério. Quem faz o L é terrorista. Tem que morrer mesmo, ou mudar ou morrer, porque não tem jeito uma pessoa dessa", completa o militar.
Travassos é militar da ativa e, de acordo com a Constituição, não poderia estar filiado a partidos políticos e também não poderia participar de “quaisquer manifestações coletivas, tanto sobre atos de superiores quanto as de caráter reivindicatório ou político".
"Procurado, ele disse que não comentaria suas falas e argumentou não saber se era ele mesmo nos áudios. A Folha então encaminhou as conversas ao militar, que não mais respondeu. O GSI, por meio de nota, disse que não é sua competência 'autorizar servidores para que participem de qualquer tipo de manifestação' e que 'as supostas declarações demandadas são de responsabilidade do autor em atividade pessoal fora do expediente'", diz a reportagem.
As declarações de Augusto Nardes, Ministro do Tribunal de Contas da União, estimulando o golpismo, fazem parte de uma estratégia óbvia. Trata-se de acelerar as manifestações anti-posse até o limite da explosão de alguma violência, em um dos muitos pontos de concentração.
Uma tragédia radicalizaria ainda mais as ocupações, fornecendo o álibi para uma operação de Garantia da Lei e da Ordem, a maneira de legalizar o golpe. E sem a necessidade da liderança de Jair Bolsonaro que, aparentemente, entrou em estado de pânico com a possibilidade de incorrer em novo crime e ser responsabilizado por ele.
Daí as declarações dúbias do general Braga, explícitas de Augusto Nardes estimulando a continuidade das manifestações nos quartéis, enquanto manifestantes são alimentados cada vez mais com discursos de ódio.
Faz parte do mesmo jogo os cortes no orçamento da Polícia Rodoviária Federal, fornecendo um álibi para a não-ação.
Publicações seguem no ar apesar de irem contra políticas de moderação da Meta e foram vistas mais de 414 mil vezes
por Laura Scofield /Agência Pública
* Vídeo com mentiras sobre fraude nas urnas foi visto mais de 125 mil vezes * Facebook só removeu 4 dos 66 conteúdos considerados golpistas
“Nós não vamos deixar um ladrão assumir nossa nação, e as Forças Armadas têm a obrigação de nos defender. Nós não estamos pedindo pra eles, nós estamos exigindo deles que nos dêem amparo”, escreveu Sergio Bolsi na página Desperta Brasil Sergio Bolsi. O post foi veiculado por uma semana, entre 15 e 22 de novembro, no Facebook, Instagram e Messenger e foi visto entre 40 mil e 45 mil vezes. Impulsionado, custou menos de R$ 100 para o anunciante.
Assim como ele, a Agência Pública identificou ao menos outros 65 anúncios publicados no Facebook e Instagram por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) que não aceitam a derrota do líder nas urnas. Os textos divulgam protestos antidemocráticos e defendem um golpe para impedir a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e já foram vistos no mínimo 414 mil vezes desde o início de novembro. Anúncios com teor golpista e que propagam desinformação sobre as eleições não são permitidos pelas políticas da Meta. Ainda assim, apenas 4 das publicações analisadas foram removidas pela plataforma até a publicação desta reportagem.
Os anúncios também foram usados para propagar a narrativa falsa de que as eleições foram fraudadas, como no conteúdo postado pela página Robô Reacionário. Em um vídeo de 4 minutos, a página diz apresentar 10 fatos sobre as eleições, mas se detém em disseminar dúvidas sobre a segurança do sistema eleitoral e apresentar uma série de argumentos já desmentidos por agências de checagem e pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O vídeo afirma, por exemplo, que o TSE retirou seu site do ar após receber denúncias de fraude, o que é mentira. Ao final do vídeo, os autores pedem que as pessoas que duvidam do resultado eleitoral se manifestem: “o futuro de sua família e do Brasil dependem disso”. O conteúdo gerou de 100 mil a 125 mil impressões e custou entre R$200 a R$299.
Ao menos outros 3 dos 20 anúncios veiculados pela Robô Reacionário em novembro chamaram as urnas de “inauditáveis” e atribuíram a eleição de Lula a uma suposta fraude. A página já gastou mais de R$ 1,7 mil com anúncios entre agosto e 20 de novembro, dos quais R$ 666 foram investidos a partir do dia 14 de novembro, véspera do feriado da Proclamação da República e de uma série de atos antidemocráticos que pedem a manutenção de Bolsonaro no poder na frente dos quarteis.
A segunda semana de novembro respondeu pelo maior número de publicações impulsionadas. Entre os anúncios que buscavam chamar mais gente para os atos de 15 de novembro, um deles divulgava um ônibus gratuito entre a capital paulista e Brasília (DF): “olá amigos patriotas de #saopaulo vamos marchar rumo a #brasilia defender nosso país”. A passagem gratuita era só de ida, sem data de retorno. O conteúdo foi postado pela página Nahand, que diz ser de uma loja online, mas não tem seguidores, curtidas e nem apresenta produtos a serem vendidos. Os únicos dois posts feitos pela página são sobre política e pró-Bolsonaro.
“SE QUALQUER AGENTE DE GUARDA MUNICIPAL, POLICIAIS ESTADUAIS OU FEDERAIS, TENTAREM RETIRAR AS PESSOAS DE FRENTE DOS QUARTÉIS, PROCUREM O OFICIAL DE DIA NO QUARTEL IMEDIATAMENTE! OS 3 COMANDANTES DAS FORÇAS JÁ EMITIRAM NOTA PERMITINDO AS MANIFESTAÇÕES”, orientou outra mensagem, em caixa alta no original. O anúncio foi veiculado no Instagram entre 13 e 14 de novembro e foi visto entre mil e 2 mil vezes.
Ao menos outros 4 conteúdos impulsionados citaram uma nota emitida pelos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica como prova de que os manifestantes teriam o apoio das Forças Armadas na empreitada golpista. A nota defendeu a existência das manifestações, mas, como mostra reportagem da Pública, a Alta Cúpula do Exército não pretende colocar tanques na rua.
Diversas publicações pediram ainda que as pessoas compartilhassem as postagens sobre as manifestações — um dos anúncios chegou a defender que mais gente pagasse por alcance na Meta, ou seja, anunciasse na plataforma.
“PARTICIPE E AJUDE OS ACAMPAMENTOS NOS QUARTÉIS, OS CAMINHONEIROS, E FECHEM AS EMPRESAS, CASO CONTRÁRIO, O PREJUÍZO SERÁ MUITO MAIOR, POR 4 ANOS NO MÍNIMO! COMPARTILHE, ANUNCIE, É BARATO”, dizia o conteúdo, também escrito em caixa alta. O anúncio foi publicado pela página 15 Dias de Saúde, que diz vender suplementos com desconto. Como o conteúdo não foi classificado pelo Facebook como de “temas sociais, eleições ou política”, única categoria que permite transparência com acesso aos dados de impressões e valor gasto, não há como saber quantas pessoas viram a publicação nem quem pagou por ela.
A maior parte dos anunciantes pagou menos de R$ 100 para levar seu conteúdo a mais gente, mas alguns anunciantes chegaram a desembolsar entre R$ 200 e R$ 300.
Em retorno à reportagem, a Meta afirmou em nota que “diante da escala de nossos serviços, proibir determinados conteúdos não significa incidência zero” e ressaltoou que, do início da campanha eleitoral até o 1º turno, rejeitou “cerca de 135 mil conteúdos impulsionados direcionados ao Brasil de anunciantes que não haviam concluído o processo de autorização ou de posts que não continham o rótulo ‘Pago por’ ou ‘Propaganda Eleitoral’”.
“Proibimos anúncios questionando a legitimidade da eleição brasileira e removemos publicações com pedidos de intervenção militar no país”, acrescentou a empresa. A Meta também afirmou que se preparou “extensivamente para as eleições brasileiras de 2022” e está comprometida em “seguir aprimorando a aplicação” de suas políticas.
Políticos, lideranças religiosas e empresários do agronegócio
“O agro é nosso! O agro é nosso! O agro é nosso!”, gritavam as pessoas em um dos seis vídeos impulsionados por Raijan Mascarello, que se define como um agricultor mato grossense em sua descrição no Instagram. “Não podemos deixar essa quadrilha comunista voltar a roubar nosso Brasil! Vamos lutar até o fim, mas com certeza sairemos vencedores!!!” escreveu ao compartilhar o conteúdo. Ele gastou entre R$200 e R$299 e seu conteúdo foi visto entre 50 mil e 60 mil vezes durante quatro dias de novembro (16, 17, 18 e 19).
O agricultor também veiculou um anúncio com um vídeo de um suposto bloqueio de rodovia na cidade de Sapezal (MT). “Em SAPEZAL-MT tudo parado! O povo de Sapezal está de parabéns pela resiliência que está tendo!!!! Por isso que gosto dessa cidade! Tem alguns Petistas que não valem o que comem, mas a grande maioria são pessoas fantásticas!!”, escreveu. Também não foi possível identificar o alcance do conteúdo impulsionado.
Além dele, uma página em nome de Lucas Vincensi, que tem apenas 1 seguidor, impulsionou no Instagram fotos de um homem segurando uma bandeira do Brasil em uma lavoura e escreveu “quando você não respeita a bandeira do seu país, o que esperar desta nação. S.O.S FFAA” (sic). O termo “SOS FFAA” (que significa socorro Forças Armadas) tem sido um dos motes dos movimentos golpistas e aparece nos anúncios, junto a outros, como “intervenção federal”, que foi citado 11 vezes. Também não foram disponibilizados dados sobre o alcance do conteúdo publicado por Vincensi.
Edmar Park também se descreve como agropecuarista e pagou entre R$300 a R$399 para a Meta a fim de impulsionar vídeos que mostram os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) sendo hostilizados em evento em Nova York. O vídeo foi visto entre 125 mil e 150 mil vezes. A reportagem identificou ao menos outros 5 vídeos impulsionados que mostraram pessoas xingando os ministros em sua passagem pelos Estados Unidos.
Outro conteúdo impulsionados mostra um homem que se identifica como padre dizendo que os ministros do TSE “não vão abrir os computadores para que as Forças Armadas possam ver se tem corrupção”, o que fará com que as eleições sejam anuladas. O anúncio também não foi rotulado como de temas políticos e não é possível acessar dados sobre sua dispersão. Foi publicado pela página Bolsonsristas Patriotas, que não está mais disponível.
Entre os políticos, o nome de maior destaque é o do Tenente Coronel Zucco (Republicanos), deputado federal eleito em 2022 pelo Rio Grande do Sul. Ele fez ao menos três anúncios nos quais defende as manifestações e diz que as Forças Armadas “permanecerão, como sempre fizeram, ao lado do povo brasileiro”. De acordo com o Divulgacand, plataforma de prestação de contas do TSE, Zucco gastou R$167.505,00 com impulsionamento de conteúdo durante a campanha, dos quais R$163.505,00 foram pagos ao Facebook.
“A mídia tradicional [está] buscando ali influenciar a grande massa contra esses manifestantes, mas o mais interessante: eles estão tentando ignorar o que aconteceu hoje no Brasil, que foi um momento histórico. Milhões de pessoas foram para a frente dos quartéis pedindo intervenção federal”, disse Eder Borges (Progressistas), vereador de Curitiba (PR) e ex-candidato a deputado federal pelo Paraná. “A única coisa certa nesse momento é que esse é o prelúdio de um Brasil em chamas”, finalizou no anúncio.
Borges gastou R$34.000,00 em sua campanha em despesas com impulsionamento de conteúdo no Facebook, mas obteve apenas 9.290 votos nas últimas eleições.
Anúncios golpistas ferem políticas da Meta
Coordenadora de informação e política no Internet Lab, Ester Borges diz que a Meta legitima o discurso golpista ao aprovar posts pagos com esses conteúdos. “Os anúncios usam todas as ferramentas daquela plataforma para alcançar um número cada vez maior de pessoas, então, de alguma forma, a Meta está legitimando esse discurso ao aprovar um anúncio como esse”, afirma.
Para João Guilherme Bastos, pesquisador de internet e política do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), esse tipo de anúncio é mais problemático do que um post comum, porque chega em mais pessoas.
“Eles não simplesmente falam ‘ah, não gostei do resultado da eleição’, eles dizem que existem provas que as urnas foram fraudadas, eles dizem que teve interferência externa. Essa difusão de informações falsas impulsionada pelas ferramentas da plataforma é algo totalmente incompatível com o que em tese seria permitido”, diz.
1 dos 4 anúncios removidos pela moderação da Meta pedia “intervenção federal”. Foi visto entre 4 mil e 5 mil vezes antes de ser retirado de circulação
O pesquisador aponta ainda que os anúncios nas redes são feitos de modo a atingir justamente as pessoas mais propensas a acreditar naqueles conteúdos. “Mesmo um grupo sendo minoritário, a partir do momento que você consegue atingir ele de modo direcionado e rápido, se você focar nos grupos certos você consegue perturbar um processo eleitoral”, explica. “Não é aceitável que a gente deixe isso passar”.
A reportagem perguntou à Meta quantas pessoas que falam português estão dedicadas à moderação dos anúncios e quantas horas diárias elas dedicam à função, mas a plataforma não respondeu. Um porta-voz da empresa acrescentou que esses números não refletem a complexidade do trabalho da equipe de moderação, que monitora 2 milhões de publicações por dia mundialmente.
A decisão de Alexandre de Moraes demandar bloquear as contas bancárias de 43 pessoas e empresasque levaram 234 caminhões pesados para se postarem, como um regimento de tanques, à frente do QG do Exército, em Brasília acerta o “bolsonazismo” onde lhe dói mais: o bolso.
Eu e você temos muito mais direito a ver nosso voto ser respeitado do que eles a terem o poder de movimentar seus milhões (ou até bilhões) para invalidá-los.
Está na lei – e numa lei sancionada por Jair Bolsonaro, no ano passado – que inclui no Código Penal o artigo 359-L:
Art. 359-L. Tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.
Não se apiede achando que se está bloqueando a conta de alguma “tia do Zap” ou de “caminhoneiros”. Os bloqueios são contra empresas, que agiram em desvio de finalidade ao enviar para lá seus caminhões (na maioria comprados com financiamento público) e motoristas.
A minoria de “pessoas físicas” é de famílias que têm os caminhões registrados em seus nomes (duas delas, a Bedin e a Lermer, mandaram quase 20 “tanques” cada), também em indício de possível fraude patrimonial. Afinal, para que serviriam a pessoas físicas terem, cada uma, vários caminhões pesados, com valor de R$ 600 mil cada, em lugar de pertencerem às suas empresas?
Algumas empresas estão mandando retirar seus caminhões, mas os bolsonaristas, abertamente, estão pedindo adesão de outras e sugerindo um novo bloqueio de estradas, no que estão chamando de “greve nacional”.
Há áudios terroristas nas redes sugerindo que as pessoas estoquem comida, é patético.
Não vai colar, é claro, porque a maioria dos empresários que está patrocinando o envio de seus “tanques” a Brasília muda de atitude quando se ameaça afastá-los do seu “grande amor”: o dinheiro.
Participação em sucessivas chacinas, no assassinato de criança moradora de favela, de um preso sufocado na caçapa de um camburão e, desde as eleições presidenciais, reprimindo potenciais eleitores do adversário ao atual mandatário quase ao mesmo tempo em que apoia bloqueios dos antidemocráticos que não aceitam a vitória de Lula.
A folha corrida da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Era Jair inclui perseguições políticas, massacres, assassinatos e, desde o domingo, contestação do Estado de direito, fazendo jus às origens e aos interesses do presidente de índole miliciana. A postura do órgão de repressão armada desceu a tal ponto que melhor seria alterar logo o nome dessa instituição policial para espelhar suas novas funções: Milícia Rodoviária Federal.
Claro que os demais braços armados do Estado nacional – como a Polícia Federal e as Forças Armadas – ao longo da história também têm operado de maneira semelhante e até liderado golpes de Estado em conluio com governos estrangeiros, como os militares fizeram com os EUA em 1964. O frequente uso letal do aparelho de Estado brasileiro contra o seu próprio povo marca alguns dos piores momentos da nossa história.
Mas, o que se vê ao longo dos anos de Jair (não digito o sobrenome e seus derivados para não alimentar os algoritmos) foi o rápido emprego de vastos recursos públicos para instrumentalizar a PRF e transformar essa fração do Estado em braço armado tático, capaz de impor rapidamente, a despeito das leis, como se vê particularmente desde novembro de 2021.
Olhando o quadro mais amplo, Jair milicianizou o Estado, transformando a organização criminosa em um modo de governar: pela violência e morte dos dissidentes e o controle do território. Somente a posse de um novo governo poderá dizer se e quais as demais frações do Estado brasileiro incorporaram a mesma dinâmica.
A PRF alcançou toda essa importância devido à sua capacidade logística e à capilaridade de sua atuação no território nacional. O órgão tem cerca de 12400 agentes/soldados tão armados quanto os temidos batalhões de operações especiais das PM estaduais; opera em 6 mil pontos de apoio em todo o País, ao longo dos 75000 km de rodovias federais; e possui pelo menos um caveirão – tipo de veículo blindado desenvolvido pela indústria bélica de Israel para reprimir o povo palestino, vendido e copiado às fartas pelas polícias estaduais e que nada tem a ver com a missão legal dos policiais rodoviários brasileiros.
Em caso de golpe de Estado – possibilidade com a qual o Brasil voltou a conviver desde a assunção do fenômeno Jair –, a PRF está preparada para operar em vias estruturantes da economia, o comércio e a vida social do País, sendo capaz de interferir objetivamente na conjuntura política – como o faz nos últimos dias, por ação e também por omissão.
No cotidiano, desde pelo menos o fim de 2021, a PRF já foi ator e co-ator de massacres e assassinatos no meio urbano, fora de sua jurisdição, sozinha ou em companhia dos mortíferos batalhões de elite das PMs estaduais. Nessa aliança policial, o Bope do Rio de Janeiro tem um letal e peculiar papel.
Alguns casos recentes em que a PRF foi autora ou co-autora:
03 de novembro de 2021, 26 mortos: “A ação policial responsável pela morte de 26 suspeitos de integrar uma quadrilha especializada em assaltos a banco em Varginha (MG) tem pontos em comum com a chacina do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, como o elevado número de mortes e indícios de adulteração na cena do crime, de acordo com especialistas em segurança pública ouvidos pelo UOL. (…) Na área rural de Varginha, as mortes se concentraram em ações simultâneas em duas chácaras. Já no Rio, foram registradas ocorrências com mortes pela polícia em nove localidades da favela em um intervalo de seis horas em maio deste ano com 27 mortes —uma a mais em comparação com a cidade mineira. A operação é apontada como a mais letal da polícia carioca”
11 de fevereiro, 8 mortos: “Operação conjunta da Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio, deixou pelo menos oito mortos após intenso confronto, nesta sexta-feira (11). As equipes chegaram à Penha antes das 5h, quando começou o tiroteio. Por precaução,17 escolas da rede municipal não abriram e terão aulas apenas on-line. As Clínicas da Família Felipe Cardoso, Aloísio Novis e Klebel de Oliveira suspenderam as atividades externas” (G1);
24 de maio, 25 mortos: “Subiu para 25 o número de mortos na Vila Cruzeiro, na Penha, durante a operação policial realizada por mais de 10 horas nesta terça (24). Com este índice, a operação já é considerada a segunda mais letal do Rio, atrás somente da chacina no Jacarezinho, que deixou 28 mortos em maio de 2021. A ação foi realizada por agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) com objetivo de prender líderes de facção criminosa”(Veja);
27 de maio, 1 morto: “Genivaldo de Jesus Santos, com 38 anos, morreu asfixiado na quarta-feira, vítima de uma ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na cidade de Umbaúba, no interior de Sergipe. Policiais imobilizaram e trancaram Genivaldo em uma viatura da corporação e jogaram bomba de gás dentro do veículo. Laudo do Instituto Médico Legal (IML) indicou morte por asfixia mecânica e insuficiência respiratória após a abordagem policial. A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o caso. A cena foi testemunhada e gravada por pessoas que estavam próximas à viatura e as imagens foram divulgadas nas redes sociais. Vídeos mostram três policiais com os rostos cobertos por capacetes durante a ação e registram o camburão sendo usado como câmara de gás, com a vítima trancada no porta-malas” (Valor Econômico);
28 de outubro, 1 morto: “Mais um adolescente morador de comunidade morreu vítima de bala perdida. O caso ocorreu na madrugada desta sexta-feira (28/10). Lorenzo Dias Palinhas, de 14 anos, foi atingido na cabeça durante uma operação policial noComplexo do Chapadão, na zona norte do Rio de Janeiro. Agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Militar (PMERJ) estavam na comunidade buscando pelos criminosos que mataram o policial Bruno Vanzan Nunes, desde a noite de quinta-feira (27/10). Conforme relatos de moradores, Lorenzo ajudava nas contas de casa trabalhando como entregador de lanche e não estava envolvido no confronto. Testemunhas ainda contam que o jovem morreu com o valor da taxa de entrega, R$ 10, na mão” (Metrópoles)
Jair, seus filhos, uma casta religiosa, o estamento militar e a rede de negócios ilícitos (alguns já descobertos pela CPI da COVID19) levaram ao Palácio do Planalto uma articulação e uma dinâmica milicianas de governar – baseadas na fraude, na violência e na voracidade sobre recursos públicos – o que por si já é inadmissível. Porém, há muito mais razões para nos preocupar. No calor da disputa eleitoral, o polo político diametralmente oposto a Jair também recorreu à milícia em busca dos votos necessários à sua vitória em 30 de outubro.
Observando que as milícias tem enorme poder de voto no Rio de Janeiro, em especial na Baixada Fluminense, também a campanha de Lula aproximou-se, no segundo turno, de velhos senhores da guerra na região, acusados de integrarem ou liderarem milícias.
Um deles é o atual prefeito do município de Belford Roxo, Waguinho Carneiro (União Brasil), já denunciado anteriormente pelo Ministério Público do RJ como integrante de organização criminosa (milícia). O outro foi José Camilo Zito Filho, notório acusado de ser matador a soldo e ex-prefeito de Duque de Caxias. Ele teve negado pelo TRE-RJ o pedido de registro de sua candidatura a deputado estadual pelo PSD nas recentes eleições.
O apoio de ambos foi negociado pelo deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Rio, André Ceciliano (PT), ex-prefeito de Paracambi, onde até hoje se dedica ao comércio de joias e por isso é conhecido como André do Ouro. Não se sabe o que os três negociaram em troca do apoio eleitoral.
O golpismo institucional da PRF contra o resultado democrático das eleições é uma ponta bem visível do iceberg contra o qual estamos perigosamente rumando. Armar e impor a frações do Estado uma forma criminosa de operar já se configura em um desafio enorme à pouca democracia de que ainda desfrutamos. Mas, quando todo o espectro político formal recorre ao poder político das milícias, dando-lhe legitimidade, nos aproximamos ainda mais do cadafalso.
Material didático associa o feminismo à zoofilia e incesto e o diabo à esquerda. Defende o machismo, o racismo e o apedrejamento da mulher que Jesus perdoou. E esquece a fome de 33 milhões de brasileiros, as 500 mil crianças prostitutas, a fila da morte nos corredores dos hospitais
A ASSEMBLEIA DE DEUS DE SANTA CATARINAestá usando desde julho – período pré-eleitoral – uma cartilha anti-esquerda para doutrinação de fiéis. O material, enviado aoIntercept, menciona nominalmente Luiz Inácio Lula da Silva como defensor da chamada “ideologia de gênero”, termo que conservadores usam para atacar os movimentos LGBTQI+ e feminista, e espalha pânico moral ao associar o feminismo à pedofilia, zoofilia e outras “perversidades”.
“O feminismo representa uma das maiores armadilhas do mundo contemporâneo, levando a sociedade a um nível de depravação e perdição inimaginável. Como toda ideologia mundana, tomou proporções inimagináveis, financiando coisas sórdidas como: pedofilia, zoofilia, sexo desregrado, homossexualidade e diversas outras perversidades. O feminismo é uma aberração nascida no mais profundo inferno, produzindo divisão, briga, promiscuidade, homossexualidade e todo tipo de sordidez”.
Parece um fórum de internet dedicado à misoginia, mas trata-se de uma transcrição literal da cartilha para jovens e adultos “Revista EBD – O cristão e os desafios do nosso tempo: entendendo as ideologias, póliticas[sic]e pensamentos da atualidade”, versão do professor. Essas frases saíram mais precisamente da “Lição 12 — Feminismo e a distorção de papéis”.
‘Pedofilia’, ‘depravação moral’ e destruição do casamento': cartilha deturpa conceitos do feminismo.
Esse material – uma legítima cartilha do ódio e intolerância – foi distribuído nos templos da Assembleia de Deus de Blumenau e por toda a próspera região do Vale do Itajaí de Santa Catarina para ser usado na escola bíblica dominical ao longo do trimestre de julho a setembro. Não por acaso, o teor do conteúdo coincide em muitos pontos com o discurso de Jair Bolsonaro, do PL.
Além das feministas, a obra também ataca toda a esquerda, as correntes cristãs vistas como liberais, os evangélicos que não querem misturar igreja com política, o estado democrático de direito, todo o arcabouço legal que garante direitos aos cidadãos não-heteronormativos, o sistema de ensino público e privado e muito mais. Nem a lei do divórcio de 1977, que assegura o direito dos casais a se separarem, escapa da raiva santa exposta no livro.
Ao longo de 124 páginas divididas em 13 lições, é descrito um cenário de medo e horror para o cristão moderno e sua família. Ele passa por toda a realidade paralela erigida em cima de teorias da conspiração e quimeras da extrema direita: globalismo, ideologia de gênero, fim da família tradicional, perseguição aos cristãos, marxismo cultural, ditadura estatal na forma de viver e criar os filhos, “abortismo”, Paulo Freire e por aí vai.
De maneira explícita, o ex-presidente Lula é lembrado nominalmente na obra como um incentivador do que é chamado de ideologia de gênero. Em um quadro amarelo no capítulo dedicado ao tema, a cartilha lembra que ocorreu em seu governo a implementação do Programa Nacional de Desenvolvimento Humano, que estabeleceu direitos básicos hoje desfrutados pela a população LGBTQI+, como união civil, adoção de crianças e reconhecimento do nome social em documentos oficiais, além de políticas afirmativas. Para os autores da cartilha, algo imperdoável.
Trecho da cartilha que menciona nominalmente o ex-presidente e candidato Lula.
“Durante o governo do presidente Luís[sic]Inácio Lula da Silva o movimento LGBT e os ideólogos de gênero conquistaram garantias significativas”, lamentam. Eles escrevem que, se as definições de homem e mulher não são mais absolutas, cada um se torna o que bem entender. Assim, “isso é apenas o começo da catástrofe, pois quando a relativização domina, já não tem critérios para nada, e normalizar a pedofilia e o incesto é questão de tempo”, profetiza o texto. E nada de cair “na conversa de que os cristãos estão se intrometendo na vida dos outros que desejam ser diferentes”. Afinal, “eles não querem apenas um direito para ser quem desejam, querem implantar uma ditadura que afeta a nós e nossos filhos”.
O que é dito e ensinado na escola dominical é entendido como 100% verdade pelo povo fiel.
A cartilha não tem um autor claro, mas traz um prefácio escrito pelo pastor Lediel dos Santos, vice-presidente da Assembleia de Deus em Blumenau. “É impossível não enxergar que estamos em uma grande e intensa batalha”, diz o texto de abertura. “Mais do que nunca precisamos nos posicionar também no campo ideológico e político se queremos de fato edificar. Se o povo de Deus não buscar governar de acordo com os princípios bíblicos, alguém irá nos desgovernar. Esta é a hora de combater o bom combate!”.
Santos é um dos donos da editora Kaleo, que publicou a cartilha raivosa. O outro sócio, Alexandre de Almeida, também é pastor da Assembleia de Deus em Blumenau, segundo dados da Receita Federal. Fundada em 2019, a editora surgiu “com a intenção de difundir conteúdos de qualidade de escritores que ainda não são grandemente conhecidos no mercado publicitário mas cujo pensamentos e ideias merecem ser compartilhados”, diz seu site.
O material, aliás, é oferecido na plataforma para uso em escolas dominicais de todo o Brasil. Cada exemplar custa R$ 13,90 mais a taxa de envio.
Cartilha é utilizada na escola bíblica dominical, uma das instituições mais tradicionais da Assembleia de Deus e de igrejas cristãs no geral.
Apocalipse cristão
A cartilha começa delineando o “apocalipse cristão contemporâneo”. Duas lições inteiras justificam com trechos da bíblia a promiscuidade entre política e religião. Com essas bases lançadas, os capítulos seguintes partem para cima da esquerda e tudo que consideram ser sua obra, sempre a serviço do demônio.
Além do capítulo sobre feminismo, “Educação – um desafio para a igreja brasileira”, “Marxismo cultural e seus impactos”, “Grupos minoritários”, “Ideologia de gênero”, “Machismo: masculinidade deformada” e, por fim, “Sexualidade distorcida em uma cultura erotizada” completam o extenso material. Cada capítulo ou lição equivale a um domingo de aula na escola dominical.
O argumento principal que permeia todo material é o de que não há hipótese de um evangélico ser de esquerda. “Um cristão genuíno é por definição um conservador”, afirma o texto na terceira lição, chamada “Sendo um conservador em um mundo corrompido”. No capítulo “O que o cristão precisa saber sobre direita e esquerda”, o material reafirma que a esquerda só serve para dividir a miséria. Mais adiante, na mesma seção, reforça que “algumas ideologias, como as de esquerda, são fundamentalmente contra o cristianismo”.
Cartilha diz que a esquerda quer 'controlar todos os aspectos da vida social. Sobrou até para Paulo Freire, criticado por ser um 'libertador'.
O pedagogo Paulo Freire é lembrado com destaque na lição sobre os desafios da educação e merece um intertítulo próprio, “O desserviço da pedagogia de Paulo Freire”.
Já na lição sobre o marxismo cultural, o texto questiona: “Quantas meninas não querem se casar mesmo tendo mais de 25 anos?”. A culpa seria do fim da moral e do incentivo à promiscuidade dos esquerdistas que dominam a indústria cultural, principalmente o jornalismo da grande mídia. E arremata: “a bíblia e o marxismo são incompatíveis.”
Trecho da cartilha sobre ‘marxismo cultural’ usa o Brasil Paralelo como referência teórica.
Como apoio aos professores, a editora oferece ainda vídeos no YouTube em que explica os principais pontos das aulas. Ali, o tom é menos explícito que na cartilha, mas a intenção segue clara. Na lição 6, por exemplo, “O que um cristão precisa saber sobre esquerda e direita”, publicado em 5 de agosto no canal da Kaleo, um “professor” não identificado repassa o que é mais importante: “é impossível você ser de esquerda e ser cristão”.
O Intercept tentou falar com Lediel dos Santos e Alexandre de Almeida, donos da editora, e pediu um posicionamento para a Assembleia de Deus de Blumenau sobre o material e a campanha política implícita. Não houve resposta.
Ataque sensível
A escola bíblica dominical é uma das instituições mais tradicionais da Assembleia de Deus e de igrejas cristãs no geral. É a interface da vida real com o que é ensinado e refletido dentro do templo. Nela, boa parte dos fiéis estuda a bíblia em grupo e busca uma bússola moral e exemplos práticos para guiar seu cotidiano de acordo com os ensinamentos da igreja.
“Estão atacando por um lado que é muito sensível na comunidade”, afirmou o advogado Artur Antunes. Criado dentro da Assembleia de Deus de Santa Catarina, o advogado indignou-se ao tomar conhecimento do material didático para doutrinação político-eleitoral e procurou o Intercept para denunciar o caso.
“O que é dito e ensinado na escola dominical é entendido como 100% verdade pelo povo fiel que frequenta a instituição. E não é pouca gente, boa parte dos fiéis que vai ao culto aos domingos fica para a escola dominical depois”, explicou. “O objetivo disso, junto com o que é dito durante os cultos, é consolidar a imagem de Bolsonaro junto aos fiéis como o único candidato possível para os cristãos. Ao mesmo tempo, associa o Lula a todas essas fake news e a assuntos que preocupam muito os religiosos”.
Na escola da igreja, as turmas são divididas entre crianças e jovens de até 14 anos, que recebem aulas e materiais didáticos diferentes, e jovens e adultos a partir dos 15 anos de idade —submetidos à cartilha do horror deste trimestre. Os professores geralmente são voluntários da própria comunidade religiosa, o que aumenta o grau de confiança nas informações que são passadas nessas reuniões.
Na opinião de Antunes, o efeito eleitoral disso é poderoso. “Coloca-se quase como se o fiel tivesse que escolher entre votar em um candidato de esquerda e a própria religião, sua participação naquela comunidade. É uma coação mesmo. A conotação disso é óbvia quando pensamos na eleição presidencial, mas espraia-se por todas as candidaturas, que passam a ser consideradas com essa lupa hedionda”.