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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

03
Set23

Saiba o que são fundos exclusivos e offshores que o Lula vai tributar

Talis Andrade

Disponíveis apenas para pessoas ricas, essas formas de investimento representam um privilégio para poucos, para  os caras-pálidas. É hora de acabar. O Brasil precisa parar de maltratar os pobres, os pés-rapados

Para começar a cumprir sua promessa de campanha de “colocar o pobre no orçamento e o rico imposto de renda”, o presidente Lula assinou uma medida provisória para taxar os fundos exclusivos de alta renda e enviou ao Congresso um projeto de lei para tributar quem investe dinheiro no exterior por meio de offshores. Mas o que são esses tipos de investimento e por que a cobrança de impostos sobre eles é necessária?

Vamos começar pelos fundos exclusivos ou fechados. Bom, de maneira geral, fundos são uma forma de investir dinheiro. Na maior parte das vezes, o fundo junta o dinheiro de várias pessoas (cotistas) para aplicar esse capital, investindo, por exemplo, em ações e títulos públicos.

Algumas pessoas, porém, são tão ricas, têm tanto dinheiro, que as instituições financeiras oferecem a elas a possibilidade de colocar seu dinheiro em um fundo exclusivo, no qual haverá só ela (ou pouquíssimas pessoas). Para entrar num fundo exclusivo, a pessoa deve investir pelo menos R$ 10 milhões.

Já as offshores são uma das formas existentes para investidores brasileiros que vivem no país aplicarem recursos no exterior. Offshore (além da costa, em inglês) é uma empresa aberta no exterior, que, por sua vez, gera uma conta bancária no país onde foi aberta. Não há nada de ilegal em criar uma empresa dessas, desde que a pessoa declare esse patrimônio para a Receita Federal e o Banco Central.

 

Onde está o problema?

O problema é que, até agora, esses ricos que podem ter um fundo exclusivo ou uma offshore contam com vantagens que o resto das pessoas não tem. Por exemplo, uma pessoa que coloca o seu dinheiro em um fundo normal é tributada (paga imposto) duas vezes por ano. Já o super-rico que tem seu fundo exclusivo, não.

Estamos falando de aproximadamente 2.500 brasileiros super-ricos, que juntos têm mais de R$ 750 bilhões e que, sem qualquer motivo justificável, não são tributados como as demais pessoas. A medida provisória de Lula, assinada em 28 de agosto, apenas faz com que esses ricos sejam tratados como os demais, sem privilégios.

LEIA MAIS: Taxação de super-ricos pode construir 1,2 milhão de casas

Algo semelhante acontece com o capital guardado em offshores. Eles ficam livres de tributação, que só é cobrada se o dono resolver trazer o dinheiro para o Brasil. Se isso não acontecer, o rico dono da empresa lá fora fica livre dos impostos. Para acabar com esse privilégio, o projeto de lei enviado pelo governo Lula para votação no Congresso prevê a aplicação de alíquotas progressivas até 22,5% (leia mais sobre as medidas do governo aqui).

 

Por que essas medidas são importantes?

Por uma questão de justiça social. Hoje, a maioria dos brasileiros paga imposto. Mas um grupo, justamente o dos mais ricos, recebe benefícios que ninguém mais tem. Para piorar, nos últimos anos, a tabela do imposto de renda ficou sem atualização, o que fez com que trabalhadores que ganhavam apenas um salário mínimo e meio tivesse que pagar Imposto de Renda.

O governo Lula começou a corrigir esse absurdo atualizando a tabela, isentando quem ganha até R$ 2.640 (e o objetivo é isentar quem ganha até R$ 5 mil até o fim do mandato). Para aliviar a carga de impostos para esses trabalhadores, o governo precisava indicar uma nova fonte de arrecadação. 

Nada mais justo que ela venha dos super-ricos. Como disse o deputado federal Merlong Solano Nogueira (PT-PI), em um explicativo artigo publicado no Le Monde Diplomatique Brasil, “não há como o país continuar acalentando esse tipo de privilégios”.

15
Ago23

Um novo lugar para a agricultura – II

Talis Andrade
 
Imagem: Lucio Fontana
 

 

A situação da agricultura familiar no Brasil e o que se pode esperar deste setor para o enfrentamento da crise alimentar atual

por Jean Marc von der Weid  

No artigo anterior descrevi as várias crises que vem atropelando a humanidade e as suas implicações para a agricultura, em particular para a produção de alimentos. Nessa parte 2, vou analisar a situação da agricultura familiar (AF) no Brasil e o que se pode esperar deste setor para o enfrentamento da crise alimentar atual (sim, temos uma crise alimentar, e grave) e da futura, em consequência das ameaças expostas anteriormente.

 

A agricultura familiar é o resultado de séculos de marginalização:

A exploração do território que veio a se tornar o Brasil se iniciou pelo extrativismo do pau-brasil da Mata Atlântica, mas só ganhou presença física e ocupação com aquilo que muitos historiadores definem como o primeiro empreendimento capitalista agrário no mundo, a produção de açúcar de cana. O modelo deste ancestral do agronegócio marcou a história do país, com a centralidade do trabalho de africanos escravizados no arcabouço do conjunto da nossa economia e do espaço doméstico dos brancos.

Marcou mais ainda o espaço rural, com suas propriedades gigantescas, a exploração de monoculturas e o desprezo pela preservação dos solos e das condições ambientais. A extensão do território criou a miragem da existência de recursos naturais infinitos que podiam ser explorados até a exaustão e abandonados, desbravando-se a fronteira agrícola sempre para o oeste. Ainda vivemos, em parte, este processo, com os mesmos vícios de origem.

Se o latifúndio exportador foi o motor da nossa economia até o século XX, saindo da cana para o algodão, o café, o cacau e ainda o extrativismo da borracha, onde se situou a produção de alimentos? Os brancos da Casa Grande importavam a base do que comiam, em particular o trigo, mas como se alimentavam os escravizados? Dois modelos foram utilizados e complementares: plantio de alimentos dentro dos latifúndios geridos pelos donos do negócio, também operados com mão de obra escravizada ou; terceirização da produção alimentar (mandioca, milho, feijão, …), em espaços “sobrantes”, não ocupados pelos cultivos de exportação.

É a gênese da nossa agricultura familiar, cujos produtores eram brancos e mestiços pobres ou remediados que também usavam mão de obra escravizada. Esta característica da agricultura familiar, estar localizada nas “beiradas” dos latifúndios ou nas áreas de desbravamento da fronteira agrícola se manteve dominante em quase todo o território nacional ao longo da nossa história. A exceção mais marcante foi a entrada forte da migração europeia da segunda metade até o fim do século XIX, e ela concentrou-se na região sul, em particular no Rio Grande do Sul e, com menor impacto, em Santa Catarina e no Paraná.

Eram italianos, alemães, polacos, ucranianos, russos, holandeses. Mais tarde vieram os suíços, que se estabeleceram no Rio de Janeiro e os japoneses, que se dirigiram para o sudeste e o norte. Eram quase todos camponeses, enfrentando a crise provocada pelo início da modernização das grandes propriedades europeias que geraram desemprego de trabalhadores rurais e quebra de agricultores familiares incapazes de competir com as novas empresas modernizadas, sobretudo pelo uso de guano (importado do Peru e do Chile) como adubo e a introdução de colheitadeiras de tração animal.

É necessário lembrar que uma parcela importante dos escravizados evadiu-se dos empreendimentos da Casa Grande e se instalou no que ficou conhecido como quilombo. Era uma economia agrária totalmente por fora daquela da classe dominante e voltada para a produção alimentar das comunidades de negros fugitivos. Ainda estamos contando quantas famílias de descendentes destes quilombolas originais ainda subsistem em seus territórios, o último censo apontando para mais de dois milhões de pessoas.

O modelo binário latifúndio/pequena propriedade, os grandes produzindo para exportação e os pequenos para a alimentação do mercado interno se manteve ao longo do tempo. Também se manteve o processo constante de expansão dos latifúndios, sempre seguindo o rastro das áreas desbravadas pela agricultura familiar nas fronteiras, tomando suas terras e empurrando-os sempre mais para oeste.

Isto nos leva à situação mais recente, a da segunda metade do século passado. O país rural que sai da crise dos anos 1930 e o período da Segunda Guerra Mundial é fortemente sacudido pelo processo de desenvolvimento urbano industrial, iniciado nos anos trinta na ditadura de Getúlio Vargas. Este processo, caracterizado pela substituição de importações industriais se acelera nos anos cinquenta e na ditadura militar. A atração dos empregos urbanos, quer nas indústrias que se multiplicavam, quer na construção civil urbana intensa (Brasília em primeiro lugar) ou nas infraestruturas econômicas gigantescas (estradas, barragens, linhas de transmissão de eletricidade, outras), combinada com a permanente pressão do latifúndio, as condições miseráveis no campo e as crises ambientais levaram milhões de produtores familiares a migrar.

Em três décadas, mais de 40 milhões de pessoas mudaram seu domicílio do campo para as cidades, sobretudo as capitais e regiões metropolitanas. De 1975 até 2017, a população rural continuou caindo, passando de quase 40% para quase 14% da população total. O esvaziamento do mundo rural praticamente extinguiu duas categorias de agricultor familiar que foram, por muito tempo, parte da identidade do latifúndio: o morador (vivendo e produzindo nos latifúndios) e o meeiro (trabalhando em contrato com os latifundiários).

Por outro lado, o eterno movimento de migração para o oeste, desbravando a fronteira agrícola para depois ceder as novas áreas para o avanço do latifúndio, foi alterado por um movimento novo e que provocou a intensificação dos conflitos na região amazônica e no cerrado. A grilagem de terras ultrapassou o movimento dos agricultores familiares nas margens da fronteira agrícola e passou a disputar as terras não desbravadas à oeste. Isto se deu pela construção das grandes estradas que passaram a cortar o norte e o centro oeste, facilitando uma grilagem no atacado e se antecipando ao movimento leste/oeste e sul/norte da agricultura familiar.

Na década de 1980 e início de 1990, quando o movimento de urbanização passa por uma desaceleração, derivada da prolongada crise econômica pós choques do petróleo de 1973 e de 1979, a agricultura familiar já era, numericamente, um resíduo do passado. Apesar disso, agricultura familiar chega no censo agropecuário de 1985 com um respeitável papel de produtor de 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros. No entanto, é preciso lembrar que esta produção para o mercado interno era altamente insuficiente para suprir as necessidades nutricionais da população. Embora pouco falados, sobretudo pela censura da ditadura militar, os níveis de insegurança alimentar (fome e má-nutrição) eram altíssimos e a produção era contingenciada por uma demanda comprimida pela pobreza.

É neste período que começam a amadurecer os pesados investimentos do regime militar na modernização do latifúndio, dando origem ao que hoje se conhece como agronegócio. Ultrapassados os anos 80, quando a fonte dos financiamentos de mão beijada do Estado foi suspensa, o agronegócio volta a se expandir com força e, não por acaso, com a retomada dos financiamentos estatais em créditos subsidiados e isenções de impostos, no governo de Fernando Henrique Cardoso, mantidos e expandidos nos governos de Lula e de Dilma Rousseff, de Michel Temer e de Jair Bolsonaro.

A agricultura familiar que hoje existe é o resultado de vários fatores. O principal tem origem histórica: a agricultura familiar está localizada, salvo bem definidas exceções, em ecossistemas menos favoráveis à agricultura (nordeste semiárido, áreas alagadas na região norte, áreas degradadas na região do Cerrado) ou em áreas marginais em ecossistemas mais favoráveis como a Mata Atlântica e o Pampa. Vamos encontrar os agricultores familiares em terrenos pedregosos, declivosos, com solos degradados. Por outro lado, a espantosa concentração das melhores terras nas mãos do agronegócio e do latifúndio no sentido estrito é, provavelmente, a maior do mundo.

Pelo censo agropecuário de 2017, existiam no Brasil 5,07 milhões de propriedades rurais, ocupando uma área de 351 milhões de hectares. Os estabelecimentos de tipo patronal (ou agronegócio) eram 1,2 milhão (23,7% do total) e ocupavam 270 milhões de hectares (76% do total), com uma área média de 225 ha. Já os agricultores familiares eram 3,87 milhões (75% do total) e ocupavam 81 milhões de hectares (23% do total), com 21 hectares de área média. Estes números macro apontam para a extraordinária concentração da propriedade de terras no Brasil, mas eles escondem índices ainda mais impactantes quando se detalha a posse de terras entre os menores e os maiores produtores.

2,5 milhões de agricultores familiares (50% do número total de produtores, grandes e pequenos) têm menos de 10 hectares e ocupam 8 milhões de hectares (2,3% da área total), enquanto 51,2 mil grandes proprietários (1% do número total) têm mais de mil ha cada um e ocupam 167 milhões de hectares (47,6% da área total). Se analisarmos em detalhe esta camada de mega proprietários encontramos que apenas 2.450 dentre eles (0,85 % do total de agricultores de todos os tipos) com área superior a 10.000 mil hectares, ocupam 51,6 milhões de ha (15% da área de todas as propriedades agrícolas no Brasil). A área ocupada por este punhado de mega proprietários é 6,5 vezes maior daquela ocupada por 2,5 milhões de AF com menos de 10 ha.

O crescimento exponencial do agronegócio dos anos 90 até agora teve um impacto negativo sobre a agricultura familiar, justamente no período em que se estabeleceram as primeiras políticas públicas voltadas para esta categoria, com a criação do MDA e do PRONAF, da política de ATER, do seguro rural, do PAA e do PNAE. Foi também o período (1995/2015) em que a política de reforma agrária ganha musculatura, criando 1.313.630 novos proprietários familiares.

O censo de 2017 mostra que tudo isto foi insuficiente para consolidar e ampliar o papel do campesinato na produção alimentar. Comparando com o censo anterior, de 2006, a agricultura familiar perde 470 mil propriedades, reduzindo-se a 3,87 milhões. Isto ocorreu apesar da reforma agrária ter entregado terras a 400 mil famílias, neste intervalo. Em outras palavras, o balanço entre assentados e os que abandonaram a agricultura indica que perto de um milhão de famílias deixaram o campo. A área ocupada pela agricultura familiar ficou mais ou menos a mesma da indicada no censo de 2006, apontando para um ligeiro aumento da área média.

Já o agronegócio cresceu em número e em área ocupada. De 2006 para 2017 somaram-se 366,5 novos proprietários e 16,8 milhões de hectares.

Não só a agricultura familiar perdeu em número como também perdeu no seu papel na produção de alimentos.

O censo indica que a participação da agricultura familiar na produção de:

arroz caiu para 11%,
feijão fradinho para 34%,
feijão preto para 42%,
milho para 12,5%,
frango para 36%,
bovinos para 31%,
ovos para 9%,
trigo para 18%,
banana para 49%,
mandioca para 70%,
leite para 64%,
suínos para 34,5%.

Nas comodities a participação da agricultura familiar ficou em:

9,3% para a soja,
35,4% para o café arábica,
50% para o café robusta,
7% para a laranja,
0,1% para o algodão,
1,9% para a cana de açúcar,
57% para o cacau.

Em termos de valor da produção (alimentar ou não) a participação da agricultura familiar caiu de 33% em 2006 para 23% em 2017, uma queda de 1/3, em 11 anos.

Em termos da ocupação de mão de obra, a agricultura familiar perdeu 2,2 milhões de trabalhadores, caindo para 10,1 milhões de ocupados, seja de membros da família ou contratados. Isto tem a ver com a redução do número das propriedades familiares, mas também com o aumento da mecanização nas lavouras em algumas culturas e regiões e da substituição dos cultivos temporários por criação animal em outras. A mecanização se deu sobretudo na região sul, que perdeu 28% do pessoal ocupado.

O número de propriedades familiares com trator aumentou significativamente, chegando a 45% de todos os tratores em uso na agricultura brasileira, agronegócio incluído. A diferença entre os grandes e os pequenos está na potência dos tratores, 90% dos utilizados pelos segundos tendo menos de 100 CV.

Embora os dados do censo não permitam generalizar o tipo de mudanças técnicas na produção da agricultura familiar, várias indicações de pesquisas acadêmicas indicam que houve uma forte mudança de modelo produtivo. Nas regiões sul e sudeste, o aumento do uso de tratores e a orientação do crédito para a produção de commodities, em particular o milho e a soja, apontam para o abandono do modelo derivado da agricultura tradicional, com policulturas e criações consorciadas e a adoção de monoculturas empregando adubos químicos, sementes híbridas/transgênicas e agrotóxicos. Em outras regiões, verificou-se uma queda nos cultivos alimentares e uma expansão dos pastos plantados voltados para a criação de gado bovino.

Olhemos agora para a estruturação desta categoria de agricultores familiares, tendo por base o tamanho das propriedades.

Os dados que passo a apresentar foram calculados pela CONTAG e mostram a estrutura fundiária da agricultura familiar: (i) menos de 10 ha: 2.090.000 (54%), incluindo 1% sem área própria; (ii) entre 10 e 50 ha: 1.354.500 (35%); (iii) eEntre 50 e 100 ha: 425.700 (11%).

O tamanho da propriedade não define, obrigatoriamente, a condição econômica do produtor. Outros estudos, baseados na renda média (RM) auferida, apontam para dados ainda mais preocupantes.

Grupo I (extrema pobreza), com RM de menos da metade da RM nacional da agricultura familiar: 2.244.600 (58%). Este grupo recebe 11% do valor básico da produção (VBP) da agricultura familiar.

Grupo II (pobreza), com RM entre metade e três vezes a RM nacional: 1.277.100 (33%). O grupo recebe 21% do VBP da agricultura familiar.

Grupo III (remediados a ricos): com RM superior a três vezes a RM nacional: 348.300 (9%). O grupo recebe 68% do VBP da agricultura familiar.

Estes dados indicam que a riqueza auferida pela agricultura familiar está muito concentrada em uma parcela de apenas 9% desta categoria. Embora não exista correlação precisa entre tamanho de propriedade e renda, há uma clara tendência de se aproximarem estes indicadores. Se acrescentarmos à estes dados a distribuição geográfica da agricultura familiar esta tendência fica ainda mais clara. Quase metade da agricultura familiar (47,5%) se encontra na região nordeste e a grande maioria no semiárido, contando 1.840.000, em números aproximados. Pelas dificuldades naturais do clima na caatinga com instabilidade crescente de oferta hídrica e secas cada vez mais frequentes e prolongadas podemos considerar que este grupo mais pobre deve estar fortemente concentrado entre os agricultores familiares desta região.

Para fazer uma síntese, este grupo de agricultura familiar da região semiárida (nordeste e parte do sudeste), com menos de 10 ha e, eventualmente, uma parcela dos que tem entre 10 e 50 ha, produzindo para o autoconsumo e dependente de rendas externas (Bolsa Família, aposentadoria, contribuições de familiares, trabalho fora, outras), empregando métodos tradicionais de produção com baixa produtividade, deveria ser objeto do foco de um programa do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que discutirei em outro artigo.

Especulo que este público deve integrar perto de 1,8 milhão de beneficiários. Deixo em aberto como deveríamos chamar estes agricultores para não usar a categoria de miseráveis ou de extrema pobreza. Minifundistas? É verdade que a maioria cabe nesta definição empregada pelo INCRA, mas uma parcela escapa a este critério, que pretende combinar tamanho e renda. Outros 400 mil agricultores familiares desta categoria de extrema pobreza estão distribuídos por todos os outros biomas e as características destes biomas deverão orientar programas específicos. Talvez o nome melhor seja produtor de produtor tradicional de subsistência.

Um segundo grupo seria o dos proprietários com 10 a 50 ha, cujo número é quase igual ao grupo intermediário pelo critério de renda média, muito embora isto não signifique uma exata coincidência. Com efeito, um agricultor familiar pode ser remediado ou até rico e ter menos de 10 ha de terra. Ou ser miserável com mais de 50 ha. Mas acredito que estas serão exceções à regra que emparelha tamanho da propriedade e renda.

Este segundo grupo será bastante diversificado, com os mais pobres se aproximando do grupo da extrema pobreza e os menos pobres se aproximando dos remediados/ricos. Ele se caracteriza pela adoção de sistemas de produção misturando práticas tradicionais e outras ditas modernas em proporções variadas segundo a cultura e o local; pela produção para autoconsumo combinada com produção para o mercado; pouco uso de maquinário; pouco acesso ao crédito bancário; baixa produtividade; terras de má qualidade ou desgastadas; pouca área disponível; vulnerabilidade climática, embora devendo ser menos grave que na região semiárida.

Este grupo deve estar principalmente voltado para a produção de alimentos para os mercados locais/microrregionais. Ele deve estar distribuído em todas as regiões e chegar a um número total de 1,3 milhão de agricultores familiares. Também não sei como chamar este grupo.

Um terceiro grupo seria o dos AF com RM superior a três vezes a RM nacional. São considerados remediados ou até ricos; empregando as técnicas da agroquímica; mecanizados; com acesso ao crédito bancário; integrados às indústrias de transformação como moinhos de trigo e de milho, produtores de rações, aves, suínos, leite, uvas, óleos vegetais, sucos, outras; com áreas médias maiores do que 50 ha, embora uma parcela com 20 a 50 ha possa estar nesta categoria.

Eles somam uns 400 mil agricultores familiares, com forte concentração na região sul. Muitos destes agricultores se voltaram para a produção de commodities, sobretudo soja e milho, e a região sul absorveu mais de 50% do crédito distribuído pelo PRONAF na última década para estes dois produtos. Este grupo, claramente, podia ser chamado de agronegocinho, mas o nome é um tanto pejorativo e devíamos buscar outra denominação. Quem sabe usamos produtor integrado/modernizado?

Este extenuante e impreciso estudo da caracterização da agricultura familiar se fez necessário para podermos pensar em propostas de políticas e programas diferenciados, tanto nos objetivos como nos instrumentos a serem empregados. Isto vai ser o objeto de um artigo futuro, depois de analisarmos as políticas adotadas entre 1996 e 2022.

12
Jul23

Mais de 21 milhões de brasileiros passaram fome severa em 2022, diz relatório da ONU

Talis Andrade

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EFEITO BOLSONARO

 

Relatório de cinco agências da ONU indica que a quantidade de brasileiros que enfrenta algum tipo de insegurança alimentar alcançou a marca de 70,3 milhões. O número se refere ao período de 2020 a 2022, ano de programas eleitorais de auxílios que consumiram bilhões para trocar votos por alguns trocados. Houve aumento de 14,6% em relação ao último levantamento da entidade, quando havia 61,3 milhões nessa situação.

Os dados ainda revelam que desse total, 21,1 milhões, ou seja, 9,9% da população brasileira, possui insegurança alimentar severa. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo, e portal Brasil 2447.

Para ofertar pão e circo (motociata, cavalgada, cantores sertanejos via prefeitos etc) foi criado um orçamento secreto, a pec das bondades ou pec do desespero eleitoral, ou ainda a pec do teto ou hímen complacente. Bilhões e mais bilhões gastos, e o povo com fome, e o povo sem agua, inclusive os índios - agua potável negada pela ministra Damares Alves - na Floresta dos rios envenenados. 

Leia abaixo reportagem da Télam sobre a situação da fome na América do Sul: 

O número de pessoas que sofrem com a fome no mundo se estabilizou em 2022 após sete anos de alta, representando um "avanço modesto" na América do Sul, uma das regiões que registrou um dos maiores progressos contra esse flagelo no último ano, de acordo com cinco agências da ONU que alertaram que ainda é "inatingível" cumprir a meta de alcançar a segurança alimentar no planeta até 2030.

O relatório alertou que cerca de 735 milhões de pessoas passaram fome naquele ano, o que equivale a 9,2% da população mundial. Os autores do relatório incluem a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Apesar do crescimento contínuo desde 2015, o número se estabilizou e até mesmo registrou uma ligeira queda, com 3,8 milhões de pessoas a menos em comparação com 2021.

A América Latina obteve avanços no combate à fome, exceto na região do Caribe, onde a situação se agravou. O relatório também aponta para o aumento da desnutrição crônica na Ásia Ocidental e na África, conforme divulgado pela agência de notícias AFP, que também mencionou a participação do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), do Programa Mundial de Alimentos (PAM) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) no documento.

O relatório anual sobre o estado da segurança alimentar e nutricional no mundo especifica que, na África, uma em cada cinco pessoas sofre de desnutrição crônica.

O documento retrata um "instantâneo de um mundo ainda se recuperando de uma pandemia global e agora enfrentando as consequências da guerra na Ucrânia, que agitou ainda mais os mercados de alimentos e energia", de acordo com o relatório.

Desde 2019, essas duas crises adicionaram 122 milhões de pessoas ao mapa da fome.

Embora a recuperação econômica após a pandemia tenha melhorado a situação, "não há dúvida de que esse progresso modesto foi prejudicado pelo aumento dos preços dos alimentos e da energia, amplificado pela guerra na Ucrânia" que eclodiu em 24 de fevereiro do ano passado, especificou o relatório.

O relatório adverte que, sem esforços mais bem direcionados, a meta de "acabar com a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição em todas as suas formas até 2030 permanecerá fora de alcance".

Na América Latina e no Caribe, a prevalência da desnutrição - o indicador que mede a fome - caiu de 7% em 2021 para 6,5% em 2022, o que representou uma redução de 2,4 milhões no número de pessoas que passam fome.

No entanto, essa redução é explicada pela evolução na América do Sul (de 7% para 6,1%), enquanto o Caribe registrou um aumento notável de 14,7% em 2021 para 16,3% em 2022. Se o progresso continuar nesse ritmo, cerca de 600 milhões de pessoas ainda podem sofrer com a fome em 2030, principalmente na África.

Isso representa "cerca de 119 milhões de pessoas a mais do que se nem a pandemia de Covid-19 nem a guerra na Ucrânia tivessem ocorrido", afirmaram as agências da ONU.

Os principais fatores de insegurança alimentar - conflitos, contração econômica e catástrofes climáticas - e as desigualdades recentes se tornaram um "novo normal", destacaram.

Álvaro Lario, presidente do FIDA, apontou a falta de investimento e "vontade política para implementar soluções em larga escala".

Cindy McCain, diretora-executiva do PAM, alertou que a fome está aumentando "ao mesmo tempo em que os recursos necessários para proteger os mais vulneráveis estão sendo perigosamente reduzidos".

Assim como no ano anterior, em 2022, 2,4 bilhões de pessoas sofriam de insegurança alimentar aguda ou moderada. Ou seja, três em cada dez pessoas não tinham acesso à alimentação adequada.

Por outro lado, a capacidade das populações de acessar alimentos saudáveis se deteriorou em todo o mundo, devido ao impacto prolongado da pandemia nas economias e ao aumento dos preços dos alimentos, ressaltou a ONU.

Mais de 3,1 bilhões de pessoas não puderam pagar por uma dieta balanceada em 2022, levando à desnutrição, deficiências ou obesidade.

12
Jul23

Farra das visitas a Mauro Cid na prisão

Talis Andrade

CPMI dos Atos Golpistas e Exército vão investigar visitas a Mauro Cid personagem-chave para elucidar crimes cometidos por Bolsonaro, um kid preto em silêncio nos inquéritos e falante e alegre nas animadas farras na prisão especial do quartel 

A CPI Mista dos Atos Golpistas e o Exército vão investigar a farra das visitas ao ex-assessor de Jair Bolsonaro Mauro Cid, que recebeu 73 pessoas desde que foi preso, em 3 de maio. Entre os visitantes, 41 eram militares

Escreve Valdo Cruz, G1: Pegou muito mal, durante o não-depoimento do tenente-coronel Mauro Cid à CPI, a informação de que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro recebeu visitas de Fábio Wajngarten, interessado direto no depoimento dele na CPI, e do coronel Jean Lawand Júnior, também investigado.

A CPI busca saber agora quando foi a visita de Lawand a Mauro Cid. Se antes ou depois de divulgadas as mensagens em que o coronel defende um golpe de Estado e cobra de Mauro Cid uma ação de Jair Bolsonaro para tentar impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Se foi depois da divulgação, é ainda mais grave. Para todo efeito, tem gravidade, já que Lawand sabia das mensagens e poderia ser alvo de investigação, o que já acontece hoje.

Ao tomar conhecimento do número "elevadíssimo" de visitas a Mauro Cid, o ministro Alexandre de Moraes decidiu restringi-las apenas à mulher, filhos e advogados. As demais, apenas se autorizadas por ele.

O ministro questionou ao Batalhão da Polícia do Exército, onde o ex-ajudante de ordens está preso, as regras das visitas e por que tantas foram liberadas, inclusive as de investigados pelos atos golpistas de 8 de janeiro deste ano.

Segundo interlocutores do comando do Exército, o depoimento de Mauro Cid ocorreu dentro do previsto, já que ele havia sinalizado que não pretendia falar à CPI, como tem ocorrido nos depoimentos à Polícia Federal.

Mas a avaliação dentro do governo Lula é que o ex-ajudante de ordens acaba prejudicando a imagem do Exército e passou a imagem de que realmente tem "culpa no cartório" ao se manter em silêncio.

 

Neste trecho do Café do MyNews, do dia 03 de maio de 2023, os jornalistas Mara Luquet e Afonso Marangoni repercutem a prisão do ex-assessor de operações e braço direito do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, em uma operação da Polícia Federal. A prisão de Cid foi uma determinação do Ministério Público junto ao ministro do Superior Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Mauro Cid teria, junto a outros representantes públicos e integrantes da equipe de Bolsonaro, falsificado cartões de vacina contra a Covid-19 para entrar nos Estados Unidos após a derrota do ex-presidente nas eleições passadas. De acordo com Afonso Marangoni, a prisão do braço direito de Bolsonaro foi decretada na Vila Militar, onde Mauro Cid reside, o que gerou desconforto nos militares. Já segundo o jornalista João Bosco Rabello, a prisão de Cid pode levar a desdobramentos que envolvem o ex-ministro de Bolsonaro, Anderson Torres. Ainda, após deixar sua residência, Jair Bolsonaro declarou que os Estados Unidos não o pediram carteira de vacinação. 

12
Jun23

Prefeito de Campinas Dário Saadi constrói 'casa' popular de apenas 15m²

Talis Andrade

Mente doentia inimiga do pobre criou novo tipo da casa popular para o coitado do vivente morrer de fome frio no inverno e de fome e calor no verao e treinar para viver na cadeia quando vingar a ditadura de Bolsonaro com a rainha Ester 

 

Prefeito bolsonarista dos Republicanos esconde o custo da cada caixao de tijolos, que apelidou de descanso. Arquitetos dizem o monto contraria diretriz da ONU. Especialistas da USP e Unicamp chamam o forno de "inaceitável" para uma vida e morte Severina

 

A construção de casas populares em Campinas está em desacordo com as diretrizes da ONU para habitação adequada. O governo municipal está construindo 116 moradias de 15 m², com apenas um cômodo e um banheiro, para abrigar 450 pessoas no Residencial Mandela, no distrito do Ouro Verde. Essas pessoas atualmente vivem em áreas de risco e ocupações. O projeto custa R$ 6 milhões. O prefeito Dario Saadi esconde o pre₢o de cada casita. 

Reportagem do portal O Vale destaca que, de acordo com a ONU Habitat, uma moradia é considerada adequada quando até três pessoas compartilham um quarto habitável com uma área mínima de 9 m², além de espaços como cozinha e banheiro. Um cômodo tão pequeno compromete a saúde e o bem-estar dos moradores. No entanto, as casas em Campinas abrigarão, em média, 3,8 pessoas, chegando a ter famílias com até sete pessoas. Arquitetos consultados pela reportagem afirmam que as casas em Campinas comportam apenas uma pessoa, contrariando a determinação do órgão internacional.

As casas em Campinas têm o tamanho de uma van e não permitem que duas pessoas deitem lado a lado. Com apenas 15 m², elas representam menos da metade do tamanho minimo permitido das moradias do programa Minha Casa Minha Vida do governo federal.

As republicanas casas em Campinas não permitem que duas pessoas deitem lado a lado. Dizem que assim foram idealizadas pela senadora Damares Alves para evitar acasalamentos 
23
Jan23

'Ando doido pra morrer': 20 anos depois, a dor de quem continua a conviver com a fome

Talis Andrade

 

Por Fantástico

Uma reportagem especial do Fantástico mostrou o sofrimento de quem passa fome no Brasil nos últimos 20 anos. Em 2001, os repórteres Marcelo Canellas e Lúcio Alves conversaram com Maria Rita, a lavadeira que morreu de fome 15 dias depois da entrevista ao Jornal Nacional. Duas décadas depois, eles voltaram a Araçuaí (MG) e conversaram com João da Conceição, primo de Maria, e a esposa dele, Maria Aparecida. De lá pra cá, pouco ou nada mudou [Aconteceu o golpe contra Dilma Roussef. E com os presidente Michel Temer e Jair Bolsonaro a fome morte severino voltou. A fome braba]

Tudo o que eles têm para passar o mês cabe numa caixa de papelão: feijão, farinha, arroz e óleo. A conta atrasada chega em forma de ameaça. Aos 74 anos, João não suporta tamanha incerteza.

“Fica difícil, né? Eu ando doido pra morrer. Eu morrendo, descanso. Descanso dessa vida. Leva pra onde Deus quiser”, diz.

 

João e Maria Aparecida — Foto: Fantástico

João e Maria Aparecida — Foto: Fantástico

Abatido pela velhice e pela doença, João não consegue mais trabalhar na roça e nem tirar o sustento da terra, como faz Maria, agricultora de um assentamento no interior de Alagoas.

 

11
Set22

Eleitores responsabilizam Bolsonaro pelo avanço da fome, diz pesquisa

Talis Andrade

 

Pobreza, fome e miséria foram apontadas por 17% dos brasileiros como um dos três maiores problemas do País, o que representa a opinião de 29 milhões de pessoas

 

por André Cintra

 

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Em debate com outros candidatos à Presidência na Band, Jair Bolsonaro (PL) disse não acreditar que a fome atinja hoje 33 milhões de pessoas no País. Pesquisa Ipec contratada pelo jornal O Globo mostra que os eleitores não apenas sabem que o presidente está errado. Para 29 milhões de brasileiros, a fome e a pobreza são os principais problemas do Brasil hoje. Entre os entrevistados, 34% afirmam que o governo Bolsonaro é o principal responsável por essa mazela.

D acordo com O Globo, a percepção de que o governo atual é o culpado varia de acordo com os segmentos da pesquisa. “No Nordeste, onde (Bolsonaro) tem desempenho eleitoral abaixo de sua média, segundo as pesquisas de intenção de voto, é maior (38%); entre os evangélicos, grupo em que aparece à frente do ex-presidente Lula, a parcela de culpa cai pela metade: 17%”.

A pesquisa também sondou os eleitores sobre saídas para o combate à fome. Para 78%, o governo deve investir na criação de mais empregos. Alternativas como doação de alimentos e políticas de moradia estão “no patamar de 40%”. Na sequência, aparece o apoio a políticas assistenciais – medida que tem mais citações no Nordeste.

O peso desse tema na campanha eleitoral cresceu. “No aspecto geral, quando disposta lado a lado com outros desafios do país, a tríade pobreza, fome e miséria foi apontada por 17% como um dos três maiores problemas, empatada com segurança pública e violência e atrás de desemprego, corrupção, saúde, educação e inflação. O percentual representa a opinião de 29 milhões de brasileiros”, indica a pesquisa. “Há quatro anos, 11,5 milhões diziam o mesmo.”

O Globo lembra que a crise atual pode parecer inusitada para um país que, em 2014, saiu do Mapa da Fome da ONU (Organização das Nações Unidas). Em apenas oito anos, o Brasil regressou ao ranking. “Por aqui, 4,1% da população (o equivalente a 8,6 milhões de pessoas) sofreu de falta crônica de alimentos entre 2019 e 2021. O número de brasileiros que tiveram insegurança alimentar moderada ou severa no período chegou a 61,3 milhões (28,9% da população)”, diz o jornal.

Um dos impactos do avanço da fome é o aumento da demanda por políticas assistenciais do governo. Em três anos (2019-2022), o número de famílias na extrema pobreza inscritas no Cadastro Único (CadÚnico) saltou de 13,2 milhões para 14,7 milhões.

 
18
Ago22

Fome exclusividade da população civil

Talis Andrade

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Não se dá golpe sem listas estaduais de presos, lista nacional de subversivos que devem morrer. 

Todo golpe uma ameaça de sangreira, uma guerra civil embutida. Como aconteceu em 1964. A conflagração armada começa nos quartéis. 

Milhares de militares e policiais assinaram as cartas pela Democracia.

Folha de S.Paulo
@folha
Mônica Bergamo: Carta pela democracia reúne quase 2 mil militares e mais de 8 mil policiais
xico sá
@xicosa
A vida dos folgados quando a população morria sem oxigênio! Braga Netto e militares do governo receberam supersalários de até R$ 1 milhão no auge da pandemia
 
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“Para o povo, sopa de osso. Para os aliados, um milhão de salário”. Desde a ditadura, o Brasil nunca viu tantos militares ocupando cargos no poder público. Com a revelação de que o general Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro, embolsou quase R$ 1 milhão por mês, como acreditar que militares vão abrir mão da 'super mamata' em caso de derrota nas eleições sem reagirem com violência?

 

Um dos mais fiéis aliados de Jair Bolsonaro (PL) e candidato a vice-presidente na sua chapa, o general Walter Braga Netto recebeu R$ 926 mil em dois meses, no ano de 2020. Levantamento divulgado pelo jornal O Estado de S. Paulo, a partir de dados do Portal da Transparência, mostra que os benefícios pagos pelo governo a oficiais e pensionistas renderam valores que chegaram a até R$ 1 milhão na folha de pagamento em apenas um mês naquele ano, quando a pandemia de covid-19 estava no auge.

Segundo a apuração, a folha de pagamento aumentou principalmente no período em que os oficiais foram para a reserva, já que Bolsonaro promoveu uma mudança da legislação pela qual aumentou a indenização a militares que deixam a ativa.

Outro fiel aliado de farda do presidente, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos, foi um dos que só foram para a reserva depois da nova lei entrar em vigor. Ramos recebeu R$ 731,9 mil em julho, agosto e setembro de 2020. O ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque é outro militar na lista de privilegiados.

A repercussão nas redes foi grande entre parlamentares de oposição, apesar de a revelação ter sido feita em meio aos atos do 11 de agosto nesta quinta-feira, a começar do deputado Elias Vaz (PSB-GO), autor do levantamento divulgado. Ele disse que vai cobrar explicações do Ministério da Defesa. “Para o povo, sopa de osso. Para os aliados, um milhão de salário extra. Esse é o governo Bolsonaro”, postou o deputado no Twitter.

Ainda segundo o Estadão, o Ministério Público acionou o Tribunal de Contas da União (TCU) para “barrar” o pagamento desses contracheques “turbinados”.

 

“Super mamata” e “escárnio”

 

O deputado federal Bohn Gass (PT-GO) menciona a falta de emprego na pandemia, enquanto o fiel escudeiro de Bolsonaro “ganhou supersalário de até R$ 1 milhão”. “Agora entendi a promessa deles: queriam acabar com a mamata para criar a super mamata”, escreveu o petista.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) destacou a contradição entre os supersalários dos militares de Bolsonaro e a política fiscal de cortes de verbas de educação e na saúde do orçamento. “Salário Mínimo sem aumento real. Desemprego, fome. Militares do governo com salários de R$ 1 milhão!!!!! Não tem orçamento para quem precisa mas tem para super salários!”, publicou a parlamentar.

Ivan Valente (Psol-SP) e Natália Bonavides (PT-RN) usam a palavra “escárnio” para classificar a prática. “Escárnio! Braga Netto, o vice de Bolsonaro, recebeu quase R$ 1 milhão em salários no auge da pandemia. Esse é o governo que acabaria com a mamata?”, questionou o psolista.

“Escárnio! O candidato a vice de Bolsonaro, o general Braga Netto, recebeu quase R$ 1 milhão de salário em apenas 2 meses de 2020. Enquanto brasileiros morriam sem ar, eles enchiam os bolsos de dinheiro e negavam a vacina. Criminosos!”, protestou a petista.

 

Braga Netto

 

Braga Netto entrou para o governo em fevereiro de 2020, quando foi anunciado como novo ministro chefe da Casa Civil, no lugar de Onyx Lorenzoni. A troca deu mais poder à ala militar do governo, grupo que havia perdido espaço para a ala mais ideológica ao longo de 2019.

À frente da Casa Civil, Braga Netto se tornou um dos ministros mais próximos de Bolsonaro. Ele deixou a pasta para assumir a Defesa após a demissão do ocupante do cargo até então, o general Fernando Azevedo e Silva, em março de 2021 – que foi seguida pela saída dos três comandantes das Forças Armadas em protesto.

Logo depois, ele assinou uma “ordem alusiva ao 31 de março de 1964” em que diz que acontecimentos como o golpe militar ocorrido há 57 anos, o qual chamou de “movimento”, devem ser “compreendidos e celebrados”.

O relatório da CPI da Covid, que apurou as ações e omissões do governo da pandemia, pediu em outubro passado o indiciamento do general por sua atuação como ministro e coordenador coordenador do Centro de Coordenação das Operações do Comitê de Crise da Covid-19, criado pelo Planalto para facilitar a articulação de ações de combate à doença entre órgãos públicos.

O documento aponta que os altos números de casos e mortes por covid-19 no Brasil foram em parte causados por erros do governo sobre os quais o general teria responsabilidade. O relatório afirma ainda que o ministro foi conivente com a “postura negacionista” de Bolsonaro sobre a pandemia.

O jornal “O Globo” publicou reportagens que apontavam uma série de denúncias durante a gestão de Braga Netto no Ministério da Defesa, em 2021. O periódico afirmou que, na época, a pasta aprovou um pacote secreto no valor de R$ 588 milhões.

Dessa quantia, segundo a reportagem, R$ 401 milhões foram destinados a 11 senadores, a maior parte ligada ao governo, e cada um definiu onde o dinheiro seria gasto. Na maior parte das vezes, em seus redutos eleitorais, e sem relação com a área militar.

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04
Ago22

Com fome, menino liga para polícia e pede comida. Ouça o áudio

Talis Andrade

www.brasil247.com - Miguel (com microfone), Célia Arquimino Barros (mãe) e outra irmã deleMiguel (com microfone), Célia Arquimino Barros (mãe) e outra irmã dele (Foto: Reprodução (Globo))

 

Um menino chamado Miguel, de 11 anos, telefonou para a PM e pediu ajuda porque não tinha comida em casa, em Santa Luzia (MG). "Minha mãe só tem farinha e fubá pra comer", disse. A fome uma exlusividade da população civil. 116 milhões de brasileiros sofrem insuficiência alimentar. A fome um caso de polícia

 

Este o Brasil real de Bolsonaro, o Brasil da inflação, do desemprego. O Brasil dos sem terra, dos sem teto, dos sem nada. O Brasil exportador de alimentos no mapa da fome. O Brasil do menino chamado Miguel, de apenas 11 anos. Que telefonou para a Polícia Militar (PM), pelo 190, e pediu ajuda porque não tinha comida em casa, na noite desta terça (2), no município de Santa Luzia, Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG). 

"Senhor policial, é por causa que aqui em casa não tem nada pra gente comer e eu tô com fome. Minha mãe só tem farinha e fubá pra comer", disse.

A mãe de Miguel, Célia Arquimino Barros, de 46 anos, vive com seis filhos no bairro São Cosme. "Eu vivo de auxílio emergencial, e o pai manda R$ 250, mas não é todo mês que manda", disse ela à TV Globo

Mais de 60 milhões de brasileiros enfrentaram algum tipo de insegurança alimentar de 2019 a 2021, segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgado no mês passado.

O menino fez certo. A fome no Brasil é um caso de polícia. Dos gorilas comendo. Dos cavalões comendo. O Brasil do cartão corporativo do Bolsonaro sob sigilo de cem anos. O Brasil do orçamento paralelo de Ciro Nogueira. Do orçamento secreto de Arthur Lira. Da ministra da Agricultura que quis solucionar o problema da fome, oferecendo alimentos fora da validade. Do ministro da Economia recomendo aos que comem que ofereçam os restos de comida aos sem nada, aos pobres. Que 40% da população civil pena na pobreza, para o governo pagar salários acima do teto, pagar para generais salários de marechais, salários que ficarão como herança para as filhas que não se casarão no civil, para permanecer solteiras até a virada deste século se as democracias intermitentes, as democracias interrompidas pelos golpes militares permitirem. 

“Grande humanista”, diz Reinaldo Azevedo sobre Guedes sugerir sobras de comida a mendigos

 

por Davi Nogueira

Em publicação nas redes, o jornalista Reinaldo Azevedo comentou a mais nova declaração absurda do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Durante anúncio de projeto de flexibilização da regra que trata da validade de alimentos no Brasil, Guedes sugeriu que sobras de alimentos de famílias de classe média e restaurantes sejam doadas a pessoas vulneráveis.

Comparando com a quantidade de comida consumida por uma pessoa da classe média na Europa, que ele diz serem “pratos relativamente pequenos”, o ministro afirmou que no Brasil exageramos e deixamos “uma sobra enorme”.

Reinaldo respondeu à fala do ministro e lembrou que o Brasil tem ”110 milhões vivendo em insegurança alimentar”.

Ele disse, em tom irônico, que Guedes e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que teve a ideia de distribuir alimentos vencidos aos pobres, são “grandes humanistas”.

O Brasil é o 3° maior produtor de alimentos do mundo e o maior exportador. Mas há 110 milhões vivendo em insegurança alimentar. Tereza Cristina teve uma ideia: alimentos vencidos pra pobres. Guedes teve outra: distribuir sobras de restaurantes pra mendigos. Grandes humanistas!

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Enquanto o povo come osso, JBS alcança lucro histórico com a exportação de  carne |Fila da fome em Cuiabá recebeu ossos de 'qualidade', diz governador de Mato  Grosso - CartaCapitalMoradores dormem na 'fila de ossinhos' para garantir cesta básica em Cuiabá  | Mato Grosso | G1Fila para conseguir doação de ossos é flagrante da luta de famílias  brasileiras contra a fome | Fantástico | G1

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17
Jul22

Coronel Ustra, torturador da ditadura, também entrou depois de morto na farra dos marechais de Bolsonaro que criou a mamata do centrão militar 

Talis Andrade

Arquivos militares – Blog do Servidor

 

Condenado em 2008 por torturas no DOI-CODI e homenageado por Bolsonaro no impeachment de Dilma, ele deixou pensão de R$ 30.615 para as filhas. Newton Cruz, ex-SNI, também foi agraciado com a patente

 

Carlos Alberto Brilhante Ustra, coronel do Exército condenado em 2008 pela Justiça brasileira como torturador durante a Ditadura Militar (1964-1985), foi elevado ao posto de marechal. É o que mostram os dados do Portal da Transparência, acessados na noite desta quinta-feira (5). Ontem (4), a reportagem da Fórum já havia mostrado que 100 generais do Exército e outros 115 da Marinha e da Aeronáutica tinham sido elevados ao posto normalmente atribuído a heróis nacionais que participaram de guerras, inexistente atualmente.

Leia também: “Para qual guerra preparam-se as Forças Armadas?”, indaga Padilha sobre farra dos marechais

O fato mais conflitante fica por conta de Brilhante Ustra ter ido para a reserva como coronel, o que no máximo, se passasse a um posto acima, poderia conduzi-lo ao grau de general de brigada, três níveis abaixo da extinta patente de marechal, legalmente possível apenas em tempos de guerra.

Falecido em 2015, o oficial que usava o codinome Dr. Tibiriçá durante as sessões de tortura na sede do DOI-CODI, em SP, transmitiu sua pensão de marechal às filhas Patrícia Silva Brilhante Ustra e Renata Silva Brilhante Ustra, que recebem cada uma 15.307,90, totalizando R$ 30.615,80, valor correspondente aos vencimentos de outros “marechais” do Exército.

Outra figura emblemática de um dos períodos mais sinistros da História do Brasil que foi elevado a marechal no banco de dados do Executivo federal é o general Newton Cruz, ex-chefe do SNI dos governos Geisel e Figueiredo. Notório integrante da chamada “linha dura” do Regime Militar, Cruz ficou conhecido pelo estilo agressivo e pelas frases intimidatórias que utilizava na frente de todos, inclusive contra jornalistas. Há vídeos da época, disponíveis na internet, que mostram a truculência do antigo n° 1 dos serviços de inteligência da Ditadura.

Num outro caso sem explicação, Newton Cruz, que foi para reserva como general de divisão, só poderia ascender ao posto de general de exército, que é o subsequente. O oficial precisaria alavancar dois postos, desde de que deixou o serviço ativo, para subir à patente de marechal, o que ainda seria ilegal, uma vez que a lei só permite esse tipo de promoção em caso de participação em conflitos bélicos. A aposentadoria paga ao “marechal” Cruz é de R$ 34.565,71.

 

Bolsonaro, o fã do torturador Ustra

 

O presidente Jair Bolsonaro nunca escondeu sua admiração pelo coronel Brilhante Ustra, a quem se refere como um “herói nacional”, em que pese todas as acusações de violações aos direitos humanos praticadas pelo torturador condenado, inclusive na presença de crianças filhas de suas vítimas. Durante a sessão que votou o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016, o então deputado federal dedicou sua decisão favorável ao afastamento da petista com a seguinte frase: “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor da Dilma”.

A fala repercutiu entre autoridades e entidades da sociedade civil, no Brasil e no mundo, e foi classificada, entre outras coisas, como “execrável”, “estarrecedora” e “deprimente”. Os filhos de Bolsonaro, todos parlamentares, também costumam prestar homenagens ao torturador usando camisetas com a foto do militar já morto.

 

Repercussão sobre a “farra dos marechais”

 

Parlamentares ouvidos pela reportagem da Fórum na quarta-feira (4) se comprometeram a encaminhar ofícios, via Câmara dos Deputados, exigindo respostas ao Ministério da Defesa sobre as nomeações em massa de generais para a patente de marechal, que foi extinta no regramento jurídico brasileiro, exceto em tempos de guerra.

Os deputados Paulo Teixeira (PT-SP) e Marcelo Freixo (PSB-RJ) reuniram-se com lideranças de oposição nesta quinta-feira (5) para tratar do que passou a ser chamado de “farra dos marechais”.

 

Imagens do banco de dados do Portal da Transparência

 

Coronel Ustra, torturador da Ditadura, é um dos “marechais” | PolíticaCoronel Ustra, torturador da Ditadura, é um dos “marechais” | Política

Escândalo! Coronel Ustra, torturador da Ditadura, é um dos marechais do  Exército | Solda Cáustico

Filhas do torturador Ustra recebem pensão de mais de R$ 10 mil sem fazer nada

 

Com Ustra na lista, Generais de Exército são nomeados Marechais fora de  tempos de guerra, norma prevista após reforma | CGN

 

Dados inéditos revelados mostram que o governo brasileiro gasta cerca de 19 bilhões ao ano para sustentar as parasitas filhas de militares, por pagamento de pensão. Várias dessas são filhas de torturadores da Ditadura Militar, como Brilhante Ustra, famoso por torturar pais em frente aos filhos

 

por Redação Esquerda Diário

O Estado brasileiro gasta cerca de 19 bilhões de reais com pensão de filhas solteiras de militares, é o que revelam os dados da Agência Pública, exibidos hoje. Enquanto milhares de brasileiros padecem na fome tendo seus direitos mínimos e mais elementares sendo cortados, algumas dondocas passam o resto da vida no bem-bom com o nosso dinheiro.

Cerca de 226 mil filhas de militares recebem essa mamata e 137 mil dessas, cerca de 60%, são filhas de militares já mortos. Algumas destas pensões já chegam a quase 90 anos de pagamento, com algumas delas com pagamentos sendo iniciados em 1930.

Dentre as parasitas que recebem esta mamata do Estado brasileiro estão as duas filhas do lixo torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, que tem em seu currículo desprezível a fama de levar crianças e bebês a tortura dos pais.Coronel Ustra, torturador da Ditadura, é um dos “marechais” | Política

Estas inúteis desfrutam do privilégio dado pelo Estado sem nunca ter precisado trabalhar, com um “salário” de mais de 10 mil mensais, cada uma. Ambas nunca casaram para poder continuar sustentando sua mamata. Publicado in 2/Julho/2021

Coronel Ustra, torturador da Ditadura, é um dos “marechais” | Política

Elairton Gehlen escreve: 'Os pobres devem economizar' - Folha de Dourados -  Notícias de Dourados-MS e região

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