Brasil registra 1.351 mortes por covid-19 em 24 horas
A situação sanitária do Brasil é muito preocupante
Professora distribui álcool em escola de São Paulo
DW - O Brasil registrou oficialmente 54.742 casos confirmados de covid-19 e 1.351 mortes ligadas à doença nesta quinta-feira (11/02), segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).
Com isso, o total de infecções identificadas no país subiu para 9.713.909, enquanto os óbitos chegam a 236.201.
Diversas autoridades e instituições de saúde alertam, contudo, que os números reais devem ser ainda maiores, em razão da falta de testagem em larga escala e da subnotificação.
Em números absolutos, o Brasil é o terceiro país do mundo com mais infecções, atrás apenas dos Estados Unidos, que somam mais de 27,3 milhões de casos, e da Índia, com 10,8 milhões. Mas é o segundo em número absoluto de mortos, já que mais de 474 mil pessoas morreram nos EUA.
Brasil pode ficar isolado mundialmente por causa de possíveis variantes do coronavírus
Especialista ouvido pela RFI diz que país só não errou mais na pandemia por falta de tempo e afirma que demora na vacinação e comportamento da população e de autoridades podem levar o Brasil a ser celeiro de mutações do vírus.
A situação sanitária do Brasil é muito preocupante, mas a população e os governos agem como se os números de casos de coronavírus estivessem em queda vertical. A avaliação é do infectologista Dalcy Albuquerque, membro da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. A consequência disso já se vê no número de mortes e internações, disse o especialista, e pode também levar ao aparecimento de novas mutações do vírus, devido à alta taxa de transmissão.
“Aqui o controle da pandemia é muito fraco, muito falho. O vírus está se reproduzindo livremente, especialmente quando as pessoas estão nas ruas, sem cuidado. E nessa ampla replicação viral, pode haver ‘erros’ no processo, daí as chances de se ter variantes. O Brasil tem fronteira com outros países, temos voos indo e vindo de quase todo o mundo, o nosso país é grande e a situação sanitária é grave. Com tudo isso, o país pode vir a ser um celeiro de novas variantes do coronavírus”.
O médico explicou que a maioria dessas alterações em partes do vírus que surgem da replicação não se desenvolve. Mas alguns desses ‘erros’ podem se tornar predominantes, uma nova cepa, ou conviver com o original, como acontece com as variantes originárias do Reino Unido, África do Sul e da região Norte do Brasil. Em princípio são mudanças que até agora tornaram o vírus mais transmissível, mas não mais letal. “Nós fazemos muito pouco da vigilância virológica, testamos pouco as pessoas e fazemos pouca pesquisa sobre a genotipagem do vírus, ao contrário da Europa, por exemplo. Na Inglaterra, a partir de certa quantidade de exames, se faz uma análise mais detalhada. E nós não fazemos. Pode então haver novas variantes já circulando e nós não sabemos. E por não sabermos, não levamos adiante políticas públicas para combater isso, com isolamento de certas áreas, controle sanitário mais assertivo para barrar a propagação”.
Dalcy Albuquerque diz que o país faz feio no combate à pandemia. “Sob o ponto de vista médico, epidemiológico, o Brasil só não errou mais por falta de tempo, não teria como errar mais do que já errou. Inclusive pela ausência do governo federal na condução de uma política nacional, de uma coordenação. Não houve apoio a hospitais de campanha, negociação antecipada e ágil de vacinas, ao contrário, houve descrédito com medidas sérias contra o vírus. O país voltou a ter aumento nos casos e nada foi feito, continuou-se tudo como se o número tivesse em ritmo de queda”.
A mutação do vírus, a falta de cuidado da população, a inércia do governo federal e a demora na vacinação em massa podem levar a perda inclusive dos efeitos da campanha de imunização já em andamento. “Se houver nova variante importante, pode-se perder o que foi vacinado. Muitas prefeituras estão suspendendo a vacinação por falta de doses. É preciso acelerar a produção pelos institutos brasileiros. E aqui nova falha do governo federal que, diferentemente de outros países, negociou com apenas um fornecedor, Oxford/AstraZeneca. Temos o imunizante da Sinovac devido a uma negociação direta do governo paulista. Outros países negociaram antecipadamente com vários fabricantes.”
Volta ao normal
O infectologista diz que o comércio, os serviços, a indústria só voltarão mesmo ao normal se a população for vacinada. Ainda assim, considera que as aulas, especialmente na rede pública, deveriam ser retomadas para não agravar ainda mais o fosso social do país e porque, na escola, muitas vezes as crianças estão mais protegidas, sob vários aspectos, do que na rua. “O tema é polêmico, mas acho que com um rigoroso protocolo, com participação de professores, funcionários e sobretudo dos pais, que devem orientar os filhos a seguir as regras de higiene da escola, como usar máscara, não comer do lanche do colega, a escola, especialmente a pública, deve reabrir e receber os estudantes”.
Albuquerque diz que não vê com olhos muito otimistas a guerra contra o coronavírus no Brasil, mas isso pode mudar se a produção das vacinas aumentar. “Considerando o ritmo da vacinação, a gente hoje não vê uma boa perspectiva. A Fiocruz e o Butantan estão prometendo entregar um volume bem maior e crescente de doses, o que, se confirmado, mudaria o cenário, mas sem isso a gente perde a corrida. E pode colocar a perder a vacinação feita até aqui se houver uma mutação importante do vírus. E aí corre o risco de ficar isolado no mundo, com brasileiros barrados ou tendo de ficar de quarentena para entrar em qualquer país. Nossos vizinhos na América Latina já estão em ritmo mais acelerado de vacinação”.
França reforça medidas nas escolas contra cepas brasileira e sul-africana
As novas cepas do coronavírus, mais resistentes e contagiosas, podem gerar uma nova onda epidêmica na França e representam uma ameaça às campanhas de vacinação. Na tentativa de controlar o avanço das variantes da Covid-19, que os epidemiologistas acreditam que serão majoritárias em março ou abril, o país anunciou um novo reforço no protocolo sanitário nas escolas.
O Ministério da Educação anunciou que as classes serão automaticamente fechadas se um aluno for contaminado pela variante sul-africana ou brasileira. Atualmente, na região parisiense, mais de 250 classes estão fechadas por conta de casos da Covid-19: pelo menos 50 em Paris, 77 em Versalhes e 119 em Créteil.
Todos os alunos e professores serão testados e deverão ficar dez dias de quarentena, contra sete no caso das outras cepas. A medida também vale para uma criança que tenha estado em contato com essas variantes, seja através de amigos ou familiares.
As máscaras caseiras de tecido também foram proibidas nas escolas francesas. Os estudantes do ensino fundamental e médio agora terão de usar máscaras cirúrgicas descartáveis, consideradas mais eficientes para barrar a transmissão do coronavírus.
O governo também pretende fazer campanhas de rastreamento nas escolas utilizando testes de saliva, aprovados recentemente pelas autoridades sanitárias do país. O Ministério da Saúde detectou até agora quatro casos da variante brasileira no sul do país, mas é o cepa sul-africana que causa mais preocupação pela falta de dados sobre sua circulação no território francês.
Para evitar um novo lockdown, o governo francês aposta no recesso escolar de fevereiro, que começou nesta segunda-feira (8) em várias regiões e deve durar duas semanas. Na região parisiense, as férias começam neste sábado (13).
"As próximas semanas serão decisivas", disse o epidemiologista Arnaud Fontanet, membro do comitê cientifíco criado pelo governo para ajudar na gestão da epidemia, ao canal de TV BFMTV, nesta segunda-feira (8). "A cepa britânica vai determinar quais serão as próximas medidas", reitera.
Casos de novas cepas disparam em três semanas
Em 27 de janeiro, o número de casos detectados das novas cepas, principalmente a britânica, chegava a 14%, contra 3,3% de casos positivos em 7 e 8 de janeiro. Para acompanhar sua evolução no território, todos os testes PCR positivos deverão ser analisados com uma técnica que permite detectar a presença possível das três variantes, segundo a Direção Geral da Saúde.
Fora de controle, a cepa britânica poderia levar a um aumento descontrolado do número de casos e a uma retomada da epidemia da Covid-19, de acordo com o virologista francês Bruno Lina, que coordena a vigilância epidemiológica em torno das cepas. "Por enquanto, o cenário não é excessivamente sombrio, ainda temos a possibilidade de controlar esse vírus", afirma.
A situação preocupa os profissionais da saúde, principalmente porque o governo fez uma aposta arriscada ao decidir não decretar, por hora, um novo lockdown. "O governo preferiu preservar a economia, a educação e o social, porque todos estão exaustos com essa repetição de lockdowns", afirma Fontanet. "Se funcionar, tudo bem, mas se a partir de um momento constatarmos que a epidemia continua progredindo, uma hora ou outra precisaremos adotar medidas mais rígidas", salienta
"A epidemia estacionou em um nível elevado", argumenta o epidemiologista Antoine Flahault ao canal BFMTV. Para ele, a estratégia adotada pelo governo francês é "extremamente perigosa." Ele defende a adoção de um lockdown imediato, com o fechamento das escolas, por um período limitado.
(Com informações da AFP
"Mutações podem destruir nossas conquistas", diz Merkel
A chanceler federal Angela Merkel defendeu nesta quinta-feira (11/02), perante os parlamentares no Bundestag (Parlamento alemão), a decisão tomada pelos governos federal e estaduais de prolongar até 7 de março o lockdown por causa da pandemia de covid-19.
Ela disse concordar com o argumento de que há uma clara tendência de declínio nos números de novas infecções, mas alertou para o perigo representado pelas mutações do novo coronavírus, "que podem destruir todas as conquistas" das últimas semanas.
Merkel lembrou que as variantes do coronavírus são bem mais perigosas e transmissíveis e estão se impondo perante a variante inicial, o que já pode ser confirmado em outros países.
Na Alemanha, já foram registrados casos das variantes identificadas pela primeira vez na Reino Unido, na África do Sul e no Brasil, disse.
"Eu não acredito que esse vai e vem, abre e depois fecha de novo, realmente traga mais previsibilidade para as pessoas do que esperar mais alguns dias", comentou.
Ao mesmo tempo, a chanceler federal reconheceu erros na condução da pandemia. No verão europeu de 2020, uma vida mais ou menos normal voltara a ser normal, lembrou. "Mas não fomos precavidos o suficiente nem rápidos o suficiente", observou.
Segundo ela, o governo deveria ter reagido de forma mais rápida quando as infecções voltaram a subir, impondo logo um lockdown. A explosão no número de infecções que se viu a seguir foi consequência de uma "atitude hesitante" por parte do governo, disse.
Oposição critica
A oposição criticou a gestão da pandemia pelo governo. A líder da bancada do partido populista de direita AfD, Alice Weidel, acusou o governo de agir de forma inconstitucional, de impor amplas restrições às vidas dos cidadãos e criar efeitos colaterais imensuráveis
O partido A Esquerda e o liberal FDP voltaram a pedir maior participação do Parlamento na tomada de decisões. O presidente do FPD, Christian Lindner, disse que a população aguardava uma abertura maior diante do "imenso desgaste" que o lockdown provoca na sociedade.
Até 7 de março
A decisão de prolongar o lockdown em vigor desde meados de dezembro foi tomada em Berlim, nesta quarta-feira, durante um reunião entre Merkel e os governadores estaduais. O lockdown estava previsto para acabar no próximo domingo.
O principal critério para uma abertura é a incidência semanal de novas infecções. Os governos querem que ela fique pelo menos abaixo de 50 por 100 mil habitantes, de preferência abaixo de 35. O número está em queda na Alemanha já há vários dias, e nesta quinta-feira caiu de novo, para 64 novas infecções por cem mil habitantes.