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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

25
Nov20

Carrefour fica com imagem "manchada de sangue" após morte João Alberto, estima Le Monde

Talis Andrade

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RFI - O jornal Le Monde mostra nesta quarta-feira (25) como o grupo francês Carrefour "está contra a parede" no Brasil, sem conseguir evitar os protestos que acusam a empresa de "assassina", após a morte brutal do soldador João Alberto Silveira Freitas. O crime envolvendo o cliente negro aconteceu na última quinta-feira (19) em uma unidade da zona norte de Porto Alegre.

Le Monde relata que milhares de brasileiros têm saído às ruas, em várias capitais, aos gritos de "Carrefour assassino". Em meio à campanha municipal, além dessas manifestações populares, "o grupo francês também é alvo de críticas de quase toda a classe política, com exceção de Jair Bolsonaro, que se cala sobre o assunto", reporta o jornal francês.

"Guilherme Boulos, candidato de esquerda a prefeito de São Paulo, qualificou o drama de 'puro racismo'. O juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moares falou em 'homicídio bárbaro'. Para José Vicente, uma personalidade do movimento afro-brasileiro, o assassinato de João Alberto seria 'ainda mais selvagem' do que o de George Floyd nos Estados Unidos. (...) Mais preocupante para o grupo: uma petição on-line pedindo um boicote ao Carrefour coletou mais de 16.000 assinaturas. (...) Diariamente, a imprensa noticia novos 'escândalos do Carrefour': atos diários de racismo, espancamento de negros, casos de tortura ou de estupro cometidos por agentes de segurança, que são comparados a 'milícias' a serviço dos brancos."

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"O grupo, que tem um logotipo conhecido em todo o mundo, com duas setas, uma azul e outra vermelha, desenhando um C, vê essa última flecha transformada em uma poça de sangue nas redes sociais", relata o jornal. Por enquanto, nem as desculpas oficiais, nem a criação de um fundo de R$ 25 milhões (€ 3,9 milhões) para lutar contra o racismo no Brasil, nem o rompimento do contrato com a empresa de segurança Vector, onde trabalhavam os dois vigias acusados pelo assassinato, foram suficientes para apagar o incêndio, explica o correspondente no Rio de Janeiro.

Le Monde ouviu Stéphane Engelhard, secretário-geral do Carrefour Brasil. O executivo afirma que "o racismo é um problema social, no país fortemente marcado pela escravidão”. Engelhard diz que o mais importante é entender o que aconteceu, dialogar com as instâncias e associações, e trabalhar para construir "uma sociedade melhor”.

Supervisora é presa e será investigada por coautoria de homicídio

O jornal gratuito 20 Minutos relata que a polícia prendeu na terça-feira (24) a supervisora da loja, Adriana Alves Dutra, como suposta "coautora" do homicídio de João Alberto. A funcionária, que foi vista filmando a cena, teria mentido em seu primeiro depoimento aos investigadores, ao dizer que não ouviu quando a vítima pediu ajuda e ocultando que um dos seguranças trabalhava no local. Em um vídeo, ela é vista avisando à vítima que ela deveria se acalmar para ser liberada, ou dizendo que João não seria solto até a chegada da polícia.

Diante da queda das ações do grupo francês na Bolsa de Valores de São Paulo, 12 fornecedores do Carrefour, entre eles gigantes como Coca Cola, Danone, Pepsico, Heineken, JBS, General Mills, Kellogg's, L'Oréal e Nestlé, anunciaram uma coalizão que se propõe a tomar iniciativas "para combater o racismo estrutural" no Brasil, que aboliu a escravidão em 1888.

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23
Nov20

Assassinato de João Alberto tem mais responsáveis (vídeos)

Talis Andrade

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Beto foi com a companheira Milena (à esq.) ao Carrefour Imagem: Arquivo pessoal

 

por Marcelo Auler

- - -

Apesar de apenas duas pessoas terem sido presas em flagrante pela morte de João Alberto Silveira Freitas, o Beto, de 40 anos, no supermercado Carrefour, no bairro Passo de Areia, em Porto Alegre, eles não são os únicos responsáveis que devem responder pelo crime. O homicídio, que a polícia civil classifica de triplamente qualificado – por motivo fútil, asfixia e recurso que impossibilitou a defesa da vítima – tem prováveis coautores.

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Giovane Gaspar da Silva, segurança, policial, filiado ao MDB, que participou das agressões 

 

Oficialmente, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul mantém presos como responsáveis pela morte de Beto o policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva e o segurança terceirizado Magno Braz Borges. São os dois que aparecem nos diversos vídeos que viralizaram espancando, imobilizando e, possivelmente, sufocando o cliente negro que faleceu no estacionamento do Carrefour, na noite de quinta-feira (19/11).

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Magno Braz Borges, segurança que participou das agressões a Beto 

Na realidade, porém, o crime pode ter mais alguns responsáveis. É o caso de Adriana Alves Dutra, agente de fiscalização do supermercado, que aparece na cena do crime filmando toda a agressão sem nada fazer para impedi-la. Além de se omitir diante do espancamento que filmava, ela tentou impedir que um homem, de 41 anos, que trabalha como entregar de mercadorias no próprio Carrefour, também filmasse as cenas. Chegou a ameaçá-lo, conforme consta do vídeo feito pelo entregador que foi entrevistado por Tiago Boff, do jornal Zero Hora – Entregador que filmou agressões no Carrefour diz que seguranças tentaram apagar vídeo e relata ter sofrido ameaças:

Não faz isso! Não faz isso! Não faz isso senão eu vou te queimar na loja”, ameaçou Adriana, como registrou o vídeo feito pelo entregador, que pode ser visto na reportagem de Boff.

Como explicou o entregador de mercadoria que pediu ao repórter para não ser identificado, ele foi pressionado a apagar o que filmou. Mas não o fez: “Tive que guardar o celular. E eles queriam que eu apagasse o vídeo. Eu disse que não ia apagar. Eu pretendia usar o vídeo para defender o senhor, mas infelizmente aconteceu o que aconteceu“.

Quem não impediu, também reponde pelo crime

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Os dois espancadores e o cadáver de Beto

A possível participação de Adriana em todo o episódio ainda está sendo investigada pela polícia, como admitiu ao jornal Correio do Povo – Polícia Civil investiga motivação para agressões e morte de cliente de hipermercado de Porto Alegre– a delegada Roberta Bertoldo, titular da 2ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (2ªDPHPP) da Polícia Civil:

Quem não impediu a agressão responde também ao meu ver… A moça de camisa branca é a fiscal com a qual a vítima teria se desentendido, mas não está confirmado isso ainda. Ela não impediu as agressões e ainda ameaçou pessoas para que não filmassem”, explicou a titular da delegacia ao jornal.

Mas a dúvida que a delegada alega ainda precisar esclarecer não existe para o Procurador de Justiça aposentado, professor de Direito, Cézar Roberto Bitencourt, Doutor em Direito Penal pela Universidade de Sevilha, Espanha:

Aquela funcionária não é simplesmente testemunha do crime. Pelo contrário. Ela é coautora do crime. Ela coordenou a agressão. Ela chamou os seguranças, mandou retirarem (o cliente), acompanhou e comandou, inclusive empurrava, botava as mãos nas costas. Note que ela está do lado, ela era chefe. Ela poderia ter dito, parem! Chega! Acabava. Porque ela tinha autoridade sobre os seguranças, poderia interromper. Ela tinha o domínio do fato. Por isso ela não é simples partícipe, não era meramente participante. Ela é coautora do homicídio. Tem que ser indiciada e denunciada por homicídio qualificado, em concurso com os outros dois“. (Transcrevi trechos)

 

21
Nov20

Nada mais racista que o conceito de país não racista de Hamilton Mourão

Talis Andrade

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por Gilvandro Filho

- - -

O Brasil do vice-presidente Hamilton Mourão é uma terra encantada, onde preto e branco convivem em paz e harmonia e onde inexiste preconceito de cor. É tudo uma maravilha racial, um exemplo para todos os países do velho e bom planeta Terra. No país de Mourão não há racismo. Como disse o garboso general que, no momento, ocupa a vice de um presidente igualmente firme e temerário em seus conceitos sobre o tema: “Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil”. Se tiver alguma coisa a ver com a construção e manutenção desse mundo dos sonhos, Mourão deve ser indicado para o Nobel da Paz. SQN para todo o parágrafo.

Ontem, na véspera do Dia da Consciência Negra, dois seguranças de uma loja do Carrefour em Porto Alegre assassinaram, fria e brutalmente, o soldador João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, espancado de forma covarde. Tudo foi filmado e espalhado pelas redes sociais. Deu para ver, inclusive, que a execução teve a participação indireta de uma terceira pessoa, a zelosa chefe de segurança da loja, Adriana Alves Dutra, que tudo filmou e ainda quis tomar o telefone celular de um cliente que fazia o mesmo para denunciar o crime. Os dois executores foram detidos e pegaram prisão preventiva. Adriana foi só ouvida como testemunha.

Mourão, perdendo uma oportunidade de ouro de ficar calado, agrediu os fatos que sujaram o dia de sangue. Reverberando a opinião de Bolsonaro e de sua legião de seguidores, o vice “lamentou” o ocorrido, mas descartou o racismo como fator motivador. Na verdade, como visto, descartou o próprio racismo. Isto num país onde se mata um jovem negro a cada 23 minutos. Mas num país onde se nomeia para dirigir a principal entidade representativa da identidade negra, a Fundação Palmares, alguém que, mesmo negro, odeia a sua própria raça.

“Lamentável, né? Lamentável isso aí. Isso é lamentável. Em princípio, é segurança totalmente despreparada para a atividade que ele tem que fazer […] Para mim, no Brasil não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar aqui para o Brasil. Isso não existe aqui”, expeliu o vice-presidente ao ser entrevistado sobre a execução do Carrefour de Porto Alegre. Talvez pareça mentira a frase sair da mesma boca e da mesma mente de quem, há poucos dias, pareceu se chocar com o seu irascível  chefe na questão do meio ambiente, ao defender mais fiscalização e mais rigor com os criminosos ambientais. Politicamente bipolar, Hamilton Mourão mostra, nessas horas, que está mais afinado com Jair Bolsonaro no que se pensa. Pelo menos na essência.

A fala desastrada de Mourão repercutiu tão mal quanto o próprio assassinato. Até a ONU soltou uma nota desmentindo o que disse o vice-presidente. “A violenta morte de João, às vésperas da data em que se comemora o Dia da Consciência Negra no Brasil, é um ato que evidencia as diversas dimensões do racismo e as desigualdades encontradas na estrutura social brasileira”, diz o documento da ONU. Constrangedor.

João Alberto era trabalhador. E era um homem alegre, tranquilo e brincalhão, segundo seus amigos e vizinhos que passaram o dia chorando e falando dele para a imprensa. Deixa quatro filhos e uma enteada, com a esposa. Morava pertinho do supermercado onde foi trucidado. Até o fechamento deste texto, à zero hora deste sábado, o Carrefour ainda não havia feito nada para amparar a família. A não ser uma proposta demagógica de doar um dia de faturamento da loja a instituições de defesa dos negros.

Deve ser o que vale a vida de um homem negro, jovem e cheio de vida. Isto na opinião da empresa e de brasileiros, governantes e governados, que acham que não existe racismo nesse país.

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