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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

15
Jan24

Natalia Viana entrevista Francisco Teixeira - lll

Talis Andrade

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Com essa situação, existe um risco de ameaça antidemocrática voltar a vir do setor militar?

Veja, a gente tem visto pesquisas de opinião, pesquisas de intenção de voto e mostra que o bolsonarismo está tão firme quanto antes, com pequenas variações.

Cerca de 90% daqueles que votaram no Bolsonaro continuam aderindo. E, por outro lado, cerca de 30% dos eleitores se manifestam claramente como bolsonaristas.

Quer dizer, a gente não fez de maneira alguma uma mudança importante na sociedade.

Neste momento, a gente tem um oficial de alto nível, com uma trajetória muito relevante, que é o Mauro Cid, com uma tornozeleira eletrônica e até agora o Exército não abriu uma sindicância interna contra ele.

Ele tem acusações claras de falsificação de documentos públicos e não tem nenhum IPM, nenhum Inquérito Policial Militar, nenhuma investigação. 

Quer dizer, imagina no serviço público se alguém é acusado de falsificar um documento público na universidade. Se eu falsificar o diário de nota de um aluno, é aberta uma comissão de inquérito imediatamente.

Outra coisa: está todo mundo fazendo carreira normalmente. É só você ver o destino, por exemplo, do tenente-coronel Paulo Fernandes Da Hora, comandante da Guarda Presidencial. Foi nomeado para um cargo na Espanha (Instrutor do Curso de Altos Estudo Estratégicos para Oficiais Superiores Ibero-Americanos), o General Gustavo Henrique Dutra, ex-comandante militar do Planalto, que foi nomeado para a vice-chefia do Estado-Maior. 

Ninguém foi mandado para casa.

 

E por que não?

Porque não é a característica das Forças.

Nós poderíamos dizer que o golpe se baseou num tripé. O bolsonarismo de rua desses pequenos empreendedores, pequenos empresários, esse pessoal que acabou indo pra rua e se dispôs a fazer carreata, passeata, demonstração e quebra-quebra, e que é o alvo principal do inquérito de ações antidemocráticas.

Eles é que foram presos.

O segundo pilar é o governo do Distrito Federal, onde se tramou largamente, onde se encontrou uma outra minuta do golpe, no caso o ex-ministro da Justiça e secretário de Segurança Pública de Brasília, o Anderson Torres, e a cúpula da PM que foi presa, mas até agora a gente não tem nenhuma notícia dos processos, das acusações, a coisa tá meio abafada.

E o terceiro pilar, que é dentro da União, que é o pilar do Poder Federal, do Governo Federal, onde estão os elementos que estavam no GSI, que estavam no Comando Militar do Planalto, que estavam no Comando da Guarda Presidencial, que estavam na Abin.

Então, na verdade, do tripé, só um pé está sendo investigado e condenado.

 

Queria voltar à questão dos membros do Alto Comando que não aceitaram a ideia de golpe… 

Olha, na verdade, eles agiram de forma passiva, mas muito clara, no sentido de que não aceitariam uma intervenção militar. Na verdade, eles fizeram uma resistência passiva.

Uma situação que a gente chamaria, o verbo attendere, em francês, “atentismo”, de ficar atento para esperar o que ia acontecer.

Mas com isso, não se permitiu que os elementos mais bolsonaristas do Alto Comando embarcassem num primeiro momento na tentativa de golpe.

Várias vezes o golpe foi esboçado. Ele foi esboçado no 7 de setembro de 2021; no dia 30 de outubro de 2022, segundo turno das eleições presidenciais. Ele foi esboçado no dia 12 de dezembro, quanto da diplomação do Lula. A cada vez, tentava-se avaliar quem poderia ir junto, se era ali o momento, se ia ou não ia….

 

…Sei.

Mas houve não só essa situação de atentismo desses cinco generais, como também um contato direto entre o Supremo Tribunal Federal e o Alto Comando.

Em vários momentos, o ministro Toffoli, mas não só ele, fez contato com alguns desses generais e disseram que não ia haver validação, como houve em 1964 de um golpe de qualquer tipo que fosse desferido pelo bolsonarismo.

Então, de um lado, houve essa resistência passiva dentro do Alto Comando e, de outro, uma pressão externa vinda do Supremo, avaliando que não haveria validação pós-fato do golpe.

Por isso que eu falo que é uma insurreição. O que se esperava é que o ato de Brasília impedisse o funcionamento do governo e que fosse repetido, clonado em São Paulo, no Rio, em Recife, em Belo Horizonte, no Sul, para, com isso, paralisar o país.

E numa situação de paralisia, então, se declarar que o governo era incapaz de se manter.

E que isso, então, implicava no uso do artigo 142, que teria que ser validado pelo Supremo. Mas aí o Supremo já tinha avisado que não ia validar, que não ia ter validação.

Houve, durante alguns momentos da sexta-feira, dia 6 de janeiro, até a terça-feira, dia 10 de janeiro, um certo medo de alguns generais do Alto Comando, de que um coronel qualquer, sei lá, em Quixeramobim (CE), ou em Pouso Alto (MG), colocasse as tropas na rua.

Ou seja, não se tinha o controle sobre o conjunto das Organizações Militares.

E que, colocadas as tropas na rua, outras seguissem e que não haveria condições de usar uma força militar para combater outra. Que haveria, então, um dominó de adesões aí.

Mesmo no dia 8, no meio da tarde, o Flávio Dino não tinha nenhuma certeza da PM do Distrito Federal, ou mesmo da Polícia Federal, estarem cumprindo as ordens do governo.

A grande novidade, aquilo que também fez um desequilíbrio, foi, sem dúvida nenhuma, uma atuação muito firme do André Passos Rodrigues, o diretor-geral da Polícia Federal, que conseguiu que a maior parte da Polícia Federal se mantivesse numa posição legalista e não seguisse a desobediência, por exemplo, que o comandante do Exército, general Arruda promoveu mobilizando os carros blindados.

E também o aviso do Dino de que ele chamaria PMs do Maranhão ou da Bahia, onde os governos do PT tinham mais controle, para ocupar Brasília.

Isso fez com que a PM do Distrito Federal também se movesse.

Mas até às 5 horas da tarde, mais ou menos, isso não estava claro.

Às 5 horas e pouco da tarde, o general Arruda estava aos berros, aos berros com o Dino lá no comando militar, porque ele não queria aceitar, e não aceitou de fato, que a PM e a Polícia Federal entrassem no acampamento para prender os insurretos.

Então, a situação foi uma situação muito delicada.

E, realmente, não se sabia durante algumas horas sobre que forças o Governo Federal tinha ou não tinha controle.

 

O senhor, como estudioso e especialista em Forças Armadas, teve alguma atuação nesse dia? 

Eu acho que a gente conseguiu alguns canais diretos de fala. E esses canais funcionaram com dois deputados do PT, que estavam na comitiva do Lula lá em São Paulo, e com dois secretários do Ministério da Justiça, que entenderam perfeitamente.

É aí é que está o grande pulo do gato e a mudança e a sensação de retomada de controle que foi não utilizar o artigo 142 da Constituição (que garante a decretação de GLO) e ir para o artigo 136 de Defesa do Estado, onde se coloca a questão da intervenção civil. Tanto que imediatamente se nomeia Ricardo Capelli, que é um jornalista, é um civil, para fazer a intervenção.

Então esses canais ligados principalmente a um grupo de cientistas políticos e advogados que conseguiram falar e dizer que de maneira alguma se deveria usar a GLO. Porque na verdade, se tinha já até preparado o nome de um general para assumir o controle. E assumindo o controle, a devolução desse poder à República não seria fácil.

Esse era o mesmo grupo de pesquisadores que hoje acha que o artigo 142 tem que ser reescrito. Ele é uma falha, é aquilo que a gente chama de erro constitucional, acontece nas constituições, aconteceu na Constituição de Weimar e deu no que deu.

E esses pesquisadores realmente ficaram muito surpresos quando o governo agora voltou a utilizar o 142.

 

Sim. O senhor diz agora, na adoção de uma GLO para portos e aeroportos do Rio. Qual o problema?   

Com isso, volta a se dar uma força muito grande a essa falsa doutrina da tutela militar sobre a República. Sobre a ideia de que sem os militares a República não consegue se manter.

Essa é uma questão fundamental da República. E com isso, o governo Lula comete o principal erro dele em toda a gestão da crise, que é revigorar o artigo 142 através da questão da criminalidade urbana.

 

Agora, o PT chegou a falar em reformar o artigo 142 e tal. Acho que já desistiram, né? 

Já. Na verdade, com a nova GLO, se reafirmou a doutrina que está contida nele, que é a tutela militar.

A outra coisa é também que os próprios militares se entendem como poder, o que é um erro, né?

Eles não são poder, não existe poder militar na República. Os poderes são três, estão lá na Constituição. E devem conviver harmonicamente.

Os militares são uma burocracia do Poder Executivo que têm uma característica Weberiana específica: são os que têm o monopólio da violência legal do Estado. A diferença deles é isso. Mas são uma burocracia de Estado, não são um poder. Quer dizer, não tem que se fazer uma avaliação dos interesses da opinião das Forças Armadas.

 

Que foi o caso do convite para fazerem parte da Comissão Eleitoral, por exemplo. 

O ministro Barroso, o que é de se surpreender, porque ele é um jurista do Supremo, ele, ao convocar militares para compor aquela comissão eleitoral, ele errou enormemente.

Ele abriu a porta a que os militares tivessem opinião sobre urna eletrônica, sobre sistema de apuração, sobre código-fonte, sobre tudo isso.

Quer dizer, os militares são chamados para garantir a integridade da votação. É isso. Eles não têm opinião. Se se vota em papel, em máquina, se vota de dia, de noite, nada tem opinião deles.

Eles não têm que fazer nada disso. Quem tem opinião sobre isso são os três poderes. O Legislativo que criou a regra, o Executivo que criou a lei, quem executa, e a Justiça Eleitoral, que vê se está tudo conforme os preceitos legais.

 

Mas nesse caso, do desmerecimento das urnas, aquele relatório que não diz nem que não nem que sim, mas que pode ser, neste caso estamos falando de uma atuação institucional, e não só de um ou dois generais…

Aquilo era criar as condições para deslegitimar o resultado eleitoral. Veja que em todas essas insurreições modernas, na Praça Maidan, na reeleição do Evo, ou na contagem de votos do Trump, todo o centro da questão é deslegitimar a votação. Não é o candidato. Não é dizer que o candidato é corrupto, que o candidato é isso, que o candidato é aquilo.

É o próprio processo eleitoral.

Então, quando o Exército assume uma postura de, contra o Superior Tribunal Eleitoral, criticar o processo eleitoral, ele estava exorbitando enormemente das suas funções.

E todos aqueles que fizeram a expressão verbal dessa exorbitância deveriam ter sido punidos no ato.

No ato.

Deixá-los continuar falando sobre resultados eleitorais, a discutir, a fazer pareceres de moto próprio, é uma forma de subverter o processo eleitoral. Não é legítimo, é ilegal.

Mas a institucionalidade, ela se expressa verbalmente através de indivíduos.

 

Sim.

Você não tem como punir a instituição e o Exército. Mas se alguém, como foi o caso do ministro da Defesa do Bolsonaro, vem a público e diz que desconfia do sistema eleitoral, ele deve ser punido. E isso não aconteceu.

Não aconteceu, não pela parte do Poder Executivo, de onde a gente não esperaria nada, mas não aconteceu também por parte da Justiça Eleitoral e nem da parte do Supremo.

Porque, naquele momento, as pessoas realmente não estavam acreditando na possibilidade do golpe.

 

Você compartilha da opinião que as instituições responderam bem, salvaram a democracia? 

Não é verdade. Quando o poder militar fala do processo eleitoral, as instituições não estão funcionando. Como hoje também não estão.

Numa democracia normal, saudável, não tem que se vencer golpes. Não tem que se lidar com golpes. Não tem que se lidar com minutas que vão caçar juízes do Superior Tribunal Eleitoral ou do Supremo Tribunal Eleitoral.

Então não é verdade que a democracia brasileira estava bem, era forte e que mostrou sua força vencendo o golpe.

Venceu o golpe por muito pouco. O risco foi muito, muito elevado.

 

Como é que estão as relações civis militares hoje?

Olha só, eu diria que 80% das forças militares, mais quase 90% do oficialato, é aquilo que a gente poderia chamar de “morista”. Continuam defensores do Sérgio Moro, da ideia de que não houve eleição legítima, houve intervenção do Supremo e do Superior Tribunal Eleitoral, que eles é que escolheram o Lula presidente.

Por sinal, o Lula é tratado normalmente como o “descondenado”. Não como alguém que foi absorvido e não tem nada contra ele, mas como “descondenado”, mostrando a ideia de uma justiça parcial nesse sentido.

O governo não tem promovido de maneira alguma uma renovação das Forças Armadas. Ele tem reafirmado tudo, inclusive a política do primeiro e segundo mandatos do Lula, de reforçar com equipamento, com novas armas, com novos treinamentos, etc, as Forças Armadas. Até porque o Lula acha que isso é importante para a política externa, e o Lula é apaixonado por política externa.

Então ele continua investindo. Não houve nenhuma punição, não houve nenhuma diminuição.

Existem elementos fundamentais que nós, o círculo de intelectuais, professores que estudamos isso, consideram básico como, por exemplo, a reforma dos currículos das escolas e academias militares para tirar essa ideia messiânica de tutela das forças militares sobre a República. Mas isso nem é pensado.

A nova política de inteligência promulgada, mês passado, pelo ministro José Múcio Monteiro, permite que os órgãos de inteligência das Forças Armadas operem dentro da fronteira. O que é totalmente absurdo. A função dos militares é fronteira para fora, e não fronteira para dentro.

O documento do José Múcio Monteiro reafirma essa capacidade e não fala mais em “inimigos internos”, mas fala em “forças antagônicas no país”.

Quer dizer, continuamos dentro do mesmo mundo mental do bolsonarismo no seio das Forças Armadas.

14
Jul23

As 4 bestas do apocalipse de Bolsonaro (segunda parte)

Talis Andrade

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Jair Bolsonaro foi um governo da fome, da peste (vide aqui verbetes).

E da guerra e da morte.

 

A morte. O jornalista Ricardo Noblat historiou:

Bolsonaro acreditou que a economia iria pelos ares e, com ela, seu governo, se combatesse a pandemia como Mandetta pedia. Então, preferiu associar-se à morte. Foram mais de 700 mil.

Se desejasse apenas se reeleger, não partiria para o confronto sangrento com a Justiça. O ápice foi no 7 de setembro de 2021, em comício na Avenida Paulista, quando ele explodiu:

“Acabou o tempo dele. Alexandre de Moraes: deixa de ser canalha. Eu quero dizer que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, este presidente nunca mais cumprirá. A paciência do nosso povo se esgotou. Ele tem tempo ainda de pedir seu boné e cuidar de sua vida. Ele para nós não existe mais.”   

Em live nas redes sociais, desafiou o ministro:

“Tu está (sic) pensando o quê da vida, que você pode tudo? E tudo bem? Você um dia vai dar uma canetada e me prender? É isso que passa pela tua cabeça?”

Quem quer pegar galinha não diz xô. A galinha dos ovos de ouro de Bolsonaro não era a reeleição, mas o golpe. Em legítima defesa do país e dela mesma, a Justiça decretou: “Chega! Basta! Fora!”

E Noblat finaliza: 

O imexível e imbrochável capitão de fancaria acabou castrado, tornando-se também inelegível. Falta a canetada. Que não será uma canetada, mas um julgamento que obedeça aos ritos da lei.

É assim nas democracias que não são relativas, mas de verdade.

O que se pretendia com a invasao e a quebradeira de 8 janeiro em Brasilia senao uma resposta sangrenta da policia estadual do DF e das policias federais e das Forças Armadas. Bastaria uma morte para ser a bandeira do confronto, da guerra civil, pretendida na noite de vandalismo do dia 12, ou a explosao de uma bomba no Aeroporto de Brasilia com milhares e milhares de morte. (continua)

27
Jun23

Elite do Exército, 'kids pretos' quase levaram o país a uma guerra civil

Talis Andrade

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Ônibus e carros foram queimados em Brasília após diplomação de Lula em 12 de dezembro de 2022. 

Imagem: Evaristo Sá/AFP

 

Matheus Pichonelli 

Colunista do UOL

- - -

Uma das muitas lendas espalhadas antes e depois das eleições de 2018 dizia que Jair Bolsonaro, ex-capitão expulso do Exército após se insurgir contra superiores e planejar explodir bombas em unidades militares, é que seus antigos colegas de farda funcionariam, durante seu governo, como garantia de contenção a suas eventuais recaídas incendiárias.

Eleito, Bolsonaro se cercou de militares e espalhou minas terrestres por onde passou.

As constantes ameaças de intervenção, como as proferidas em 7 de Setembro de 2021, eram chamadas de "atos impensados", tomados por um "desequilibrado", no calor da hora, nos momentos do recuo. E, ao menos para o grosso da opinião pública, nunca ficou muito clara a paternidade de atos cometidos por seus seguidores, sobretudo no período entre a eleição de Lula (PT) e as invasões de 8 de janeiro, classificadas por apoiadores como obra de tresloucados ou inimigos infiltrados.

Nessa conta entrava uma tentativa de atentado a bomba em um caminhão de combustível à entrada do Aeroporto de Brasília, em dezembro de 2022. E também a quebradeira promovida por bolsonaristas no dia da diplomação do petista, no mesmo mês, quando cinco ônibus, três automóveis e uma viatura do Corpo de Bombeiros foram incendiados na capital do país.

Observados assim, os atos golpistas pareciam expor o fracasso de militares em trancar um touro, preso junto a seus seguidores mais radicais em uma loja de cristais protegida por defensores da lei e da ordem.

Mas, conforme avançam as investigações sobre os dias que antecederam o 8 de janeiro, cai um pouco a cada dia a lenda do cavalo eleito presidente que precisava ser moderado para não botar fogo no parquinho.

Em uma reportagem publicada na quarta-feira (6) no site da revista piauí, o repórter Allan de Abreu apontou as digitais de forças militares especiais antes, durante e depois da depredação dos prédios dos Três Poderes. Conhecidos como "kids pretos", esses militares compõem a elite do Exército brasileiro e, segundo a reportagem, são treinados para ações de sabotagem e insurgência popular, conhecidas como "operações de guerra irregular". Alguns deles ocuparam posição de destaque na gestão Bolsonaro, que em seus tempos de Exército alimentou o sonho de se tornar também um membro da força especial.

Não conseguiu, mas se tornou o chefe de ao menos 26 "kids pretos" — entre eles os ex-ministros Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) e Eduardo Pazuello (Saúde), e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, hoje preso.

Mensagens interceptadas no celular de Mauro Cid expuseram as pressões de amigos e auxiliares diretos de Bolsonaro para que o Exército tomasse a dianteira numa tentativa de golpe de Estado, gestado em minutas golpistas e insurreições que poderiam levar a um sonhado decreto de Lei de Garantia e Ordem e deixassem como os militares a missão de administrar a bagunça. Um desses subordinados era o coronel Elcio Franco Filho, um "kid preto" que atuou como número 2 da Saúde e da Casa Civil.

A apuração se debruçou sobre detalhes do 8 de janeiro que exigiam treinamento em ações de sabotagem e insurgência, como uso de granadas, luvas especiais, táticas para derrubada de portões e resistência contra bombas de gás lacrimogêneo, o que demonstra um método nas invasões que não poderia ser assimilado por uma multidão em fúria e desorganizada, como era de se esperar em situações do tipo.

Um dos muitos "kids pretos" presentes na ação era o próprio chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Lula, que mal havia assumido e caiu após aparecer em vídeos internos distribuindo água e orientando os golpistas.

Ainda a ser esclarecido, o interesse do grupo em empurrar o país à beira de uma guerra civil parece, a cada dia, mais evidente: inviabilizar o governo que poderia frear o processo de militarização e tutela das estruturas civis (o que se traduziu, sob Bolsonaro, em expansão de privilégios, cargos, recursos e picanha).

Era isso o que parte das tropas queria quando, lá em 2018, dizia-se que eles apenas toleravam a ideia de ver um insubordinado passar a dar ordens para generais de quatro estrelas.

"Esse cara está nas nossas mãos", disse aos amigos, segundo a piauí, o general Luiz Eduardo Ramos, após telefonar para um então obscuro deputado do baixo clero em março de 2018. Era Jair Bolsonaro.

O cavalão, como era conhecido em seus tempos de militar, era na verdade o Cavalo de Troia de um grupo de elite que, tudo leva a crer, orientou e seguiu orientando planos de sabotagem até mesmo quando o agora ex-presidente saiu de cena e já não tinha utilidade.

Que Bolsonaro tem na sua manga uma parcela dos militares, isso todo mundo sabe. O que ninguém entendia era como um militar rebelde como Bolsonaro poderia fazer isso. A chave pra responder a essa dúvida pode estar nos Kids Pretos, uma força militar especializada em criar confusão. 

 

 

19
Mai23

PF confirma o plano de golpe dos bolsonaristas

Talis Andrade

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por Altamiro Borges

O jornal O Globo publicou nesta terça-feira (16) uma longa reportagem que confirma a conspiração de militares ligados ao ex-presidente. Com o título “PF diz que mensagens em celulares de aliados de Bolsonaro evidenciam plano de golpe e prisão de Moraes”, a matéria pode até acelerar a prisão do “capetão” e dos seus milicianos fardados. 

A reportagem mostra que a trama golpista, segundo as investigações da Polícia Federal, “consistia em incitar ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF), hostilizar as urnas eletrônicas, convencer a cúpula do Exército a rejeitar o resultado das eleições em 2022 e prender o ministro Alexandre de Moraes”. 

Em mensagens e áudios, o plano foi discutido pelo major reformado Ailton Barros, pelo coronel Elcio Franco e “por um militar ainda não identificado”. De acordo com a PF, os diálogos “deixam evidente a articulação conduzida por Ailton Barros e outros militares para materializar a tentativa de golpe de Estado no Brasil”. 

Os militares Ailton Barros, Elcio Franco e Mauro Cid

A polícia chegou a esta conclusão “após analisar áudios e prints encontrados nos arquivos de um celular de Barros durante investigação envolvendo Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro”. Entre as mensagens que despertaram a atenção da PF, estão dois prints (capturas de tela) de uma conversa entre Ailton Barros e um contato denominado PR-01, “possivelmente relacionado ao ex-presidente Jair Bolsonaro”. 

A primeira tratava da intenção de grupos organizadores dos atos de 7 de setembro de 2021 de acamparem em Brasília para pressionar os onze ministros do STF a “saírem de suas cadeiras”. A segunda sugeria inserir nesses movimentos golpistas temas de interesse de Jair Bolsonaro, como a defesa do impeachment de Alexandre de Moraes e o ataque às urnas eletrônicas.

“Para a PF, há fortes indícios de que Barros não só tinha proximidade com Cid, mas também mantinha contato direto com Bolsonaro e se ‘dispôs a incitar grupos de manifestantes para aderirem a pautas antidemocráticas do interesse do ex-presidente’. Na eleição passada, Barros divulgou em sua campanha a deputado estadual um áudio em que Bolsonaro o chamava de ‘segundo irmão’. O militar da reserva ainda acompanhou o então presidente durante a votação no segundo turno na Vila Militar, no Rio de Janeiro”, descreve o jornal O Globo. 

General Braga Netto também aparece

Ainda de acordo com o relatório de análise das mensagens, a PF destacou outros dois áudios encontrados no celular de Ailton Barros e registrados em 15 de dezembro de 2022. Os arquivos são atribuídos a um militar da reserva não identificado que tenta acelerar a realização do plano golpista. “Combatente, nós estamos no limite da ZL (zona limite). Daqui a pouco não tem mais como lançar. Vamos dar passagem perdida, e aí é perdida para sempre. Você entende que eu tô falando (...) Tão há 40 e poucos dias, entendeu, até o Braga Netto veio aqui conversar com eles, que nem eu falei, tirou foto”, diz o interlocutor na gravação analisada pela Polícia Federal. 


Em outro áudio, também registrado em 15 de dezembro, um interlocutor não identificado diz: “Então, esse próximo áudio, também, além do ZERO UNO, aí tem que ser passado para todo aquele pessoal que você passa sempre, entendeu? Então agora, negão, é... assim. Já estamos em guerra, né? Só que agora é ... assim. Temos que executar essas ações. Vou dar o conceito da operação”. 

Para a PF, a “operação” seria um codinome para a execução do golpe de Estado, “que culminaria na tomada de poder pelas Forças Armadas, lideradas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Os investigadores ainda destacam que ‘o plano descrito pelo interlocutor também incluía a prática de Abolição Violenta do Estado Democrático de Direito, restringindo o exercício de um dos poderes da República, no caso, o STF, que seria implementado com a prisão do ministro Alexandre de Moraes pela Brigada de Operações Especiais de Goiânia/GO”. 

Numa das mensagens, o interlocutor afirma que durante a “operação” seria dada “a missão ao comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia de prender o Alexandre de Moraes no domingo, na casa dele, como ele faz com todo mundo. E aí, na segunda-feira, ser lida a portaria, o decreto de Garantia da Lei e da Ordem, e botar as Forças Armadas, cujo Comandante Supremo é o presidente da República, para agir, senão nunca mais nós vamos limpar o nome do glorioso Exército de Caxias”. A PF também analisou áudios atribuídos ao coronel Elcio Franco, ex-número 2 do ministro Eduardo Pazuello na Saúde e ex-assessor do general Braga Netto na Casa Civil.

Celular de Mauro Cid apavora Bolsonaro

 

Mauro Cid, o homem-bomba de Bolsonaro

 
 
27
Jan23

Como os grandes filósofos explicam os golpistas brasileiros

Talis Andrade
 
 
 
Folha de S.Paulo on Twitter: "Esta é a charge de João Montanaro publicada  na Folha. Quer ver mais charges no jornal. Acesse https://t.co/SYBMd91i4u  |📱Assine a Folha, um jornal a serviço da democracia:
 
 
 

Por Lenio Luiz Streck

Em tempos de ode ao golpismo — poxa, só se fala disso, com anúncio para 7 de setembro (já está até ficando chato!) — em que, em nome da democracia, prega-se a sua extinção, fiz uma pesquisa para saber o que os filósofos e literatos poderiam dizer sobre os golpistas brasileiros, que vão de cantores sertanejos à motoristas e fazendeiros, passando por policiais militares dos Estados.

 

Origem e "natureza jurídica" do golpismo


Os golpistas já estavam listados para embarcarem na Nau dos Insensatos, o best seller pré-moderno de Sebastian Brant, que foi traduzido para 40 línguas. No entremeio de toda aquela gente, lá estavam eles: os golpistas.

No Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, havia, ao que consta, lugares reservados a eles, os golpistas. Um capítulo secreto, descoberto há pouco em escavações — ainda inédito —, mostra que Cervantes se irritava com duas coisas: néscios e golpistas, o que dá no mesmo, ele dizia.

Atravessaram os séculos e, com o advento da computação e das redes sociais, finalmente saíram da toca. Umberto Eco dizia — e aqui o parafraseio — "os golpistas perderam a vergonha".

Os golpistas fazem lives propondo golpe de Estado. E tem muitos apoiadores. Muitos. Há uma paixão pela farda. Uma questão psicanalítica mal resolvida. Nota: nem todo néscio é golpista. Mas todo golpista é néscio. Mas ser néscio não tem cor ideológica. Podem estar em todos os lugares. Conheço vários néscios do campo da não-direita (para ser eufemístico).

Os golpistas residem em neocavernas. Platão foi o primeiro a denunciar os golpistas e os néscios. Faça o teste: entre em um grupo de golpistas e tente dizer que golpe é antidemocrático e você será expulso, como aconteceu no Mito da caverna.

Golpistas adoram tuitar. Golpistas odeiam literatura. Para eles, o mundo é como as Ideias de Canário, de Machado de Assis: uma gaiola pendurada em um brechó. "O resto tudo é mentira e ilusão", como diz o falante canário ao Senhor Macedo, que o descobriu.

 

"Natureza filosófica" do golpismos e dos golpistas


O que os filósofos diriam d'eles? Eis as respostas, colhidas a partir do método palimpsesto (os golpistas não sabem o que é, claro).

Parmênides: tudo permanece (inclusive os golpistas).

Heráclito: o fogo é a origem de tudo. E os golpistas gostam de fogos de artifício.

Protágoras: o golpista é a medida de todos os golpes e da estultice.

Platão: os golpistas fazem parte do mundo sensível. Jamais alcançarão o suprassensível. Por isso, para eles, as sombras são a realidade. Não sairão jamais da caverna.

Górgias de Leôncio, o sofista mais famoso: um golpista é incognoscível e, se for cognoscível, é impossível contar para o vizinho.

Guilherme de Ockham: não há golpismo universal; apenas golpismo singular.

Hobbes: o golpista é o lobo do próprio golpista. Cuidado!

Locke: a mente do golpista é como uma folha de papel em branco.

Rousseau: O homem nasce livre, até que o golpista vem para implantar uma ditadura.

Edmund Burke: Desconfio de revoluções. Desconfio mais ainda de golpistas!

Maquiavel: atrás de um golpista sempre surge outro. Não deixe nenhum perto de você.

Heidegger: faz parte do modo próprio de ser no mundo o golpista ser assim.

Descartes: golpistas não possuem cogito; golpeio, logo sou. Golpistas não possuem cogito; mas há aos montes!

Kant: não existe um golpista em si.

Leibniz: vivemos no melhor dos mundos possíveis. Até vir um golpista encher o saco.

Wittgenstein (do Tractatus): se os limites da linguagem são os limites do mundo, golpistas possuem apenas um "mundinho". Ele estava pensando em uma determinada filósofa brasileira que não o leu. Mas parece que Wittgenstein simplificou a proposição 7 para "em boca fechada não entra mosca".

Nietzsche: Deus está morto. Um golpista matou e tomou conta.

Camus: é preciso imaginar Sísifo feliz — melhor carregar uma pedra nas costas do que aguentar o golpismo barato de terrae brasilis!

Beauvoir: um golpista não nasce golpista; torna-se, após uma overdose de mensagens com notícias falsas no WhatsApp.

Marx: golpistas são o lúmpem.

Dworkin: a raposa sabe muitas coisas, o ouriço sabe uma grande coisa, mas o golpista não sabe nenhuma coisa.

E há uma frase famosa atribuída a Martin Luther King: não me preocupa o barulho feito pelos golpistas; o que me inquieta é o silêncio dos não-golpistas. Opa, essa é no fígado, hein?

Este é, pois, o meu tributo ao anti-golpismo. Afinal, como dizia o Barão do Itararé: 

"diga-me se andas com um golpista e verei se posso sair contigo." [ Publicado em Consultor Jurídico, 26 de agosto de 2021]

 
Sorriso Pensante-Ivan Cabral - charges e cartuns: Charge: pré-golpe
 
 
 
 
22
Jan23

O golpe em dois atos

Talis Andrade
 
 
 
 
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O golpe foi abortado, mas a rede fascista, em especial o seu cérebro, continua intacta

 

08
Set22

7 de setembro: veja a análise de Andréia Sadi, Ana Flor, Octavio Guedes, Flávia Oliveira e Miriam Leitão

Talis Andrade

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Comentários de Lilia Schwarcz, Fabíola Cidral, Josias de Souza, Michel Alcoforado, Reinaldo Azevedo

 

As comemorações do Bicentenário da Independência aconteceram nesta quarta-feira (7) em diversas cidades do país, após dois anos de suspensão pela pandemia de Covid-19.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez duas aparições públicas após o desfile oficial – em Brasília e no Rio. Bolsonaro usou a data para promover comícios diante de milhares de pessoas e fez discursos nos quais pediu votos na eleição de outubro, atacou o ex-presidente Lula e puxou coro de "imbrochável" ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Em Brasília, manifestantes a favor do presidente levaram faixas para as comemorações na Esplanada dos Ministérios. Alguns participantes levavam material com dizeres antidemocráticos e contra ministros do STF.

No Rio de Janeiro, apoiadores do presidente foram para um ato em Copacabana. Bolsonaro chegou ao Rio às 14h e participou de uma motociata antes de se juntar aos manifestantes. Em um trio elétrico alugado pelo pastor Silas Malafaia, o presidente pediu votos para reeleição.

 

Andréia Sadi

 

Na reta final para o primeiro turno, o presidente Bolsonaro "já usou o que podia da máquina pública", avalia Andréia Sadi. Para a colunista do g1, candidato busca "um último respiro".

 

Já deu Auxílio, aprovou Pec Kamikaze...Não tem fato novo na reta final. Ele precisava de uma demonstração de apoio popular [...] Foi o primeiro grande comício do presidente depois que a campanha de fato começou."

 

 

 

Quão machista é [essa tática de homens compararem mulheres]. Como se o homem pudesse fazer algum tipo de prova. 'Ela é melhor que a outra'.

 

"Na eleição isso tem uma outra conotação, um outro peso, mas para mim é o 'fim' o presidente da República sugerir esse tipo de comparação, entre primeiras-damas, que não estão concorrendo a nada. Elas não são candidatas".

"A Michelle Bolsonaro foi escalada pela campanha do presidente para que ele consiga diminuir sua rejeição [no eleitorado feminino]. [...] E a mulher eleitora não está pedindo nada relacionado à disfunção erétil. Ela está pedindo comida na mesa, segurança, educação, menos armas, etc".

 

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Ana Flor

 

"A gente sabe que a população pode pedir o que está dentro da Constituição. Quer pedir impeachment de ministro do STF, então converse com o Senado, porque é lá que cabe isso. Mas a faixa ['Bolsonaro, use as forças armadas e demita os ministros do Supremo'] é um pedido de golpe", analisou a colunista.

 

"Não está dentro do poder do presidente da República fazer isso, então há sim, entre os apoiadores de Bolsonaro quem cruza essa linha e se vira para um campo muito além da democracia", complementa Ana Flor.

Para a colunista, esse tipo de "flerte" que os apoiadores do presidente estão demonstrando não é benquisto pela maioria da população, que quer a democracia.

 

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Octavio Guedes

 

"É um vexame internacional", analisa Octavio Guedes. "Será que não tinha nada para falar, em 200 anos de Independência, que exaltar seu próprio pênis. É algo muito grotesco. Não é um discurso normal. É grotesco".

"Foi uma 'festa do eu sozinho", acrescentou. "A República não estava presente. Ele falou para os deles".

 

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Flávia Oliveira

 

A comentarista Flávia Oliveira chama atenção para a mistura do uso de dinheiro público gasto nas exibições militares juntamente com ‘indivíduos que nada tem a ver com a data cívica dos brasileiros.’

Flávia ainda avalia que a convocação feita pelo presidente em Brasília para o que chamou de ‘ato semelhante’ no Rio evidencia o caráter eleitoral do evento.

“Para o governo, para o presidente, para os coordenadores de campanha, para essa militância que foi mobilizada, não há nenhuma dúvida de que se trata de um comício de um candidato à reeleição e não de um ato de celebração da data de Independência, que envolve um Brasil muito mais diverso do que o Brasil que está representado na praia de Copacabana neste momento.”

 

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Miriam Leitão

 

A colunista Miriam Leitão definiu as aparições de Bolsonaro como mais um ataque à democracia. "Ele queria fazer uma demonstração de força e fez. Botou muita gente na rua", avalia. "Para um candidato que estava perdendo apoios e financiamentos pode dar um fôlego. A questão é que, para fazer isso, passou por cima das leis eleitorais, da Constituição do Brasil, do sentimento de país e de chefe de Estado. Ele fez um strike nas leis brasileiras, nos códigos da democracia."

 

A Constituição do Brasil não se preparou para um presidente tão desrespeitoso da lei e de seu papel"

 

 
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30
Ago22

"Luciano Hang tira o corpo fora e ferra os amigos", por Lenio Luiz Streck

Talis Andrade

 

 
 
 
 
 
 
Lenio Luiz Streck
Está na hora de falar sobre Estado Laico no Brasil. Igreja é partido? Culto é comício? O que é isenção de impostos?Image

Myrian Clark recebe Lênio Streck, advogado do grupo Prerrogativas, para comentar sobre a operação que a Polícia Federal fez na casa de empresários bolsonaristas que apoiaram um golpe de Estado em um grupo de WhatsApp, caso Lula seja eleito.Image

Deus falou com pastor Wesley! Wesley é meu pastor e nada me sobrará!

 

por Lenio Luiz Streck

- - -

Esse Brasil é bizarro. O mundo das religiões produz coisas bizarras. RR Soares, missionário líder da Igreja Internacional (porque tem a Universal e a Mundial), divulga cura de mais de 100 mil pessoas de Covid. Só não curou a si mesmo. Caiu no Lial Paradoxe às avessas: minha oração cura os fiéis. Eu sou um fiel. Logo, deveria ser curado também. E deu errado.

Já o missionário Valdomiro vendeu semente milagrosa para curar Covid. Claro: tudo em nome de o Senhor Jesus. Vendilhão de sementes... O que Jesus diria disso?

Mas COVID é o de menos. Travessia do sal também. Água ungida vendida em garrafinhas idem. Porque agora a coisa desandou para a política, mesmo. O pastor Wesley Carvalho, do Tocantins, recebeu um chamado de Deus. Sim, Deus falou com ele. Forte. Com veemência, diz Wesley. O lado político de Deus se manifestou!

Vejam. Tanta gente para Deus chamar. Imaginem a cena. Deus fala para Jesus: "- meu filho, preciso falar com alguém. Tem bilhões de pessoas. Só no Brasil tem mais de 200 milhões. Quem eu escolho?"

E fica em desespero divino. "- Poxa, céus, com quem falarei? Já sei. Com o pastor Wesley. Ele é o cara".

Então Deus disse ao pastor Wesley: "se Lula ganhar a eleição, as portas do inferno se abrirão". E Wesley vai e abre uma porta (claro: o pastor aprendeu com os repórteres de TV; fazem isomorfia: o time do Flamengo está subindo... e mostram um avião decolando... — sacaram?; faltou só Wesley mostrar uma lula... — afinal, isomorfia é isomorfia).

Eis o grande filósofo-pastor. O escolhido. Tanta gente e Deus foi nele. O iluminado. Aleluia. Glória a Deus.

Detalhe: a escolha do pastor Wesley é mais ou menos como o sujeito que é abduzido por ETs. Os ETs poderiam ir a Paris, Los Angeles, Alpes Suíços, mas escolhem uma cidadezinha do interior de um estado qualquer... do Brasil. Abduzem o cara várias vezes. E, no final, fazem uma operação na miopia do "escolhido". E lhe pregam uma peça. São muitos gozadores esses ETs. O sujeito de Quixadá tinha miopia de 9 graus. Depois da operação ficou com miopia 6. Bingo. Esses ETs... (fonte: Globo Repórter). Tem Paris e escolhem Araricá.

Nessa linha, outro pastor que recebe a "palavra" é o Silas Malafaia. Deus fala com ele. E ele leciona: Estado laico é uma coisa; laicismo é outra. Claro, pastor Silas. Expliquemos melhor: não-laicismo é receber isenção de impostos para fazer pregação partidária dentro dos templos?

Deixa-me ver o "neo-não-laicismo malafaico". Minha Constituição diz que é livre o pensamento religioso e livre o exercício de cultos. De onde se extrai que culto não é comício e templo não é comitê eleitoral. Ou é?

Os templos são isentos de impostos. Ok. São. Só que os salários dos pastores não são isentos de imposto de renda. Silas insiste: Estado é laico. Mas não é laicista. Pois então. Comprar automóvel com isenção é extensão do templo e da fé? Hum. Outra coisa: templos são isentos se fizerem cultos. Se fizerem comícios, já não são templos compatíveis com a isenção. Óbvio e simples assim.

Por que não abre um partido político em vez de uma igreja? O problema talvez seja o dízimo...!

A propósito: a parte da Bíblia (Mateus, 21:12) que fala dos vendilhões do templo e sua expulsão... nem falar, certo?

Deus, que fala com esses pastores, poderia lhes lembrar dessa passagem da Sua palavra. Afinal, a Bíblia não é a palavra de Deus?

Estou achando que foram os pastores que inventaram o Pix.

É isso. Deus não tem o que fazer e resolve se comunicar com alguns pastores. Engraçado que sempre são de determinados matizes. O papa Francisco não recebe esse chamado. Está por fora. O papa já não é pop. O pastor Wesley é que é o cara. O papa deve se lamentar: " - poxa, eu sou o sucessor de Pedro; e Deus foi falar com o Wesley"?

Como será a voz de Deus? Imaginem Ele chamando Wesley: "Wesley... quero lhe falar... Pare de contar essas notas de R$ 10 e R$ 5 arrecadados dos seus fiéis há pouco, leia o meu livro e veja bem essa parte: Mateus 22, 15:22". E Wesley saiu fazendo fake news...

Esse Deus...

Post scriptum: está na hora de falarmos em republicanês, língua esquecida de há muito. O jogo de linguagem da república não contempla o idioma vigente em terrae brasilis. Ou seja, em bom português: precisamos falar sobre as igrejas, seus cultos, suas isenções, seu "laicismo" e discutirmos o que é Estado Laico.

Urgentemente. Antes que voltemos à Idade Média. E antes que Wesley faça novas revelações...! Vai ver Wesley é novo messias...! Vai saber...

"#Wesley é meu pastor — nada me sobrará"!

!BelezaPura! 
@Beleza1965Pura
Replying to
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Nacho Lemus
@LemusteleSUR
Hoy se encontró con la indigenista , viuda de Bruno Pereira, indigenista recientemente asesinado. El candidato recibió propuestas de para la garantía de los derechos de pueblos indígenas aislados. La raíz de la Amazonía en clave electoral.
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Fabiana Pulcineli
@fpulcineli
O líder da igreja passou a pregar contra voto em "partidos vermelhos", dois fieis reagiram, teve briga e o outro fiel, PM, atirou na perna do "irmão". Homem é baleado por PM após discussão sobre política em igreja de Goiânia
Blog do Noblat
@BlogdoNoblat
“Quando alguém mentirosamente diz que, se o presidente Lula ganhar as eleições, ele vai fechar as igrejas, isso é uma forma mentirosa que desabona a própria fé. Lula esteve no governo por dois mandatos, nunca fez isso”. (Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente)
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Sérgio A J Barretto
@SergioAJBarrett
Então o pastor da Michelle, Josué Valandro Júnior, está sendo acusado de acobertar golpes de fiéis e até de ameaçar uma dona de casa por dinheiro? Enquanto isso, ela vai dando os seus pulinhos de "fé"
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Revista Fórum
@revistaforum
Pastor de Michelle Bolsonaro é acusado de acobertar golpe de colega em fiéis Dona de casa que perdeu R$ 726 mil reais apresentou mensagem em que é ameaçada por Josué Valandro Jr., pastor que orou ao lado de Bolsonaro em 2018. Duas fiéis da igreja evangélica afirmam ter transferido, em 2017, quase R$ 1 milhão para uma conta nos Estados Unidos em nome de uma empresa do pastor Oséias Oliveira, cobrador de indulgências 
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Jornalista Hélio Schwartsman pergunta: é normal as forças armadas participarem de 7 set. Mas, se o Presidente transformar o evento em comício, isso nao transgride lei eleitoral? E vai ficar assim? Minha resposta complexa ao Hélio: Vai!
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Alguém sabe se há plano de estabelecer a Sharia no Brasil? O governo de Bolsonaro distribuiu para a PRF (Polícia da Rod Fed) livros com a recomendação de leitura diária da Bíblia no ambiente de trabalho. Bingo. Nilsinho Clava aparecerá vestido de afegão! Com uma Bíblia!
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Muitos acham exagerada a ação determinada pelo STF. Dizem: ah, era bazófia dos empresários. OK. Sugiro substituirmos “golpe de Estado” por assalto a banco. Aí é ruim? OK. Golpe é coisa que pode estar na boca de qqr um. Já assalto, não. Ah, bom. Democracia está com valor baixo.
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Concurso “neurônio de ouro”: ganha almoço no coco bambu quem seguir a pista dos financiadores dos outdoors pregando golpe em 7 de set, espalhados principalmente em Brasília. Quer arriscar? É agora ou nunca! Com ou sem sarcasmo!
O Brasil morre no final? Juíz federal do Paraná participa de grupo de Whats que prega GOLPE de estado. Corregedoria do TRT ignora. Arquiva. Juíz diz: só estava no grupo. Só estava? Ah, Entendi: um “observador”. Como o cara na zona. Ou na sauna! Só olhando, Um voyeur de golpe!
29
Ago22

Neutralização do terror

Talis Andrade

PF faz operação contra empresários bolsonaristas por mensagens golpistas no  WhatsAppQuem são os empresários bolsonaristas que defenderam golpe

 

Diante da previsível derrota eleitoral de Jair Bolsonaro, suas hostes podem entrar em modo doidice cruel

 

Manuel Domingos Neto /A Terra É Redonda

- - -

As apreensões com a baderna anunciada para o dia 7 de setembro foram atenuadas. O repúdio à quebra da institucionalidade tem sido vigoroso. Além da manifestação da Faculdade de Direito da USP, houve o espetáculo da posse de Alexandre Morais na presidência do STE. Muitos assistiram o vexame do presidente da República no auditório. Foi um lance de recuperação da moralidade institucional.

A repercussão das reportagens de Guilherme Amado sobre empresários golpistas também desestimulou a baderna. Os milionários com devem estar com as barbas de molho. Com o bom desempenho eleitoral de Lula, sentem que em breve pode lhes faltar proteção. É fundamental que respondam por seus atos. A impunidade anima malfeitores.

Um dos fatores de desestímulo às manobras golpistas baseadas na contestação às urnas eletrônicas foi o posicionamento das autoridades de Washington. Quais as razões para os Estados Unidos, com seu histórico de patrocínio de golpes em muitos países, não endossar os sonhos do baderneiro alojado do Planalto?

Washington talvez queira reduzir a imprevisibilidade do quadro político latino-americano. Os Estados Unidos estão em guerra para evitar ou retardar a perda da hegemonia na ordem mundial. Não lhes interessa uma América Latina convulsionada, agravando as incertezas.

Além disso, os Estados Unidos vivem dramáticas tensões internas decorrentes da atuação da extrema direita. O FBI alertou na última sexta-feira, dia 12, sobre o perigo de atentados por parte de apoiadores de Donald Trump.

Depois de a polícia realizar busca na casa do ex-presidente, agentes federais e outros funcionários da segurança pública foram ameaçados. Na rede social de Donald Trump, ativistas são convocados para matar. Um homem foi preso na Pensilvânia depois de postar que abateria muitos agentes do FBI antes de morrer.

Nos Estados Unidos, não há coesão entre os republicanos. Muitos temem o ambiente de terror, mas os que apoiam Donald Trump são ativos e perigosos. Pedem a extinção do FBI e o desmonte do Departamento de Justiça. Já mostraram audácia no Capitólio. Lobos solitários podem deixar o país em pane. Práticas violentas são costumeiras na política estadunidense, mas as instituições deste país se empenharam mais em exportar o terrorismo do que em estimular seu uso interno.

Tendências políticas dos Estados Unidos sempre rebatem no Brasil, penetrando na sociedade e nas instituições. As técnicas da Lava-jato foram importadas, assim como o neoconservadorismo das fileiras. No Exército, o introdutor do neoconservadorismo radical foi o general Avelar Coutinho, copiador de autores estadunidenses. Seu discurso foi endossado por oficiais destacados, como o ex-comandante Villas-Boas.

Diferentemente das instituições estadunidenses, que praticam o terrorismo além-fronteiras, as brasileiras têm longo histórico de uso interno do terror. Esta semana, inclusive, as labaredas do inferno receberam um dos mais sanguinários terroristas da história brasileira, Sebastião Curió, que fez carreira no Exército.

O hábito de práticas violentas contra opositores explica o apoio castrense à candidatura de um conhecido terrorista à presidência da República. Esse homem, desde novinho, defende o choque e o pavor. Diante de sua previsível derrota eleitoral, suas hostes podem entrar em modo doidice cruel.

Se registramos nos últimos dias um desanuviamento de tesões, não cabem descuidos. A defesa da democracia deve ser permanente. Não há outra forma de neutralizar a índole terrorista da extrema direita.

Empresários apoiadores de Jair Bolsonaro passaram a defender abertamente um golpe de Estado caso Lula seja eleito em outubro, derrotando o atual presidente. A possibilidade de ruptura democrática foi o ponto máximo de uma escalada de radicalismo que dá o tom do grupo de WhatsApp Empresários & Política, criado no ano passado e cujas trocas de mensagens vêm sendo acompanhadas há meses pela coluna de Guilherme Amado.

 Participam o jornalista Guilherme Amado, do Metrópoles, o deputado Rogério Correia (PT-MG), a vereadora Carol Dartora (PT, Curitiba), a ativista Luna Zarattini, a coordenadora do Sinasefe, Elenira Vilela, e o vereador cassado Renato Freitas (PT, Curitiba)

Os golpistas ainda estão soltos. Conforme Beatriz Castro os oito inimigos da claridade, "os oito investigados podem escolher se querem ir ao desfile militar em Brasília ou ao evento em Copacabana, onde, segundo o presidente, haverá um ato cívico e uma motociata.

São investigados os empresários Luciano Hang (Havan); Afrânio Barreira Filho (Coco Bambu); Ivan Wrobel (W3 Engenharia); José Isaac Peres (Multiplan); José Koury (Barra World); Luiz André Tissot (Sierra); Marco Aurélio Raymundo (Mormaii); e Meyer Joseph Nigri (Tecnisa)".

22
Ago22

Imprensa francesa faz intensa cobertura da campanha eleitoral no Brasil temendo golpe militar

Talis Andrade

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A campanha eleitoral começou oficialmente nesta semana no Brasil e não passou despercebida na Europa. As mídias francesas acompanham com preocupação os acontecimentos políticos no país temendo violências e um golpe militar em caso de derrota de Bolsonaro.

Na França, canais de TV, rádios e jornais destacaram diariamente os primeiros dias da corrida eleitoral - um interesse ainda limitado ao duelo entre a esquerda e a direita para o cargo de chefe de Estado. Até o momento, pouco se falou sobre outros candidatos à presidência e as eleições de senadores, deputados e governadores. 

O tom, em geral, das mídias francesas é de muita preocupação com o cenário político no Brasil. Em uma matéria publicada na terça-feira (16), dia em que a campanha eleitoral começou oficialmente, o jornal Libération diz que essas serão as eleições mais importantes no país desde o final da Ditatura Militar e que o Brasil já vive um clima de "forte tensão". 

O jornal Le Monde se concentra principalmente na queda de braço entre o Lula e o Bolsonaro. O diário destaca, por exemplo, que o líder do PT uniu nove partidos políticos, de várias tendências - da centro-direita até à esquerda mais radical - para tentar vencer o atual presidente. 

Apesar de estar atrás de Lula nas intenções de voto, "o líder da extrema direita ainda é extremamente popular entre os evangélicos". Além disso, "Bolsonaro multiplicou nas últimas semanas ameaças de um golpe em caso de derrota", sublinha o Le Monde.

Nesta sexta-feira (19), a revista francesa Marianne traz uma matéria focando essencialmente na figura de Lula. O líder do Partido dos Trabalhadores (PT) é apresentado como "um sobrevivente de um golpe de Estado", em referência aos 580 dias que Lula passou na prisão, entre 2018 e 2019. 

O jornal Ouest France enviou dois repórteres para cobrir esse início de campanha no Brasil. Eles acompanharam o comício do Lula em Belo Horizonte na quinta-feira (18) e classificam o candidato do PT como "uma estrela de rock". A manchete da matéria é uma declaração de Lula durante seu discurso: "Eu tenho a energia de um homem de 30 anos". 

 

Preocupação com polarização é unanimidade na imprensa francesa

 

A imprensa francesa é tradicionalmente opinativa, com posicionamento político explícito. O jornal Libération, por exemplo, segue uma orientação à esquerda; o Le Monde é de centro, enquanto o Le Figaro pende à direita. No entanto, por mais que haja diferença de viés político entre eles, há, em geral, uma forte preocupação com as consequências da polarização da campanha no Brasil e com a aceitação do resultado das urnas. 

A manchete do Libération de 12 de agosto - que dedicou sua capa e suas cinco primeiras páginas à corrida eleitoral - foi: "A democracia está em jogo no Brasil". Em editorial, o diário expressou o temor de que possa ocorrer no Brasil um incidente similar à invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, por partidários de Donald Trump, após as eleições presidenciais de 2020.

O jornal Le Monde também expressa sua preocupação com o próximo 7 de setembro, quando será comemorado o bicentenário da Independência. Vários atos pró-Bolsonaro haviam sido convocados em todo o país, mas o presidente voltou atrás na quinta-feira e disse que os eventos irão se concentrar em Brasília. Ainda assim, o Le Monde lembra que muitos militantes da extrema direita estão se organizando para transformar a data numa espécie de "insurreição popular" e que o risco de violência é muito alto. 

A rádio France Inter realizou nesta sexta-feira uma entrevista com a historiadora brasileira Silvia Capanema, professora na universidade Sorbonne Paris Nord. Ela alerta para a possibilidade de um 7 de Setembro trágico e da recusa de Bolsonaro de deixar o poder, podendo resultar em um golpe militar.

 

Ataques de Bolsonaro às instituições democráticas

 

O tom do resto da imprensa europeia não é diferente da francesa. O jornal espanhol El País trata das eleições no Brasil em seu editorial desta quinta-feira, expressando sua preocupação com os frequentes ataques de Bolsonaro às instituições do país, como o STF, o TSE, neste esforço de "criminalizar a oposição". Segundo o El País, a atitude do presidente coloca em perigo a democracia brasileira. 

O editorial também diz esperar que as autoridades eleitorais brasileiras possam cuidar da integridade da campanha e combater as fake news com instrumentos legais. Além disso, faz um apelo para que as forças de segurança redobrem os esforços para que os candidatos e os eleitores possam sair às ruas sem se preocupar com episódios de violência. 

O jornal português Público faz uma cobertura apurada desse início de campanha, publicando matérias e colunas de opinião diariamente. Em matéria publicada em 16 de agosto, o diário destaca a escolha de Bolsonaro de começar a corrida eleitoral em Juiz de Fora, onde ele recebeu uma facada em 2018. O jornal português trata também do discurso do Lula no ABC paulista. 

Uma das colunas do Público nesta semana, intitulada "Brasil: campanha de embate e não de debate", foi assinada por Rita Figueiras, professora da Universidade Católica Portuguesa. Segundo ela, "nas próximas semanas, vamos assistir a uma escalada incessante da guerra de rejeições, movida por ódio, ressentimento e intransigência" no Brasil. Figueiras se preocupa sobre como ficará a sociedade brasileira depois das eleições.

Em editorial do dia 16 de agosto, o jornalista Manuel Carvalho afirma no jornal Público que há muitos brasileiros que duvidam de Lula e do PT, mas que, com o candidato da esquerda, os eleitores "têm ao menos a certeza de que a Constituição, o Estado de direito e as liberdades fundamentais não estão em risco".

 

Desconfiança sobre urnas eletrônicas e armamento da população

 

O jornal britânico The Guardian prevê que a tensão vai aumentar até o primeiro turno, em 2 de outubro. Para o diário, esse clima é principalmente impulsionado pela questão da desconfiança nas urnas eletrônicas, frequentemente evocada por Bolsonaro. 

O The Guardian também se preocupa com a recomendação de Bolsonaro de aquisição de armas pela população, sob a justificativa de que, segundo o presidente, é algo autorizado na bíblia. Para o diário britânico, isso seria uma estratégia para preparar os bolsonaristas a uma reação violenta em caso de derrota. 

O jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung traz uma matéria de seu correspondente em São Paulo intulada de "Populista contra populista", referindo-se a Lula e Bolsonaro. O diário diz que nos dois campos há seguidores "leais e às vezes fanáticos". 

A matéria lamenta que nessas eleições não haja espaço para outros candidatos e que "uma busca incômoda pela 'terceira via' até agora não produziu nenhum representante promissor". 

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Depois de um período sem falar das urnas eletrônicas, o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar o sistema de apuração brasileiro, desta vez envolvendo também as Forças Armadas.
 
Essa investida começa a levantar suspeitas de que o chefe do Executivo poderia tentar algum tipo de golpe, caso seja derrotado nas eleições.
 
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Edson Fachin, subiu o tom em defesa das eleições e do processo eleitoral.
 
Durante a visita à sala do Teste Público de Segurança das eleições, em Brasília, o magistrado disse que: “no Brasil de hoje, quem duvida, quem põe em dúvida o processo eleitoral é porque não confia na democracia”.
 
Sobre a participação das Forças Armadas nas eleições, Fachin disse que a “Justiça Eleitoral está aberta a ouvir, mas jamais estará aberta a se dobrar a quem quer que seja e tomar as rédeas do processo eleitoral”.
 
O Brasil deve receber 100 observadores internacionais para acompanhar as eleições de outubro deste ano, o maior número de autoridades estrangeiras para executar esse tipo de atividade desde as eleições de 2010. 
 
No episódio de hoje, vamos entender como funciona a participação de entidades internacionais nas eleições brasileiras. Para isso, convidamos a coordenadora-geral da Transparência Eleitoral Brasil, Ana Cláudia Santano
 
 

 
 
 
 
 
 

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