“É mais um episódio de perseguição às mulheres legitimamente eleitas e que ocupam espaços de poder e decisão”
Os ministérios da Igualdade Racial, das Mulheres, dos Povos Indígenas, dos Direitos Humanos e da Cidadania, e da Justiça e Segurança Pública emitiram nesta sexta-feira (9) uma nota em defesa das seis congressistas que enfrentam a possibilidade de cassação pela Câmara dos Deputados, presidida por Arthur Lira acusado pela ex-esposa.
O partido de Valdemar da Costa Neto e Michelle Bolsonaro, presidenta do PL Mulher, pediu a perda de mandato de Sâmia Bomfim (Psol-SP), Célia Xakriabá (Psol-MG), Talíria Petrone (Psol-RJ), Fernanda Melchionna (Psol-RS), Érika Kokay (PT-DF) e Juliana Cardoso (PT-SP). Elas teriam chamado os deputados bolsonaristas de “assassinos” durante a votação da urgência do Projeto de Lei do Marco Temporal, ocorrida em 24 de maio.
Em nota assinada pelos cinco ministérios, o Grupo de Trabalho Interministerial de Enfrentamento à Violência Política contra as Mulheres afirma que o pedido de cassação “é mais um episódio de perseguição às mulheres legitimamente eleitas e que ocupam espaços de poder e decisão”.
Leia a íntegra da nota:
O Grupo de Trabalho Interministerial de Enfrentamento à Violência Política contra as Mulheres, coordenado pelo Ministério das Mulheres e composto por representantes dos Ministérios dos Povos Indígenas, da Igualdade Racial, da Justiça e Segurança Pública e dos Direitos Humanos e da Cidadania, vem a público manifestar apoio e solidariedade às deputadas federais Sâmia Bomfim (SP), Célia Xakriabá (MG), Talíria Petrone (RJ), Fernanda Melchionna (RS), Érika Kokay (DF) e Juliana Cardoso (SP), que foram alvo de um pedido de cassação de seus mandatos na Câmara dos Deputados, quando se manifestaram contrárias à aprovação do Marco Temporal.
O pedido de cassação das deputadas apresentado ao Conselho de Ética é mais um episódio de perseguição às mulheres legitimamente eleitas e que ocupam espaços de poder e decisão, estando, naquele momento, alertando a sociedade sobre a gravidade que a aprovação do Marco Temporal representa para os povos indígenas. Configura-se, portanto, como uma violência política de gênero, principalmente, pela celeridade com que foi encaminhado ao Conselho de Ética, em menos de 24 horas. Já as ações contra quatro deputados homens, acusados de estimular os atos terroristas de 8 de Janeiro, até hoje não foram encaminhadas ao mesmo colegiado. Na última sexta-feira (02/06), fez quatro meses que elas estão paralisadas na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
Destaca-se que as mesmas tentativas de punir as deputadas não ocorreram contra aqueles parlamentares que tentaram silenciar e até mesmo impedir a fala delas, quando participavam de debates em comissões temáticas daquela Casa Política, uma vez que as mesmas são reconhecidamente atuantes na defesa dos Direitos Humanos, tornando-se alvos permanentes de uma política misógina.
O fenômeno da violência política contra as mulheres no Brasil é histórico e estrutura as bases de formação do País. Agravado pela misoginia, pelo racismo e pela LBTfobia, tem como objetivo limitar ou até impedir a participação das mulheres na vida política e partidária. Essa estratégia de invisibilização das mulheres é uma das principais causas da sub-representação dessa importante parcela da população do país, no Parlamento e nos espaços de poder e decisão. As mulheres são 53% do eleitorado, mas ocupam apenas 17,7% da Câmara dos Deputados, 18% do Senado, 17% das Câmara Municipais, 12% das Prefeituras e 7,5% dos Governos Estaduais. Quando se observa a intersecção racial, há uma sub-representação em que apenas 1,7% das deputadas são negras, e 2,6% representam as ocupantes das câmaras estaduais e distrital.
Segundo o Mapa das Mulheres na Política 2020, feito pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela União Interparlamentar (UIP), o Brasil ocupa o 145º lugar no ranking em número de mulheres no Parlamento, de um total de 187 países.
O episódio contra as seis parlamentares federais representa o ápice de uma violência sistemática que já vem ocorrendo de norte a sul do Brasil contra vereadoras e prefeitas, colocando em risco, inclusive, não apenas seus mandatos, mas, sobretudo, a possibilidade de suas reeleições no pleito de 2024. Afinal, a sub-representação configura um cenário de grave déficit democrático que impede o desenvolvimento de políticas públicas mais eficientes para as mulheres em sua diversidade e, consequentemente, atrasa o desenvolvimento do país.
Desde 2021, a Lei 14.192/21 estabelece regras para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher, entendida como “toda ação, conduta ou omissão com a finalidade de impedir, obstaculizar ou restringir os direitos políticos da mulher” (art. 3º). Esta legislação contempla tanto mulheres candidatas a cargo eletivo como também aquelas que já são detentoras de mandato eletivo.
Ante o exposto, solicitamos à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados que considere violência política de gênero os ataques desferidos contra as deputadas federais, e que não acate o pedido de instalação de Comissão de Ética contra elas.
Pedimos, também, que a Câmara dos Deputados se comprometa com a garantia de ampliação do acesso de mais mulheres em todas as esferas de poder e decisão, assim como que assegure a elas que possam exercer seu mandato e permanecer na política, por meio da criação de novos mecanismos de coíbam a criminalizem os atos de violência política contra as mulheres.
Grupo de Trabalho Interministerial de Enfrentamento à Violência Política contra as Mulheres
Parlamentares usaram as redes sociais e o microfone do Congresso para enviar um recado ao presidente Jair Bolsonaro após o ex-capitão chamar a ativista Greta Thunbergde “pirralha” nesta terça-feira (10) ao ser questionado sobre o assassinato de indígenas no Maranhão. O ataque fez Greta incluir a expressão na sua descrição do Twitter.
“Uma ‘pirralha’ digna; um presidente estúpido, imbecil e indigno”, declarou o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA), em seu perfil no Twitter.
Célio Moura (PT-TO) foi à tribuna da Câmara criticar a fala do presidente, dizendo que Bolsonaro tem que respeitar os indígenas do Brasil. “Os índios Guajajara estão sendo atacados há muito tempo. Lá no Maranhão os indígenas tem que ser protegidos. O presidente Bolsonaro agora, com o ataque à jovem Greta Thunberg que denunciou o massacre contra os indígenas fez com que esse assunto se tornasse notícia no mundo inteiro”, declarou. “Bolsonaro envergonha o mundo ao tentar calar uma jovem de 16 anos. A juventude brasileira tem que assumir a bandeira do meio ambiente”, completou.
Érika Kokay (PT-DF) também criticou a postura do presidente, dizendo que isso apenas reforça a imagem negativa do país no exterior. “Bolsonaro, reconhecido no mundo inteiro como inimigo do meio ambiente, acha que pode ofender Greta Thunberg? Ao chamá-la de ‘pirralha’ por criticar morte de indígenas no Maranhão, presidente reforça sua insignificância global nas questões do meio ambiente e das mudanças climáticas”, tuitou.
O líder da Oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) aproveitou para criticar a ausência de medidas para conter o desmatamento e a atuação de grileiros. “Bolsonaro fomenta desmatamento, contribui com as mortes dos indígenas, destrói a Amazônia. Pirralho é quem entrega nossas riquezas e não é capaz de gerir fundos para proteção do Meio Ambiente. A covardia do presidente é do tamanho da sua incompetência!”, afirmou.
✔@CelioMouraTO
Jovem ativista sueca, Greta Thunberg, afirmou que os índios morreram por defender a Amazônia e segue firme criticando com veemência o desmonte do governo Bolsonaro com as políticas ambientais. Isso irritou o destemperado presidente.
“Uma ‘pirralha’ digna; um presidente estúpido, imbecil e indigno”, declarou o vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry (MA).
Referindo-se a Bolsonaro como ‘covarde’, a deputada Margarida Salomão (PT-MG) aproveitou a ocasião para criticar a postura do governo brasileiro diante de Donald Trump. “Fala grosso com uma adolescente mulher. Fala fino com o presidente dos EUA. Não se trata apenas de um sujeito asqueroso. É um asqueroso covarde”, disse.
Já o líder da Oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), lamentou a ausência de medidas para conter o desmatamento e a atuação de grileiros. “Bolsonaro fomenta desmatamento, contribui com as mortes dos indígenas, destrói a Amazônia. Pirralho é quem entrega nossas riquezas e não é capaz de gerir fundos para proteção do Meio Ambiente. A covardia do presidente é do tamanho da sua incompetência!”.
Deputada eleita pelo PSOL-RS, Fernanda Melchionna aproveitou a nova gafe para censurar a postura do atual presidente. “Uma Greta incomoda o Presidente. Duas Gretas incomodam, incomodam muito mais. O nível de presidente que temos é de quem chama aquela que se tornou símbolo mundial de luta em defesa do meio ambiente de ‘pirralha’. Que tenhamos mais e mais Gretas e bem menos Bolsonaro!”, escreveu.