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O CORRESPONDENTE

Os melhores textos dos jornalistas livres do Brasil. As melhores charges. Compartilhe

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O CORRESPONDENTE

09
Abr20

O modelo americano nunca pareceu tão frágil quanto diante da epidemia de Covid-19

Talis Andrade

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Cabanas pintadas no chão para manter os sem-teto em segurança durante a epidemia, em um estacionamento em Las Vegas, no dia 30 de março (John Locher/AP)

 

Os Estados Unidos estão prestes a enfrentar a saturação de seus hospitais, a explosão no número de mortes causadas pelo vírus e o aumento estratosférico do desemprego

 

Por Stéphane Lauer 

Carta Maior

- - -

« Mantenha a América grande ». Convencido de ter devolvido a grandeza aos Estados Unidos, Donald Trump adotou esse slogan para brigar pela a reeleição à presidência dos Estados Unidos, em novembro. Mas em algumas semanas, a pandemia de Covid-19 tornou obsoleta essa promessa ambiciosa. Agora, a questão não é tanto manter a pretensa "grandeza" do país, mas remediar as falhas trazidas à tona por esta crise.

Nenhum país, a começar pela França, poderá escapar de uma autocrítica sobre como antecipou, atravessou e superou essa prova. Porém, no momento em que os EUA entram no período mais difícil em termos de saturação de hospitais, explosão do número de mortes relacionadas ao vírus, junto com o aumento estratosférico de demissões devido ao confinamento, o modelo americano nunca pareceu tão frágil.

Os medos de uma sociedade às vezes dizem mais sobre sua vulnerabilidade do que muitos discursos. Em março, dois milhões de armas foram vendidas nos EUA, o dobro do mês anterior. Esse frenesi é alimentado pelo medo de que a pandemia desencadeie em escassez de alimentos e tumultos. Desde que Donald Trump decretou que os comerciantes de armas são serviços "essenciais" que podem ser liberados do confinamento, notícias de mortes e acidentes relacionados com o Covid-19 alimentam os noticiários locais. Nos Estados Unidos, as armas de fogo são vistas como a resposta para muitos problemas, mesmo que causem 38 mil mortes por ano.

30 milhões de pessoas não têm cobertura de saúde alguma

Mais do que de armas, os americanos precisariam, sobretudo, de um sistema de saúde digno desse nome. O debate sobre como melhorá-lo não esperou o Covid-19. O tema já estava no centro das primárias democratas, antes que a crise sanitária explodisse. E corre o risco de voltar com toda a força durante a eleição presidencial.

Os Estados Unidos são o país que mais gasta com saúde (17% do PIB contra 11% na França), ao mesmo tempo em que mantém um sistema pouco eficaz e muito desigual. Com menos de três leitos hospitalares por 1000 habitantes (6 na França e 13 no Japão), a expectativa de vida é inferior à média dos países da OCDE, taxas de comorbidades ao Covid-19 (40% dos americanos são obesos, um em cada três sofre de diabetes, um em cada dois tem doenças cardiovasculares) entre os mais altos do mundo, os EUA têm 30 milhões de pessoas sem nenhum tipo de cobertura de saúde, enquanto um em cada dois americanos declara estar subsegurado.

Desde sua eleição, Donald Trump cortou os orçamentos das agências de saúde e desmontou o Obamacare, o sistema de assistência em saúde criado por seu antecessor. É provável que a situação já precária piore com a explosão do desemprego, na medida em que metade dos americanos tem acesso a um seguro de saúde graças ao trabalho.

A flexibilidade característica do mercado de trabalho do país também mostra seus limites com essa crise. Quando a Europa tenta manter os trabalhadores nas empresas por meio de medidas de desemprego parcial financiadas pelo Estado, os EUA demitem em massa. Dez milhões de pessoas já estão desempregadas. O número pode subir para 47 milhões, segundo o Fed de Saint-Louis, enquanto a taxa de desemprego se aproximaria de 30%.

Como observa o think tank Washington Center for Equitable Growth (Centro para o Crescimento Equitativo de Washington), "trata-se de um efeito cascata que, uma vez iniciado, é muito difícil parar". Mesmo se as contratações forem rápidas, com a retomada econômica, nem todos poderão se recuperar. "Este é um erro grave na política seguida pelo governo Trump", disse Patrick Artus, economista-chefe do banco Natixis, na rádio Europe 1. «Groceries or therapy?» ("Fazer compras ou se cuidar?"): esta será a questão para muitos americanos nas próximas semanas e não são os 1.200 dólares que os americanos menos ricos receberão, com o plano de 2 trilhões de dólares votado pelo Congresso, o que poderá realmente mudar o jogo.

Esse desperdício humano pode ainda se desdobrar em consequências macroeconômicas. Dado que, de acordo com o Federal Reserve (Fed), 40% dos americanos não conseguem fazer frente a um gasto imprevisto de mais de 400 dólares, pode-se facilmente imaginar que, com a explosão do desemprego, se multiplicará a falta de pagamento de dívidas de consumo, podendo levar a uma crise bancária.

A ilusão de um país no auge

Uma última vulnerabilidade que os Estados Unidos terão de enfrentar um dia: os desvios do canal líder de notícias, a Fox News, que jogou um jogo muito perigoso em sua cobertura do coronavírus. Com suposições, falsas informações e menosprezo sistemático da gravidade da situação, o canal de Rupert Murdoch fez tudo para proteger Donald Trump, enquanto a situação econômica implodia com a crise sanitária. Isso ajudou a fomentar, até bem recentemente, um ceticismo em relação ao vírus bastante forte no eleitorado republicano, a base da audiência da Fox News.

O diretor do Harvard Global Health Institute (Instituto de Saúde Global de Harvard), Ashish Jha, chegou a afirmar ao New York Times que a Fox News seria parcialmente responsável pela propagação do vírus. Essas acusações foram seguidas por uma petição assinada por acadêmicos e jornalistas para denunciar o tratamento tendencioso do canal.

A raiva e o ressentimento dos excluídos da globalização foram o motor da vitória de Donald Trump, em 2016. Desde então, ele mantém a ilusão de um país no auge do poder, graças ao crescimento impulsionado pelo déficit orçamentário e a mercados financeiros estimulados por uma política monetária permissiva. O Covid-19 acaba de estourar essa bolha, deixando o país ainda mais vulnerável a suas desigualdades e disfunções. Antes de falar da "grandeza" da nação, talvez fosse preciso começar a consertá-la.

*Publicado originalmente em 'Le Monde' | Tradução de Clarisse Meireles

 

 

13
Fev20

Moro afirmou que Adriano foi assassinado

Talis Andrade

Adriano da Nóbrega e Sérgio Moro

 

por Jeferson Miola 

O inconsciente é uma fonte poderosa e confiável da verdade. Através do inconsciente o ser humano revela aquela verdade íntima e profunda que tenta esconder.

Num ato falho cometido quando explicava a morte do miliciano Adriano da Nóbrega em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro Sérgio Moro admitiu que o miliciano aliado dos Bolsonaro foi assassinado.

Moro rebatia acusação de que sua Gestapo [PF], que não incluiu Adriano na lista dos bandidos mais procurados, estaria protegendo o miliciano aliado e sócio dos Bolsonaro nos negócios políticos do clã.

Ao responder ao questionamento do deputado petista Paulo Teixeira, Moro disse: “Ninguém protegeu essa pessoa. Se nós estivéssemos protegendo essa pessoa, então teríamos feito um péssimo trabalho. A pessoa foi assassinada” [aqui].

Moro imediatamente se corrigiu e então repetiu a versão oficial e sem comprovação na realidade de que Adriano não foi executado: “Assassinada não. Foi morta em confronto com a polícia”.

De sobra, o ministro bolsonarista ainda explorou o álibi da execução do miliciano pela polícia de Estado governado pelo petista Rui Costa e não pela “sua polícia”: “E veja, nem é a polícia do… Não estou criticando a polícia lá. Não sei as circunstâncias. Isso vai ser apurado. Mas é a polícia de um Estado administrado pelo Partido dos Trabalhadores”.

Durante a audiência na Câmara, o deputado Glauber Braga/PSOL, que ano passado havia chamado Moro de “juiz ladrão”, desta vez acusou o chefe da Gestapo de ser “capanga da milícia”: “Eu não tenho outra coisa a dizer a não ser chamar o ministro da Justiça, que blinda a família Bolsonaro em relação a esses temas de capanga da milícia”.

O ato falho do Moro é a chave para esclarecer a execução do miliciano. O assassinato de Adriano, reconhecido por Moro, está cercado de pontos obscuros que precisam ser desvelados, para descobrir-se a quem e a quais interesses atendia a eliminação física do miliciano querido e homenageado pelos Bolsonaro.

O silêncio do governador da Bahia em relação a este episódio aumenta ainda mais a obscuridade do caso e beneficia diretamente os interessados na eliminação física do miliciano [aqui].

11
Jan20

Legítima defesa imaginária, modo de usar… ou não!

Talis Andrade

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por Fábio de Oliveira Ribeiro

Uma vez mais sou obrigado a refletir sobre o “novo” Direito Penal. Digo “novo” Direito Penal, porque eu realmente não o conheço muito bem. Na verdade eu não quero conhecê-lo. Portanto, minhas observações serão feitas com base no Direito Penal “antigo”, aquele que eu aprendi na Faculdade. Meu professor foi um Promotor de Justiça do Estado de São Paulo rigoroso e didático que procurava nunca se desviar dos conceitos jurídicos fixados pela legislação penal. Tentarei seguir os passos dele.

O conceito de legítima defesa é enunciado da seguinte maneira no Código Penal Brasileiro:

“art. 25 – Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele uma injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.”

Os elementos contidos nesse enunciado são quatro:

 

Moderação

A autotutela só é moderada quando a violência empregada pelo agredido é equivalente ou menor do que aquela que foi empregada pelo agressor. Quem é agredido com uma faca não pode descarregar sua arma de fogo no autor da agressão. Quando evidenciado pelas circunstâncias do caso e pelas provas existentes no processo, o excesso pode e deve ser punido. Não é legítima a violência imoderada empregada por aquele que, a pretexto de se defender, resolve causar uma lesão ainda maior no seu agressor.

 

Injustiça

O agredido não pode ter provocado a agressão. Nesse caso, a reação da outra pessoa é que seria legítima. O uso da força pelo policial, desde que moderada e justificada pela situação, não pode ser considerada injusta. Nesse caso, se reagir a pessoa não poderá alegar legítima defesa. Mas se a agressão policial foi desnecessária ou exagerada a questão da legítima defesa poderá ser debatida no processo.

 

Agressão

O Código Penal não se interessa pela subjetividade do agredido. Ele legitima a ação da vítima em face de uma violência atual ou iminente.

Atual é a agressão que está ocorrendo no momento em que a pessoa se defende. Iminente é aquela agressão que, em razão das circunstâncias do caso, estava para ocorrer ou que certamente ocorreria.

Quando o inimigo de alguém saca sua arma e a aponta para a vítima todos podem presumir qual será o resultado desta ação. Mas se um estranho estiver andando na rua com a arma na cintura é injusta a presunção de que ele pretende ferir ou matar outra pessoa. Os transeuntes podem até imaginar o pior. Todavia, nesse caso a imaginação é sempre uma péssima conselheira. E se aquela pessoa armada for um policial em serviço ou de folga? E se, em razão dos riscos associados à sua profissão, ela requereu e obteve o direito de andar armada?

 

Imediatidade

A reação da vítima deve ser imediata. No momento em que for agredida ou pouco antes da agressão ela pode reagir e deverá fazer isso com a devida moderação. A pessoa que foi agredida não pode ir ao Hospital cuidar das lesões, à Delegacia registrar a ocorrência, voltar para casa para pegar sua arma e depois ir se vingar do agressor. O crime cometido pelo agressor pela manhã não justificará o crime cometido pela vítima a tarde. Nesse caso os dois crimes terão que ser julgados pelo Sistema de Justiça.

Legítima defesa imaginária… Essa figura não existe no Direito Penal que me foi ensinado. A conduta das pessoas deve ser sempre avaliada e julgada de acordo com as circunstâncias do que ocorreu e do que foi provado no processo. A interpretação subjetiva que o réu fez da sua ação no momento do fato (ou a posteriori em razão de uma estratégia da defesa) é irrelevante para o julgamento da conduta dele.

Levando em conta tudo que foi dito aqui sou obrigado a concluir que é perigosa e inadequada a interpretação que o Promotor fez da Lei. O órgão da acusação tem o dever de interpretar corretamente a Lei e de pedir a condenação do réu quando existe prova da autoria e da materialidade do delito. Ao que parece o Promotor preferiu perdoar o suspeito levando em conta a interpretação subjetiva que ele fez de sua conduta antes ou depois do fato. Indevido processo ilegal, sem dúvida.

Não só isso. Por força dessa “nova” interpretação livre do venerável e consagrado instituto da legítima defesa prescrito no art. 25, do Código Penal, o Ministério Público vai introduzir no cotidiano do Sistema de Justiça aquela inovação pérfida inventada por Sérgio Moro que foi rejeitada pelo Congresso Nacional.

Lenta e progressivamente nosso mundo está sendo colocado de cabeça para baixo. E gora, até um Promotor pode perdoar (há bem pouco tempo somente o herói lavajateiro podia fazer isso) e/ou legislar no caso concreto para modificar um dispositivo legal que não o agradou.

“Matei porque quis matar. Mas direi no processo que fiz isso porque imaginei que estava sendo agredido. Minha absolvição será garantida pelo instituto da legítima defesa imaginária.” Em pouco tempo e por força da comunicação entre os policiais, algo capaz de transformar qualquer exceção em regra habitual, ninguém mais conseguirá fazer uma distinção clara entre as polícias e as organizações criminosas.
 

Desde quando os policiais devem ter imunidade total para matar e mutilar cidadãos? Os atos que eles praticam nas ruas não podem mais ser avaliados e julgados de maneira objetiva na forma da legislação? O horror, o horror, o horror…

Se um policial resolver meter três balas no peito desse Promotor ele ficará satisfeito com a solução do processo com base na tese jurídica esdruxula que ele mesmo inventou?

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23
Dez19

O fantasma de Marielle ronda Bolsonaro

Talis Andrade

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por Urariano Mota

 

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Adriano Magalhães d Nóbrega

 

Notem que a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, não teve o condão de mudar a realidade mesma. O ministro  arquivou duas notícia-crime contra Jair Bolsonaro por obstrução de justiça nas investigações da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes,. Mas  vale a pena voltar ao reino do mundo do crime, para  melhor retomar a ligação a partir da portaria do condomínio Vivendas da Barra onde moram papai e filhinho Bolsonaro.

Todos lembram: em outubro deste ano, o Jornal Nacional publicou extensa reportagem em que mostrava registros da portaria do Condomínio Vivendas da Barra, onde moram os Bolsonaros. Em depoimento, o porteiro contou à polícia que, horas antes do assassinato, em 14 de março de 2018, o suspeito do crime, Élcio de Queiroz, entrou no condomínio e disse que iria para a casa do então deputado Jair Bolsonaro.  

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Nesse dia, às 17h10, o porteiro escreveu no livro de visitantes o nome de quem entrou, Élcio, o carro, um Logan, a placa, AGH 8202, e a casa que o visitante iria, a de número 58. O porteiro contou que, depois que Élcio se identificou na portaria e disse que iria para a casa 58, ligou para a casa 58 para confirmar se o visitante tinha autorização para entrar. Então uma voz que identificou ser a do "Seu Jair" autorizou a entrada.  

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Depois da reportagem, em um pânico e confusões sem precedentes, Bolsonaro sequestrou a memória da secretária eletrônica da portaria, para confirmar  que a voz não era a sua. E o filho Carlos, para completar, divulgou que a autorização para a entrada do suspeito partiu da casa em que morava outro suspeito – Ronnie Lessa – e não da casa do presidente.  Muito bem, para o crime.  

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Mas fatos não se apagam. O que continua sem resposta é por que o porteiro escreveu no registro da portaria que Élcio de Queiroz iria para a casa 58, de Jair Bolsonaro. Em princípio, o porteiro não poderia fazer essa inclusão a posteriori, com o objetivo de incriminar Bolsonaro, na época deputado federal. O registro é do dia do crime.

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Élcio Vieira de Queiroz

Em depoimento na polícia, o porteiro afirmou que Élcio Queiroz, acusado pelo assassinato de Marielle e Anderson, chegou ao condomínio em que Jair Bolsonaro tem casa, na Barra da Tijuca, e falou na portaria que iria à residência do então deputado federal, número 58. O porteiro ligou para a casa 58 para confirmar se Élcio estava autorizado a entrar e identificou a pessoa que o atendeu como “seu Jair”, como se referiu ao presidente. E mais: o porteiro disse que acompanhou a movimentação pelas câmeras de segurança e viu que, ao entrar no condomínio, o carro de Élcio se dirigiu à casa 66. Lá morava Ronnie Lessa, também acusado pela morte de Marielle. 

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O porteiro então ligou novamente para a casa 58 e a mesma pessoa, que ele identificou como “seu Jair”, disse que sabia para onde Élcio se dirigia.  No livro de registro do condomínio estão anotados o nome de Élcio, a placa do seu carro, a casa a que ele disse que se dirigira para a 58, de Bolsonaro, a hora (17h10) e o dia em que ele entrou no condomínio.

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O jornalista Luis Nassif pesquisou:  com o porteiro do depoimento tendo entrado de férias, moradores do condomínio foram, por conta própria, conversar com os demais porteiros. E eles garantiram que a ligação foi feita para Bolsonaro mesmo. Sem dúvida.  

E depois veio o cúmulo da criação que atesta o nível do criador, como uma obra-prima da inteligência inculta. A saber: o filho Bolsonaro mostrou que no dia 14/03/2018, às 17h13, houve uma ligação para a casa 65, a casa do Ronnie Lessa, e não para a casa do Bolsonaro.  Observem que o caso deixou de ser  desaparecimento do áudio das 17h10min, o caso virou “criação” no feito às17h13min.  Por quê? Segundo o filho Bolsonaro, esta foi a ligação:

“Porteiro: Portaria, boa tarde.

Ronnie Lessa: Boa tarde

Porteiro: É o senhor Élcio

Ronnie Lessa: Tá, pode liberar aí

Porteiro: Tá ok”.

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Ronnie Lessa

O que esse diálogo quer dizer? A resposta mais simples:  os criminosos de Marielle e Anderson são péssimos dramaturgos. Eles não sabem criar uma fala que se harmonize com a fala de pessoa do povo. “Tá OK”?   Seria bom que os investigadores levantassem outras gravações do porteiro para saber se esse é o seu padrão: “Portaria, boa tarde”. Isso é frase de quem responde, não de quem se apresenta ou pergunta. E mais: não há qualquer transição, liga, entre o”boa tarde” de Lessa e a resposta do porteiro: “É o senhor Élcio”. A não ser, claro, que o o porteiro tivesse o nome de Élcio. Que estranha montagem!

E ficam mais perguntas, por acréscimo. Por que a perícia do Ministério Público não apurou se algum áudio foi excluído do sistema do condomínio? Quem é o porteiro? Quem é o síndico que entregou, em clara “boa vontade”, os áudios da portaria? Áudios do interfone podem ter sido excluídos.

Há um princípio geral do comum dos vigaristas e ladrões: o seu nível de alfabetização e leitura sempre são muito baixos. É o que nos salva dos seus golpes. Então, fiquemos neste primor de dramaturgia do crime, no diálogo que se inicia como resposta: portaria, boa tarde. O porteiro OK que disse.  

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27
Abr19

'Nunca vi presidente ficar batendo continência para a bandeira dos EUA': 12 frases da entrevista de Lula

Talis Andrade

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Opera Mundi - A entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Folha de S.Paulo e ao jornal El País, concedida na última sexta-feira (26/04), teve momentos marcantes, como as críticas ao governo Jair Bolsonaro, ao processo que o levou à cadeia e críticas à política externa da atual administração.

Veja 12 das melhores frases do ex-presidente durante a conversa com os jornalistas:

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Complexo de vira-lata
“Lamento profundamente o desastre que está acontecendo neste país, e é por isso que eu me mantenho em pé. No dia que eu sair daqui –eles sabem--, eu estarei com o pé na estrada para, junto com este povo, levantar a cabeça e não deixar entregar o Brasil para os americanos. Acabar com esse complexo de vira-lata! Eu nunca vi um presidente ficar batendo continência para a bandeira norte-americana. Eu nunca vi um presidente ficar dizendo: ‘Eu amo os Estados Unidos!” Alguém acha que os Estados Unidos vão favorecer o Brasil?”

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Americano pensa em americano
“Americano pensa em americano em primeiro lugar, pensa em americano em segundo lugar, pensa em americano em terceiro lugar (...) e, se sobrar tempo, pensa em americano. E ficam os lacaios brasileiros achando que os americanos achando que os americanos vão fazer alguma coisa por nós. Quem tem de fazer por nós somos nós!”

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FHC nunca aceitou meu sucesso
“O Fernando Henrique Cardoso não tem jogado no papel o que o nome dele deveria merecer. Ele fala muito sobre quase tudo desnecessariamente. Eu sinceramente acho que ele poderia ter um papel de grandeza para quem já foi presidente da República, para quem já foi chamado de príncipe da sociologia. Ele poderia ter um papel mais respeitoso com ele mesmo, não comigo. O problema do Fernando Henrique Cardoso é que ele nunca aceitou o meu sucesso.”

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Sem lideranças
“Sinceramente acho que o mundo está precisando de lideranças. E nós não temos lideranças mundiais. Não temos. Então precisamos tentar, no campo da política, dizer o seguinte: quem vai resolver o problema do mundo é você ter uma classe política séria, com partidos sérios, organizados seriamente, para poder consertar o país.”

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Situação do Brasil
“Eu fico preocupado é com a situação do Brasil. Não consigo imaginar os sonhos que eu tive para esse país, quando a gente descobriu o pré-sal, para fazer esse país virar gigante. Eu tenho orgulho e sonhei grande, porque passei a ser um presidente muito respeitado. Aqui na América do Sul, o Brasil era referência.”

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Avacalhação
“Fui o único presidente a ser chamado para todas as reuniões do G8. Eu digo eu porque eu era o presidente, mas o Brasil foi muito importante no G20. Tudo isso desmanchou. Agora o prefeito de Nova York não quer fazer um jantar com o presidente do Brasil. O dono do restaurante se recusa. A que ponto chegamos? Que avacalhação! “

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Planos para quando sair da prisão
“Adoraria poder um dia fazer um debate em uma universidade com Moro e Dallagnol juntos. Adoraria um debate. Eles levando as milhares de páginas que contaram mentiras e eu levando a minha verdade. Eu adoraria. Com a cara boa, tranquila, bonitão como eu tô hoje. Para discutir. Mas na verdade eu [quando sair da prisão] quero comer um churrasco, uma bela de uma picanha, uma panceta bem passadinha e tomar um, como diria o José Alencar, um golo.”

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Obsessão
“Eu tenho tanta obsessão de desmascarar o [Sergio] Moro, em desmascarar o [Deltan] Dallagnol e a sua turma e aqueles que me condenaram, que eu ficarei preso cem anos, mas eu não trocarei a minha dignidade pela minha liberdade. Eu quero provar a farsa montada. Eu quero provar. Montada aqui dentro, no departamento de Justiça dos Estados Unidos com depoimento de procuradores com filme gravado e agora mais agravado com a criação da Fundação Criança Esperança do Dallagnol, pegando 2,5 bilhões de reais da Petrobras para criar uma fundação para ele. Fora 6,8 bilhões da Odebrecht e fora não sei quantas outras coisas.”

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Consciência tranquila
"Eu tenho certeza que eu durmo todo dia com a minha consciência tranquila. Tenho certeza que o Dallagnol não dorme e que o Moro não dorme. E aqueles juízes do TRF-4 que nem leram a sentença. Fizeram um acordo lá, era melhor que um só tivesse lido e falado 'todo mundo aqui vota igual'."

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Não vou me entregar
"Quem tem 73 anos de idade, quem construiu a vida que eu construí neste país, quem estabeleceu as relações que eu estabeleci, quem fez o governo que eu fiz neste país, quem recuperou o orgulho e autoestima do povo brasileiro como eu, não vou me entregar. Eles sabem que tem aqui um pernambucano teimoso. Eu digo sempre, quem nasceu em Pernambuco e não morreu de fome até os cinco anos de idade não se curva mais a nada."

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Preocupação só com a Justiça
“Haverá um dia em que as pessoas que irão me julgar estarão preocupados com os autos do processo, com as provas contidas no processo e não com a manchete do Jornal Nacional, com as capas das revistas, não com as mentiras do fake news. As pessoas se comportarão como juízes supremos de uma Corte, que é a única coisa que a gente não pode recorrer. (…) Só quero, pelo amor de Deus, que as pessoas julguem em funções das provas. Eu tenho certeza, o Moro tem certeza. Se as pessoas não confessarem agora, no dia da extrema unção vão confessar. Ele tem certeza que eu sou inocente. O Dallagnol tem certeza que é mentiroso. E mentiu a meu respeito.”

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Regulamentação da mídia
“Eu, por exemplo, acho que tive um erro grave. Eu poderia ter feito a regulamentação dos meios de comunicação. Fizemos um Congresso em 2009, só participou a Bandeirantes e a Rede TV se não me falha a memória, sabe, nenhuma outra TV participou, muitas rádios participaram, e em junho de 2010 nós preparamos uma regulamentação dos meios de comunicação. Ao invés de dar entrada no Congresso porque iria ter eleição eu pensei ‘não, vou deixar para o novo governo’. A razão pela qual a Dilma não entrou não sei. Então essa é uma autocrítica que eu faço.”

 

11
Abr19

FATIAMENTO DA PETROBRAS. A entrega da TAG e a influência invasiva dos filhos de Bolsonaro na presidência do Brasil

Talis Andrade

 

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O jornal Le Monde publica nesta terça-feira (9) uma longa reportagem sobre a família do presidente Jair Bolsonaro e a crescente influência de seus três filhos mais velhos no governo. Eles são invasivos e o mais explosivo deles, sem dúvida, é o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, 36 anos, o 02 ou "pitbull", explica o jornal, de acordo com a descrição do próprio presidente brasileiro.

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"Carlos tem todas as senhas dos perfis do chefe de Estado brasileiro nas redes sociais (Twitter, Facebook e Instagram)", relata o vespertino Le Monde, após Bolsonaro ter confirmado essa regalia na entrevista que concedeu ontem à rádio Jovem Pan.

Respeitando a ordem de preferência e também de importância para o sucesso político aos olhos do pai, Le Monde traz na sequência o perfil do deputado federal Eduardo Bolsonaro, 34 anos, o 03 ou "Ivanka", como foi apelidado pela imprensa em referência à filha de Donald Trump, "que anda pela Casa Branca sem que se saiba exatamente qual é sua função real".

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"Eduardo ignora as exigências protocolares e faz o papel de ministro das Relações Exteriores", cita Le Monde. O senador Flávio, 37 anos, o 01, completa o clã Bolsonaro na política. "Mas anda discreto, depois do escândalo de desvio de fundos na campanha envolvendo seu assessor e motorista, Fabrício Queiroz."

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"Traço em comum: todos abominam os direitos humanos"

O traço em comum entre 01, 02, 03 e o pai é que todos abominam os direitos humanos, preferem o "homem honesto", uma fórmula utilizada por grupos de extrema direita na América do Sul, menciona a correspondente do Le Monde em São Paulo, Claire Gatinois. Além disso, os quatro adoram armas de fogo e defendem a meritocracia favorável aos bem-nascidos no Brasil, em detrimento dos pobres.

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Ao lado do pai, os três filhos do presidente animaram nos três primeiros meses de governo a política de "reality show" da cúpula do poder, com tuítes bombásticos, fugindo do enfrentamento com jornalistas profissionais.

Enquanto o Le Monde dá destaque aos homens fortes da extrema direita atualmente no poder, no Brasil, os jornais Le Figaro e Les Echos relatam que a Petrobras escolheu a companhia francesa Engie no processo de venda de 90% do capital da Transportadora Associada de Gás, a TAG. A empresa francesa de energia adquiriu a metade dos gasodutos brasileiros, cerca de 4.500 km, por US$ 8,6 bilhões. Nos próximos anos, a Engie pretende obter um quinto de seus lucros no Brasil, comemora a imprensa francesa.

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