Que mundo teremos depois disso?
Milão
Texto de Leila Guerriero
Até dias atrás falávamos do avanço da direita, da xenofobia, do nacionalismo, de Trump e de Bolsonaro como as bestas negras. Agora, em um cenário de guerra química, nas varandas da Itália o hino nacional é cantado e até os mais hereges se sentem transtornados de patriotismo, atordoados de emoção, cantando “Estamos prontos para morrer, a Itália chamou”. Os cidadãos clamam a seus Governos que lhes impeçam de viajar, que os vigiem, que fechem as fronteiras, que expulsem os estrangeiros, que a polícia patrulhe. A quarentena obrigatória transformou a delação em orgulho cidadão, a suspeita em solidariedade: “Denunciou o vizinho porque não cumpria a quarentena”. O confinamento é vivido como alívio, o controle social como dever. A distância com o outro como “sinal de amor”.