Porque Moro é mais perigoso até do que Bolsonaro
por Carlos Tautz
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À meia bomba desde que Sergio Moro foi instalado no Ministério da Justiça, a Lava Jato (LJ) ressuscitou na sexta-feira, 24 de abril, na plenitude de sua natureza político-midiática. Naquela data, o ex-juiz e chefe histórico da LJ abandonou o navio de Bolsonaro retomando aliados originais e colocou em marcha outra vez a sua estratégia de UDN do século 21, que ele opera na LJ desde 2014. Moro conectou sua renúncia ao timming da produção de notícias das Organizações Globo e hegemonizou a narrativa sobre o abandono do navio do Presidente. Ainda por cima, usou de sua prosódia sibilante para afirmar que o Presidente governa em causa própria e deu à sua renúncia ares de missão heróica.
Resultado: fixou na testa de Bolsonaro carimbo de traição da moralidade a la CBF, que orienta lavajatistas e bolsonaristas, e avançou algumas casas na campanha de 2022 contra seu principal adversário.
O roteiro da renúncia foi assim: Moro falou por uns 40 minutos, sem contestação, às 11 da manhã do dia 24. Recheou seu depoimento de graves acusações a Bolsonaro e fez sua versão imperar sozinha no noticiário amplamente hegemonizado pelos diversos veículos da Globo até às 17h daquele dia, quando um presidente, visivelmente choroso e defensivo também se pronunciou sem contestações.
Porém, desde a manhã os editores do Jornal Nacional (JN), o programa jornalístico de maior audiência da televisão brasileira, já caprichavam na edição que foi ao ar naquela noite, como desde 1969 reza o hábito da tradicional família brasileira. Ao pronunciar-se tão cedo, Moro deu à Globo tempo suficiente para confirmar ao longo do dia em todas as suas mídias a versão anti-Bolsonaro que seria cabalmente validada às 20 horas na estendida versão do JN – em geral, o JN tem de 40 a 50 minutos de duração. Naquela data, transmitiu mais de 1h30min para uns 40 milhões de espectadores.
As mensagens de presente e de futuro emitidas por Moro&Globo no JN foram claras:
- voltou o mítico herói da Lava-Jato – o mesmo que em um ano e quatro meses de Ministério da Justiça se omitiu quanto ao desaparecimento de Fabrício Queiroz, os assassinatos de Marielle Franco e do miliciano Adriano da Nóbrega e a gripezinhapandêmica; e
- o ex-juiz marcou um reencontro com seu eleitorado: “Independentemente de onde eu esteja (sic), eu sempre vou estar à disposição do País”. (Continua)