04
Nov20
Poesia André Merez
Talis Andrade
Valsinha pra elas
Elas
varriam as praças,
invadiam as casas,
subiam as escadas
e dançavam nos telhados
entre os ares e os olhares
de reprovação da cidade.
E se acabavam juntas,
juntando as folhas e as pétalas secas,
faziam mandalas que o vento varria,
faziam canções, marchinhas e xotes.
Dançavam felizes, amavam-se aos montes,
beijavam-se nuas e deitavam-se lânguidas.
E eram únicas,
e eram todas,
mas eram sós,
não eram nada.
E os muitos, apaixonados,
as odiavam por adorá-las,
e as desprezavam por desejá-las,
com tanta força que mal sabiam,
queriam sê-las,
queriam tê-las,
queriam muito,
suas cabeças
e os seus corpos,
as suas existências,
seu ser e
seus seres.
Declaração
Amo mulheres
que se amam,
mulheres amadas,
fêmeas fecundas não fecundadas
e outras mais que levam no ventre
futuros de outras
mulheres amadas
que se derramam pela madrugada
e dão à luz suas virtudes roubadas
amo-as irrestrito
suave e em delito
par
em
par
a todas e a cada.