"Passado o susto em Brasília, agora é hora de prender os culpados", diz jornal Le Monde
O jornal Le Monde que chega às bancas nesta quinta-feira (12) discute o papel das forças de segurança durante a invasão da Praça dos Três Poderes, em Brasília, no último domingo (8). Reportagem do correspondente Bruno Meyerfeld analisa porque a polícia militar é acusada de conivência com os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
"Passado o susto, agora é hora de encontrar e prender os culpados", diz o texto, relatando os últimos fatos da investigação aberta para apurar as condições que permitiram aos vândalos entrarem em prédios públicos e depredarem o patrimônio.
Le Monde afirma que "no Brasil todo mundo se pergunta como manifestantes desarmados conseguiram invadir facilmente os locais mais importantes da República e os mais seguros do país: o Congresso Nacional, o STF e o Palácio do Planalto".
O jornal lembra que as forças de ordem do país são acostumadas a grandes multidões, devido ao carnaval e aos jogos de futebol. Porém, de acordo com a antropóloga Jaqueline Muniz, da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em segurança pública, "tudo foi construído de forma premeditada, autorizada e incitada por muitos no topo da hierarquia da polícia".
A reportagem afirma que "horas antes do ataque, quando milhares de bolsonaristas se dirigiam para a capital, a agência brasileira de inteligência (ABIN), já transmitia às autoridades alertas preocupantes".
O texto aponta que o governador do Distrito Federal (DF), Ibaneis Rocha, um aliado de Bolsonaro, se recusou a obedecer ordens do ministério da Justiça para bloquear a Praça dos Três Poderes, enviando poucos homens para o local e permitindo que a multidão se aproximasse.
Enquanto os vândalos corriam em direção à sede do poder, os policiais "tiravam selfies e conversavam com os invasores", relata o diário francês.
"Os policiais foram contaminados pelo vírus do bolsonarismo", constata Renato Sérgio de Lima, presidente do Fórum brasileiro de segurança pública (FBSP). De acordo com a ONG, que estuda essa questão há vários anos, em 2021, 51% dos policiais militares se diziam próximos da extrema direita. "Uma radicalização e uma ideologização em forte alta nos últimos anos", afirma a organização, destacando que agentes de segurança "sempre foram a base eleitoral de Jair Bolsonaro".
Citando mais uma vez a antropóloga Jaqueline Muniz, a reportagem termina dizendo que "no Brasil a polícia se vê como uma corporação à parte ou um quarto poder", que no dia 8 de janeiro "deixou os outros três, Executivo, Legislativo e Judiciário serem arrasados".