O medo (por Gustavo Krause)
O eleitor vai se contrapor ao medo, instrumento de controle da liberdade
Criou quase uma dezena de milhar de neologismos e, segundo os estudiosos, 30% do léxico de Rosa não está dicionarizado. A primeira leitura de “Grandes Sertões: veredas” exige esforço na busca dos significados, depois, o leitor viaja do regional para universal, uma fusão de sentimentos, de sabedoria com gosto de carne seca e rapadura para os da banda de cá.
O que mais me sensibilizou foi a reflexão existencial que propõe coragem para enfrentar o vaivém da vida. É exatamente esta virtude de que necessitamos no processo político-eleitoral para sair de casa e exercer o poder-dever do voto.
O que deveria ser um ato praticado, em clima de paz e esperança que ratifica a democracia e fortalece o plebiscito cotidiano que forja a nação, transformou-se num ambiente de insegurança e de medo, decorrente do aprofundamento da radicalização, sobretudo, da violência política que permeia a sociedade brasileira.
O processo vem se agravando, mundo afora, e foi objeto da obra magistral de Manuel Castells “Redes de indignação e esperança na era da Internet” que analisa em profundidade as manifestações ocorridas com um posfácio dedicado ao Brasil de 2013.
A voz das ruas deixou uma clara e contundente mensagem: “vocês não nos representam”: grave abalo nas democracias liberais por conta da descrença e do ressentimento em relação ao estabilishment.
Resultado: as líderanças populistas e autocráticas encontraram o ambiente fértil para as mensagens messiânicas.
No Brasil, o Presidente surfou na onda, desafiou instituições, desrespeitou pessoas. Sua contraparte, Lula, reaparece com promessas de paz e amor: “um museu de grandes novidades”(crédito para Cazuza em “O tempo não para”).
Nós vamos ofertar à democracia o que ela quer de nós: coragem cívica. Em troca, a democracia vai, como escreveu Guimarães Rosa, “desinquietar” os exaltados, garantir liberdade, direitos fundamentais e paz social.
O eleitor terá a palavra final. E vai contrapor ao medo, instrumento de controle da liberdade, a virtude da coragem que se mantém entre dois abismos: a covardia e a temeridade.