O 'mecanismo' do cinema como propaganda eleitoral
Padilha pôs expressões canalhas de Jucá na boca de Lula em série da Netflix sobre a Lava Jato
Denunciei que a série "O Mecanismo" continua no cinema internacional a antecipada campanha eleitoral do Brasil deste ano. Tudo começou e continua com uma narrativa da Lava Jato, tendo os políciais de Sérgio Moro e Temer, à moda mexicana revista pelos gringos, como heróis bem representados no Rio de Janeiro pelas milícias.
Não sei quem paga, via Netflix, essa propaganda cara e nefasta, em que o grande herói do José Padilha é o policial de Temer, o Segovia.
DCM - A crítica de Lucas Salgado no site Adoro Cinema à série “O Mecanismo”, de José Padilha, aponta um problema de “desonestidade”:
“No Brasil, a definição de justiça no dicionário não contém as palavras equilíbrio e imparcialidade”, diz a narração de O Mecanismo em importante momento da trama. Não que seja o objetivo da série buscar justiça, mas é certo que um pouco mais de equilíbrio era bem necessário para a produção.
Já sobre imparcialidade… Há de se reconhecer o esforço dos criadores José Padilha e Elena Soarez e o time de roteiristas de tentarem vender a ideia de que o tal mecanismo engloba todas as partes, da esquerda e da direita, do Presidente da República ao funcionário da companhia de água, passando pelo jovem da classe média e alta que falsifica carteira de estudante e dá uma “cervejinha” para o policial.
Por alguns momentos, a série consegue bem vender essa imagem. Em outros, no entanto, fica clara uma postura tendenciosa por parte da mesma, como quando vemos o personagem do ex-presidente (claramente inspirado em Lula) usando frases como “estancar a sangria” e “construir um grande acordo nacional”. Usar fala do notório diálogo entre Sérgio Machado e Romero Jucá como sendo de Lula é algo pra lá de desonesto, e isso é algo que deveria ser claro para pessoas das mais diversas visões ideológicas. (…)
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Maria Jose Silveira: É lamentável o que ele faz com Lula e Dilma. Me parece caso de difamação e merece processo. E que quantidade de publicidade paga está tendo a série! Propaganda nas revistas e jornais. Será que está sendo bancada pela Netflix?
Fernando Monteiro: Uma coisa é certa -- ou mais do que certa --, Maria amiga: desde que o cinema brasileiro foi assumindo posturas de "conquista do mercado" (o analfabeto ministro atual da "Cultura" é um adepto fervoroso disso, desde seus nefandos tempos da RioFilmes etc), nós vimos surgir os Padilhas. Padilhas por todo lado, no solo cinematográfico dignificado pela trajetória limpa -- e heroica -- de Glauber, de Nelson Pereira, de Leon, Joaquim Pedro e outros. Surgiu, então, o olhar cúpido daqueles oclinhos dos Meirelles-idem -- ávidos pelos Oscar (que nunca veio) e outros penduricalhos de acesso ao mercado americano acima de tudo. Lembra-se que o ridículo Bruno Barreto chegou a se transferir para Los Angeles, a fim de -- lá -- filmar qualquer merda?
Pois bem: é assim que estamos -- ou parece que estamos --, agora: servidos pelos Padilhas, "reduzidos" a eles e seus Robocops da bilheteria descerebrada. São os "novos" tempos: Padilha é "in", Padilha está na moda do "audiovisual" indiferente ao destino do Brasil, à decifração -- ainda -- da nossa identidade etc. Padilha é isso: um Padilha, lá nos States dos "cucarachos" que pensam que são respeitados em Hollywood e adjacências. Enganam-se. Eles apenas trabalham para a velha indústria que Glauber execrava do fundo do coração baiano, eles apenas cumprem as ordens da Netflix e de quem pague seus "serviços" de "profissionais" sem pátria.
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Leia a conversa original, gravada pela Polícia Federal:
JUCÁ - Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.[...]
MACHADO - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ - Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. ’Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ - Com o Supremo, com tudo.
MACHADO - Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ - É. Delimitava onde está, pronto.