O MAIOR CRÍTICO DE CINEMA DO BRASIL PELO TELEFONE
por Urariano Mota
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Celso Marconi ligou para mim há pouco. Rimos muito, quando lhe falei de algumas dificuldades que tive ao pesquisar sobre críticos longevos em ação no Brasil e no mundo.
E rimos também de alguns trechos do artigo que publiquei no Vermelho, a coautoria do editor André Cintra. Rimos destas linhas mais precisamente:
“Entre as reações ao filme Vivencial, de Jomard Muniz de Brito, há um fato a registar. É que um senhor, que se declarou Jornalista, Espírita e Teólogo, enviou uma carta ao cineasta Jomard declarando que pelas blasfêmias que o cineasta tinha praticado contra a Igreja Católica diante de uma igreja, ele poderá (ou deverá) ser punido em outras reencarnações”
E aqui:
Ao pesquisar sobre críticos longevos, apareceu uma grande jornalista de cinema nos Estados Unidos, Judith Crist. Ela ficou famosa pelos comentários rudes e espirituosos que fazia sobre filmes como A Noviça Rebelde, Cleópatra e outros. A tal ponto que levou o cineasta Billy Wilder a comentar o que ela fazia aos diretores de cinema com esta frase genial:
“Convidar Judith Crist para resenhar um filme seu é como convidar o estrangulador de Boston para massagear o seu pescoço”.
Então ele me agradeceu pelo que escrevi. Em resposta, eu lhe disse que nem havia publicado alguns elogios maiores, talvez por desejar uma harmonia no texto, uma harmonia exterior a mim, objetiva, como se isso fosse possível. E corrijo a minha falha a seguir.
Primeiro, o elogio de José Antonio Spinelli, ao saber que Celso Marconi estava em plena forma a escrever e publicar no Vermelho: “Diga a Celso que ele é o nosso guru. Ele é um dos gurus da nossa geração”. Depois, o que eu eu falei pra Celso Maconi num almoço em sua casa. No calor de umas doses, que ninguém é de ferro, eu lhe disse, pelo que me lembro:
- Celso, o que eu faço para divulgar o seu trabalho nada tem de altruísmo. Não. É apenas o desejo de ficar igual a você quando eu estiver na sua idade. Quero ser ativo, com a sua curiosidade intelectual, rebelde e produzindo.
E não podia na ocasião citar Goethe de memória, num almoço entre amigos, até porque pareceria uma exibição de grandes conhecimentos, que não tenho. Mas a citação de Goethe, que em mim estava guardada, e não falei, é esta: “É impossível ver no outro aquilo que não temos em nós mesmos”. Ou seja, admiramos aquilo que temos em potência, e desejamos realizar. Ou como o povo fala tão bem, de outra maneira: “quando eu crescer, eu quero ser igual a você”.
Assim foi. Mas o importante é que no final do telefonema há pouco, Celso Marconi me disse; “Depois que eu morrer, você vai escrever minha biografia”.
E lhe respondi:
- Vou nada. Eu que me cuide, viu? Agora mesmo estou com um problema no joelho, enquanto você anda por aí sem esforço e contente.
Então ele gargalhou, à sua maneira. Foi muito bom ouvir as risadas desse mestre de gerações ao telefone. Estou feliz com a felicidade que ele sentiu ao ler o texto em sua homenagem no Vermelho. Em resumo é isto, e mais uma vez escrevo o que não lhe disse:
Viva Celso Marconi!