No caso do assédio a Alesp julgará a si mesma
por Janio de Freitas /UOL
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Difícil saber para onde caminha a humanidade. Mas quem vê a caminhada do deputado estadual paulista Fernando Cury (Cidadania) precisa rumar para o outro lado. Foram apenas seis passos. Cury aproximou-se da deputada Isa Penna (PSOL) no plenário da Assembleia Legislativa de São Paulo. Posicionou-se sorrateiramente atrás da colega. Colou nela. Apalpou-lhe o seio. O vídeo é aviltante.
Isa denunciou Cury à Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo. Acusou-o do crime de importunação sexual. No papel, rende cadeia —de um a cinco anos. No mundo real, resulta em impunidade. A deputada também representou contra o apalpador na Comissão de Ética da Assembleia Legislativa. A análise do caso não definirá apenas o futuro de Cury. A Alesp julgará a si mesma.
Cury disse o seguinte em sua defesa: "Não houve [...] tentativa de assédio, de importunação sexual ou qualquer outra coisa com algum outro nome semelhante a esse. Se a deputada Isa Penna se sentiu ofendida com o abraço que eu lhe dei, eu peço desculpas por isso. Desculpa se eu a constrangi."
Ficou entendido que o cérebro de Cury começa a funcionar no momento em que o deputado acorda e não para até que ele vislumbre, no plenário da Assembleia, um seio desprevenido. Quando isso ocorre, as mãos do parlamentar perdem o contato com seus neurônios. Foi num desses momentos que Cury achou que seria uma boa ideia abraçar a deputada Isa por trás, com a mão na altura do busto.
Levando-se o raciocínio do personagem às últimas consequências, a deputada ultrajada talvez devesse agradecer ao importunador pela civilidade da importunação. Vivo, Darwin diria que certos personagens pararam de evoluir. Pior: começaram a fazer o caminho de volta. Resta agora saber que instituição a Assembleia Legislativa de São Paulo deseja ser. O conceito da Casa não oferece bom prenúncio.