Militares fazem combate seletivo do crime organizado, poupando territórios das milícias
A necessidade da intervenção federal no Rio de Janeiro foi propagandeada como uma forma de golpear o crime organizado, ressaltando tanto o combate com as facções como contra as milícias. Aconteceu que nenhum território da milícia teve nem sequer uma rua ocupada
No início das operações o então ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann (ministério hoje ocupado por Sergio Moro) alegava que o foco seria “golpear o crime organizado” de modo geral, ressaltando tanto o tráfico de drogas como o mando das milícias.
Entretanto, sete meses depois do início das ações com apoio dos militares e tendo ocorrido 20 operações em favelas e zonas carentes do Rio, nenhum território da milícia teve nem sequer uma rua ocupada.
Do total de ações com militares, 11 foram em locais dominados pelo CV (Comando Vermelho), a maior facção criminosa do Rio. Em cinco ocasiões, deu-se prioridade onde há disputa entre CV, TCP (Terceiro Comando Puro) e ADA (Amigos dos Amigos). Outras quatro foram em locais dominados por TCP ou ADA.
Esta seletividade das ações de combate à criminalidade evidenciam a hipocrisia do discurso de guerra às drogas, enquanto se combate o braço do crime organizado ligado aos traficantes, é poupado o braço ligado às milícias, que estão vinculadas às instituições e figuras públicas.
A intervenção federal, bem como as ações militares antes dela, foi decretada supostamente para que os militares combatessem o crime organizado e restaurassem a credibilidade das forças de segurança do Rio.
A intervenção foi uma gastança de dinheiro jogado às feras (o general da intervenção de Temer chegou a pedir 6,5 bilhões) como demonstra o transcorrer das operações. Novamente o discurso de guerra às drogas foi utilizado de forma retórica, e eleitoreira, com o objetivo de aumentar a repressão sobre as populações das favelas e comunidades, nos locais dominados pelas facções enquanto são poupadas as áreas dominadas pelas milícias. Somente nos currais eleitorais das milícias, o Rio reserva 2 milhões de votos, que decidem as eleições majoritárias para o Senado Federal, o governo do Estado, a prefeitura da Capital, e serve base para o lançamento de candidaturas presidenciais, como aconteceu com Jair Bolsonaro. A partir de uma reportagem da Esquerda Diário