Mar Becker
quando morrem,
as mães deixam um enxame de bocas no mundo: um vulto de milhões de vozes que orbitam e sonham em torno dos corpos das filhas.
à noite,
como se cantassem.
são bocas que lembram halos de sétimo dia ou fendas em fumaça de incenso.
[santo, santo, santo,
rastilho pubiano, um pântano de pernas
de filhas
no corredor da missa.]
“porque este é meu corpo e este é meu sangue”.
durante o inverno as bocas-restos crescem, tomam um princípio de vingança e furam os corpos das filhas com a ponta de suas línguas.
entre as pernas.
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(Mar Becker)
Marceli Andresa Becker