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01
Abr20

Lento e sem testes, Brasil escolhe a roleta russa do coronavírus

Talis Andrade

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por Andrei Ronan/ El País

O Brasil passou essa última semana consumido pela polêmica em volta ao último pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro. Contra todas as evidências e estatísticas sobre o contágio exponencial do coronavírus e as fatalidades relacionadas a ele desde a China, até Itália e Estados Unidos, contra os argumentos e conselhos técnicos de epidemiologistas e especialistas em saúde pública, alguns do seu próprio Governo, contra a preocupação da imensa maioria dos brasileiros com a saúde e a vida de amigos e familiares, o presidente atacou o fechamento das escolas e do comércio e pediu para os brasileiros não deixarem uma “gripezinha” atrapalhar o seu dia-a-dia.

As críticas e os panelaços não tardaram. Infelizmente, a polêmica em relação a postura do presidente tira o foco de um problema muito maior: a falta de estratégias e de decisões cruciais para enfrentar a crise é uma receita segura para uma catástrofe de dimensões incalculáveis. Enquanto o fla-flu nas redes sociais corre solto, o país continua tendo na prática e não somente no discurso uma das mais fracas e lentas reações à pandemia de todo planeta. Se trata de uma política de Estado que freou e continua freando ações essenciais na fase inicial do combate ao contágio com o coronavírus e que poderá resultar no colapso simultâneo do SUS, da atividade econômica e da coesão social.

Enquanto debatemos se é mais importante focarmos nos aspectos de saúde pública ou na crise econômica, uma discussão outrora completamente irracional, já que nunca haverá como salvar a economia de um país com milhares de cadáveres espalhados pelas ruas, outros países vêm adotando medidas enérgicas para limitar a extensão geográfica do contágio e conter o crescimento do número de casos em três linhas essenciais de atuação: o controle do fluxo de movimento das pessoas, o rastreio e o estrito isolamento dos casos potenciais, e a testagem maciça das comunidades mais afetadas. China, Cingapura, Coreia do Sul e Hong Kong demonstraram que uma estratégia de prevenção amparada nesses 3 eixos pode conter a epidemia em menos de três meses. Infelizmente, o Brasil não prestou suficiente atenção.

Enquanto países vizinhos muito menos afetados pela pandemia como Argentina, Peru e Colômbia seguem o exemplo asiático e tomam medidas drásticas para impor toque de recolher, fechar fronteiras e paralisar os transportes, milhares de passageiros oriundos de zonas de alto risco transitam diariamente pelos aeroportos brasileiros sem qualquer tipo de fiscalização. Parece surreal, mas estados como Ceará, Maranhão e Bahia, que tentaram pelo menos medir a temperatura dos passageiros no ponto de chegada, foram acionados na Justiça pela ANVISA, que conseguiu barrar os procedimentos. No Brasil, a agência cuja missão é liderar os esforços de contenção do contágio está se valendo das suas prerrogativas para fazer exatamente o oposto. Mesmo com mais de 100.000 casos confirmados nos EUA, o maior número do mundo, passageiros de Nova York estão pousando hoje em aeroportos pelo Brasil inteiro. Em quase qualquer outro país do mundo, esses passageiros ou já estariam barrados de viajar, ou estariam obrigados a permanecer por 14 dias em centros de quarentena do Estado, ou no mínimo seriam obrigados a permanecer em isolamento domiciliar durante esse período e multados caso desrespeitarem esse compromisso. No Brasil, eles estão sendo incentivados a saírem pelas ruas para movimentar o comércio. Como surpreender-nos então que o vírus se espalhou por todo o território nacional, já chegando até em aldeias indígenas? (Continua)

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