Golpistas agridem eleitora de Lula em João Pessoa e a vítima é autuada pela polícia
Bolsonaristas partem para cima do carro com adesivos de Lula
Carro com adesivo de Lula é depredado em ato bolsonarista na Paraíba. Ninguém foi detido após as agressões, e motorista foi autuada por embriaguez ao se recusar a fazer o bafômetro no local da manifestação. Defesa diz que ela se ofereceu para realizar o teste na delegacia, onde era seguro, mas não foi autorizada
por G1
Um vídeo mostra um carro sendo depredado por bolsonaristas após a motorista tentar passar por um ato contra o resultado das urnas que acontecia na noite da quarta-feira (2), em João Pessoa. O caso foi registrado como lesão corporal e embriaguez ao volante, contra a condutora. Ela foi presa e liberada após fiança de R$ 600. A defesa nega os crimes. As pessoas que depredaram o veículo não foram detidas.
O caso aconteceu em frente ao Grupamento de Engenharia do Exército, na Avenida Epitácio Pessoa, onde acontecia a manifestação de um grupo bolsonarista. A ação, que é antidemocrática e inconstitucional, ocupava as duas calçadas e o canteiro central da avenida, uma das principais de João Pessoa.
A motorista passava em um veículo com adesivos do presidente eleito Lula (PT). Segundo ela, foi hostilizada pelo grupo e avançou sobre o bloqueio. Em seguida, o carro foi cercado e depredado. Na ação, o carro teve os vidros quebrados.
A Polícia Militar estava acompanhando o ato e interveio após a depredação. A mulher foi detida em flagrante pela polícia por lesão corporal na direção de veículo e embriaguez pois, segundo os agentes, se recusou ao teste do bafômetro. Segundo a defesa, ela teria se negado no local, mas na delegacia teria se colocado à disposição para o exame, que não foi feito.
A motorista escapou do linchamento mortal pelos fanáticos, enlouquecidos por boatos de fraude nas eleições, prisão de Alexandre de Moraes, e golpe vitorioso de Jair Bolsonaro. A verdade é que Bolsonaro perdeu nos dois turnos, apesar da compra de votos com o dinheiro do orçamento secreto, e da pec das bondades com variados auxílios eleitorais.
Segundo a polícia, três pessoas alegaram terem sido atingidas pelo carro e prestaram depoimento. Nenhuma das pessoas flagradas no vídeo depredando o carro foram encaminhadas à delegacia ou detidas pela polícia.
O que diz a defesa dela
A defesa de Flávia Bonolo alega que o caso não deveria ter sido registrado como acidente de trânsito, pois houveram supostas agressões anteriores, que deveriam ter sido investigadas pela polícia. Segundo o advogado da condutora, Getúlio Souza, ela teria se recusado a fazer o teste, inicialmente, por achar que o caso não competia à polícia de trânsito. Porém, decidiu fazer o exame quando o resultado do teste visual da polícia "apontou que ela estava com a voz alterada”.
“Por um acaso eu filmei isso e indaguei o policial sobre o porquê de ele estar se recusando e ele simplesmente falou: ‘porque ela já tinha se recusado’. Ora, se ela pode fazer uma contraprova, eu me pergunto por que um agente de segurança se negou a fazer o teste nela?”, disse.
O vídeo em questão, filmado por Getúlio, mostra o diálogo entre ele e a geógrafa, no momento em que os policiais assinam o auto de infração.
- Advogado: Quero deixar registrado em vídeo, como prova do processo, que a autoridade policial colocou que ela estava com a voz alterada e a suposta vítima, ou agente ativa, está querendo fazer o teste.
- Flávia: Tem como eu falar para o vídeo para mostrar que eu não estou de maneira alguma, absoluta, com a fala alterada? De nenhuma forma, sob nenhuma… falando normalmente?
- Advogado: Você quer fazer o teste do bafômetro?
- Flávia: Quero.
- Advogado: Você deseja fazer o teste do bafômetro?
- Flávia: Com certeza.
O que diz a polícia
Segundo o BPTran, ela apresentou sinais de embriaguez e se recusou, inicialmente, a fazer o teste do etilômetro, sendo autuada em flagrante por dirigir sob influência de álcool e se recusar a fazer o teste que poderia certificar a influência da substância.
“A carteira dela é recolhida nos termos do artigo 165A. Como ela se recusou a ser submetida ao teste, a medida administrativa é o recolhimento da CNH e [o documento] é enviado ao Detran, até que ocorra todo o trâmite do processo”, disse o sargento Albérgio, do BPTran.
Em entrevista à TV Cabo Branco, o comandante do 1º Batalhão da Polícia Militar, tenente-coronel Marques Júnior, disse que a condutora se negou a fazer o teste de alcoolemia e que por isso foi autuada em flagrante, também por lesão corporal. Ainda conforme o comandante, três pessoas precisaram ser socorridas após ficarem lesionadas. O local onde eles foram atendidos não foi informado.
Segundo a Polícia Civil, Flávia foi indiciada por direção sob efeito de álcool e lesão corporal. Ela pagou uma fiança de R$ 600 e foi liberada. O ato encerrou-se no final da noite, mas algumas pessoas continuaram a dormir no local e a manifestação voltou a acontecer no início da manhã desta quinta-feira (3).
Através de stories publicados no Instagram, Flávia conta que teve as roupas rasgadas e os óculos tirados do seu rosto durante o ataque. Ela foi levada pela PM dentro de seu próprio carro até a Central de Polícia do bairro do Geisel para prestar detalhes sobre o ocorrido.
Segundo informações da jornalista Giovanna Ismael, “Flávia está bem, na medida do possível, mas ela foi autuada e teve que pagar fiança. Tem ferimentos no corpo e o carro foi depredado”. Flavia também vem sendo intimidada por bolsonaristas nas redes sociais.