Eu sou muito covarde
de THALIA MENDES MEIRELES
Eu já tentei suicídio outras vezes.
E isso é horrível,
porque eu já sei
a sensação.
Pensar em suicídio
é uma coisa,
mas planejar
e ir no ponto
é outra.
Dá aquele aperto
no peito,
aquela sensação de frio
na barriga.
“O que acontecerá
depois disso?”
Eu não acredito
em deus,
eu creio que
depois disso
não há nada.
Mas enfim, fazer isso
é difícil.
Eu sou
muito covarde.
Eu irei deixar
muita coisa no mundo
e o mundo
irá perder muita coisa.
Eu sou diferente.
Eu sou uma daquelas pessoas
que os outros precisam.
As vezes acho que sou hipócrita
porque eu vejo pessoas depressivas
e vou ajudar,
dar conselhos,
tirar a pessoa daquela situação.
Mas eu não faço isso comigo.
Porque não dá mais.
Droga,
eu queria tanto
ficar aqui.
Por que ninguém
me ajudou
antes?
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Foto: Thalia Mendes Meireles
A menina enforcada/ Carta suícida
(Observe o slogan na camisa. Depois que denunciou os abusos às autoridades, e nenhuma providência foi tomada, Thalia perdeu todas as esperanças. O pai que ela odiava, e tinha nojo, aumentou o tom das ameaças. "Eu me matei porque eu não aguentava mais existir assim": sendo estuprada). "Tudo muito angustiante e doloroso", para uma menina de 15 anos. Uma via crucis que durou dois anos.