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31
Mar19

Em Paris, brasileiros se manifestam por “Ditadura Nunca Mais”

Talis Andrade



mediaBrasileiros protestam de preto e em silêncio pelos mortos e desaparecidos da ditadura militar no dia em que o golpe de 1964 completa 55 anos, na Pirâmide do Louvre, em Paris
 
 

Paris juntou-se às manifestações de "Ditadura Nunca Mais", no aniversário de 55 anos do golpe de Estado que levou o Brasil à ditadura militar em 1964. Um flash mob aconteceu na tarde deste domingo (31) na Pirâmide do Louvre, atraindo a atenção de turistas que passavam pelo local.

O ato foi convocado espontaneamente por um grupo brasileiras residentes em Paris, após o pedido do presidente Jair Bolsonaro para que a data seja devidamente comemorada nos quartéis do Brasil.

Vestidas de preso, em silêncio, e com cartazes com fotos de mortos e desaparecidos da ditadura, cerca de 50 pessoas se manifestaram.

“Foi uma reação quase imediata: quando Bolsonaro anunciou, no Brasil, que ele estava chamando as pessoas para comemorarem a ditadura, imediatamente, menos de duas horas depois, apareceu esta chamada aqui em Paris, disse Rebeca Lang, que está em Paris há 30 anos e ficou sabendo da manifestação pelas redes sociais.

Turistas que passavam pelo local se interessaram pelo ato e alguns se solidarizaram com o movimento e até pediram para segurar cartazes com fotos dos mortos e desparecidos da ditadura, que começou com um golpe de Estado em 31 de março de 1964 e durou até 15 de março de 1985.

Para Rebeca, o elogio de Bolsonaro à ditadura é “vergonhoso e inaceitável”. “Não é para comemorar mortes e desaparecimentos, é um luto”, completa.

“Como se a Alemanha decidisse comemorar o Hitler”

Brasileira vivendo na Europa desde a ditadura militar, Gabriela Scheer disse à RFI que a celebração proposta pelo presidente brasileiro Jair Bolsonaro é como se a Alemanha resolvesse celebrar Hitler ou se o Vaticano resolvesse celebrar a Inquisição.

"Eu saí muito cedo do Brasil, com meus pais, desde o primeiro golpe. Primeiro eu morei na Alemanha, onde tenho parentes, e depois vim para a França", conta.

“A importância de estar aqui hoje é de fazer um contraponto a esta proposta do Bolsonaro. Comemorar a ditadura é como se a Alemanha decidisse comemorar o Hitler, a Noite dos Cristais [uma onda de agressões contra judeus em várias regiões da Alemanha e da Áustria em novembro de 1938]. É como se o Vaticano resolvesse comemorar a Inquisição. Estas coisas têm de ser rememoradas e bem explicadas, que é o que nunca foi feito no Brasil”, lamenta.

“Este golpe de 1964 tem muita semelhança com o que está acontecendo agora”, opina.

“Na Alemanha, ontem, na TV pública, eles fizeram uma grande reportagem sobre o absurdo de o Bolsonaro querer comemorar a ditadura, sobre o absurdo também de o Araújo dizer que o nazismo é coisa de esquerda. Todas estas maluquices que estão acontecendo mostram que o Brasil nunca fez este trabalho (de memória) direito”, conta.

“Ferida aberta na História do Brasil”

Para a historiadora Maitê Peixoto, que está há quatro anos na França, "é importantíssimo falar sobre a situação do Brasil neste momento, sobretudo quando o presidente eleito decide impor de maneira arbitrária uma celebração de um período dramático da História do Brasil. A partir do momento em que o presidente decide celebrar uma ferida aberta na História do Brasil, é hora de as pessoas realmente se engajarem no intuito de resistir, de protestar: não há o que celebrar".

Ela acrescenta lembrando que a ditadura foi um período em que as liberdades individuais foram ceifadas, os direitos humanos não eram respeitados, havia prisões arbitrárias, torturas, desaparecimentos. “É importante lembrar o que aconteceu para que não se repita.”

“A ignorância acerca da História faz com que as pessoas entrem neste jogo de acreditar que não foi tão grave. É um trabalho árduo o que os historiadores fazem no Brasil de hoje, de tentar trazer à tona esta história esquecida, silenciada. Porque há o projeto institucional no sentido de silenciar um lado da história, de transformar os atores da resistência a um período antidemocrático em terroristas”, denuncia a doutora em História Social.

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