Não duvido que o velho jornalista esteja hoje aprofundando seus estudos sobre quelônios arborícolas.
Elio Gaspari e o novo Ministro da Educação
por Fernando Brito
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Eu aguardaria a coluna dominical de Elio Gaspari antes de fazer considerações sobre o futuro do novo Ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli da Silva.
Porque Gaspari, seguindo informações do repórter Aguirre Talento, de O Globo, pôs o dedo na ferida de uma licitação conduzida pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento (FNDE), presidido por Locatelli, envolvendo a compra de R$ 3 bilhões em computadores.
Ele contou, em 8 de dezembro passado que:
No dia 21 de agosto o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, FNDE, anunciou que realizaria um pregão eletrônico (13/2019) para a compra de “equipamentos de tecnologia educacional para a rede pública de ensino”.
Os educatecas queriam comprar 1,3 milhão de computadores, notebooks e laptops. Até aí seria coisa de Primeiro Mundo, com a Boa Senhora gastando R$ 3 bilhões.
Alguém sentiu cheiro de queimado. O presidente do FNDE, nomeado em fevereiro, foi dispensado e seu sucessor, Rodrigo Dias, assumiu no dia 30 de agosto. Em 4 de setembro revogou preventivamente o edital.
Entre agosto e as duas primeiras semanas de setembro a Controladoria-Geral da União apontou “inconsistências” no edital. Põe inconsistência nisso.
Noves fora que o Ministério da Economia não foi consultado para uma licitação de R$ 3 bilhões, ficando-se só em dois pontos apontados pela CGU, via-se que:
Os 255 alunos da Escola Municipal Laura Queiroz, de Itabirito (MG), receberiam 30 mil laptops (118 para cada um). Poderia ter sido um erro de digitação, mas a CGU mostrou que 355 escolas receberiam mais de um laptop por aluno, e 46 delas, mais de dois. Cada jovem da Chiquita Mendes, de Santa Bárbara do Tugúrio (MG), receberia cinco.
Na outra ponta do negócio, o das empresas que ofereciam equipamentos, a CGU achou duas, a Daruma (de Taubaté) e a Movplan (de Ribeirão Preto). Ambas mandaram cartas de cinco linhas, com o mesmo fraseado e o mesmo erro de português: “Sem mais, para o momento, colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessária”
Logo em seguida, Decotelli foi demitido e o seu substituto cancelou a licitação. O link colocado por Gaspari para o site da CGU onde constava o relatório sumiu, mas o texto, a réplica do FNDE e a tréplica dos auditores podem ser lido aqui.
Em janeiro, Gaspari escreveu:
Numa atitude tão esquisita quanto a concepção do edital, passaram-se quatro meses e não se falou mais no assunto. Um governo que pretende combater a corrupção precisa perguntar quem botou aquele jabuti na árvore.(…) No caso do edital de R$ 3 bilhões, o negócio é bem outro. Até hoje não se sabe como o jabuti subiu na forquilha nem o nome do dono da árvore.