Dodge elogia reforma trabalhista e estabilidade institucional com Temer
Nega a existência da servidão quando o principal jornal da chamada República de Sérgio Moro publica hoje a seguinte manchete: "Exploração. Corte afrouxa combate ao trabalho escravo".
No dia em que Lula foi condenada sem provas, Raquel Dodge elogia a estabilidade democrática, quando se pretende impedir, não importa o preço, a candidatura de Lula da Silva a presidente do Brasil.
Em Londres, Dodge diz que Brasil vive 'o momento de maior estabilidade institucional desde 1889'
por Fernanda Odilla
Da BBC Brasil em Londres
___
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou nesta quarta-feira que "o Brasil experimenta o momento de maior estabilidade institucional desde a Proclamação da República 1889, um ano depois da lei que aboliu a escravatura".
"Não me parece exagero afirmar que instalou-se um ambiente de democracia constitucional", afirmou a procuradora em um evento na universidade britânica King's College London, onde fez uma palestra sobre escravidão moderna.
Dodge não fez nenhuma menção direta ao julgamento do recurso do ex-presidente, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, durante a apresentação.
Protesto
Na porta do King's College, dez manifestantes protestaram contra a condenação do ex-presidente e também contra a procuradora. Dodge foi indicada ao cargo pelo presidente Michel Temer (PMDB) em um procedimento que contraria uma tradição estabelecida na gestão Lula: ela não foi a mais votada pelos pares para ocupar o posto.
A escolha gerou questionamentos sobre a disposição da procuradora de manter o ritmo das investigações da Lava-Jato. As críticas sempre foram rechaçadas por Dodge.
"Raquel Dodger (sic) é parte do golpe em curso contra a democracia no Brasil", dizia um dos cartazes. Outro exibia os dizeres: "Lula é inocente". Havia ainda pôster contra a Rede Globo.
Os manifestantes exibiram ainda bandeira do PT, do Brasil e a faixa #standwithLula (estamos com Lula).
Raquel Dodge está na capital britânica desde segunda-feira, quando participou de um evento que também discutiu escravidão moderna no FCO (Foreign & Commonwealth Office), o ministério das relações exteriores do Reino Unido.
"Há quase duas décadas atuo contra a escravidão contemporânea no Brasil. É incompatível com a dignidade humana, que me incumbe defender enquanto procuradora", disse Dodge, que diz que o crime de escravidão pode ser, em alguns casos, encarados como "crime de colarinho branco".
Segundo a própria procuradora, ela tem uma visão diferente do entendimento jurídico predominante no Brasil e em muitos países em relação ao tema.
Para Dodge, configura escravidão moderna não apenas quando há controle por restrição física, imposição jornada exaustiva de trabalho, pagamento insuficiente e punições físicas, mas também quando existe coerção psicológica. "Como ocorre na servidão por dívida", observou.
O governo Temer recentemente propôs uma mudança no entendimento de trabalho escravo brasileiro - que tornava mais restritiva a interpretação - mas voltou atrás.
Ela disse ainda que inspeções identificaram muitos casos de trabalhos análogos à escravidão em Estados onde há derrubada da floresta amazônica para expansão da fronteira agrícola brasileira.
"Enfrentar a escravidão moderna é uma tarefa que precisa ser exercida por cada país e contar com colaboração internacional", afirmou, emendando que se trata de "um tema complexo, de grande proporção e voltado para gerar lucro". Transcrevi trechos. Leia mais