A CPI da Covid ouve nesta sexta-feira (25/6), sob enorme expectativa, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) e o irmão, Luís Ricardo Fernandes Miranda, servidor do Ministério da Saúde, em relação às negociações da vacina Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech.
O Ministério Público Federal (MPF) e, agora, a CPI investigam suspeitas de irregularidades no contrato de R$ 1,6 bilhão relativo à vacina indiana. O valor da dose do imunizante definido em contrato saiu 1.000% mais alto do que o preço anunciado pela fabricante seis meses antes.
A dose foi orçada em 100 rúpias, valor equivalente a US$ 1,34, em agosto de 2020. O valor acordado com a pasta, contudo, em fevereiro deste ano, foi de US$ 15 por unidade.
Em depoimento ao MPF, Luís Ricardo relatou “pressão atípica” de superiores e articulação de membros do governo junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pelo imunizante. O servidor disse também que, junto ao irmão parlamentar, denunciou ao presidente Jair Bolsonaro as suspeitas de irregularidades nas transações.
Miranda pede que CPI apure se Bolsonaro mandou Onyx disparar “ameaças”
O deputado Luis Miranda (DEM-DF) encaminhou, nesta quinta-feira (24/6), um ofício para o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, senador Omar Aziz (PSD-AM), para requerer a prisão do ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Onyx Lorenzoni, e do assessor especial da Casa Civil, Élcio Franco. O parlamentar também pede apuração para saber se as “ameaças” foram a mando do presidente Jair Bolsonaro.
O congressista e o irmão dele, Luis Ricardo Miranda — que é concursado do Ministério da Saúde — serão ouvidos hoje pela comissão, após terem levado uma denúncia de possível pressão sofrida pelo servidor para acelerar a compra da Covaxin, que passou a ser alvo das investigações parlamentares do Senado Federal.
Na justificativa, o deputado Luis Miranda reforça que, como testemunha da CPI, se sentiu ameaçado pelos dois representantes do presidente Jair Bolsonaro, durante pronunciamento para a imprensa na noite da última quarta-feira (23/6), no Palácio do Planalto.
“Cientes de que toda a máquina estatal foi conclamada pelo ministro Onyx com o intuito de mostrar força e ameaçar as testemunhas convidadas por essa CPI, serve a presente para querer que se digne Vossa Excelência determinar a prisão de ambos, o Sr. Onyx Lorenzoni e o assessor da Casa Civil Élcio Franco, que deverão ser processados sob as penas do art. 344 do Código Penal brasileiro, bem como determinar que a Procuradoria-Geral da República venha a apurar se os autores da ameaça o fizeram a mando do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, que foi citado como o ‘traído'”, escreveu o parlamentar.
"O inverno chegou para o governo"
por Natuza Nery /G1
As suspeitas que pairam em torno das negociações de compra da vacina indiana agitaram a semana da CPI – e do governo. A gestão que esnobou a vacina da Pfizer e passou meses criticando a Coronavac acelerou a contratação de 20 milhões de doses da Covaxin, em uma negociação de R$ 1,6 bilhão. Nesta sexta-feira a Comissão espera o servidor do Ministério da Saúde que disse ter alertado o presidente Jair Bolsonaro sobre irregularidades na compra. Neste episódio, Natuza Nery entrevista Thomas Traumann, jornalista e analista político. Ele explica como os depoimentos de Miranda e do irmão dele, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) podem impactar o governo. "A partir de agora estamos falando de dinheiro público", diz. Traumann avalia ainda o impacto das suspeitas e aponta como a "reação desmedida" do governo escancara o medo do Planalto sobre o caso, que "chega no círculo muito perto do presidente". E conclui como o caso pode impactar a popularidade de Bolsonaro em um momento de piora da pandemia. "O inverno chegou para o governo", avalia.
Em 25 de fevereiro, governo Bolsonaro comemorou contrato para compra da Covaxin
por Brasil 247
Uma publicação, datada do dia 25 de fevereiro deste ano, veiculada no site do Ministério da Saúde, anunciou com alarde o contrato de compra da vacina Covaxin, que está no centro do escândalo que será detalhado nexta sexta-feira (25) a partir de 14h na CPI da Covid.
“O Ministério da Saúde assinou, na tarde desta quinta-feira (25), contrato para compra de 20 milhões de doses da vacina Covaxin junto à Precisa Medicamentos/ Bharat Biotech. O investimento total foi de R$ 1,614 bilhão na compra da vacina produzida na Índia. A aquisição permitirá ampliar ainda mais a estratégia de vacinação dos brasileiros contra a Covid-19”, destaca o texto publicado na gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello.
"As primeiras 8 milhões de doses do imunizante devem começar a chegar já no mês de março, em dois lotes de 4 milhões, a serem entregues entre 20 e 30 dias após a assinatura do contrato. Em abril, o governo federal espera receber outras 8 milhões de doses de imunizantes importados da Índia, no prazo de 45 e 60 dias após a oficialização da compra. Em maio, é esperado o último lote de doses, com 4 milhões de unidades", diz um outro trecho da publicação.
Na quarta-feira, Queiroga irritou-se ao ser questionado por repórteres sobre o valor do contrato do imunizante, produzido pela Bharat Biotech e intermediado pela Precisa Medicamentos. “Eu falei em que idioma? Eu falei em português. Então, não foi comprado uma dose sequer da vacina Covaxin nem da Suptinik”, disse o ministro antes de abandonar a entrevista.