21
Mai20
Cloroquina ou tubaína?
Talis Andrade
A força oculta por trás da campanha de Bolsonaro e Trump a favor da cloroquina, ou como o sucesso da Fox News e da Jovem Pan nos ajuda a entender o poder dos defensores do medicamento
por Mateus Pereira e Valdei Araujo
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Quarta-feira, 19, morreram mais de mil pessoas em decorrência da
covid-19. Uma verdadeira catástrofe! Indiferente, ou mesmo para ocultar aos fatos,
Bolsonaro atualizou a disputa entre coxinhas e mortadelas para cloroquinas e
tubaínas. A que ponto chegamos! Como entender o que está por trás dessa nova
agitação presidencial?
covid-19. Uma verdadeira catástrofe! Indiferente, ou mesmo para ocultar aos fatos,
Bolsonaro atualizou a disputa entre coxinhas e mortadelas para cloroquinas e
tubaínas. A que ponto chegamos! Como entender o que está por trás dessa nova
agitação presidencial?
“Você não é obrigado a tomar cloroquina”. E, em seguida, lançou a seguinte piada:
“Quem é de esquerda deveria tomar tubaína e não cloroquina”. Nos últimos dias, os
bolsonaristas têm divulgado diversos vídeos sobre o sucesso do uso da
hidroxicloroquina em um hospital na cidade de Floriano, no Piauí. A ministra
Damares, por exemplo, foi à cidade, no último dia 14, para ver de perto “o milagre
da cloroquina”.
Acreditamos que compreender a fórmula de “sucesso” da Fox News e da
Jovem Pan News pode nos ajudar a entender o chão de realidade no qual está
assentado esse suposto “milagre”, principalmente se considerarmos as últimas
declarações de Trump de que está fazendo uso do medicamento de forma
preventiva contra a Covid-19, bem como o movimento de Bolsonaro para mudar o
protocolo de uso da cloroquina.
Tudo isso tem como uma das consequências o aumento da pressão sobre os
médicos da rede pública para prescrever o remédio. Ao mesmo tempo, ocorre em
um momento em que mais pesquisas demonstram a ineficácia e os riscos da
cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19.
Mas, infelizmente, vivemos em um país em que, já faz algum tempo, as
“convicções” valem mais que as provas… Algumas mudanças no interior das mídias
nos ajudam a entender a questão: parte delas, das mídias conservadoras, vivem de
uma cortina de fumaça, do argumento de que tudo tem dois lados, de que basta
apresentar os dois lados para que não haja viés. Mas, ora, os lados podem ser
muito mais que dois e, além disso, nem todo lado tem razão.
É como um estúdio de TV discutir o uso da cloroquina e colocar de um lado
uma autoridade pública de saúde e, de outro, uma subcelebridade do Youtube. Não
é um cenário, digamos assim, que contribui para a formação de opinião, mas
apenas para que cada lado da polarização política reforce suas crenças e desejos.
É este tipo de lógica, cada vez mais hegemônica, que explica o fato, que tem
ficado cada vez mais claro, das autoridades de saúde estarem perdendo o debate
relativo ao uso da cloroquina, apesar de estarem com a razão. (Continua)