Carregador de caixão, uma profissão comum em Gana que virou meme internacional com o necropresidente Bolsonaro
A farsa de um vídeo do necropresidente Jair Bolsonaro carregando um caixão pautou para a mídia internacional os festivos enterros em Gana, nestes tempos de peste, de morte solitária, com enterro com um ou dois acompanhantes no máximo, inclusive sepultamento em vala comum.
José Ignacio Martínez Rodrígues escreve hoje no El País, Espanha:
Carregador de caixão, uma profissão comum em Gana. Conversamos com uma das funerárias que oferecem o serviço.
Emmanuel Agyeman trabalha em uma funerária de Acra, a capital de Gana, e também recebeu em seu celular algumas versões de um dos vídeos do momento. Eles existem às centenas, sempre seguindo um mesmo esquema. Primeiro, aparecem imagens de alguém a ponto de se meter em problemas ― pode ser uma queda estrondosa, um susto, uma situação que certamente vai acabar mal… Mas, antes da desgraça acontecer, a sequência é interrompida e surgem homens de terno preto, dançando de maneira animada enquanto balançam um caixão que carregam sobre os ombros, ao som de música eletrônica.
A imagem final, em que vários homens dançam enquanto carregam um defunto, virou um meme internacional que serve para antecipar um erro ou descuido que não chega a ser visto: em seu lugar, aparece a dança do caixão. A cena foi gravada em Gana, no oeste da África, onde as funerárias como a de Agyeman organizam enterros desse tipo. "Estas festas são montadas quando a pessoa que morre teve uma vida longa, quando morre com 60 anos ou mais [a expectativa de vida em Gana é ligeiramente inferior a 63 anos]”, conta o agente funerário por telefone.
Os homens que aparecem no vídeo são pallbearers, expressão que poderia ser traduzida em português como “carregadores funerários”, que se dedicam a transportar caixões enquanto dançam. “Quando morre uma pessoa jovem é algo doloroso, mas se é alguém mais velho, prepara-se tudo isto para celebrar a vida”, conta Agyeman, da funerária EA Hearse Services & Funeral Agreement, que presta o serviço em todo o país. As imagens dos pallbearers ― que começaram a se popularizar no resto do mundo no final de março e deram origem a centenas de versões ― foram tiradas de duas reportagens jornalísticas. Uma foi gravada pela agência de notícias Associated Press, e a outra pela BBC, ambas em 2017. [Transcrevi trechos]
O filmete com Bolsonaro é uma sátira ao desprezo que o seu governo militar da direita tem aos direitos à saúde, à vida dos brasileiros. Uma política genocida que defende a privatização da saúde, o sucateamento do SUS, a negação da ciência, o fim das pesquisas, repetindo o "Massacre de Manguinhos" da ditadura militar de 64.
O governo das trevas, do terraplanismo, considera o coronavírus uma "fantasia", uma "gripezinha". Bolnaro combate a quarentena, o isolamento social, porque "outros vírus mataram muito mais".