Bolsonaro mentiroso e desonesto acusa escritora francesa
No que talvez tenha sido o momento mais tumultuado da sua entrevista no Jornal Nacional, na noite desta terça-feira, Jair Bolsonaro (PSL) mostrou às câmeras por poucos segundos um livro intitulado Aparelho sexual e Cia, cuja capa traz o desenho de um menino de topete loiro olhando um tanto quanto assustado para o que tem dentro das próprias calças. Seria só mais um dos incontáveis episódios polêmicos de um candidato que tem esbravejado contra o que chama de campanha para o ensino de "ideologia de gênero" nas escolas do Brasil, não fosse um detalhe: praticamente tudo o que o candidato falou quando se referiu à publicação não encontra respaldo na realidade. Confira aqui
Hélène Bruller
A escritora francesa Hélène Bruller não sabia que o seu livro Aparelho Sexual e Cia. (Le Guide du Zizi Sexuel, no original em francês) havia se tornado alvo no Brasil de uma verdadeira cruzada promovida por Jair Bolsonaro, candidato à presidência da República pelo PSL. Mas não se pode dizer que ela, que assina obra junto com o suíço Philippe Chappuis (conhecido como Zep), tenha ficado propriamente surpresa: “Grupos extremistas católicos já tentaram proibir o livro e a exposição que foi feita a partir dele. Como sempre, aumentaram o sucesso da obra. Talvez eu devesse agradecê-los... Mas aí já é me pedir demais”, ironiza a autora.
“Eu acho que lá no fundo do Bolsonaro existe um pequeno garoto, o petit Jair, que teria adorado se, na sua infância, lhe tivessem dado de presente um exemplar do Aparelho Sexual e Cia", diz.
E mais uma coisa: se ignoramos tudo, como podemos saber a diferença entre sexualidade e pornografia? Esse senhor, o Bolsonaro, nunca falou com mulheres sobre a experiência da sexualidade. Porque, do contrário, ele saberia que muitas jovens que foram casadas com homens sem ter qualquer informação sobre a sexualidade lamentaram essa união. Algumas se casaram com homens torpes , nunca conheceram o prazer ou sequer souberam que ele existe! Outras deixavam seus maridos realizarem certas práticas, como a sodomia, sem que elas necessariamente as desejassem. Tudo isso porque essas mulheres não sabiam que tinham o direito de dizer “não”. É essa a vida que o senhor Bolsonaro promete às jovens mulheres brasileiras? Socorro.
Disse mais Hélène Bruller:
"Há, no entanto, algumas particularidades muito claras da personalidade do senhor Bolsonaro: ele denigre o meu trabalho, então é uma pessoa sem qualquer respeito; e se sente no direito de usar o meu livro para sua autopromoção sem me consultar antes, então é uma pessoa desonesta. Não são as características que esperamos de um suposto representante da moralidade.
Agora o mais importante é a perversidade subjacente desse senhor: ele grita para quem quer ouvir que não temos que falar muito sobre a sexualidade, mas ele só fala disso. Eu acho que as obsessões do senhor Bolsonaro dizem muito sobre o que ele próprio tem na cabeça". Leia entrevista aqui