Bolsonaro incendiário tema de carro alegórico na Alemanha
Em Colônia, carro alegórico representou o presidente brasileiro, segurando a bandeira do Brasil atada a um palito de fósforo tamanho família e exibindo um largo sorriso, diante de árvores carbonizadas e sambistas seminuas e chamuscadas
Deutsche Welle
por Marcios Damasceno
"Esse é meu carro preferido", afirmou Holger Kirsch, diretor do desfile, em entrevista ao jornal local Kölner Stadt-Anzeiger. A alegoria, outra crítica às queimadas na Amazônia, produziu fumaça literalmente. "Nós trabalhamos com verdadeiras sacas de café e ainda instalamos um sistema de tubulação para que fumegue bastante", acrescentou.
Essa não foi a primeira vez que Bolsonaro é alvo do humor alemão. Em agosto, ele foi ridicularizado em horário nobre num programa humorístico transmitido pela principal rede de televisão pública da Alemanha, que criticou as políticas ambientais e agrícolas do presidente brasileiro e o chamou de o "boçal de Ipanema", entre outros apelidos.
A sátira política sempre foi um dos pratos principais dos desfiles carnavalescos no oeste alemão, em cidades como Colônia, Mainz ou Düsseldorf.
"Nosso mundo está mais político do que nunca – então, nossos carros alegóricos também o são", afirmou Kirsch ao jornal Bild. O tabloide informa que os 26 carros alegóricos do desfile deste ano em Colônia trouxeram, ao todo, representações de 14 políticos.
Além da sátira política usual, um posicionamento forte contra a extrema direita foi particularmente evidente em 2020. Enquanto Colônia representou sua famosa Catedral em lágrimas pelas vítimas do recente atentado terrorista em Hanau, Düsseldorf mostrou o racismo como uma arma mortal.
"Neste momento, não há nada mais sério do que o terrorismo de extrema direita", afirmou o carnavalesco Tilly, de Düsseldorf. Um dos carros alegóricos na cidade representou a cabeça de um homem enraivecido, com uma arma saindo de sua boca, em que se lia "racismo". Na bochecha do boneco, a seguinte frase: "Palavras se tornam ações."
A alegoria também chamava a atenção para os ataques a tiros em Hanau na última quarta-feira, que deixaram nove pessoas de origem estrangeira mortas. Após o massacre, o terrorista voltou para casa, onde matou a mãe, de 72 anos, e cometeu suicídio. Numa carta de confissão e em vídeos, o atirador expõe pensamentos racistas, defendendo ideologias de extrema direita.
"Não há apenas um perpetrador. Não é apenas aquele que atirou. Aqueles que prepararam mentalmente a ação também são responsáveis", afirmou Tilly, referindo-se às pessoas que proferem discursos racistas, xenófobos e de extrema direita.
"Palavras se tornam ações", diz frase no rosto de boneco, em alegoria que rechaça o terrorismo de extrema direita