As jabuticabas do general Mourão contra os trabalhadores
Políticos de Jundiaí contestam fala de Mourão sobre o 13º salário
por Carlos Santiago
Caiu como uma melancia, entre os políticos jundiaienses, a declaração dada pelo general Hamilton Mourão (PRTB), candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), de que “o 13º salário e o pagamento de adicional de férias são ‘jabuticabas’ – porque só existem no Brasil.”
Mourão fazia uma palestra na sede de uma entidade que reúne empresários de Uruguaiana (RS), quando se pôs a comentar o assunto. “Temos umas jabuticabas que a gente sabe que são uma mochila nas costas de todo empresário”, disse. Mourão prosseguiu: “Jabuticabas brasileiras: 13º salário. Como a gente arrecada 12 (meses) e pagamos 13? O Brasil é o único lugar onde a pessoa entra em férias e ganha mais. São coisas nossas, a legislação que está aí. A visão dita social com o chapéu dos outros e não do governo.”
A resposta do ‘chefe’ Jair Bolsonaro veio rápida, pelo Twitter: o candidato do PSL à presidência da República desaprovou o parceiro de chapa, afirmando que criticar o 13º salário é, “além de uma ofensa a quem trabalha, também mostra desconhecer a Constituição.”
Em Jundiaí, os comentários mais pesados vieram da ala esquerda. O presidente do PDT, Gerson Sartori, considerou a declaração vergonhosa. “É uma vergonha um candidato a vice-presidente da República achar que um direito do trabalhador, num país sofrido como o nosso, é um peso.”
Gerson prosseguiu em suas críticas, e lembrou até mesmo da situação dos países europeus com relação às condições de trabalho. “Nós falamos tanto em ‘buscar’ os países do Primeiro Mundo… Não à toa, a melhor remuneração do trabalhador, em relação a salário-hora, é na Alemanha.”
O presidente do PSDB, José Galvão Braga Campos, o Tico, chegou a ironizar: “Será que ele vive no mesmo país que a gente?” Para Tico, o General Mourão “vive em um patamar financeiro muito diferente da grande maioria do povo brasileiro. Ele nem sabe o que passa nosso povo. Esse é o tipo de gente que quer governar o país – pessoas que não se identifica com o povo brasileiro.”
O deputado federal Miguel Haddad (PSDB), no entanto, optou por um tom comedido. “O próprio candidato a presidente, Jair Bolsonaro, desautorizou, como mostra a imprensa, a fala do seu vice. É uma proposta que não faz sentido”, comentou Miguel.
O presidente do PP de Jundiaí, Edilson Chrispim, também preferiu um comentário mais ameno. “O 13º salário está previsto no artigo 7º da Constituição. Infelizmente, ele foi muito infeliz na sua fala. Os trabalhadores já são muito penalizados com os preços altos, não seria justo mais esta perda.”