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O CORRESPONDENTE

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13
Fev21

As conversas com o general Villas Boas (parte 2)

Talis Andrade

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por Denise Assis

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Como um dia cantou Geraldo Vandré: “Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição” … Eis uma questão que jamais foi encarada desde a transição e a redemocratização do país. Agarrados à ideia de que a “revolução” de 1964 “salvou o Brasil do comunismo”, o
oficialato nunca renovou as versões, os discursos e os currículos nas escolas militares e em todas as unidades onde se formam os que por elas passam.  Por isto foi tão “simples”, ir ao “limite da constitucionalidade”, como descreveu o então comandante do Exército, o general Villa Boas, em 2018 -, quando afastou com um “Twitter”, o preferido nas pesquisas para vencer a corrida presidencial -, para mais uma vez guerrear com “moinhos de vento”, tal como os que se bateu o Dom Quixote de La mancha, de Cervantes.

Investido de uma reluzente armadura, Villas Boas arregimentou a cúpula do Exército Brasileiro para “salvar” o país das garras de “Lula, o inimigo número 1”. E fez mais: se arvorou de “arguidor de candidatos”, que hoje não se entende bem por que, atenderam ao seu chamado, indo ao seu gabinete beijar a sua mão e fazer “prova oral”. Lá ouviram teses muito semelhantes às de Bolsonaro, contra o “politicamente correto” e uma “guerra fria”, verdadeira “paranoia” da vida militar. Ao ler sua “exposição de motivos”, chega-se à conclusão de que ele deu um golpe no país em nome de uma pauta “moral”.

 É das manobras desta eleição que ele trata no Capítulo 14 do seu livro, sob o título: “As eleições de 2018 -Tínhamos a preocupação de que a política voltasse a entrar nos quartéis”.Aqui cabe a pergunta: e alguma vez, desde 1964, ela saiu? Pode ser que a partir de 1985 tenha se tornado intramuros, mais discreta, aos cochichos. Talvez. Para entender o que levou o oficialato do Exército Brasileiro a golpear novamente às claras, a política, convém acompanhar o diálogo entre o autor, Celso Castro, e o general.

 

Celso Castro – Ao longo desse período, tínhamos no horizonte as eleições de 2018 e havia uma mobilização política muito grande, que acabou resultando na eleição de Jair Bolsonaro para presidente, o que foi uma surpresa para muita gente. Ele tinha um teto de intenções de voto, mas que depois se transformou no que um colega cientista político chamou de “tsunami eleitoral”, para se referir à onda do bolsonarismo e de uma mobilização política mais à direita. Esse processo político seguia em paralelo ao caminho de uma maior participação dos militares na discussão das questões nacionais. Qual era o risco de esses caminhos se cruzarem ou de serem o mesmo?

VB -Institucionalmente, para nós, é muito clara a linha que separa os dois temas: o das questões nacionais e o dos assuntos político-eleitorais. Bolsonaro deu ênfase ao combate ao politicamente correto, do qual a população estava cansada. A Globo, o reino do politicamente correto, foi o mais importante cabo eleitoral do presidente eleito.

Por muito tempo, foram ignoradas, as questões nacionais e o papel das instituições de Estado. Talvez tenha contribuído para essas omissões a inexistência de um projeto nacional. Entre as décadas de 1930 e 1980, fomos um dos países do mundo ocidental com as maiores taxas de crescimento. Nesse período, existia um sentido de projeto. Havia uma robusta capacidade de realização, aliada a um sentido de grandeza e uma ideologia de desenvolvimento.

A partir de então, a sociedade brasileira cometeu o engano de permitir que a linha de fratura da Guerra Fria criasse uma primeira divisão entre os brasileiros, e lá se foi nossa coesão interna. Nos alinhamos aos objetivos de duas orientações externas, a do mundo ocidental em oposição à de orientação soviética. Nos tornamos, então, vulneráveis a outros fracionamentos que viriam depois, infiltrando-se, oportunistamente, nas brechas encontradas. Insistindo na questão de um projeto para o país, ela se torna a cada dia mais crucial e urgente. Temos sinais de uma nova Guerra Fria se configurando de maneira inevitável, diante do crescimento chinês. As estimativas apontam para cenários em que, até 2030, veremos o PIB nominal chinês equiparar-se ao dos EUA e, segundo o próprio planejamento estratégico dos asiáticos, em 2050 terão consolidado a supremacia mundial. Com vistas nas eleições, convidei os candidatos para conversar. Essa rodada de entrevistas aconteceu antes que as candidaturas fossem oficializadas. Nelas eu expunha temas relativos à importância de reconstrução de um projeto nacional. Discorria sobre a Amazônia, os problemas e as soluções cabíveis e, por fim, tratava da defesa, das Forças Armadas e de questões importantes que lhes dizem respeito. Minha expectativa de que esses assuntos fossem discutidos por ocasião dos debates eleitorais acabaram frustradas. Nos poucos que ocorreram, esses temas não foram provocados pelas emissoras.

(Faltou o general dizer que o seu candidato correu de todos os debates).

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